Meu Jeito escrita por Palas Silvermist


Capítulo 6
Capítulo 6 - O Baile dos Pendleton




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Uma porta se abriu e por ela entrou Sarah Evans com a filha, Débora.

—Debbie, vai para o banho. Se não, vamos ficar atrasadas. Daqui a pouco seu pai chega.

—Posso levar meu patinho de borracha?

—O seu patinho, golfinho, baleia e o zoológico aquático de borracha inteiro se você quiser, mas já para o banho.

Enquanto a menina desaparecia no topo da escada, ela pegou o telefone e ligou para a cunhada.

—Alô, Helena.

—Oi, Sarah.

—Têm certeza que você e Matheus não querem ir às bodas de prata dos Pendleton?

—Temos. Vamos ficar fazendo companhia ao senhor Luciano.

—Lílian e Felipe vão?

—Vão. Lívia vai passar aqui para pegá-los.

—Está bem, então.

Do segundo andar, uma vozinha aguda chamou:

—Mãe, você viu meu patinho?

—Para o chuveiro já!!

… … … … … … … … … …

No seu quarto, Lily tinha uma toalha enrolada nos cabelos. Sentada em frente à penteadeira, passava rímel nos cílios.

Seus olhos se desviaram para sua cama onde repousava uma caixa de cor vinho entreaberta. Deixando o batom de lado, levantou como se quisesse vê-la melhor. Dentro, entre alguns escritos seus, encontrou o que procurava: um pergaminho contendo trechos de um poema e no fim as iniciais T.P. Sem perceber, sorriu.

—Lily, já terminou de se pintar? – disse Felipe através da porta do quarto dela.

—De me maquiar. Quem se pinta é palhaço. E sim, já terminei. Só falta uma coisa. – ela falou para a porta fechada enquanto calçava uma sandália prateada

—Anda, Lily. Vamos chegar atrasados.

—Está com pressa por algum motivo em especial?

—Não, Lily. – a mãe dela interferiu – Sua tia já está chegando.

—Pronto. – ouviu-se o barulho da porta se abrindo – Estão mais felizes?

… … … … … … … … … …

Cerca de meia hora depois, o carro onde estavam Felipe, seus pais (Fernando e Lívia Evans) e Lílian estacionava perto de um belo salão.

Lily talvez devesse ser mais prudente ao passar pelo caminho em meio a um jardim que ficava antes da entrada. O vestido longo e os saltos não deixavam tão pequenas as chances de tropeçar, mas, encantada com o lugar, ela não se dava ao trabalho de olhar para baixo em nenhum momento.

Dos dois lados estendia-se um tapete de grama aveludada. No chão, vários spots iluminavam o jardim. Os pequenos arbustos que apareciam a intervalos regulares estavam enfeitados com redes de pequenas lâmpadas como as usadas na época de natal. Colunas de um estilo colonial decoravam a entrada.

O grupo foi recebido pelo senhor Henry Pendleton. Depois dos devidos cumprimentos…

—Desculpem Ágata não estar aqui agora. Ela está resolvendo uns probleminhas que apareceram de última hora. – em seguida, ele abaixou a voz – Confesso que não entendo nada da organização de festas... Fiquem à vontade. – terminou ele com um sorriso

Se a ruiva se encantara com os jardins, o salão não ficava para trás. Era todo de uma cor champagne com os detalhes sendo um tom mais escuro. No centro, um espaço oval naquele momento desocupado. Ao fundo, alguns músicos tocavam uma melodia tranqüila. À direita e à esquerda, três degraus acima, havia mesas e cadeiras cobertas de branco. Em cima de cada toalha, um arranjo de orquídeas. Poucos convidados estavam ali.

—Londres, às vezes, parece uma cidade pequena… - Felipe falou para a prima

—Que quer dizer?

—Olha isso: A senhora Pendleton e minha mãe foram amigas no colégio. Quando meus pais se casaram, os Pendleton passaram a conhecer os Evans. Um pouco depois, os pais da Debbie se conheceram por causa da senhora Pendleton que trabalhava com a tia Sarah há um tempo.

—E por que isso faz Londres pequena?

—Porque, além disso, aparentemente as duas amigas de colégio tinham outras amigas…

—Conclusão brilhante…

—…que se casaram e têm os filhos no mesmo colégio, onde eu estudo aliás, e vão estar aqui.

—Ah, isso significa que pelo jeito só vou ter Debbie de companhia.

—Não.

A forma tão convicta com que o primo falou isso fez Lily levantar uma sobrancelha.

—Como não?

—Bom, pelo que eu me lembre, deve ter alguém que estudou com você antes de você ir estudar em… - ainda em tempo, ele percebeu que falar “Hogwarts” ali não era uma boa idéia –… longe.

O tempo foi passando e mais convidados chegaram. Felipe se afastou para encontrar os amigos. Em seguida, os pais dele também foram cumprimentar conhecidos. A princípio não queriam deixar a sobrinha sozinha, mas ela disse não se importar.

—Já voltamos, querida. – falou Lívia

Sentada a uma das mesas, Lily ficou observando os convidados. Passava de um rosto para o outro, de um vestido para o outro, de um gesto para o outro. Por fim, abriu sua bolsa e retirou dali um pequeno caderno e um lápis.

Escrevia frases soltas. No intervalo entre uma e outra, como se isso a ajudasse a pensar, rabiscava o papel. Até que parou. A ponta do grafite na vertical. Olhou mais uma vez para as pessoas à sua volta. Floreando o “n” inicial, escreveu:

“Ninguém tem o seu olhar.”

Pouco depois, Débora pulava ao lado da prima.

—Oi, Lily!

A pequena estava particularmente feliz rodando seu vestido cor de rosa.

—Debbie, está linda! Onde estão seus pais?

—Lá na frente. – ela sentou na cadeira ao lado de Lily

—Oi, Debbie. – disse Felipe também sentando à mesa

E os três ficaram conversando.

Não demorou muito, e um rapaz se aproximou deles.

—Olá, Felipe. Tudo bem?

—Tudo e você?

—Também. Olá Lílian.

—Olá. – ela falou surpresa – Desculpe, quem é você?

—Michael. Estudamos juntos da quarta série, eu acho.

—Ah, me lembro de você. Está… diferente.

—É, faz um tempo que não nos vemos.

Merlin, e como aquele tempo fez diferença. O Michael que ela conhecia era um menino franzino, com problemas de dicção, uma voz aguda e extremamente tímido. O Michael que ela via agora era muito bonito – o tipo de pessoa que atrai olhares femininos quando passa – era alto, tinha cabelos loiros e olhos verdes. Falava normalmente e tinha uma voz agradável.

Depois de brincar com Debbie cumprimentando-a de um jeito cavalheiresco, ele voltou-se para Lílian:

—Será que a senhorita Evans me concede essa dança?

Novamente surpresa, a garota a princípio não falou nada. Foi Felipe quem interferiu:

—Ela não faria essa desfeita, faria, Lil?

—Não, claro que não. – disse ela confusa aceitando a mão que lhe era estendida

… … … … … … … … … …

Quando a música acabou, Felipe viu uma ruiva sorrir, receber um cumprimento e vir em sua direção.

—De onde surgiu “ela não faria essa desfeita”?? – ela falou sentando-se

—De nenhum lugar… - ele falou tentando, mas não conseguindo, parecer inocente

—Deixa de ser dissimulado, senhor “cupido Evans”.

—Por quê?

—Michael me chamou para ir ao cinema no próximo sábado.

—Verdade? – perguntou com visível interesse – E o que você respondeu?

—Que não poderia ir, porque talvez precisasse viajar.

—Ah, Lily. – disse desapontado – Viajar? Só se for com destino à sua casa.

—Não interessa. Vou viajar.

—Se ele perguntasse pra onde, você iria responder “Lençóis”.

—É. Fica no interior. Do meu quarto, mas fica no interior.

—Como você é sem graça. Qual o problema de sair pra se distrair um pouco?

—Nada. Inclusive o assunto seria: “Oi, sabia que eu sou uma bruxa?”.

O primo riu.

—Felipe, escuta bem: Eu não preciso de um cupido.

—Não parece…

—Ei, do que vocês estão falando? – Débora chegara

—Nada de interessante, só o seu primo que está perdendo o juízo. – Lily levantou-se

—Aonde você vai? – ele perguntou

—Retocar a maquiagem.

Lily se afastava em direção ao banheiro e quando se viu longe da vista do primo, desviou e saiu para os jardins. Estava uma noite de temperatura amena, sem vento. Ela parou para observar uma flor.

Meio debruçada sobre a grade que dividia aquela parte do caminho de ladrilhos do gramado, Lily expirou como se soltasse um peso. Tinha acontecido tanta coisa nas últimas semanas que ela não tinha tido tempo de parar para pensar. Mas agora ela o fazia.

Era um alívio ver seu avô melhorando a cada dia após a cirurgia…

Se lembrava com detalhes do dia em que recebera a carta de sua mãe contando a respeito da situação dele. Pelo menos até o momento em que começou a sentir sono por causa da poção que Maia lhe dera. Depois só se lembrava de estar no Salão Comunal sendo consolada por ela e de acordar bem cedo na manhã seguinte em sua cama...

Acordou de uma vez e não conseguiria voltar a dormir, ainda que isso a fizesse esquecer a preocupação. Levantou sem fazer barulho para não acordar as amigas, pegou sua capa e desceu para os Jardins.

 

Era junho e apesar da hora, o calor já a obrigava a carregar a capa no braço. Andava devagar, cabisbaixa e distraída. Era tanta coisa que passava pela sua cabeça, que ela não se fixava realmente em nenhuma, a não ser na grande angústia que sentia.

—Lily? – uma voz falou se aproximando

A moça virou para trás na direção de quem chamara seu nome.

—Bom dia. – Tiago cumprimentou

—Bom dia. – ela respondeu com a voz apagada

—Está tudo bem com você? – perguntou de um modo carinhoso, estranhando os olhos baixos dela

Ela balançou a cabeça negativamente contraindo os lábios e demorou um ou dois segundos até conseguir responder:

—Não muito.

—Posso ajudar?

—Não, acho que não. – ela disse triste – E… também, não quero te incomodar com isso, só… saí pra tomar um ar.

—Não tem como você incomodar. – Tiago disse gentilmente – E se você não se importar, posso tomar um ar com você? A não ser que prefira ficar sozinha. – apressou-se em acrescentar

Lily contraiu os lábios no que seria um projeto de um ligeiro sorriso triste.

—Pode. – respondeu com a mesma voz fraca.

Os dois caminhavam a passos lentos na direção contrária dos portões da escola. Vinham em silêncio. A ruiva claramente evitava andar no meio dos Jardins, ia por lugares mais discretos, margeando o castelo, a floresta e as estufas… não queria encontrar ninguém…

Algum tempo depois, porém, aquele silêncio pareceu pesar sobre o rapaz. Por isso, ao lado da Estufa 1, ele parou.

—Lily, se quiser conversar, estou aqui; – falou ele em um tom gentil e amigo – se só quiser companhia, estou aqui; e se quiser ficar sozinha, é só falar.

Triste e sem saber o que falar desde que tinha levantado da cama, ela demorava a dar uma resposta. Tiago, por outro lado, entendeu essa demora como significando que ela não queria companhia, e assim achou melhor ir embora.

—Se precisar de alguma coisa, é só chamar. – disse ele e virou-se para voltar ao castelo

Até aquele momento, Lílian não tinha encontrado ânimo de falar. No entanto, ao ver que ele iria embora, percebeu que não queria ficar sozinha.

—Tiago. – chamou no mesmo tom de voz baixo

O rapaz tornou a virar-se para ela.

—Fica. – ela pediu

Ele se aproximou dela novamente.

—Desculpe... Estou tão atrapalhada que não sei mais o que estou fazendo. É que… recebi uma carta… meu avô está doente. Estou preocupada, estou com medo. – ela evitou que sua voz tremesse – E não tem nada que eu possa fazer.

Sentindo que os olhos iam encher de água, Lílian olhou para o lado, abrindo mais os olhos e tentando evitar as lágrimas. Vendo, porém, que não ia conseguir segurar o choro, escondeu o rosto nas mãos.

—Hei. – ele falou preocupado e a abraçou – Vai ficar tudo bem. – disse afagando os cabelos ruivos dela

...

Em um banco conjurado por Tiago, os dois ainda conversavam. Lily já conseguira se acalmar um pouco.

—Se precisar de alguma coisa, chama. – ele repetiu

—Obrigada. – Lily respondeu com a cabeça baixa limpando o rosto molhado com as mãos

Não querendo que aquilo fosse mera formalidade (tanto a pergunta quanto a resposta), ele inclinou a cabeça procurando os olhos dela.

—Você vai? – ele perguntou

A moça levantou os olhos para ele.

—Vai pedir ajuda se precisar? – ele insistiu

Ela levantou os cantos da boca em mais um projeto de sorriso.

—Obrigada. – respondeu sinceramente olhando diretamente para ele

E os dois perceberam que não era mera formalidade...

—Lily, o que você está fazendo aqui sozinha?

Lily ouviu a voz fina da prima mais nova atrás de si e voltou à realidade.

—Nada, só… olhando a noite. – ela respondeu a primeira coisa que lhe veio à cabeça

—Ah, eu não gosto de olhar a noite, é chato. – falou Debbie

—Não acha a festa chata? – Lily não tinha pensado antes, mas ali não parecia ter muito que uma menina de sete anos fazer.

—Não. É engraçado ver as pessoas dançarem...

—Deve ser.

—É, vem.

—Debbie, eu não...

Não adiantou. A pequena já puxava pelo braço.

Nem bem a ruiva havia entrado de volta no salão e Felipe a apresentava a mais alguém. Não demorou, ela foi novamente convidada para dançar, e o primo mais uma vez arrumou uma forma de Lily não recusar.

Um tempo depois, mais alguém a convidava para dançar. Felipe não estava por perto dessa vez, e ela tentou escapar. Porém, a insistência foi tanta, que Lily ficou sem jeito e acabou aceitando. Não foi difícil descobrir que se tratava de mais um amigo do primo.

Quando a música terminou, Lílian cumprimentou seu par e afastou-se das pessoas que dançavam a música seguinte o mais rápido que a discrição lhe permitia. Levantou de leve a saia do vestido para subir os degraus e alcançar o primo.

Os passos suaves, porém firmes, da moça, logo se tornaram vacilantes. Não podia ser, seus olhos só podiam estar lhe pregando uma peça…

—Boa noite, Lily.

—Boa noite. – ela respondeu com um sorriso ainda se refazendo da surpresa

Tiago Potter estava ali. E, como a mente dela completou antes que pudesse frear o pensamento, estava muito elegante vestindo um terno preto.

 


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Notas finais do capítulo

N/A – Olá!!

Fui muito má parando o capítulo nesse ponto?
A partir do capítulo que vem, entramos mais nos personagens de Hogwarts, a família de Lily ainda aparece um pouco, mas daqui uns 2 capítulos eles não aparecem mais.

Ah, sim, ideia da Lily sendo convidada para dançar com várias pessoas veio de livros um pouco mais antigos, como Jane Austen, José de Alencar e a Autobiografia da Agatha Christie. Era esse o costume, pelo que entendi.

Digam o que acharam, o que dá para melhorar. Espero que tenham gostado!



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