Meu Jeito escrita por Palas Silvermist


Capítulo 22
Capítulo 22 – Olhares


Notas iniciais do capítulo

N/A Se alguém se interessar, recomendo escutar a música Wonder of It All indicada com o número desse capítulo no meu Profile quando forem ler a parte final desse capítulo...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/693304/chapter/22

Safira acordou mais animada naquela manhã, poucos dias depois do Ano Novo. Para seu alívio, as curtas férias de fim de ano tinham acabado e o castelo se encheria de novo naquela noite.

Na Estação de Trem de Londres, o Expresso de Hogwarts esperava os alunos. Do lado de fora do vagão, estavam Maia, Lílian e Alice.

—Maia, essa não é a caixinha de óculos de Ana? – Alice notou na mão da amiga

—É, sim. Ana passou em casa um dia antes da festa de natal dos Potter e acabou esquecendo lá.

—Ela já estava usando lentes? – Lily perguntou

—Já. – Maia respondeu – Mas ela começou a desenvolver alergia e teve de tirá-las. Tem uns dois dias isso. Aliás, em dois dias, Ana me mandou quatro corujas pra ter certeza que eu não ia esquecer de trazer seus óculos.

—Falando nela… - Lily indicou que a amiga que tinha acabado de entrar na Plataforma 9 ¾

—Olha a carinha de toupeira míope com os olhos apertados pra ver se enxerga alguma coisa… - brincou Maia quando ela se aproximou

Conforme Ana ia cumprimentando as três, Alice falou:

—Você está vendo que está cumprimentando, ou só está cumprimentando todo mundo mesmo?

—Eu estou vendo. – Ana respondeu em um azedume bem-humorado – Maia, meus óculos estão com você?

—Estão aqui. – disse ela entregando a caixinha preta que tinha na mão – Quem ia conseguir esquecer depois de quatro corujas…

Mais perto do final da viagem, tendo notado algo diferente no comportamento de Alice, Lily a levou para o compartimento vazio ao lado da senhora dos doces.

—Lice, afinal o que aconteceu? Você está claramente fugindo do Frank.

—Por que acha isso?

—Porque eu sou uma especialista no assunto? – Lily respondeu com uma pergunta retórica

A ruiva não repetiu, mas Alice podia reconhecer no rosto dela a primeira pergunta que a amiga lhe fizera.

—Frank me beijou. – conseguiu responder por fim

Lily sorriu feliz.

—Foi no natal, não foi?

—Foi. – ela respondeu com a voz baixa

—Você não encontrou mais com ele depois disso?

—Não, só trocamos cartas. Ele foi tão gentil, mas acho que teria ficado estranho mencionar isso em uma carta.

—Talvez… Quer que eu o chame aqui?

—O quê? Não. – Lice falou depressa

—Lice, você não vai poder fugir dele pra sempre.

—Eu sei. É só que… - ela fez uma pequena pausa – Ele foi tão doce, e gentil, e cavalheiro… E eu estou completamente em pânico, porque não sei o que fazer.

Lily tornou a sorrir suavemente ao ver os olhos da amiga.

—Você está completamente apaixonada. … Que pena…

—O quê? – Alice perguntou surpresa

—Devíamos ter dado a vassoura branca de presente de natal ao Frank… - Lily lamentou

Alice apenas estreitou os olhos com delicadeza e agitou a varinha displicentemente de forma que um jato de bolhas de sabão acertou a amiga fazendo-a rir.

… … … … … … … … … … 

Horas e horas viajando no Expresso de Hogwarts costumavam deixar os alunos cansados. Apesar disso, os setimanistas da Grifinória cumprimentaram Safira com animação e foram igualmente recebidos por ela já à mesa do Salão Principal.

Passaram o jantar conversando, principalmente a respeito das férias. Safira ouvia muito mais do que falava, suas férias tinham sido bastante tediosas, para não dizer deprimentes.

O cansaço foi para Alice e outros alunos uma ótima desculpa para, ao chegar à Torre da Grifinória, subirem direto para o dormitório.

No dia seguinte, uma segunda-feira, os professores não demonstraram qualquer compaixão por aqueles pobres neurônios que tinham ficado cerca de duas semanas em férias. Os NIEMs estavam cada vez mais próximos, e a tendência era o ritmo só acelerar a partir dali.

Na aula dupla de Poções da manhã, Alice dividiu uma mesa próxima à porta com Lílian – a ruiva achou melhor não falar nada a respeito. Mais ao lado e atrás estavam Sirius e Safira, e do outro lado da sala Tiago, Remo e Frank.

Frank de pouco em pouco olhava para a mesa das duas meninas, mas a posição do caldeirão de Alice fazia com que ela se sentasse de costas para o lugar onde ele estava. E foi com muito custo que ele conseguiu se concentrar o suficiente para não jogar nenhum ingrediente errado em sua poção.

A mesma determinação não teve Sirius…

Ele discretamente alternava sua concentração entre o livro com as instruções para o preparo dos ingredientes e Safira. Desde que chegara e Hogwarts, a beleza da moça chamara sua atenção. Nada mais do que isso, era verdade. Ele admirava seu rosto, especialmente seus olhos.

Lílian tinha belos olhos, era inegável, porém eram belos de forma diferente. Os da ruiva eram chamativos, era impossível olhar para ela e não reparar em suas íris verde esmeralda.

Safira era o contrário. Tendo tanto os cabelos quanto os olhos escuros, os olhos não ganhavam muito destaque no rosto. Tanto que haviam sido a última coisa que Sirius notara nela. Não, eram de uma beleza discreta. O tom quase azul marinho os tornava incomuns por si só, no entanto, não era apenas isso. Mostravam uma expressividade impressionante. Safira não precisaria realmente dizer muita coisa, seu olhar falava sozinho. E, ainda assim, tinha um traço de reserva que ninguém se atreveria a supor que sabia o que ela estaria pensando.

Com o tempo e a convivência, seu senso de humor fino e sua delicadeza, muito longe de ser frágil, passaram a encantá-lo aos poucos...

Da última vez que Sirius olhara para ela ali na mesa cortando suas raízes em tamanhos aproximadamente iguais, alguns fios mais curtos do ligeiro repicado de seu cabelo haviam escapado do elástico que os prendia em um rabinho e agora figuravam próximos a seus olhos. Mal ela sabia que aquele se tornara apenas mais um belo traço em seu rosto…

Alternando entre esses pensamentos e a ordem em que os ingredientes deviam ser jogados no caldeirão, Sirius se confundiu e adicionou o pó de raízes de plantas aquáticas da Mesopotâmia antes dos pedaços.

Saf não era, de modo algum, distraída, mas Poções era certamente a matéria que mais lhe interessava. E assim não percebeu a observação do rapaz e só viu que havia algo errado quando a poção dele começou a desprender vapores mais amendoados do que devia.

—Você colocou tudo na ordem certa? – ela perguntou colocando o cabelo que se soltara atrás da orelha

—Acho que não… - ele respondeu tentando mexer a colher mais rápido – Daqui a pouco esse cheiro de amêndoa atrai Slughorn aqui.

—Folhas secas de figo neutralizam esse cheiro. – ela sugeriu

—Não vai dar nenhum outro efeito na poção?

—Não, não vai nem mudar a cor.

—Como sabe disso?

—Já cometi esse tipo de erro. – ela deu de ombros

—Obrigado.

—Por nada.

Safira voltou a preencher seu relatório quando Sirius se levantou para ir ao armário buscar as folhas.

… … … … … … … … … … 

Uma reunião de monitores tirou de Frank a chance de se aproximar de Alice na hora do almoço. Essa reunião extraordinária tinha sido convocada por Filch, que embora não admitisse, andava particularmente preocupado: aquele seria o último semestre dos Marotos em Hogwarts e ele esperava que aprontassem algo, no mínimo, grande. Isso o fazia olhar com ainda piores olhos o fato de haver um Maroto, Remo, como monitor-chefe. O zelador não sabia que os rapazes, em especial Sirius e Tiago, andavam com outros assuntos ocupando a cabeça.

E se Frank achava que teria melhor sorte à tarde, logo viu que estava enganado.

McGonagall naquele dia dispusera as carteiras individualmente. E além de pedir uma redação de um metro para dali uma semana, no fim da aula ainda aplicou uma espécie de simulado do NIEM teórico de Transfiguração que deixou metade dos alunos com dor de cabeça.

Já em feitiços, a última aula do dia, Flitwick mandou que eles se dividissem em grupos de quatro alunos para treinar Feitiços Cruzados.

Apesar de todos os contratempos, Frank sabia que sua “má sorte” não era devida só a eles. Alice quase não aproximava dele, e ele não entendia bem o porquê…

… … … … … … … … … … 

Após o jantar, Alice subiu ao dormitório para escovar os dentes e encontrou a coruja de Tiago bicando o vidro da janela pedindo para entrar.

Após entregar a carta, Delfos voltou com visível pressa ao corujal. Não nevava, mas o frio era cortante.

“Licezinha,

será que dava pra gente se encontrar no Salão Comunal à meia-noite? Queria falar com você do nosso casal favorito.

Abraço, Sirius

 P.S. Não diga ao Tiago que usei a coruja dele, mesmo que o interesse seja dele…

Lice deu um meio sorriso e escondeu o bilhete. Achava melhor Lily não vê-lo…

… … … … … … … … … … 

Já tinha quase duas horas que suas amigas dormiam quando Alice desceu do dormitório sem fazer barulho. Ao chegar ao Salão Comunal, no braço de uma poltrona ao lado da lareira e de costas para ela, Lice viu a mão de alguém . Era difícil distinguir os contornos com precisão por causa da luz bruxuleante do fogo. Ao chegar mais perto, chamou:

—Sirius?

—Na verdade, não… - disse uma outra voz conhecida ao se levantar

—Frank? – falou ela surpresa

O rapaz saiu de trás do sofá e se aproximou um pouco.

—Achei que… Sirius… - ela gaguejava confusa

—Pedi a Sirius que te mandasse um bilhete. Pensei que se fosse eu que escrevesse, talvez você não viesse. – ele falou tentando esconder certa tristeza

—Frank, - disse ela sentida por tê-lo magoado – me desculpe. Não era minha intenção…

—Tudo bem. – ele não chegou a deixar que ela terminasse. – Peço desculpas pelo natal. É só que… Eu gosto de você, Lice. Se tornou uma pessoa muito mais especial pra mim do que eu conseguiria descrever. E acabei achando que você também gostasse de mim. Acho que me enganei…

—Não. – ela o interrompeu angustiada – Você não se enganou.

Os olhos de Frank adquiriram uma nova expressão.

—Então o que aconteceu? – ele perguntou com outro tom de voz dando alguns passos na direção dela

—Eu… Você tem sido tão amável, tão gentil… - com algum esforço ela conseguia olhar para o rosto dele – tem sido muito mais do que um sonho. Eu não sabia como me aproximar de você.

Frank pegou uma das mãos dela e beijou com carinho.

—Desculpe se o fiz pensar o contrário…

—Não importa. – ele falou sorrindo

E enquanto acariciava o rosto dela com as costas da mão, se aproximou mais…

—Quer namorar comigo? – Frank perguntou ainda abraçado a ela

Passando os dedos pelo cabelo dele, ela respondeu:

—Claro que sim.

E se beijaram de novo…

… … … … … … … … … … 

Quando Alice voltou para o dormitório, por coincidência, Lílian havia levantado para tomar um copo de água.

—Lice? – a ruiva perguntou um tanto bêbada de sono quando a viu entrar no quarto

Alice a puxou para o banheiro, a notícia não podia esperar até o dia seguinte. Quando fechou a porta e lançou um feitiço para que a conversa delas não acordasse as outras, Lily comentou:

—Estou tendo um déjà vu agora…

—Sim…

—Então… - Lily perguntou ao ver a expressão sorridente da amiga

—Frank e eu estamos namorando… - ela levantou ligeiramente os ombros

A ruiva abriu um lindo sorriso e a abraçou.

—Estou tão feliz por vocês. Mas como…?

—Sirius.

—Ah…

As duas ainda ficaram um tempo conversando antes de irem dormir.

… … … … … … … … … … 

Na manhã seguinte, após Sirius receber essa notícia, sem quase nenhuma surpresa, diga-se de passagem, Lily foi ao lado dele para dizer:

—Parabéns, Almofadinhas.

—Obrigado. – ele agradeceu com falsa modéstia – Já estou esperando o convite para ser o padrinho de casamento deles.

A ruiva fechou os olhos balançando a cabeça.

—Por que eu ainda me surpreendo com o tamanho do seu ego?

—Imagina, Lily. Eu nem quis mencionar que é óbvio que vou ser padrinho do seu casamento com Tiago. – ele provocou

—Sirius! – ela disse indignada.

Lílian chegou a pegar ar para rebater, mas se conteve e acabou respondendo:

—Quanto mais corda eu der, mais você vai tentar me enforcar. Então vou deixar você falando sozinho mesmo.

Dizendo isso, a ruiva saiu pelo Retrato da Mulher Gorda para tomar seu café da manhã enquanto Sirius ria.

Alice demorou um pouco para se acostumar com os olhares que as pessoas lançavam a ela e Frank ao vê-los passar de mãos dadas. Mas ela estava feliz demais para realmente se importar com isso.

… … … … … … … … … … 

Na tarde do sábado seguinte, Safira e Sirius estavam novamente na Sala Precisa transformada mais uma vez em um estúdio de dança. Os dois mal tinham chegado ali, estavam ainda perto da porta, quando Sirius falou:

—Senti sua falta na festa de natal dos Potter. Queria ter dançado com você.

—Dançou comigo quase o semestre inteiro. – ela estreitou um pouco os olhos em um bom-humor desconfiado

—Mais como professora que como amiga.

—Sou a mesma pessoa.

—Me dispensa da aula hoje?

—Sirius, - disse ela estranhando, mas não conseguindo supor nada – você não é obrigado a vir aqui, era só ter falado.

—Então estou dispensado? – ele insistiu

—Se faz questão se usar esse termo, então sim, está.

—Ótimo.

Saf balançou a cabeça e virou-se para ir até porta quando ouviu:

Milady,

A moça voltou a se virar ainda em tempo de vê-lo inclinar-se.

—Me concederia a honra dessa dança?

—Pensei que não quisesse dançar hoje…

—Não, queria dançar com você como um amigo.

—Não me lembro de ter te ensinado a reverência. – disse ela em seu bom-humor peculiarmente sutil

—Essa é inata. Achei que tivesse dito que eu estivesse dispensado da aula…

—Achei que eu também tivesse dito que era a mesma pessoa…

—Justo. – ele falou – Dança comigo? – pediu cavalheiro

Saf o avaliou por um momento.

—Claro. – ela respondeu ao delicadamente aceitar a mão que lhe era estendida

Com um aceno da varinha de Sirus, a música começou a tocar, e ele a encaminhou para o centro da sala.

Traveling beyond all that you've known
A drop of rain becomes an endless sea
You will always be a part of me

(Viajando para além de tudo o que você sabe
Uma gota de chuva se torna um mar sem fim
Você sempre será uma parte de mim)

O rapaz havia aprendido bem. Sabia guiá-la de maneira firme e gentil, e a conduzia com leveza. Aquela proximidade não era estranha entre eles, havia, porém, algo diferente aquele dia. Sirius mantinha uma seriedade galante no rosto, enquanto Saf tinha um meio sorriso indefinido.

Look deep inside to understand
Unforeseen life is a mystery
And you will always be a part of me

(Olhe profundamente para dentro para entender
Imprevisto a vida é um mistério
E você sempre será um aparte de mim)

Nas últimas notas da música, o ritmo, que tinha acelerado um pouco, voltou a diminuir. Nesse momento, em que Sirius voltou a reduzir o passo, Saf levantou o rosto para ele.

Os olhos dela… havia algo diferente neles…

Sirius talvez tentasse descrevê-los dizendo que estavam mais abertos, mas não era bem isso…

Pareceram, por um instante, desprovidos de uma espécie de véu invisível que nem Sirius, nem ninguém em Hogwarts tinham jamais reparado que estava lá. Esse véu não tirava a expressividade nem a vivacidade dos olhos dela. Era como uma reserva, como se ocultasse alguma coisa.

Safira, dotada de sua sensibilidade incomum, talvez conseguiria notar isso nos olhos de alguém, mas Sirius pôde apenas perceber alguma diferença.

Esse olhar dela durou muito pouco. Assim que piscou novamente, tudo voltou ao normal…

—Você aprendeu bem, - falou ela – não precisa mais de mim. É melhor nos focarmos nos N.I.E.M.s agora.

Sirius, a contragosto, concordou.

… … … … … … … … … … 

Naquela noite, Safira demorou a dormir. Cansada de revirar de um lado para outro, sentou-se no meio de sua cama com as pernas dobradas e os braços apoiados sobre os joelhos. Soltou o ar dos pulmões silenciosamente e com peso.

Sabia o que tinha acontecido com a expressão de seus olhos ao final daquela música.  Também não ignorava a mudança nas batidas do seu coração naquela hora. Não sabia se, ou o quanto, tinha sido perceptível para Sirius, mas ela tinha uma idéia do que aquilo significava… E era melhor não…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A – Olá!
Sem muito da Lily e do Tiago nesse capítulo, mas tivemos umas cenas fofinhas, pelo menos, gosto bastante da descrição da Safira e da dança dela com Sirius. O que acharam? E do Frank e da Alice?
Créditos: Música que Sirius e Safira dançam é Wonder of It All de Scottie Haskell, trilha sonora do desenho Tinkerbell. Acho que no mínimo, o ritmo tem muito a ver com eles. Quem tiver a paciência de ouvir, depois me contem se gostaram da música.
Até mais?
Palas



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu Jeito" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.