Meu Jeito escrita por Palas Silvermist


Capítulo 1
Capítulo 1 - Londres




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"Se alguém me perguntar
Porque é que eu sou assim
Me entrego sem pensar
Só pra alguém gostar de mim"

Era fim de tarde. A imagem dos barcos nas docas às margens do rio Tamisa era deslumbrante. Os raios de sol que se despediam da cidade refletiam na Casa do Parlamento, em Londres, tornando-a dourada. Era essa também a imagem que se tinha do Palácio de Buckingham, palco da pomposa cerimônia de troca de guarda quando até os cavalos executavam movimentos em excelente sincronia.

Nessa cidade, havia uma rua calma, um pouco afastada do centro. Árvores tão bem cuidadas pelos moradores decoravam as calçadas. Vez ou outra, algum carro passava por ali, porém sem tirar a tranqüilidade da região.

No começo daquela rua havia um sobrado antigo, muito bem conservado. O sol já se deitava no horizonte, mas não havia nenhuma luz acesa na casa. Quem a visse de relance poderia supor que seus habitantes ainda não haviam chegado do trabalho. Um olhar mais atento, no entanto, revelaria algo mais.

No quintal localizado ao fundo do terreno, existia um belo jardim, o xodó da senhora Helena. O calendário mostrava que o verão já tinha começado, mas o local ainda mostrava resquícios da primavera e, naquele momento, o espetáculo do lugar era uma macieira que florira tardiamente.

Ao lado da árvore e de frente para o jardim, avistava-se uma sacada. O piso branco que a revestia era emoldurado por grades cinza-chumbo.

Uma garota estava ali sentada. Recostara-se a uma almofada para não ser incomodada pelos vãos entre as barras de ferro. Tinha a pele de nácar e cabelos ruivos que desciam até quase a cintura, cacheados nas pontas. Parecia dormir.

No chão, repousava uma caixinha vinho claro com delicados contornos de flores brancas. O objeto estava entreaberto e era visível um pequeno caderno, uma caneta, bilhetes …

Lílian Evans, de repente, abriu os olhos de um incrível verde esmeralda e contemplou o céu. Ela não dormia... Poucas nuvens se moviam e umas duas estrelas já eram visíveis. Algumas montanhas que podia ver ao fundo da paisagem tinham contornos vermelhos do pôr-do-sol.

Um pontinho ao longe chamou sua atenção, parecia vir em sua direção. Aos poucos, ele foi aumentando e ganhando forma. Logo, uma coruja que ela não conhecia pousara e esticava uma perna onde havia uma carta presa.

 “Oi, Lily!

Como você está? Da última vez que nos vimos, na Plataforma 9 e 3/4, estava preocupada, meio chateada. Espero que esteja melhor. Alguma notícia do seu avô?

Mudando de assunto, esse é meu novo mensageiro. É uma coruja-do-campo e o nome dele é Flit. Não é lindo?”

Lily observou melhor a coruja. A garganta era branca e o dorso, pardo-cinzento com manchas vermelhas. As asas e a cauda eram marcadas por manchas brancas transversais.

“Meu começo de férias está meio parado. Sai um pouco com minha mãe e, por falta do que fazer, já terminei algumas das lições que mandaram pra gente.

Mudando de assunto (de novo), Maia e Ana me escreveram perguntando se eu tinha notícias suas. Parece que elas ficaram “meio assim” de te escrever e atrapalhar você.

Ah, antes que me esqueça: o Tiago e o Sirius estão aqui em casa (você sabe, os Potter e meus pais são amigos há anos, fazia um tempo que não se viam e resolveram marcar um jantarzinho pra colocar as conversas em dia). Eles estão perguntando de você e me pediram pra mandar um beijo, então, aqui está.

E você, o que tem feito?

Bom, acho que de coisas que vale a pena (literalmente) escrever é só.

Acho que você já sabe disso, mas não custa repetir: se precisar de alguma coisa, chama, ‘tá?

Beijos...

Alice

A garota abriu a caixa ao seu lado e tirou um papel de carta todo desenhadinho (Alice gostava deles. Não eram muito comuns pra ela aqueles ‘pergaminhos coloridos’).

Mal teve tempo de escrever “Lice” e ouviu um carro freando em frente ao portão. Pegou um relógio que estava ao lado e deu um curto suspiro ao ver o horário. Rabiscou um rápido bilhete para a amiga e o prendeu na perna da coruja que levantou vôo em seguida.

Rapidamente as coisas que estavam espalhadas pelo chão foram recolhidas e deixadas em cima da cama. Lily foi em direção às escadas. Teria de passar pela sala para chegar à cozinha. Pelo barulho do carro já sabia quem chegara: Dursley trouxera Petúnia do trabalho.

À porta, a irmã ainda se despedia do namorado.

—Boa noite, Petúnia, Dursley.

Como nenhum dos dois respondesse ao cumprimento, ela continuou andando.

Pegando panelas e ingredientes para o jantar, lembrava-se do que acontecera nas últimas semanas.

Em um dos primeiros dias de junho, recebeu uma carta vinda de casa. Entre tudo que sua mãe falou, uma coisa chamou sua atenção: seu avô, Luciano Evans, passara mal e apesar de ele dizer que não tinha sido nada de mais, deixou sua esposa, Clara, inquieta.

Helena, mãe de Lily, dissera à garota para não se preocupar. Devia ter sido algum esforço maior que ele fizera no sítio onde morava e apenas por precaução, já estava fazendo alguns exames. Mesmo com o comentário tranqüilizador da mãe, alguma coisa ainda perturbava a ruiva.

Um tempo depois...

Ela e Maia, uma garota de cabelos longos enrolados e pretos, estavam no Salão Comunal, vazio exceto por poucos alunos do sétimo ano.  Era a última aula do dia e as duas tinham aquele tempo vago.

Lily havia interrompido momentaneamente o que estava fazendo a fim de pensar no que ainda a incomodava quando ouviu pequenas batidas na janela.

—Clio.

—Oi? – Maia levantou os olhos acinzentados do pergaminho onde escrevia – O que foi? – ela acrescentou ao ver o olhar ligeiramente assustado que a amiga lançava à coruja

—Não sei se quero saber o que está escrito. – ela disse sentando-se no sofá já com a carta em mãos

—Lily, - Maia se ajoelhou na frente dela – você ler ou não, não muda o que está escrito. E quem sabe você encontra uma notícia boa?

Ela esboçou um sorriso ansioso por um dos cantos dos lábios e desenrolou o papel.

Sentiu o sangue fugir de sua face à medida que lia a carta e sua respiração se tornava ofegante. Fechou os olhos na tentativa de controlar seu ritmo respiratório enquanto lágrimas escorriam silenciosamente por seu rosto.

—Lil, o que aconteceu? – Maia perguntou, visivelmente preocupada.

—As coisas não eram tão simples...

QUEPLÉM!

Um barulho estridente fez Lílian cair de seus pensamentos.

—Sabe, Petúnia, você pode me chamar pelo nome em vez de deixar cair a tampa de uma panela para atrair a minha atenção.

—Nossa mãe pediu pra avisar que vai se atrasar por meia hora hoje. – ela saía da cozinha, mas parou ao ouvir a irmã falar

—Nem com tudo isso você volta a falar comigo normalmente?

—Você continua sendo anormal, Lílian.

Ao ouvir isso, a ruiva revirou os olhos e voltou ao que estava fazendo.

… … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

Algumas ruas de distância dali, Flit reconheceu os cabelos claros e cacheados, na altura dos ombros, quase loiros da dona no jardim e pousou em seu braço.

—Oi, Flit. – a garota de olhos muito azuis falou enquanto acariciava a ave – Parece que a Lily respondeu.

—E então? – perguntou Tiago depois de ela ter lido a mensagem

—Nada de demais. Olha. – ela falou passando a carta pra ele.

Lice, não posso escrever agora. Petúnia acaba de chegar e eu fiquei de fazer o jantar. Dê ‘olá’ ao Sirius e ao Tiago por mim. Mais tarde escrevo uma carta de tamanho decente.

Beijo...

Lílian

—Bom, pelo menos pela mensagem parece que ela está melhor.

—Afinal, o que foi que aconteceu no dia que ela recebeu a má notícia? – Sirius perguntou – Nós tínhamos... hum... saído.

—Vocês tinham ido aprontar alguma coisa, você quer dizer. Se Filch os pegasse todas as vezes que desobedecem as regras, iria ficar com cãibras no braço de tanto escrever relatórios... – ela riu – Bom, na verdade, não sei bem o que se passou naquele dia.

Quando voltei da última aula, encontrei a Lily deitada no sofá dormindo com a cabeça apoiada no colo da Maia.

—O que foi?

—Me ajuda a levá-la lá pra cima. – ela sussurrou

Depois de um feitiço de levitação, Lily foi parar na cama dela e nós duas ficamos do lado de fora da porta do dormitório para conversar.

—Obrigada, Lice. Se eu me mexesse pra pegar minha varinha ela iria acordar.

—Por nada. Então?

—Más notícias. O avô dela vai ter de ir a Londres pra fazer uma cirurgia e ela ficou super preocupada porque… bom… ele não é mais jovem…

—Ai, não. Espero que fique tudo bem. Ela é muito apegada ao senhor Evans.

—É, ela ficou tão agitada que eu lhe dei uma poção de maracujá e camomila. Era fraca, mas ela acabou pegando no sono.

—Hum… o pior é que não tem muito o que falar nessas horas… Antes que eu esqueça, você não vai descer pra jantar?

—Não queria deixá-la sozinha.

—Então desce, o Guilherme está te esperando. Eu fico aqui.

—Ela dormiu até o dia seguinte. Aliás, foi a primeira a acordar. Nenhuma de nós a viu sair do dormitório. – Alice terminou

Tiago não falou nada, porém foi ele o primeiro a encontrá-la na manhã seguinte.

A noite anterior fora de lua cheia. Pedro e Sirius já tinham subido para a Torre da Grifinória, mas ele demorara um pouco mais nos jardins. Foi quando a viu caminhando lentamente sobre a grama. Apesar de ainda ser de manhã cedo, o calor a obrigara a carregar a capa na mão. Vinha cabisbaixa… aquilo não estava certo…

—Bom dia, Lily.

—Bom dia. – ela respondeu sem entusiasmo

Foi quando ele viu que seus olhos estavam vermelhos.

—Está tudo bem com você? – perguntou de um modo carinhoso

Ela balançou a cabeça negativamente contraindo os lábios.

—Queria saber como ele está. Meu pai e meus tios devem estar quase em pânico. E eu aqui a quilômetros de casa e sem poder fazer nada. – falava ela com a voz engasgada de um choro contido

—Em poucos dias você já vai estar em casa…

—Estou com medo do que vou encontrar…

Tiago a abraçou e ela permitiu que as lágrimas escorressem por seu rosto mais uma vez. Parecia tão frágil...

… … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

Na casa dos Evans, durante o jantar, após Lily se oferecer para cuidar do avô enquanto ele estivesse em Londres, Helena falou:

—Não queremos sobrecarregá-la, Lily.

—Não vai ter nada de tão complicado para ser feito. – a ruiva argumentou

—Lily, você está de férias.

—Por isso mesmo, mãe, não vou fazer nada de importante.

—Vai ser muita coisa pra você tomar conta e você precisa descansar. Esse vai ser o seu último ano, vai ter os N.I.E.M.s. Se pelo menos Petúnia pudesse ajudar… – falou Helena

—Mãe, eu já chego tarde em casa do trabalho.

—Nós sabemos, Petúnia, querida. Foi apenas um comentário.

—Mãe, de que jeito ela ia me ajudar? – Lily deixou o tom sério e adquiriu um mais coloquial – Ela odeia trabalho doméstico e nem um curativo ia poder fazer. Uma vez teve de ficar sentada com a cabeça entre os joelhos quando viu um filme sobre acupuntura no colégio.

—Quando é que você vai esquecer isso, hein? – Petúnia perguntou com a voz um tanto azeda

—No dia que você parar de me chamar de anormal.

—Nunca.

—Então já tem a sua resposta. – Lily falou com um sorrisinho

—Meninas, o assunto é sério. – Matheus interrompeu a discussão

—Talvez Felipe possa me ajudar.

—Felipe? Parece uma boa idéia… fale com ele amanhã e decidam o que vão fazer. De qualquer forma, acho que meu pai vai preferir receber os cuidados de vocês dois aos de uma pessoa estranha.

… … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

Passava um pouco das onze horas da noite quando Alice, ainda na companhia dos dois garotos, recebeu a carta de Lily. Como a conversa dos pais dela e de Tiago tivesse se voltado para o Ministério, os três se retiraram para a sala.

Olá Lice,

Agora sim posso escrever essa carta com calma. Fiquei escrevendo na sacada do meu quarto e perdi a noção do tempo. Quando vi, o tal do Dursley já estava chegando com Petúnia. Pelo menos ele não ficou para jantar.

Ah, sinto muito. Acho que consegui deixar todos preocupados comigo. Se o Sirius e o Tiago ainda estiverem por aí, minhas desculpas a eles também.

—Como se nós não fôssemos nos preocupar com ela de qualquer jeito por ser nossa amiga… - comentou a loira

Bom, pra resumir, a situação ficou mais ou menos assim:

Vovô Evans está com um problema cardíaco e vai vir até aqui em Londres pra se tratar.

Ele tem três filhos: meu pai e meus dois tios. Por motivos diversos nem eles, nem as respectivas esposas puderam tirar férias nesse período. O que está deixando todos eles um tanto chateados, pra dizer a verdade.

Ele vai ficar hospedado aqui em casa e, se tudo der certo, eu e Felipe vamos cuidar dele. Isso significa que vou terminar todas as lições essa semana pra não ter de me preocupar com elas mais tarde.

Como sou a única da casa que não está trabalhando, me candidatei para ajudar a pilotar o fogão. Isso, eu estou cozinhando. E não, não se preocupe, a cozinha ainda não explodiu. Na verdade, nos dias em que minha irmã chega mais cedo é ela quem cozinha. Devo dizer: é hilário vê-la reclamando com as panelas, briga mais com elas do que eu com o Tiago no quinto ano (dá pra ter uma idéia da situação, não?)... EU passo praticamente o ano todo em Hogwarts e é ELA que não sabe mexer com aparelhos trouxas... vai entender...

De interessante, até agora, só li muito, escrevi muito e fiquei “passeando” pelo jardim. A macieira está simplesmente linda. Gostaria que estivesse assim sempre que volto pra casa…

Um beijo…

Lily

P.S. Diga às senhoritas Maia e Ana para deixarem de ser bobas. Ou elas acham que eu quero ficar isolada as férias inteiras?

—É, ela voltou a ser a Lily. – falou Alice dobrando a carta

—O que quer dizer? – perguntou Sirius

—Quer dizer que não importa o quão preocupada ela estiver, ela vai se mostrar forte, confiante e alegre pra tentar fazer quem estiver à volta dela se sentir bem, apesar do que estiver acontecendo. E se ela for cuidar da casa, como acho que vai, vai ter bastante trabalho.

—Por quê? – perguntou Sirius

—Ela não fez dezessete anos ainda. Então…

—Não vai poder usar magia. – Tiago completou – E quem é Felipe?

—Primo dela. Pelo que sei, os dois têm praticamente a mesma idade.

—Ciúmes, Pontas?

Tiago limitou-se a lançar a ele um olhar que poderia significar absolutamente qualquer coisa.

 


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Notas finais do capítulo

N/A



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