Voltando de Montpellier escrita por Palas Silvermist


Capítulo 1
Capítulo 1




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O sol brilhava naquela tarde sobre Jardin des Plantes, o primeiro jardim botânico da França, datado de 1593. A linda cidade de arquitetura antiga estava movimentada como sempre naquela sexta-feira. Ficava próxima à região de Languedoc, produtora de vinho, e a cerca de onze quilômetros do Mediterrâneo. O lugar atraía muitos estudantes, tanto trouxas, como bruxos.

Marlene contemplava a vista da sacada de sua pequena casa. Era seu último dia em Montpellier, no sul da França. Havia um ano que terminara Hogwarts e fora para lá estudar Poções – os povos do Mediterrâneo eram conhecidos pelo excelente preparo de poções. No dia seguinte retornaria à Inglaterra. Não devia, mas seu estômago dava um nó só de pensar…

A casa que ficara nos últimos doze meses era minúscula e muito confortável. No andar de cima, apenas um quarto e o banheiro; embaixo, a cozinha e uma pequena sala de estudos. Como já tivesse alugado o lugar mobiliado, agora não tinha a dor de cabeça de preparar a mudança dos móveis. Só precisava terminar de juntar seus pertences e despachá-los para a estação de trem na manhã seguinte.

Lene prendeu os cabelos de qualquer maneira e foi terminar essa tarefa que deixara inacabada após o almoço. Faltava guardar suas roupas e objetos de uso mais contínuo. Todo o resto já estava empacotado no andar de baixo.

Ela separava as roupas em pilhas por tipo (calça, saia, blusa e etc.) e estação (frio, calor). Se estivesse ali, Lily perguntaria divertida se ela também não estava separando por cor. Lene negaria argumentando que não havia a pilha de roupas amarelas, nem a das azuis e daí por diante. Contudo, as peças claras estavam junto com outras peças claras, as intermediárias com as intermediárias e as escuras com as escuras.

Marlene tinha os cabelos de um castanho tão escuro que chegavam quase a ser pretos. Eram bastante lisos, embora não escorridos, repicados e atingiam o meio das costas. Seus olhos amendoados eram do mesmo tom.

Por um lado, estava triste por ir embora, fora feliz ali. Por outro, queria muito rever seus pais e seus amigos, morria de saudade deles. Lily, James, Remus e Clara, queria encontrar até Peter. E, bom… e Sirius.

Sirius Black tinha sido o cara mais bonito e mais charmoso do colégio e chamava muita atenção por isso na época. Longe de sua legião de fãs, ele era uma pessoa normal. Pelo menos o quanto um Black-Maroto-ovelha-desgarrada-da-família podia ser. Era simpático, divertido e blá, blá, blá. Lene, inclusive, fora apaixonada por ele. Fora, ouviu Senhorita Marlene?, dizia para si mesma, fora, pretérito.

Nos últimos seis meses do sétimo ano, ele começara a convidá-la para sair. E a insistir bastante nisso, aliás. A moça, porém, fugiu dele de toda forma. Gostava muito dele, é verdade. Mas gostava de si mesma também e não queria passar cada dia só a espera de ser o último.

Terminou de arrumar as roupas sobrando apenas sua camisola e o conjunto para a viagem. Passou então a desocupar a última gaveta da cômoda retirando dali um grosso volume de pergaminhos. Eram cartas que recebera no último ano. No topo da pilha tinha de ter uma dele…

Um ano tinha se passado. Um ano. Como ele estaria? Com quantas teria saído nesse tempo? E o que ela sentia por ele? Era tudo uma incógnita. Todos aqueles meses longe pareciam tê-la curado… Mas lembrar de Sirius como parte do seu regresso para casa dava-lhe um frio na barriga.

O relógio marcava sete horas da noite quando tudo ficou pronto e ela saiu para jantar.

As primeiras horas do dia seguinte, 16 de setembro, como em qualquer manhã de viagem que se preze, foram atarefadas e apressadas. Ainda bem, ela não perdeu o trem que a levaria a uma cidade no interior da França. Ali em um povoado bruxo, ela conseguiria uma lareira para viajar de Flu para Londres. Era noite daquele sábado quando ela aterrissou na sala de sua casa onde seus pais a esperavam.

—Lene! – eles a abraçaram – Que bom que está de volta.

Era bom sentir aquele cheiro de novo. O cheiro da sua casa.

Cansada, ela aderiu à sugestão dos pais e apenas jantou, tomou um banho e foi dormir.

O ensolarado dia seguinte acordou uma Marlene de ótimo humor, que logo se pos a arrumar as coisas de volta ao seu quarto e a despachar cartas aos amigos dizendo que estava de volta à Inglaterra. Terminado isso, pegou o caderno de empregos do Profeta Diário, deitou de barriga para baixo em sua cama e passou a circular anúncios mais promissores com uma pena molhada em tinta cor de rosa.

Como precisava mandar seu currículo para vários lugares e Zoe, sua coruja, ainda não tinha voltado, ela resolveu ir ao Correio do Beco Diagonal na manhã da segunda-feira. Era a primeira vez que ia para lá depois de ter terminado Hogwarts e sentiu falta de não ter um Livro Padrão de Feitiços de alguma série para comprar.

Saindo do Correio, resolveu andar a esmo pelo lugar. Sentia-se nostálgica naquele dia. Aproveitou para comprar alguns ingredientes e um novo livro de poções. Passava próximo ao Gringotes quando viu cabelos ruivos muito familiares.

—Lily?

Lily se virou, e surpresa, encontrou a amiga.

—Lene! – ela a abraçou – Que saudade! Não esperava encontrar você aqui.

—Vim ao Correio entregar currículos. – Lene respondeu – Olá, James. – cumprimentou

—Oi, Lene. – ele também a abraçou

Bom, se James estava acompanhado da namorada, ele não deveria… Ai, Merlin.

—Prongs, Lily, vocês viram… - Sirius desceu as escadas externas no banco, parando de falar ao reconhecer quem estava junto dos dois – Lene? – ele abriu um sorriso – Tudo bem?

Era o terceiro abraço que Lene recebia nos últimos cinco minutos, mas foi o único que fez seu coração acelerar. Ela tinha tanta esperança de estar curada… Era realmente uma sorte não ficar corada com facilidade.

—O que acham de irmos à Sorveteria Florean? – ele convidou

—Acho uma boa idéia. – fez James – Vamos, Lily?

—Claro. Lene?

—Não, obrigada. – ela tentou recusar – Acho que vou para casa.

—Eu insisto. – falou a ruiva – Vai ser uma espécie de comemoração adiantada da resposta dos seus currículos. Você tem duas respostas ao convite: “sim” ou “claro que sim”.

—Está bem, eu vou. – ela concordou

—Essa não estava na lista de opções, mas vou abrir uma exceção e aceitar mesmo assim. – disse Lily

—Ela continua mandona desse jeito? – Marlene perguntou com um meio sorriso olhando para James.

—Você realmente esperava encontrar algo diferente? – ele respondeu divertido

—Ei! – Lily deu uma cotovelada nele

—É brincadeira. – James beijou o rosto dela rindo

Pouco depois, sentavam-se a uma das mesinhas redondas do lado de fora da sorveteria sob uma espécie de guarda-sol colorido. Logo cada um degustava seu sabor de sorvete favorito.

—Gostou da França, Lene? – James perguntou

—Praticamente só conheci Montpellier. Bom, tirando as duas semanas que passamos em Paris nas férias de fim de ano. As duas cidades são lindas, gostei muito de morar em Montpellier. É mais tranqüila que Paris, basicamente uma cidade para estudantes. O curso também foi ótimo. Você teria gostado, Lily.

—Tenho certeza que sim. – a ruiva respondeu – Ainda considero ir pra lá… quando meu chefe der uma chance. Nem acredito que estou de férias.

Lily trabalhava no Departamento de Poções do Saint Mungus.

—Quais são os planos agora? – Sirius perguntou

—Encontrar um emprego. – Lene disse simplesmente – Mandei alguns currículos hoje, agora preciso esperar a resposta.

O rapaz ouviu com interesse, há tempo esperava o retorno dela.

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Dublin, 22 se setembro de 1978

Leneee!

Menina, que saudade!!!

Marlene reconheceu a caligrafia de Clara já no envelope. E agora que lia a carta, conseguia imaginar o rosto sorridente e extrovertido da amiga falando com ela muito rápido.

Que azar o meu, viajei para a Escócia um dia antes de você voltar para Londres (um dia!).

 Ser estagiária é fogo. As pessoas pensam que podem te mandar fazer tudo e te arrastar para qualquer lugar perguntando no máximo: “Seu passaporte está em ordem, não está?” – Muita atenção nesse “não está?”. Significa: responda que sim de qualquer forma. E caso a resposta verdadeira seja “não”, responda que sim de todo jeito e trate de resolver a coisa imediatamente. Mesmo que isso signifique, como era o meu caso, que você tem de providenciar um passaporte, porque você sequer tem um. Mas tudo bem, no fim, tudo deu certo.

Ou o quanto certo podia dar. Estou acompanhando uma das sócias do escritório de Direito Mágico Harker & Scott e servindo de… como diriam os trouxas?… motoboy (ou motogirl) em um país que nem conheço. Espero estar inteira até o dia 30, dia em que (supostamente, pelo menos) devo voltar para casa.

Mas as coisas vão melhorar, vão…

Hum, eu já vou. A semi-escrava, digo, a estagiária foi chamada novamente.

Beijos, Clara

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Lene, olá!

Que bom que já está de volta à Inglaterra. Já encontrou com algum dos outros Marotos, Lily ou Clara?

Continuo na Irlanda. Esse curso de Defesa Contra as Artes das Trevas foi muito bom. Mesmo assim, estamos no último módulo (Criaturas Aquáticas) e não agüento mais ver grindylows e seus dedinhos quebradiços na minha frente. Volto para casa semana que vem.

Tenho de terminar meu último trabalho e, adivinha, é sobre grindylows.

Até mais, Remus

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Ela tinha que voltar ainda mais bonita da França?

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Vou assumir que seja Padfoot pela caligrafia horrível, pela cara da sua coruja e pelo completo desprezo por cordialidades como “oi, tudo bem” e, no mínimo, uma assinatura.

Sendo assim, o senhor Prongs lamenta profundamente a falta de modos do senhor Padfoot e pergunta o que exatamente ele quer que lhe seja respondido.

Abraço, James

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O senhor Padfoot pede ao senhor Prongs que deixe de ser chato uma vez que sabia de quem era a carta, e pede que ele disserte sobre suas opiniões a respeito das chances do senhor Padfoot com a senhorita McKinnon, recém-chegada da França.

O senhor Prongs faz cara de compreensão e responde que não faz idéia. Porque, assim como o senhor Padfoot, ele passou um ano sem ver a senhorita McKinnon. Sugere ao senhor Padfoot que da próxima vez seja mais específico desde o começo.

O senhor Padfoot pergunta se pelo que o senhor Prongs viu no Beco Diagonal acha que a senhorita McKinnon pode gostar dele. Ou será que ela estaria saindo com alguém?

O senhor Prongs apóia o cotovelo na mesa, a cabeça na mão e tamborila os dedos na bochecha olhando para o alto pedindo ao senhor Padfoot que tenha bom senso: por que a senhorita McKinnon contaria algo do gênero ao senhor Prongs?

O senhor Padfoot quer bater no senhor Prongs.

O senhor Prongs sugere pedir ajuda ao senhor Moony.

O senhor Padfoot julga ser essa a primeira boa idéia que o senhor Prongs escreveu nessa carta.

O senhor Moony está com dó das pobres corujas e se sente de volta a Hogwarts trocando bilhetes em uma entediante aula de História da Magia. Sugere que se pergunte o caso à namorada do senhor Prongs, que, por acaso, é uma das melhores amigas da senhorita McKinnon..

O senhor Padfoot bate a mão na testa e diz que por acaso o senhor Prongs deveria ter pensado nisso.

O senhor Prongs rebate que, por acaso, o senhor Padfoot também não tinha pensado nisso.

O senhor Padfoot reafirma que o senhor Prongs por acaso deveria ter tido essa idéia antes já que a melhor amiga da senhorita McKinnon por acaso é namorada do senhor Prongs.

O senhor Prongs por acaso vai encontrar a namorada essa noite e pergunta a ela.

O senhor Moony lamenta ter usado a expressão “por acaso”.

O senhor Prongs comunica que, de acordo com a senhorita Evans, sua namorada, a senhorita McKinnon não está saindo com ninguém.

O senhor Moony espera que com essa informação o senhor Padfoot deixe as pobres corujas e o senhor Moony em paz, já que as primeiras têm direito a descanso e o último tem um trabalho sobre grindylows e seus dedos quebradiços para terminar para poder pegar seu certificado e voltar para a Inglaterra daqui uns dias.

O senhor Padfoot pergunta como o senhor Prongs teve a coragem de mandar uma informação dessas primeiro ao senhor Moony e depois a ele.

O senhor Prongs responde que é bom exercitar a paciência.

O senhor Padfoot diz que está precisando exercitar muito sua paciência agora para não enviar nenhum envelope suspeito ao senhor Prongs.

O senhor Prongs diz estar tremendo de medo.

O senhor Moony (interrompido novamente) diz aos senhores Prongs e Padfoot para deixarem de ser infantis. Aproveita e acrescenta ao senhor Padfoot que, agora que está feliz com a informação, deixe as pobres corujas descansarem e o pobre senhor Moony terminar seu trabalho (!!!).

O senhor Prongs se despede.

O senhor Padfoot se despede.

O senhor Moony mal pode acreditar.

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Olá a todos!

Como nosso grupo de Hogwarts está meio se desfazendo com todo mundo trabalhando/viajando/fazendo cursos e por aí vai, estou marcando uma reunião pra gente se ver. A princípio dia 31 (se tudo correr como esperado, Clara estará de volta no dia anterior, Remus já vai estar por aqui também e Lene já voltou).

Convidaria vocês para virem à minha casa, mas Petúnia surtaria se eu trouxesse mais seis bruxos pra cá. Ela mal agüenta uma, vulgo, eu. Por isso, James está transferindo o convite para a casa dele.

A data está ok para todo mundo?

Beijos, Lily

P.S. Antes que o Sirius me perturbe, sim, eu perguntei ao James antes de mandar essa carta, ouviu bem?

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Lily!!

Claro que vou no dia 31. Quer dizer, se minha chefe não resolver de repente que precisa da camela aqui por mais alguns dias.

Beijos, querida.

Clara

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Cara cunhada,

Era impossível ouvir bem já que a sua era apenas uma carta e não uma áudio carta. E é claro que jamais pensei isso.

Beijo, Sirius

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É claro que eu acredito, senhor Black. Afinal você vem ou não?

Eu realmente tenho escolha? Que progresso, Lily.

Esquece. Não precisa mais vir. Fique sem ver a Lene.

Só a Lene vai estar lá?

Não, e não se faça de desentendido. Tenho certeza de que ela é a pessoa que você mais quer ver. Poupe-se o trabalho de negar. Aliás, poupe o trabalho da minha coruja e da sua também.

Caso você ainda queira a resposta, sim, o dia 31 está livre na minha agenda, pode confirmar.

 


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Notas finais do capítulo

Olá!

Originalmente essa fic era uma one-shot, mas me disseram que estava muito longa, então acabou sendo dividida em dois capítulos. O próximo capítulo vai ser colocado no fim de semana.

Espero que tenham gostado!

Abraço,
Palas



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