P.O.V.: Lilian Evans

Atravessei o salão comunal o mais rápido possível, não queria dar a chance de alguém me ver assim. Subi as escadas e acabei esbarrando em Sirius e Lene, mas eles estavam ocupados demais engolindo a língua um do outro para se quer reclamar.  Abri a porta do dormitório e entrei tomando o máximo de cuidado para não bater a porta com tanta força. Escorei-me na porta e senti meus olhos arderem.

 Pela corrida eu estava com calor e ao perceber que ainda estava com a jaqueta de quadribol do James, me aprecei em tirar a peça de roupa que, por eu estar suada e com as mangas arregaçadas, não queria sair como se sua missão fosse se agarrar para sempre em mim.

"Enquanto usar isso, você será a garota do Potter" eu me lembro de ter ficado muito nervosa pela forma possessiva e machista como ele me disse aquilo, mas tão feliz por estarmos juntos.

—Saía! Por favor... -disse chorosa enquanto implorava e puxava a jaqueta para ela sair. E assim que ela saiu do meu braço e pousou imóvel no chão eu senti um frio instantâneo e desejei recolocá-la, mas tudo que fiz foi me abraçar e esfregar os braços enquanto olhava pelo quarto procurando algo para me enrolar, desolada sabendo que não poderia mais buscar calor nos braços de James que me aqueciam e me envolviam na maioria das noites em que se esgueirava para o dormitório masculino. Meus olhos pousaram na jaqueta e senti novamente uma ardência nos olhos, soluços invadiram minha garganta e eu me ajoelhei sobre o tecido cheiroso no chão. Com as palmas apoiadas no chão fechei com força os olhos e esperei as lágrimas, que teimavam em cair.

‘Por quê? Por que não escorrem?’ Me perguntei. Eu sentia essa necessidade de chorar, mas eu sabia que não iria. Eu não podia, eu tinha prometido que nunca deixaria o Potter se tornar tão importante ao ponto de me fazer chorar. E mesmo machucada por dentro meu corpo se nega a demonstrar a dor que sinto, se nega a quebrar uma promessa, a perder um jogo onde o premio era meu orgulho intacto. Mal sabia ele que havíamos perdido há tempos.

 "Orgulhosa" ele sempre repetia isso "Um dia você vai engolir esse orgulho e vai aceitar que me ama". Fechei com força os olhos, me lembrando de quando finalmente decidi engolir meu orgulho. Um erro. Só isso pode definir essa decisão.      

Eu me levantei do chão e agarrei a jaqueta onde se podia ler o sobrenome Potter com letras douradas. Eu a dobrei e a levei comigo até a cama onde me deitei, e assim que pousei minha cabeça no travesseiro desatei a chorar. ‘Travesseiros e seu reconforto sempre disponível de madrugada para almas conflitantes’.

Eu o queria, mas ele me traiu. E tudo que eu o pedi foi que ele não me fizesse apenas mais uma. Tudo foi tão fácil depois de ter estado ao lado dele. Os sonhos pareceram se realizar ao lado dele, só que Lily não esperava ver um fim tão triste para eles.

"Como vou olha-lo amanhã? Como ele vai reagir? Eu devo ficar o dia inteiro aqui? Não, eu sou a Evans! A aluna ideal e correta, não posso faltar... mas e James?"

—Seria uma ótima oportunidade de faltar amanhã Potter- disse incrédula ao pensar em ter tanta sorte. Ainda confusa com o que queria e com o que faria amanhã, eu abracei a jaqueta e ainda soluçando adormeci com um único pensamento: ‘Amor, você é o sentimento que eu sinto, por favor, suma, logo! De preferência não exista amanhã’

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—Bom dia Lily- acordei com a voz de Lene me chamando. Ela ainda nem tomara banho, estava com as roupas que usara na festa de comemoração de ontem à noite- Por que a senhorita ainda estava dormindo? O Potter te pegou de jeito ontem, né?- Ela deu um sorriso safado- Eu terei de falar com ele, esse garoto tá levando minha amiga certinha para o lado sombrio. - Fechei os olhos e suspirei.

 Eu sorri fraco, e sonolenta. Já sentada na cama, vi que ainda estava abraçada com a jaqueta de James, tristonha a soltei sobre a cama.

—Tudo bem Lily?- Lene perguntou e eu acenei positivamente, 'devo conta-la...? Não, ela iria matar o Potter antes mesmo dele saber o que o atingiu'. Entrei no banheiro me arrastando e deixei-me demorar debaixo da agua, me arrumei na esperança de não vê-lo, no mínimo, até o almoço. Quando saí do cômodo vi Lene jogada na cama tirando um rápido cochilo, eu revirei os olhos e a acordei, ela se arrastou como um zumbi para o banheiro e eu ri.

—LENE TE ESPERO LÁ EM BAIXO! - gritei e como resposta ouvi um okay. Antes de abrir a porta e sair olhei para minha cama e peguei a jaqueta juntamente com um livro para me distrair.  Não pretendia esperar por James, apenas iria deixar a jaqueta, e evita-lo ao máximo. E caso falhasse em me esconder eu iria olha-lo e provavelmente chorar de raiva. Fechei a porta atrás de mim e ajeitei a mochila em meus ombros, tomando coragem para seguir.

Depois de tomar a decisão de não contar nada para Lene, eu desci as escadas e me deparei com o salão comunal relativamente vazio, me alegrei ao ver que Potter não estava lá, assim que Lene descesse eu abandonaria a jaqueta numa poltrona e me negaria à pega-la novamente, o Papa poderia pedir que eu a pegasse, mas mesmo assim não o faria. Sentei-me na poltrona mais distante e coloquei a jaqueta no braço do móvel, abri o livro e me concentrei nas palavras a minha frente, me adorando por ter comprado esse livro. Num momento distração, tirei os olhos das letras e vi que James e Sirius desciam as escadas e caminhavam até mim, voltei minha atenção ao livro e gemi em desaprovação. 'Logo agora de manhã o senhor decidiu-me por a prova, por que Merlin, por quê?’.

Segurei-me no quesito chorar, e nenhuma lágrima rolou, mas meu corpo se arrepiou com a aproximação de James. Ele se sentou no braço oposto ao da jaqueta e passou o braço pelos meus ombros e beijou o topo da minha cabeça. Gelei. Gelei e me odiei por ter gostado daquele ato de carinho. Eu não posso ficar muito tempo perto dele e quando fiz menção de levantar ele se pronunciou:

—Bom dia Lírio- James disse sorrindo para mim, como ele pode ser assim tão fingido? Eu o olhei e disse:

 -Oi- para ver até onde ele iria.

 -Dormiu bem Sweet Heart? Por que não foi até o meu dormitório hoje à noite? Eu esperei por você... - ele perguntou e meu coração doeu, ele vai mesmo apertar a ferida. ‘E eu James?! Que esperei pelo seu amor verdadeiro?!’ Eu tinha de responder, mas minha garganta queimava e mal podia respirar.

—Por mais que eu goste muito desse tipo de coisa, eu não quero e nem preciso saber o porquê de você espera-la... Ahh Pontas, no nosso dormitório, e o pior conosco lá?!- Sirius disse e recebeu um chute na canela por causa disso. Mas eu apenas me levantei fugindo do braço dele, assim que almofadinhas olhou para mim, fechei o livro e coloquei a mochila nas costas. Eu ia chorar. James escorregou para onde eu estava sentada e me olhou como se não entendesse minha reação.

—Já vou indo-disse vendo o quanto minha voz estava chorosa, mas disfarcei, pois Lene descia as escadas.

—Oi meninos- ela acenou e sorriu feliz para Sirius, eu fui até ela e implorei com os olhos que ela me tirasse dali, ela confusa concordou e disse: -Tchau meninos- enquanto me puxava para fora do salão.

—Lily espera!- Disse Potter- A sua jaqueta!

Minha garganta fechou e eu o fitei por um bom tempo, Lene tinha parado e me olhava sem entender, ninguém me olhava como se entendesse o que eu estava fazendo. Uma solitária gota rolou e eu disse:

— Pegue-a de volta Potter- a lágrima chegou até meus lábios e eu saí puxando Lene já que ela se negava a soltar minha mão. Corri boa parte do tempo enquanto Lene gritava me perguntando o que eu estava fazendo.

Arfando eu parei e me encostei-me à parede de pedra e fria de Hogwarts. Enquanto chorava e soluçava Lene se sentou ao meu lado e apenas afagou meu cabelo e eu me perdi em meio aos seus cachos loiros. Assim que parei de chorar ela só me olhou e perguntou:

—Mas que merda aconteceu lá Lilian Evans? - Eu solucei e me concentrei em manter as lágrimas longe dos meus olhos, eu sorri e encolhi os ombros com os olhos ainda fechados sussurrei chorosa:

—Não sei

—Lily me diz o que aconteceu! -Ela implorou e eu a contei sobre ontem à noite. Ela primeiro fitou algum ponto não específico atrás de mim, para depois ficar vermelha de raiva para então se levantar e rir histericamente- Aquele Potter tá fodido na minha mão, por isso ele não ‘estava na comemoração ontem... Eu mato aquele vadio filho da puta.

—Hey a mãe dele é legal- eu ri

—Se fosse legal de verdade ela não teria colocado alguém como o Potter no mundo.

Eu abaixei o olhar. Alguém como o Potter. 'Por que tinha de ser justo por ele? Por tenho de ama-lo tanto?’. Não chorei, mas uma vontade enorme de socar algo invadiu meu peito e eu gritei baixinho.

—Droga, droga, droga! Por quê?  Por que tudo não pode ficar como antes? Eu quero que tudo volte ao normal amanhã, eu quero que ontem e hoje ainda não tenha acontecido, eu o quero... - eu suspirei, e me segurei para não chorar.

—Vai ser meio difícil agora, afinal você acabou de enxotar ele, com direito a testemunhas até. Lily nada vai ser do mesmo jeito que antes, vem vamos para aula. -Ela me conhecia, eu precisava estudar para me distrair.

P.O.V.: James Potter

—Cara, eu acho que ela terminou com você-Sirius disse para eu que ainda estava de olhos arregalados pelo acontecimento. Eu apertei a jaqueta e tentei entender o porquê dela ter terminado. O que eu poderia ter feito para ela terminar comigo. Quase um ano juntos, um ano! Eu estava tão feliz. Droga! Mas... Por quê?

—Qual é a primeira aula?- eu perguntei para o Sirius.

—É transfiguração com a Lufa Lufa, mas cara a Evans terminou com você... -padfood disse me chacoalhando assim que eu levantei.

—Dude ela vai estar lá, ela é a Lírio, ela vai estar lá- Ele me olhou compreendendo e então nós fomos para a sala de aula, o mais rápido que conseguimos.

A sala estava quase cheia e Lilian não estava lá. Aproveitando o fato de só ter duas carteiras de duplas vazias pedi que Sirius se sentasse na outra carteira e que ele não deixasse a Lily se sentar lá. Minutos depois Lily cruzava a porta acompanhada de Marlene, ela olhou a sala e as duplas vendo que só havia duas cadeiras vazias, uma ao lado de Sirius e outra ao lado da minha. ‘Sem escapatória Evans’.

P.O.V.: Lilian Evans.

Cruzei a porta e vi que só havia duas cadeiras vazias. ‘Meu santo Merlin não me faça te odiar’. Marlene também notou e tomou uma atitude, caminhou até a carteira de James para se sentar lá. Sem olhar para o Potter eu fui me sentar ao lado de Sirius, que me olhou e disse um sonoro não.

—O QUE?! Você não pode me impedir de sentar aqui. - Ouvi Lene dizer para o Potter e eu bati em minha testa com a mão fechada em punho.

—Sirius- Chamei tentando parecer calma- Poderia por obséquio se sentar ao lado do energúmeno que você chama de amigo?- perguntei calma.

—Perdoe-me senhorita Evans, mas receio que não posso conceder-lhe esse desejo, pois o Peter já está sentado com o Remo. E meus únicos amigos energúmenos já estão sentados juntos- ele disse e eu bufei transmitindo-lhe um olhar sinistro.

—Potter. EU VOU SENTAR AQUI E PONTO. A-CEI-TE! SEU VADIO DESONESTO!- Lene gritou e eu a olhei com os olhos arregalados de como quem diz: "isso, mais alto, por favor, o Japão ainda não te ouviu. Mais discreta impossível". O Potter me olhou e eu ignorei.

—Lene vem cá- eu a chamei - Poderia convencer o Sirius a sentar com o Potter?- ela assentiu e começou a conversar e fazer charme para o Sirius. Ela estava conseguindo quando McGonagall entra e diz:

—Evans? Mckinnon? Sentem agora. - Eu corri para sentar ao lado de Sirius, mas ele foi mais rápido e puxou Lene pelo braço fazendo-a sentar ao lado dele, desesperada olhei pedindo socorro a ela, que fez menção de levantar.

—Evans, sente-se agora, por favor. Ao lado de Potter está bem?- McGonagall perguntou e eu assenti. 'Claro que não está bem!'. Caminhei em passos curtos até a carteira e me sentei arrastando a cadeira um pouco mais para longe dele. Estávamos no fundo, fora do alcance de visão da Lene. Potter nem sequer tirou o caderno da bolsa, revirei os olhos e uma mecha do meu cabelo caiu na frente dos meus olhos atrapalhando a minha visão, estava prestes a tira-la da minha frente quando dedos a tiraram e a colocaram atrás da minha orelha por mim. Olhei para James que sorria e por um momento me encantei com seu sorriso. Abri a boca para lhe dizer que o queria longe de mim, mas nada saiu. Gemi de raiva ao voltar a pensar. Ele me olhou curioso e eu afastei a cadeira mais um pouco ficando quase no corredor. Ele abaixou o olhar e sorriu triste, e pude jurar que ele estava prestes a chorar. Dor atravessou meu peito e tudo o que eu queria era consolá-lo. Mas eu não faria isso.

Olhando para a lousa tentei ignora-lo, mas de soslaio sempre o via triste ou de me observando. Quando sinal bateu o primeiro a se levantar foi ele, eu o olhei. Ele colocou a mochila nas costas e tomou minha mão com a dele. Sua mão quente me reconfortou e me fez querê-lo mais. Seus olhos pediram desculpas e antes de soltar sua mão da minha ele a apertou, pedindo silenciosamente que eu pedisse para que ele ficasse, ou voltasse. Eu não me movi, só desviei o olhar do dele.

Ele me soltou e saiu. ‘O que eu poderia fazer?’

Apoiei a testa na mesa e solucei alto não me importando que seja lá quem ainda estivesse na sala e me visse chorando. Eu já não ligava. Maldito Potter!

—Por quê?- solucei e me encolhi na cadeira, tentando abraçar as minhas pernas. Desesperada desejei arrancar meu coração e apertar os cacos que ele era, até não ter mais sangue para escorrer, pensando o quanto estava partida minha alma e estilhaçado meu coração.