Escolhas escrita por Bianca Saantos


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Voltei amorinhas!!
Obrigada por todos os comentários do capítulo anterior, senti saudadezinhas daqui!!
Espero que gostem da leitura hoje,
beijo!



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***

 

— Você está melhorando. – suspirei aliviada vendo que seus olhos já não estavam tão inchados e sua pele não mais avermelhada. – Graças a Deus. – toquei suas bochechas que estavam quentes. – Parece que você está com febre.

— Não, estou bem. – ele assegurou com um sorriso e eu acreditei.

A mãe de León guardou os objetos em sua maletinha e olhou para mim. Tirei minha mão da face de León, e me senti constrangida por uns instantes, mas então ela sorriu para mim, e piscou um dos olhos, e tudo pareceu como há quatro anos.

— Quer uma carona pra casa León? – ela perguntou e León se virou.

— Não, estou com a minha moto.

— Tudo bem. – sorriu. – Obrigada por ligar a tempo Vilu. – me agradeceu. – E você mocinho, da próxima vez tome cuidado com o que está bebendo.

— Sim, mãe. – León sorriu. – Obrigado. – agradeceu.

Assim que a senhora Vargas se foi, León e eu ficamos em silêncio por alguns instantes. Acredito que ele estava se recuperando da crise alérgica, pois o mesmo estava com a cabeça um pouco baixa e respirava devagar.

— Está se sentindo cem por cento bem? – perguntei depois de dar determinado tempo.

— Estou bem. – disse sem olhar para mim. – Estou bem. – repetiu.

Ao que parecia, ele não estava muito a fim de falar. Acabei suspirando alto, o que fez com que ele olhasse para mim, com seus olhos bem abertos e atentos, juro que eu não suspirei intencionalmente.

— Se estiver tudo bem mesmo, eu já vou indo. – falei pegando minha mochila no chão.

— Está tudo bem. – ele reafirmou parecendo impaciente e eu assenti pronta para sair dali, talvez ele estivesse chateado com o que acabou de rolar com a Gery, e eu não quero que ele fique ainda mais irritado com a minha presença.

Abri meu armário e peguei minha toalha e a sapatilha de balé, eu teria aula a tarde, e não poderia esquecê-las de jeito nenhum.

— Me desculpe. – ele disse baixo, mas eu não me virei para olhá-lo, apenas abri a mochila e comecei a colocar os meus pertences dentro dela. – Eu só estou nervoso.

Nervosismo não é desculpa para ser rude com os outros, e nunca será. Fechei o armário, e quando estava pronta para sair, sua voz me deteve.

— Ensaiei mil vezes para te dizer tudo o que eu sentia. – começou. – Eu terminaria com a Gery, nós conversaríamos, e eu tiraria esse peso das minhas costas, mas no final das contas... – ele respirou fundo. – No final das contas saiu tudo como eu não queria, estou com um peso ainda maior nas costas e com falta de ar. – riu cansando ainda mais seus pulmões e tossindo em seguida.

— E o que é que você ensaiou para me dizer? – perguntei me virando para ele.

— Eu não me lembro de tudo de cor. – ele sorriu. – Envolvia o seu sorriso, e algo sobre os seus olhos. – disse e algo em mim se acendeu. – O foco era dizer que eu acredito no que você me diz. – voltou a ficar mais sério. – Acredito que você tenha provas de que eu a tenha traído, e por mais que eu tenha certeza da minha fidelidade, eu tenho certeza absoluta que você tem razão.

Isso me confundiu um pouco.

— Então quer dizer que você acredita que você me traiu? – perguntei completamente confusa.

— Não. – ele riu mais uma vez. – Quer dizer que eu acredito que você tenha provas suficientes de que eu te traí, porém eu nunca te traí. – corrigiu. – Violetta, esse é um pecado imperdoável para mim. – se levantou. – Lembra de que era com você que eu queria construir uma família? – ele perguntou. – Você foi à primeira mulher que eu me entreguei. – se aproximou. – De corpo e alma.

— Mas não fui à única. – rebati. – Você teve outras... – tentei não me exaltar. – Teve outras... – eu não conseguia dizer. – Quantas mulheres passaram pela sua cama depois que você achou que eu tinha te abandonado? – engoli a vontade que eu estava de gritar.

— Não faça perguntas que você não queira ouvir as respostas.

— Então foram muitas. – afirmei começando a sentir nojo.

— Não Violetta. – ele negou. – Eu só namorei uma pessoa depois de você. – se aproximou mais de mim, porém eu dei um passo para trás. – E por mais que eu tenha compartilhado a cama, eu nunca compartilhei sentimentos.

Acho que franzi a testa.

— Nunca foi como era com você – ele se aproximou, e quando dei por mim, eu estava entre o armário e o seu corpo. – Nunca foi. – aproximou seu rosto do meu. – O que nós tínhamos... – suspirei quando ele pegou minha cintura. – O que nós temos... – seus lábios estavam a centímetros dos meus. – Isso vai além do carnal Violetta. – sussurrou. – É tão puro. – seu nariz tocou o meu. – Meu coração ama o seu coração, e por consequência, o meu corpo arde pele seu corpo. – beijou o canto de minha boca. – Mas isso não significa que tudo para mim se resume a isso, porque não se resume. – beijou o outro canto. – Se nós voltarmos, e você disser que só quer fazer amor comigo depois de que nós estivermos casados, eu aceito.

Eu ri, ri de verdade, e ele abriu um sorriso.

— Eu aceito, porque eu amo você. – León disse e eu percebi que até mesmo ele havia se assustado em dizer aquilo. – Sim, eu amo. – reafirmou como se precisasse acreditar que havia dito.

E então eu o beijei, e ele foi gentil, como o primeiro beijo de um casal de apaixonados. Foi delicado, não me apressou. Foi um beijo, cheio de carinho, de desculpas, de perdão. Eu o perdoei e me dei conta disso ao perceber que eu estava sorrindo enquanto nossos lábios estavam juntos.

— Por que está sorrindo? – perguntou se afastando e beijando a ponta de meu nariz.

— Por sua causa. – senti meu coração inteiro se iluminar.

Ele me deu um selinho.

— Então você não me traiu. – falei e ele assentiu, mesmo que não fosse uma pergunta. – Por mais que eu acredite, quero entender como tudo aconteceu. Você entende não é? – perguntei e ele assentiu novamente. – E sobre o papo de fazer amor só depois do casamento...

— Eu estava falando sério, tudo o que você decidir, eu topo. – disse me interrompendo, fazendo com que meu sorriso ficasse maior.

— Eu me guardei todo esse tempo. – contei. – Não estive com nenhum um homem, mesmo que às vezes eu pensasse que seria melhor conhecer outros caras, eu nunca embarquei em outra relação. – León sorriu. – Não foi à coisa mais difícil do mundo, claro que às vezes eu tinha saudades da sensação que apenas você... – me calei envergonhada. – Você entendeu.

— Sim, entendi. – ele riu.

— Então, eu acho que o fato de esperar... – deixei a frase no ar.

Ele sorriu e me beijou novamente.

— Eu espero. – disse firme, com um sorriso.

Suspirei alto. Acho que eu estava sonhando. Como as coisas se resolveram tão depressa?

— Então estamos bem? – ele perguntou e eu me afastei.

— Não sei. Até semana passada eu queria te matar. – comentei e ele riu.

— Tem razão.

— E também tem a Gery. – saí de seus braços. – Você precisa conversar com ela. – e ele revirou os olhos. – Estou falando sério.

— Eu sei que preciso. – suspirou. – Eu só não queria que as coisas acabassem desse jeito, entende? – voltou a se sentar no banco.  – Ela é uma boa pessoa, e eu realmente não queria que ela sofresse. Eu gosto dela, gosto dos sacrifícios que ela fez por mim e pela minha carreira. – disse. – Não quero ser injusto com ela.

Apesar de ter quase certeza que Gery era culpada pelo nosso rompimento misterioso, apenas assenti. Ele tem o direito de achar que ela é realmente digna de tanto amor e carinho, afinal eles tiveram um bom tempo de relacionamento, moram juntos e...

— Você está morando com ela, correto? – perguntei piscando algumas vezes.

— Sim. – coçou a nuca. – Tenho que resolver isso também.

— Volte pra casa dos seus pais. – dei a solução mais rápida que eu pude.

— Não sei se é uma boa ideia. – parecia estar pensando. – Construí minha independência, e não quero tirar isso de mim. – me olhou nos olhos. – Posso ficar lá durante um tempo, até achar outro lugar para morar.

— Faça o que achar melhor. – sorri me sentando ao seu lado. – Só resolva as coisas com Gery, por favor. – pedi e ele assentiu.

León olhou para mim, depois para os lados, em seguida para o teto, e eu soube que ele estava inquieto com algo.

— O que foi? – perguntei segurando a vontade de rir.

— O que nós somos? – perguntou com os olhos cobertos por expectativa.

— Bem, eu sou a Violetta e você é o León. – brinquei e ele riu.

— Estou falando sério.

— Amigos? – perguntei e a expectativa de seus olhos foi embora.

— Amigos. – ele reafirmou.

Ficamos em um silêncio desconfortável.

— Por enquanto. – sussurrou.

E eu apenas sorri como uma boba.

— Tenho que ir pra casa.

— Eu te acompanho.

— Não sei se é uma boa ideia. – mordi o canto da bochecha.

— Sua família me odeia. – ele riu.

— Meu pai te odeia. – corrigi. – E ele está viajando.

— Então não tem problema algum.

— É, mas a Angie ultimamente vem agindo... – ele me interrompeu.

— Sem “mas”, vamos?

— Tudo bem, mas antes temos que passar em algum lugar para comer, porque estou morrendo de fome. – murmurei.

Ele assentiu com um sorriso entusiasmado e estendeu a mão para mim. Hesitei um pouco, mas acabei aceitando, saindo de mãos dadas com o cara que partiu o meu coração e juntou os pedaços em alguns instantes.

 

***

 

Diego

 

Francesca tremia como se estivesse sem roupa no polo norte. Ela estava muito ansiosa, e eu não sei se isso é uma coisa saudável, não no caso dela.

— Não precisa ficar assim. – falei quando estacionei o carro em frente à casa de minha prima. – Ela é tão normal, quanto qualquer um de nós.

— Não, ela não é. – Francesca olhou para mim com os olhos brilhantes. – O cérebro da sua prima é sensacional! Ela não é normal. – disse entusiasmada.

— Mas ela é muito mais do que um cérebro. – falei tirando o cinto.

Seu sorriso desmanchou e ela me olhou com os olhos inundados por uma culpa que eu desconhecia.

— O que houve? – perguntei franzindo a testa.

— Eu sei que ela é mais do que um cérebro, não queria ofendê-lo. – disse piscando inocentemente e eu quis abraçá-la.

Eu quis?

Eu quero.

— Não me ofende. – ri, segurando o impulso de abraçá-la. – Era uma brincadeira Fran.

— Não brinque comigo assim. – ela riu e tirou seu cinto também. – Vamos antes que eu perca minha coragem e apenas fique tagarelando como uma tola.

Sorri e saímos do carro.

 

***

 

Ludmila

 

— Alô? Onde você está? Estou a mais de quarenta e cinco minutos aqui e nada! Estou ficando muito impaciente, e você sabe como eu fico quando estou impaciente! – falei alterada ao telefone enquanto andava de um lado ao outro.

Eu estou no aeroporto a mais de quarenta e cinco minutos, fora o tempo que eu levei para chegar até aqui. Miguel jurou que o voo tinha saído no horário, porém a chegada estava atrasada cerca de trinta e cinco minutos. E eu estou impaciente. Sentei-me nas cadeiras que havia próximas a sala de desembarque, e esperei. Nunca fui o tipo de pessoa que espera, sou apenas o tipo de pessoa que faz alguém esperar. E estar na situação inversa é irritante.

— Ludmila?

Franzi a testa e me virei para trás. Ergui a sobrancelha ao ver o cara com o topete mais conhecido sorrir para mim. Eu esperava estar sentindo algo mais do que surpresa, mas na verdade não senti nada, além disso. O que é que Federico fazia ali?

— O que faz aqui? – ele perguntou vindo até mim, e eu ainda o encarava sem entender o que ele fazia no mesmo local que eu.

Fazia um bom tempo que nós dois não nos víamos, e eu nunca pensei que fosse me sentir tão normal quando o reencontrasse. Pelo menos não estou sentindo raiva, ou remorso, ou será que estou e só quero fingir que não estou? Cansei de confusão, é melhor achar que não estou e fim, porque eu realmente não estou... Ou estou?

— Ludmila? – ele acenou frente aos meus olhos, fazendo com que eu piscasse algumas vezes. – Está me escutando?

— É claro que estou te escutando. – joguei meu cabelo para trás. – Só não entendo o que faz aqui. – cruzei os braços.

— Estou esperando a Nina. – disse e eu acho que fiz uma careta. – Minha noiva. – falou baixo e bem rápido.

— Ah. – forcei um sorriso.

Como o Federico é inconveniente. Precisava falar da tal noiva? Não, não precisava. Eu já superei, eu sei que já superei, mas mesmo assim. Devia existir uma lei que proibisse os ex. namorados conversarem com suas ex. namoradas a conversaram sobre a atual, e vice-versa, porque é realmente muito desconfortável.

— E você, o que faz aqui? – perguntou sentando-se ao meu lado.

Ele não se toca que eu não quero conversar?

— Esperando um amigo. – continuei, com um sorriso falsinho.

— Um amigo? – ele perguntou com a testa franzida.

— Sim, algum problema? – joguei meus cabelos para trás.

— Não, nenhum. – sorriu encabulado. – Está demorando não é?

Olhei no relógio, e realmente estava demorando demais.

— Sim. – suspirei. – Sua noiva está voltando da África também? – perguntei como quem não quer nada.

— Sim. – sorriu. – Ela foi fazer uns trabalhos voluntários com o irmão dela. – contou. – Nina adora trabalhos voluntários.

Eu senti que ele estava se gabando.

— Eu também adoro. – cruzei minhas pernas. – Estive um tempo na África com esse meu amigo. – olhei para ele. – Depois que você vive a experiência dos trabalhos voluntários, você se torna outra pessoa internamente sabe? – sorri me lembrando dos momentos que vivi naquele continente. – Você começa a dar valor ao que tem. É incrível. – suspirei.

— Você está mudada.

— Graças às experiências na África. – ri.

— Sim, pode ser, mas está realmente diferente.

— Um diferente bom, ou um diferente ruim? – perguntei ficando séria.

Ele demorou um pouco a responder. Ficou me olhando como se eu fosse uma criatura rara, algo que ele estivesse vendo pela primeira vez, e isso me constrangeu.

— Com certeza é um diferente bom.

E então eu sorri.

— Federico!

Fomos interrompidos por uma voz feminina bastante fina e aguda. Rapidamente desviei nossos olhares, e encontrei uma garota com um sorriso enorme puxando uma mala cor de rosa correndo em direção ao Federico.

— Essa é a louc... A noiva? – perguntei corrigindo a tempo, mas pude perceber o olhar fulminante de Federico.

A mulher pulou sobre o Federico, quase fazendo o mesmo cair para trás. Ela era bonita, tinha cabelos enormes, e me lembrou da época em que eu amava os meus cabelos longos, mas ainda bem que eu mudei, porque gosto dos meus fios em um tamanho médio.

— Nina!

Outra voz gritou pela noiva de Federico, só que dessa vez, eu conhecia muito bem o dono da voz.

— Miguel? – perguntei franzindo a testa quando o moreno de olhos esverdeados se aproximou de onde eu estava.

— Lu! Que saudades! – ele me abraço apertadamente, me cobrindo inteiramente com os seus braços fortes e protetores. – Senti sua falta. – beijou o topo de minha cabeça.

O abracei de volta sentindo o cheiro do perfume cítrico que ele costumava usar. Eu realmente senti falta dele. Uau. Eu realmente senti. Abraçá-lo depois de tanto tempo, era como me reencontrar com a Ludmila que descobri no continente africano. Ele me fez uma pessoa melhor, me fez passar por experiências que eu nunca pensei que fosse passar, e ainda por cima que fosse gostar.

— Também senti sua falta. – murmurei quando percebi que o abraço estava chegando ao fim.

Assim que nos afastamos, pude perceber dois pares de olhos olhando para mim e para Miguel, como se fossemos duas atrações interessantíssimas. Nina a noiva de Federico, nos encarava com um sorriso maior do que o próprio rosto, enquanto Federico nos encarava sem piscar, com a boca aberta.

— Hm Lu... – Miguel chamou minha atenção. – Esta a minha irmã, Antonina.

— Pensei que era Nina. – falei olhando fixamente para a garota a minha frente.

— Nina é um apelido carinhoso. – ela disse com aquele sorriso enorme.

— Você nunca me disse que tinha uma irmã. – murmurei me voltando ao Miguel.

— Não, nunca disse. – ele riu. – Fiz mal?

— Claro que não.  – fingi um sorriso. – É um prazer conhecê-la Antonina. – murmurei cumprimentando a garota. – Seu irmão nunca me falou sobre você. – soltei sem querer.

— Ele é um bobo mesmo. – ela riu. – Mas ele não parou de falar em você enquanto estávamos na África. Estava louca para conhecer a ilustre Ludmila.

— Aqui estou eu. – fingi uma risada patética e ela riu abraçando ao Federico.

Tentei disfarçar o meu incomodo, mas acho que ela percebeu.

— Vocês dois se conhecem? – Antonina perguntou soltando Federico. – Quando cheguei, avistei vocês dois conversando.

— Sim, eu e Ludmila, somos velhos conhecidos e...

— Conhecidos? – perguntei erguendo uma sobrancelha e ele coçou a nuca.

— Velhos amigos, e...

— O que ele está tentando dizer é que somos ex. namorados. – falei impaciente e o sorriso gigantesco da noiva de Federico foi embora. – Mas não se preocupe, porque a gente não se ama mais, eu não sinto nadinha de nada por ele. – falei com um sorriso. – Com licença, preciso ir.

Dei as costas ao casalzinho patético, e andei em direção à saída.

— Ludmila! – era Miguel.                            

— Depois nos falamos! Ligue para mim, ou me mande uma mensagem! – gritei sem nem ao mesmo me virar para olhá-lo.

Por que fiquei tão estressada?! Ai que ódio!

 

***

 

Angie

 

— Mamãe, você brigou com o papai? – Julietta perguntou brincando de cabeleireira, prendendo meu cabelo de diversas maneiras, enquanto eu via uma revista de moda.

— Por que está perguntando isso? – perguntei folhando a revista, tentando parecer que não estava chocada por minha filha ser tão inteligente e ter percebido que eu e Germán não estamos bem.

— Papai não está te dando beijinho na testa mais. – ela parou de mexer meu cabelo.

— Às vezes ele me dá, e às vezes não Julietta. – suspirei. – Por que não chama Olga para ir brincar no parque? O dia está tão lindo hoje. Tenho certeza que todas as suas amigas vão estar lá.

— Tá bom mamãe. – me deu um beijo na bochecha.

Fechei a revista assim que Julietta deixou a sala. O clima em casa estava insuportável. Tudo o que eu queria fazer era sair, refrescar a mente, viajar... Ir para um lugar bem distante, ficar longe dos problemas, longe de tudo que está me fazendo...

— Fugir das indagações de sua filha não vai fazer com que você fuja dos seus problemas.

Era Ramalho. Dei um suspiro cansado e coloquei a revista sobre a mesinha de centro.

— Pensei que você tinha viajado com Germán. – me levantei do sofá.

— Germán não viajou a trabalho Angie. – Ramalho disse com a postura elegante de sempre e eu franzi a testa.

— Como não? Ele disse que tinha uma urgência no Uruguai.

— A urgência é que ele precisava esfriar a cabeça. – contou. – Sei que vocês discutiram, e ele é um pouco cabeça...

— Isso não faz sentido. Ele não pode viajar para ficar longe de mim, longe das filhas dele, isso é infantil, e bastante imaturo Ramalho. – cruzei os braços. – Quando é que o Germán vai aprender? Isso está me cansando.

— Apenas tenha um pouco de paciência, Angie. – Ramalho pediu com um sorriso.

— Eu juro que estou tentando. – suspirei. – Mas se eu me cansar... Se eu me cansar de verdade, vai ser a minha vez de fazer as malas e ir para bem longe.

 

***

 

Violetta

 

León estacionou a moto em frente a minha casa, e logo se levantou, saindo de cima do veículo, tirando o capacete, me ajudando em seguida a descer da moto.

— Me ajuda? – perguntei depois de tentar frustradamente tirar o capacete de minha cabeça.

Escutei León rir.

— Claro que ajudo.

Seus dedos habilmente destravaram o capacete, e logo ele estava fora de minha cabeça. León me olhou com os olhos divertidos e eu perguntei mentalmente no que é que ele estava pensando.

— Quer entrar? – perguntei sendo educada.

— Se não seria uma boa ideia te trazer até aqui, entrar seria ainda pior. – colocou uma mexa do meu cabelo atrás de minha orelha.

— Mas já que você já está aqui...

— Tudo bem. – sorriu. – Apenas uns instantes.

Caminhamos até a entrada de minha casa, e graças Deus eu não havia esquecido as minhas chaves. Entramos e aparentemente a casa estava vazia. Tentei não fazer barulho, mas os passos do León eram bastante audíveis.

— Acho que não tem ninguém em casa. – murmurei estranhando. – Quer tomar alguma coisa? – perguntei deixando a bolsa sobre o sofá.

— Um suco seria bom.

— Ok. – sorri.

Fui até a cozinha e León me acompanhou, não tinha necessidade de me acompanhar já que é mais do que sensato que as visitas fiquem na sala, esperando alguém para servi-las, mas acho que ele poderia estar um pouco desconfortável, talvez?

— Bom, não tem suco. – falei ao abrir a geladeira. – Mas se você esperar alguns minutos, eu consigo espremer umas laranjas. – falei apontando para as frutas em cima do balcão.

— Tudo bem. – León riu. – Quer ajuda?

— Bem, você podia me ajudar a encontrar o espremedor, porque eu não tenho ideia de onde a Olga guarda essas coisas. – falei constrangida e ele riu mais uma vez.

Começamos a busca pelo espremedor, mas León encontrou minutos depois dentro do armário ao lado da cafeteira. Lavei as laranjas enquanto ele tirava umas coisas do balcão para colocar o espremedor.

— Doze não é demais? – León perguntou ao ver todas as laranjas que eu havia lavado.

— Não sei. – dei de ombros e ele riu alto. – Vai ficar parado ou vai me ajudar a cortar as laranjas?

León cortou apenas quatro laranjas, enquanto eu fui mais rápida e cortei as outras oito. Acabei tirando a conclusão que León é muito lerdo, porque mesmo eu, que não tenho experiências na cozinha, consigo cortar laranjas muito mais depressa.

— Sou uma péssima ajuda, eu sei. – ele disse após perceber que eu o observava. – Minhas capacidades na cozinha são limitadas.

Ri, tenho que concordar. Comecei a espremer as laranjas e León prontamente foi à busca dos copos. Tudo em paz, até que eu escutei o barulho da porta da cozinha.

Meu coração parou por uns segundos, imaginando que podia ser meu pai voltando da viagem, ou até mesmo Angie. Quase fiquei de joelhos agradecendo por ser apenas Francesca, mesmo que eu não tivesse entendido o porquê dela estar entrando pela porta da cozinha e não pela principal.

— León? – Francesca fez uma careta. – Vilu? – franziu a testa. – O que é que está acontecendo aqui?

León olhou para mim como se eu fosse a responsável por uma explicação. Porém, antes que eu pensasse em alguma coisa para dizer, Diego apareceu magicamente atrás de Francesca, segurando o casaco vermelho da mesma. Foi a minha vez de franzir a testa.

— Hã... Fran... – Diego disse constrangido – Você esqueceu seu casaco no carro. – disse colocando-o sobre o balcão.

— Obrigada. – Francesca sorriu.

— Estou indo. – Diego deu um sorriso encabulado olhando para mim.

— Não quer ficar e tomar um suco? – perguntei antes que ele desse as costas e fosse embora. – Acho que exagerei na quantidade de laranjas. – olhei para as doze laranjas que eu e León havíamos espremido.

Francesca revirou os olhos e foi até o armário, provavelmente pegar os copos que León procurava. Talvez ela tenha sacado que eu não tenha uma explicação plausível para explicar o que é que o León está fazendo aqui em casa. Apenas nos "entendemos", tem como explicar isso de outra maneira se não essa?

— Depois vamos conversar. – ela cochichou quando passou por mim.

— E aí você poderá me contar sobre o Diego. – cochichei de volta pegando o açúcar para colocar no suco.

— Sobre o Diego? Que? Não tenho nada para falar, somos amigos! – se exaltou um pouquinho, chamando a atenção dos homens que conversavam perto da porta.

León franziu a testa ao olhar para mim, e Diego olhou para a Francesca com um olhar estranho.

— Tudo bem? – León perguntou cruzando os braços.

— Melhor impossível – Francesca fingiu um sorriso. – Você me estressa... – sussurrou para mim.

— Te amo. – sussurrei de volta.

 

León

 

— Quer mais suco? – Violetta perguntou quando já estávamos todos na sala, e eu respondi que não.

Ela sorriu e se levantou para levar os copos até a cozinha, Diego aproveitou para ir ao banheiro, deixando eu e Francesca a sós. Levantei-me e fui me sentar perto dela. Francesca parecia estar irritada com algo.

— Está tudo bem? – perguntei e ela fechou a cara.

— É óbvio que não está. – responde de mau humor.

— O que houve?

— Violetta me irrita. – ela revirou os olhos. – Quando não me acalma, ela me irrita.

Francesca suspirou e eu ri. Ela estava engraçada toda tensa daquele jeito.

— Mas me explica... – comecei e ela me encarou com os olhos desconfiados. – Por que é que você e Diego estão passando tanto tempo juntos? Sério. Sempre que eu te vejo, você está com ele. – ri.

— Você também? – ela grunhiu. – Meu Deus, você e a Violetta são iguais. – cruzou os braços emburrada. – Quantas vezes vou ter que dizer que eu e Diego somos amigos? Será que um amigo não pode ajudar sua amiga a fazer um trabalho? – Francesca estava irritada. – E você e a Violetta?

— O que nós temos haver? – perguntei não compreendendo.

— Vocês não estavam brigados? A Violetta não estava brava com você? Como é que você me explica isso? Como tudo se resolveu para que eu encontrasse vocês dois fazendo suco de laranja como se estivessem em um comercial de margarina? Por que você está aqui? – me questionou. – Vocês me devem uma explicação, não eu. – suas bochechas se avermelharam.

— Você está muito estressada.

— Sim, eu estou.

— E tem certeza que esse stress todo é só por mim e pela Violetta?

Francesca suspirou e se jogou para trás, ficando quase deitada no sofá.

— É por você, é pela Violetta, é pelo Marco, e pela tarde maravilhosa que eu passei com Diego. – respirou fundo. – Estou sobrecarregada. – olhou para o teto. – Tudo que eu preciso é de um ombro amigo, de um remédio para cólica, e um bolo de chocolate com bastante morango.

Acabei rindo e ela me olhou como se eu fosse o mais insensível dos homens. Violetta chegou à sala acompanhada por Diego, e os dois me olharam curiosos.

— Francesca precisa de você. – me levantei do sofá. – E eu preciso ir para casa, já está ficando tarde.

— Eu te acompanho. – Violetta pegou as chaves que estavam sobre o piano.

— Eu também já vou indo. – Diego anunciou.

— E eu vou com você. – Francesca se levantou como um foguete do sofá, indo para perto de Diego.

— Naninanão, você fica. – Violetta disse séria. – Precisamos conversar. – cruzou os braços.

— Que autoritária. – comentei.

— Você não viu nada. – piscou para mim e se Diego e Francesca não estivessem na sala, acho que a tomaria em meus braços.

E como se Violetta pudesse ler os meus pensamentos, desviou seus olhos dos meus com as bochechas coradas.

Amigos? Ela espera que isso vá funcionar?

— Foi ótimo te rever. – Diego se despediu de Violetta. – Até logo Fran. – acenou para Francesca que a acenou de volta sorrindo, e logo em seguida se jogou de volta no sofá.

Assim que Diego se foi, me aproximei de Violetta que estava recostada a porta aberta.

— Até logo então?

— Assim que você resolver as coisas com Gery... – sorriu deixando a frase no ar.

Aproximei-me dela e dei um beijo em sua bochecha, me afastando rápido para que a minha mente nem cogitasse em beijá-la como eu realmente queria beijá-la. Ela estava tão linda, tão ela.

— Até mais. – murmurei antes de ir.

— Até.

 

***

 

Estacionei a moto no estacionamento do condomínio e suspirei ao tirar o capacete. Gery estaria no apartamento, com certeza, e não sei como as coisas seriam a partir de agora. Precisava preparar os meus nervos, os meus ouvidos, porque com toda a certeza do mundo ela ira gritar para todos ouvirem o quão injusto eu estava sendo.

Entrei no elevador e enquanto ele subia, tentei preparar os tópicos do discurso que eu falaria para ela. Começarei dizendo que não quero que as coisas terminem mal, não quero que ela fique se sentindo culpada. E não sei se falar que reencontrei Violetta vai ser uma boa ideia, porque ela vai me acusar de traição, e isso vai ser motivo suficiente para que briguemos.

Assim que o elevador se abriu percebi que não sabia nada do que eu diria para me justificar. Por mais certo que parecesse, eu não tinha provas físicas de que o que eu estava fazendo era correto.

Entrei em meu apartamento, e encontrei Gery encolhida no sofá segurando um copo com água, enquanto uma mulher lhe fazia carícias no cabelo. Quando notaram que eu havia chegado, Gery automaticamente se pôs de pé.

— Precisamos conversar. – ela disse com os olhos avermelhados.

— Sim, estou aqui para isso. – murmurei colocando minhas chaves sobre a mesa.

Olhei para a mulher que me encarava com os olhos sem piscar e a boca semiaberta. Franzi a testa não entendendo.

— Esta é Mary. – Gery suspirou. – Minha mãe.

Cumprimentei Mary e ela apenas me deu leve balançar de cabeça.

— Vamos para um lugar privado? – perguntei para Gery, vendo que a mulher não sairia da sala para que eu conversasse em particular.

— Não. – Gery cruzou os braços. – Você vai terminar comigo mesmo, por que minha mãe não pode escutar?

Revirei os olhos.

— Vamos ser maduros com isso, por favor. – pedi.

— Eu a quero aqui comigo. – disse firme.

Suspirei tentando achar palavras certas em minha mente.

— Tudo bem. – tentei me manter são. – Estou terminando com você.

— Por quê?

Bem, agora é a hora da explicação, e tenho certeza que não será tão convincente.

— Preciso de um tempo para mim, com tudo o que está acontecendo, com tudo o que estou descobrindo. – dei uma pausa. – Só quero estar só.

— Então você quer um tempo, e não terminar a nossa relação, correto? – me deu um olhar esperançoso e aquilo me corroeu.

— Gery, não torne tudo mais difícil, por favor. – respirei fundo. – Eu quero terminar.

Então Mary se levantou.

— Você não pode deixá-la. – Mary gritou e eu tive de encará-la.

— Não posso? – perguntei cruzando os braços.

— Você não pode deixá-la León. – pisou firme. – Minha filha está grávida!

— Mamãe! – Gery a olhou e percebi suas faces avermelhadas.

Em seguida ela olhou para mim. Desesperada, é assim que Gery estava. Olhei para Mary que tinha os olhos fixos nos meus. Grávida? Voltei meu olhar para Gery que estava quase roxa. Pelo amor de Deus.

— Sua mãe sabe que isso é impossível? – perguntei. – Ou que você tem um problema que eu não me lembro de muito agora, que não permitem que você tenha filhos antes de um tratamento? – perguntei novamente. – Ou ainda, que antes de todas as nossas relações sexuais, existe uma coisa chamada preservativo, que mesmo depois de saber de todos os seus problemas e dificuldades para engravidar, eu me ache obrigado a usar?

— León... – Gery escondeu o rosto entre as mãos.

— Pode haver falhas, camisinhas furam, e você pode ter se esquecido de usar em alguma noite, ou Gery pode ter se esquecido de tomar a pílula.

— Quando ela se esquece, ela passa muito mal. – olhei para a senhora a minha frente. – E pode ter certeza que eu não me esqueci de usar. – olhei para a Gery. – Gery não quer ter filhos. – falei. – Filhos a impossibilitariam de trabalhar. E você sabe o tanto que a sua filha gosta do que faz?

— León, não dê ouvido a ela. – Gery se manifestou. – Conversamos outro dia, quando você estiver mais calmo, e mais...

— Não. – interrompi.

Gery me olhou como se fosse capaz de me matar ali mesmo.

— Já pode me dizer quem é a mulher que você está desesperado de amor. – suspirou. – Não é possível que você tenha tido vontade de terminar comigo por nada.

— Gery.

— Eu aguento, pode dizer. – descruzou os braços.

Eu não posso mentir, não a essa altura do campeonato.

— Tem haver com o que ocorreu há um tempo. – cocei a nuca.

— Como assim? – franziu a testa. – Vá direto ao ponto, odeio quando você enrola.

— Violetta. – murmurei.

Primeiro, ela pareceu não entender, mas depois sua pele ficou pálida, e eu pensei que ela fosse desmaiar.

— Você tá brincando comigo? – riu. – Você está me trocando pela sua ex?

— Gery, eu não estou trocando ninguém.

— Sim, está. – me contrariou. - Será que você não se toca que ela te abandonou?

— Violetta disse que me ligou um dia, e uma garota atendeu por mim. – comecei a explicar. – E essa garota disse com todas as letras que eu estava com ela, fazendo Violetta pensar que eu a estava traindo.

— Não sei do que está falando. – ela disse rápido demais. – Você não está achando que eu era a garota, está?

— Eu não sei. – falei a verdade. – E eu não quero achar que foi você, porque se tiver sido... – suspirei. – Se tiver sido você, vou saber que passei dois anos da minha vida acreditando em uma mulher que não se importava comigo e nem com os meus sentimentos, e sim só com ela mesma.

— Eu te amo. – ela murmurou. – De todo o meu coração, eu te amo.

— Que esse sentimento seja sincero – suspirei. – para o bem de nós dois.

Dei minhas costas e saí do apartamento. A verdade vai aparecer. Ela sempre aparece.

 

***


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Notas finais do capítulo

O que acharam???
O que da Gery está por vim amoras hahah
beijinhos!!!