Escolhas escrita por Bianca Saantos


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

I'm back amoras!!
Boa leitura!!



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Francesca

 

Acordei pela manhã com o barulhinho chato do despertador do meu celular. Abri os olhos e prontamente o desliguei. Acho que já estava mais do que na hora de trocar o toque do despertador, porque está me fazendo acordar mais irritada do que eu devia. Virei para o lado o posto da cama e dei de cara com uma rosa e um pequeno bilhete sobre o travesseiro.

 

Queria te ver acordar, mas os negócios me chamam,
Obrigado pela noite. Eu te amo.
Marco.

 

Sorri, isso era muito melhor do que ele não ter dito nada. Acho que finalmente as coisas entrariam no eixo, nosso relacionamento voltaria ao normal e logo poderíamos refazer nossos planos, e até mesmo já pensar em casamento, embora eu ache muito provável que ele vá preferir não falar de matrimônio a essa altura do campeonato, não quando o mesmo está buscando uma estabilidade financeira – bastante alta, diga-se por sinal.

Levantei da cama e decidi que ao menos hoje, eu não vou me preocupar ou me irritar com a neura que o Marco tem em ganhar dinheiro. É só uma fase né? Uma hora passa. Eu tive inúmeras fases que eu pensei que nunca iam acabar, como na época em que eu estava obcecada em conseguir dinheiro para fazer uma viagem com o Marco, quando éramos adolescentes. Meus pais não queriam me dar o dinheiro, então eu tive a brilhante ideia de conseguir sozinha, e infelizmente, eu não consegui. Mas passou, e viva eu estou.

— Filha, o café está pronto. – minha mãe entrou em meu quarto sem nem bater na porta. – Que sorriso é esse? – ela perguntou sorrindo também. – A noite foi tão boa assim? – estreitou os olhos para mim.

Não pude evitar jogar um travesseiro em direção a ela.

— Francesca! – gritou quando meu travesseiro fofinho lhe atingiu a cabeça.

— Quando foi que eu perdi a minha privacidade? – perguntei e ela revirou os olhos. – O que temos para o café hoje?

— Marco passou na padaria mais cedo e trouxe tudo para fazer o café da manhã perfeito.

— Marco passou na padaria? – franzi a testa.

— Sim, parece que ele deixou o empresário de lado, para dar espaço ao homem que passa na padaria para comprar torta de maçã para a namorada. – ela deu um sorriso cheio de graça.

— Torta de maçã? – senti meu coração derreter.

— Sim. – mamãe assentiu. – E outros doces.

— Nós comemos torta de maçã no nosso primeiro encontro.

— Eu sei. Você já me disse isso uma centena de vezes.

— Mas foi muito engraçado porque... – ela me interrompeu.

— Porque ele colocou a aliança na torta de maçã e você se engasgou. – ela revirou os olhos. – Sei de cor a história de vocês dois. – sorriu pronta para sair de meu quarto. – Se apresse, o café está na mesa.

Dei risada. Mamãe é ótima quando não está implicando comigo. Arrumei minha cama apressadamente, estava louca para comer minha torta de maçã. Coloquei o jeans que eu amo e uma blusinha. O dia estava com uma carinha boa, talvez não fosse esfriar tanto. Coloquei as sapatilhas vermelhas e fim. Hora de comer.

— Está uma delícia.

Quase caí para trás ao ver que a minha mãe havia comido quase metade da torta.

— Ah, eu não acredito que você não me esperou. – me sentei de frente para ela.

— Você demorou uma eternidade. – respondeu. – Eu estava com fome.

Revirei os olhos e cortei um pedaço da torta para mim. Parecia estar deliciosa mesmo. Ai que fome. Porém, entretanto, todavia... Meu celular vibrou antes que eu sequer experimentasse a torta. Suspirei, Marco podia ter enviado uma mensagem, e eu precisava agradecer. Mas quando peguei o celular, não era o Marco.

 

“Fran, eu consegui um horário com a minha prima, ela estará disponível às duas e meia, se quiser posso te buscar na faculdade, só me mande o endereço. Beijo.” – Diego.

 

Sorri. Diego é incrível. Ainda não acredito que irei conhecer Ágata George! Só pode ser sonho. O dia de hoje não poderia estar mais perfeito.

— Por que está sorrindo desse jeito? – mamãe perguntou curiosa como sempre.

— Será que eu não posso mais sorrir? – perguntei fingindo que estava irritada.

— É que você está parecendo uma boba olhando para a tela desse celular.

— Agora sou boba por estar feliz?

— Ai, você se irrita tão fácil.

Revirei os olhos e decidi ignorar, e rapidamente enviei uma mensagem para Diego.

 

”Você é demais! Pode me buscar na faculdade sim, Rua XXX, n° XX. Obrigada!”

 

E quase que instantaneamente ele me respondeu:

 

“Fico feliz em ajudar. Mais tarde nos vemos! ;)” – Diego.

 

— Diego irá me buscar na faculdade hoje. – avisei e ela estreitou os olhos em minha direção. – Ele está me ajudando com um trabalho da faculdade. – expliquei.

— Pensei que ele estivesse em outro país. – mamãe comentou pegando mais um pedaço da minha torta de maçã.

— Não está mais – sorri. – E pare de comer a minha torta.

— Egoísta. – me mostrou a língua, e eu me perguntei se minha mãe é mesmo uma pessoa madura. – Que trabalho é esse? Ele também faz psicologia?

— Não, não faz. – bebi um pouco de suco. – É um artigo.

— Entendi. – suspirou franzindo a testa, ela não tinha entendido nada, aposto. – Não voltem tarde, as ruas estão muito perigosas.

Assenti e finalmente pude comer a minha torta. Estava divina. Ai. O dia não poderia ter começado melhor.

 

Violetta

 

Acordei sentindo alguém chacoalhando o meu braço. Abri os olhos, irritada. Odeio ser acordada desse jeito. E então dei de cara com um par de olhos castanhos, me olhando docemente. Julietta. Bem, não tinha como eu me irritar com ela, não com aqueles olhinhos.

— Vilu! Você vai se atrasar! – disse mais aflita do que eu estaria se eu realmente estivesse atrasada.

Peguei meu celular, e percebi que ela havia me acordado dez minutos antes do despertador tocar. Não acredito que perdi dez minutos de sono.

— Ju, são seis e cinquenta da manhã. – murmurei. – Não estou nem perto de estar atrasada.

— Olga disse que você só ia acordar se eu dissesse que você está atrasada. – ela disse com um sorriso sapeca e eu sorri.

— Então diga para Olga que dá próxima vez que ela pedir para você dizer que eu estou atrasada, eu ficarei uma semana sem falar com ela.

Ela assentiu sorrindo grandemente. Julietta adora uma intriga. Em menos de cinco segundos, ela já havia saído às pressas de meu quarto, batendo a porta, é claro. Eu não tinha mais pique de voltar a dormir, então acabei levantando. O dia hoje seria cheio, tenho que ir a faculdade, e a presença de Gery em todas as aulas é bastante incomoda.

Depois de tomar um banho e me arrumar, desci para tomar café, e por mais estranho que pareça, todos estavam na mesa. Até mesmo Ramalho. Estranhei. Papai nunca está em casa esse horário, raramente toma café conosco de manhã.

— Bom dia, pequenina. – Olga me cumprimentou com um beijo na bochecha e eu sorri. – Os muffins estão quase prontos, quer esperá-los?

— Não tenho escolha, já que você resolveu me acordar dez minutos mais cedo. – respondi irônica e ela riu.

Sentei-me ao lado de Julietta que estava entretida bebendo o que ela chamava de leite rosa enquanto movia um carrinho amarelo pra lá e pra cá em cima da mesa. O brinquedo devia ser novo, porque ela tinha uma estranha mania de não se desgrudar do brinquedo quando era novo. Olhei para Angie que mexia distraída os ovos mexidos no prato. Ela parecia cansada e triste, mas resolvi não falar nada. Da última vez que perguntei se estava tudo bem, ela foi meio rude.

— Vai para aula hoje? – papai perguntou desconfortável quebrando o silêncio e eu assenti. – Vou viajar hoje. – anunciou e tanto Angie quanto Julietta o encararam.

— Você não me avisou de viagem nenhuma. – Angie disse, e parecia muito irritada.

— Foi marcada de última hora. – papai respondeu bebericando seu café. – Uma emergência.

— Qual o destino? – perguntei colocando um pouco de suco.

— Uruguai. – respondeu. – Serão apenas três dias, logo estarei de volta. – me lançou um sorriso e eu retribuí.

Angie suspirou alto e se levantou da mesa. Ela subiu as escadas e eu olhei para Julietta que parecia não estar entendendo nada. Olhei para o meu pai que bebia seu café como se nada estivesse acontecendo.

— O que houve com ela? – perguntei e papai deu de ombros. – É sério pai.

— Discutimos. – deu de ombros. – Não se preocupe.

— Vou ir com a mamãe. – Julietta disse triste pegando seu copo especial que continha o leite rosa.

Assim que ela subiu as escadas, eu encarei meu pai.

— Discutiram sobre o quê? – perguntei

— Não te diz respeito. – disse rude e eu me calei. – O que o León fazia aqui ontem? – tentou mudar de assunto e eu imediatamente o imitei:

— Não te diz respeito. – me levantei e ele soltou um longo suspiro. – Estou indo. – murmurei pegando minha mochila.

— Violetta, pare, venha tomar seu café.

— Não, obrigada. – murmurei. – Avise a Olga que eu comerei os muffins quando eu chegar.

E assim eu saí.

 

***

 

— Minha nossa! Por que chegou tão cedo? – Francesca perguntou assim que me encontrou sentada no banco em frente à faculdade.

— Meu pai está em um daqueles momentos insuportáveis. – revirei os olhos e ela riu. – Você está animada, o que houve? – perguntei estranhando, porque ontem ela estava super tristonha.

— Ah, nada demais. – sorriu, mas seus olhos brilhantes não me convenceram.

— Fran, eu te conheço.

— Ah tá legal. – riu. – Eu e Marco nos acertamos. – disse se sentando ao meu lado e eu sorri. – Foi incrível. – suspirou apaixonada.

— Imagino. – fiz uma careta e ela riu.

— E não bastando a noite maravilhosa, quando acordei, havia uma rosa, um bilhete fofo com direito a torta de maçã para o café da manhã.

— Ai que máximo. – sorri. – Não fala de comida, não pude tomar meu café, estou morrendo de fome.

— Então vamos comprar um café.

— Não, relaxa. – ela me lançou um olhar de repreensão. – Eu aguento, não é uma fome de outro mundo.

Antes que ela começasse um sermão, um carro branco – enorme – parou em frente à faculdade. Olhei para Francesca e ela tinha uma expressão maravilhada no rosto, eu sempre soube que ela adorava carros grandes, mas aquele era, com certeza, extraordinário. Mas infelizmente, quando eu estava começando a gostar do carro, Gery saiu de dentro dele, e todo o encanto instantaneamente passou.

— Uau. – Francesca riu. – Ela gosta de luxo.

— Sim. – murmurei me sentindo mal de repente.

— O que foi? Parece que você acabou de comer algo muito azedo.

— León esteve na minha casa ontem. – respondi ainda encarando Gery que conversava com alguém que estava dentro do carro.

— Eu sei. – Francesca disse e eu olhei para ela não entendendo, eu não tinha dito nada a ela. – León disse que iria falar com você.

— Vocês estão se falando? – franzi a testa, mas logo entendi. – Claro que estão... Vocês são amigos. – ri sem humor.

— Eu só quero que vocês se entendam de uma vez. – ela suspirou. – Odeio que não estejam juntos.

— Ele me beijou. – contei.

Francesca ficou em silêncio e eu me obriguei a encará-la. A mesma olhava para Gery, e depois de alguns segundos, ela olhou para mim.

— Não passou de um beijo, né? – perguntou preocupada e eu assenti. – Isso pode ser considerado traição?

— Acho que sim. – murmurei sentindo mais uma vez que aquele beijo não foi uma das coisas mais certas que eu fiz. – Fui muito imprudente?

— Talvez. – suspirou.

— Imagina se Gery descobrir.

— Ela vai fazer um escândalo. – Francesca disse rindo nervosa.

— Eu sei que fui estúpida, mas...

— Não pôde evitar? – ela completou a frase e eu assenti. – Compreendo. – sorriu me abraçando pelos ombros.

— Gosto dele, Fran. – confessei. – E só agora caiu a ficha de que eu fiz com a Gery, a mesma coisa que eu acho que ela fez comigo quatro anos atrás.

— Pagou na mesma moeda. – Francesca disse baixo.

— Não foi sensato.

— Mas quem sabe não foi justo?

— Se tivesse sido justo, eu não estaria me sentindo tão mal. – olhei pra Gery que agora caminhava para dentro da faculdade. – Ninguém merece ser traída.

— Talvez ela mereça muito mais do que isso.

— Não Fran. – neguei. – Ninguém merece.

 

Ludmila

 

Acordei atordoada ouvindo a campainha tocar incessantemente. Eu e Melanie havíamos adormecido na sala assistindo aos filmes de romance que ela tanto gosta. Sentei sentindo minhas costas doloridas e observei a Melanie, que continuava dormindo como um anjo. Como é que ela não acordou ao som dessa campainha? Mel tinha o sono pesado mesmo. Esperei um segundo até que alguém fosse atender a porta, mas me esqueci de que a louca da minha prima havia dispensado os empregados, porque a meia-noite decidiu que nós duas poderíamos nos virar. Não restando alternativa, eu mesma fui ver quem era.

— Ludmila?

Revirei os olhos. Era o León. Ainda bem. Não sei o que me deu para ir atender a porta de camisola.

— O que faz aqui tão cedo? – perguntei bocejando.

— São oito e meia. – ele respondeu rindo.

— É cedo.

— Mel sempre acorda antes disso.

— Não quando ela passa a madrugada assistindo filmes. – suspirei cruzando os braços. – O que quer aqui?

— Precisava dos ouvidos de Melanie. – riu sem graça colocando as mãos no bolso. – Mais tarde passo aqui então. – sorriu.

Algo nele não estava certo. Parecia nervoso demais, ansioso demais, angustiado demais. Não se parecia com o León, o primo insuportável que eu tenho. Ele se virou para ir embora e eu revirei os olhos ao escutar minha consciência dizer que eu precisava fazer alguma coisa para ajudá-lo.

— Posso não ter os mesmos conselhos que a Mel. – bocejei mais uma vez. – Mas já que você me acordou, eu permito que os meus ouvidos escutem as suas lamentações.

Ele sorriu, mas foi um sorriso triste. E acho que ele não se sentia muito seguro com a minha proposta.

— Eu não mordo León. – puxei seu braço. – Vamos só conversar.

E então ele entrou, e riu em silêncio ao ver Melanie esparramada no sofá, dormindo de boca aberta.

 

León

 

— Está me dizendo que não sabe se Gery tem uma parcela de culpa no seu rompimento com a Violetta?! – ela perguntou me olhando como se eu fosse um sem noção. – Está realmente me dizendo isso?!

— Achei que ouvidos não falassem. – murmurei.

— Ah, quando os meus ouvidos escutam barbaridade, a minha boca precisa dizer algo.

— Ludmila eu... – ela me interrompeu.

— Não. Agora eu vou falar. – ela se levantou. – Gery é manipuladora León. Uma mulher asquerosa.

Olhei para ela me perguntando como ela sabia que Gery era todas essas coisas.

— O que eu quero dizer... – ela suspirou. – É que você não deve confiar cegamente em alguém. – se sentou novamente. – As pessoas podem ser manipuladoras León. A inveja faz parte do mundo infelizmente, e hoje, as pessoas estão dispostas a tudo para conseguirem o que querem.

— Mas isso não quer dizer que a Gery é manipuladora.

— Mas também não quer dizer que ela não é. – murmurou.

— Você não está ajudando. – murmurei impaciente.

— Você quer que eu tome decisões por você? – perguntou. – Quer que eu escolha quem é que você tem que ir atrás? Porque para mim é simples dizer que você tem que ir atrás da Violetta.

Ela suspirou.

— Federico vai casar, não sei se você sabe disso.

— Posse ter ouvido alguém comentar.

— E isso significa que eu o perdi para sempre.

— Pensei que você não sentia mais nada por ele. E tem esse tal de Miguel...

— Eu também pensei que eu não sentia nada. – riu. – O Miguel é novidade para mim, mas o Federico... – ela suspirou. – Ele foi meu primeiro amor, o primeiro cara que eu realmente amei. O único que amei de verdade. Ele é especial. Mas eu não corri atrás. Eu perdi tempo. – me olhou suplicante. – E eu não quero que você perca tempo.

— Eu não sei o que fazer.

— No fundo você sabe. – ela sorriu.

— Não sei, eu juro. – respondi me sentindo aflito.

— Você quer a Violetta? – perguntou.

— Mas eu tenho a Gery, eu não posso... – ela me interrompeu.

— Não estou falando da Gery, apenas da Violetta.

— Lu... – ela me interrompeu novamente.

 — Vamos fazer um teste. Você sonha em casar?

— Claro. – respondi não sabendo onde ela queria chegar.

— Sonha em construir uma família? – perguntou e eu assenti. – Então feche os olhos. – pediu e eu franzi a testa. – Fecha León!

Então eu fechei.

— Respira fundo.

Eu respirei.

— Agora imagine a Violetta de branco. Imagine ela entrando na Igreja, subindo no altar, dizendo sim. – pediu. – Imagine o sorriso dela, as lágrimas, as emoções. Está imaginando?

— Sim. – murmurei incapaz de abrir os meus olhos.

— Agora imagine ela em uma casa. – disse baixo. – Sentada no tapete, descalça, vestindo uma camisa masculina, brincando com um bebê, uma criancinha linda, que ela gerou com tanto amor.

Era a coisa mais bonita que eu já havia imaginado.

— Agora você começa a ver outra pessoa nessa mesma cena. – voltou a falar. – E a Violetta sorri cheia de gratidão para essa pessoa. Ela ama essa pessoa, esse homem. – disse ainda mais baixo. – Este homem a abraça, brinca junto com o bebê, beija a Violetta. – Ludmila fez uma longa pausa, e tudo que eu podia ouvir era o som da risada de Violetta. – E então você vê o rosto desse homem. – disse. – E percebe que não é você.

Imediatamente vi o rosto do homem que eu a vi beijando em frente da faculdade.

— Foi para ele que ela se vestiu de branco, foi para ele que ela disse sim. – sussurrou. – Foi para ele que ela gerou este bebê tão lindo, foi para ele que ela se entregou, foi para...

— Pare... – pedi abrindo os olhos, sentindo meu estômago embrulhar. – Por favor, pare...

Apoiei os cotovelos em meus joelhos e fechei os olhos novamente tentando apagar aquelas imagens de minha cabeça. Não consigo imaginá-la assim. Não consigo imaginá-la pertencendo a outro homem. Não posso imaginá-la estando com outro.

— É isso que vai acontecer se você não se decidir. – ela tocou meu ombro. – Vai perdê-la.

— Não posso.

— Seria mais fácil se fosse com Gery? Seria mais fácil deixar Gery ir? Ou será que seria melhor deixar Violetta ir? E deixá-la realizar sonhos dela com outro homem?

Abri os olhos me sentindo sufocado. Eu precisava fazer alguma coisa.

— Preciso ir. – falei me levantando às pressas. – Preciso ir.

— León, calma. – ela arregalou os olhos. – Não faça nenhuma besteira.

— Preciso ir. – repeti andando em direção à porta.

— León!

Não dei ouvidos e passei pela porta, esbarrando em Melanie sem querer, não havia visto que ela estava ali. Saí da casa da minha irmã e subi em minha moto. Se eu não resolvesse hoje, perderia a coragem e não resolveria nunca mais.

 

Ludmila

 

— Você pegou pesado. – Melanie disse entrando na cozinha.

— Ele precisava de um choque. – murmurei. – Será que exagerei?

— Pedir para um homem imaginar a mulher que ele ama com outro, é demais – ela sorriu se sentando na cadeira onde León estava sentado. – Meu irmão é sensível.

— Eu vi. – dei risada. – Ele quase chorou.

Não gosto de ver León sofrer, mas é bom abrir os olhos enquanto há tempo. Ele não pode perder o amor da vida dele por birra e desconfiança. Seria muito imaturo. Eu não gostaria de assistir a isso.

— É verdade o que você falou em relação ao Federico?

— Você ouviu tudo né? – cruzei os braços dando risada. – Só estava tentando fazê-lo compreender.

— Sei. – me olhou desconfiada. – Vamos tomar café?

— Por favor, estou morrendo de fome.

E então comemos as pizzas que haviam sobrado da noite anterior.

 

Violetta

 

Gery não estava com um bom humor, e eu percebi isso quando ela entrou sem nem olhar para a professora. Ela largou a mochila no fundo da sala e foi se aquecer com algumas meninas que estavam próximas a barra.

— Queridos, todos juntos, por favor. – minha professora disse com os olhos fixos em seu caderno. – Como vocês sabem, a coreografia vale 40% do semestre, portanto, eu espero que vocês estejam a preparando com bastante cautela e talento. – ela fechou o caderno e olhou para nós. – Um recado para Violetta. – ela olhou para mim. – Infelizmente Gisele está com a perna fraturada, e ficará afastada por alguns meses.

Franzi a testa. Semana passada estava tudo tão bem.

— Querida, eu sinto muito. – lamentou. – Espero que não fique sobrecarregada se eu substituir sua dupla.

— Mas seria impossível eu trabalhar com outra pessoa a essa altura do campeonato. – tentei falar calmamente. – Não posso repetir todo o processo que eu e Gisele criamos com outra pessoa, porque certamente os limites seriam outros.

— Sim, de fato não pode. – minha professora suspirou. – Mas pode usar as ideias que teve com Gisele para uma nova coreografia. – sorriu compreensiva.

— Tá, mas todas as alunas estão em duplas, não tem como substituir a Gisele. – falei impaciente.

— Pensei em colocar Gery no lugar de Gisele.

— Como? – me fiz de desentendida.

— Professora, me desculpe, mas não acho que daria certo. – Gery se pronunciou. – Não tenho experiência, seria impossível construir algo.

— Você tem carisma, querida. – ela disse deixando o caderno de lado. – Fará uma boa dupla com Violetta.

— Professora, eu... – ela me cortou.

— Sem mais problemas Vilu. – me olhou séria. – Sugiro que comecem a trabalhar já.

Olhei para Gery, e ela me deu um sorriso, tentei retribuir, mas acho que não consegui. Suspirei. Quando penso que não pode piorar, mais problemas aparecem.

 

León

 

— León? O que faz aqui?

Olhei para trás e encontrei Diego. O que é que ele estava fazendo aqui?

Eu estava em frente à faculdade, disposto a ter a conversa mais séria que eu já tive em minha vida. Seria agora, ou nunca.

— Eu preciso resolver uns assuntos. – murmurei. – E você? O que faz aqui?

— Vim buscar a Francesca. – sorriu e eu franzi a testa. – Ela tem que fazer uns trabalhos, e eu propus uma ajuda. – explicou.

— Ah sim. – enfiei minhas mãos nos bolsos do meu jeans.

Ficamos em um silêncio desconfortável e eu fiquei me perguntando se tinha sido uma boa ideia querer resolver a minha vida amorosa em uma universidade.

— Está atrás de Violetta, não está?

— Não exatamente. – cocei a nuca.

O celular dele começou a tocar, e eu agradeci, não queria ter que falar sobre isso com ninguém.

— Tenho que atender.

— Tudo bem. – murmurei. – Vou esperar lá dentro.

 

Violetta

 

— Como foi à aula? – Francesca me perguntou assim que entrou no vestiário. – Sua cara não está muito boa. – se sentou em um dos bancos que ali havia.

— Eu só preciso de um café, bem forte de preferência. – suspirei. – Gery quer mudar a coreografia que eu estou elaborando desde o início, e acabei de descobrir que ela tem dois pés esquerdos. – reclamei e ela riu. – E por mais magra que ela seja, ela não tem nem um pouco de leveza.

— Você é hilária.

Vesti minha calça jeans e coloquei minha regata. Olhei para Francesca e ela estava entretida com o celular. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e me sentei para colocar os meus tênis. Francesca sorria estranhamente enquanto digitava algo no celular. Peguei minhas meias.

— Está conversando com Marco? – perguntei e ela me olhou ainda sorrindo. 

— Não, não estou conversando com Marco. – voltou a digitar. – É o Diego.

— Como assim?

— Ele vai me ajudar com um artigo.

— Ah claro. – dei de ombros. – Espero que se divirtam.

— Eu também espero, apesar de ser um trabalho, e trabalhos dificilmente são divertidos. – suspirou. – Mas me explica esse negócio de mudar a coreografia... Não é a Gisele que é sua parceira.

— Gisele está de licença médica. – respondi e Francesca sorriu compreensiva. – Gery é a substituta.

— Que pena amiga. – suspirou e seu celular fez um barulhinho. – Tenho que ir, Diego já está lá em baixo.

— Boa sorte. – ela me deu um beijo na bochecha. – Divirtam-se.

— Vamos tentar. – acenou e saiu do vestiário.

Fui para dentro de uma das cabines do vestiário para terminar de me vestir. Pode ser que não seja tão estranho quanto eu esteja achando, mas essa amizade entre a Fran e o Diego é no mínimo inesperada, ela nunca sequer falou do Diego para mim, e agora se ajudam com trabalhos?

 

Francesca

 

Assim que saí do prédio, encontrei Diego encostado a seu carro mexendo no celular. Ele parecia entretido, mas ao mesmo tempo um pouco entediado. Aproximei-me de fininho, e ele nem percebeu.

— Se eu fosse um ladrão, te assaltava facilzinho. – falei cruzando os braços e ele finalmente percebeu que eu estava ali.

— Ah desculpe. – ele riu. – Os meus colegas de trabalho estão participando de um projeto no qual eu também estou inserido. – suspirou guardando o celular do bolso.

— Está complicado? – perguntei vendo que o mesmo parecia angustiado.

— Opiniões divergentes. – ele deu de ombros. – Vamos entrar em um consenso logo, eu espero. – sorriu. – Pronta para conhecer Ágata? – perguntou mudando o assunto completamente.

— Mais do que pronta. – sorri. – Tenho tantas perguntas, tantos assuntos para conversar, eu não vejo a hora, juro. – senti meu coração palpitar. – Escrevi tudo em um bloquinho de notas, quanto tempo eu terei com ela? Meia hora? Quarenta minutos?

— Calma – ele riu da minha afobação. – Você terá o tempo que você quiser. A tarde inteira se preferir. Eu vou te levar a casa dela, a mesma está te esperando ansiosamente com o cardápio completamente italiano.

— Você disse que sou italiana? – perguntei não podendo conter o meu sorriso.

— Sim, e contei que você não vai à Itália há um tempão. – riu. – Ela adora a culinária do seu país, então por que não cozinhar algumas massas para a ilustre Francesca Reys?

— Ai você não existe! – o abracei. – Sério, eu não sei como te agradecer. – murmurei quando senti que ele me abraçava de volta.

— Se você conseguir escrever o melhor artigo de todos, eu ficarei feliz. – o escutei murmurar.

Ali, parada em frente a minha faculdade, abraçada ao Diego, senti o quanto era importante ter amizades. Era tão bom ter um amigo que me apoiasse e que me ajudasse. Sinto que ele e a Vilu tem uma parte exclusiva do meu coração, uma parte que é completamente grata por tudo que fazem.

— Fran?

Separei-me de Diego para ver quem me chamava e franzi a testa ao encontrar Marco. O que ele estava fazendo aqui?

— Marco? – acho que fiz uma careta.

— Diego? – Marco perguntou olhando para o Diego.

— Marco? – foi à vez de Diego dizer algo.

Fiquei confusa.

— O que faz aqui? – perguntei me afastando um pouco mais de Diego.

— Vim te buscar. – ele ainda olhava para Diego.

— Por que não me avisou?

— Era pra ser uma surpresa. – disse cruzando os braços ao olhar em meus olhos. – Não sabia que já tinha companhia.

Coloquei as mãos na cintura o encarando bem. Ele não ia ter uma crise de ciúmes agora, né? Não com Diego presente?

— Se você quiser podemos marcar outro dia. – Diego murmurou para que somente eu escutasse.

— É claro que eu não vou marcar para outro dia. – falei irritada, alto demais.

— Ok. – Diego se limitou a dizer e então ficou calado novamente.

— Diego está me ajudando com um trabalho. – expliquei, mesmo achando que eu não devia explicações.

— Que trabalho?

— Um artigo.

— Como que um arquiteto te ajudaria em um artigo de psicologia? – perguntou dando um riso sarcástico.

— Você é tão ignorante. – revirei os olhos. – Diego conhece alguém que pode me ajudar. Apenas isso.

— Por que não me contou então? – me olhou desconfiado.

— Por que você nunca perguntou. – respondi e vi suas bochechas se avermelharem. – E também porque o assunto nunca veio à tona.

Olhei para Diego que parecia ter comido algo muito azedo, sua cara não era uma das melhores.

— Temos que ir agora. – falei para Marco.

— Tá. – disse sem ao menos olhar para mim.

— Vamos Diego. – murmurei.

Diego abriu a porta do carro para mim e eu sorri mesmo estando chateada. Estava tudo indo tão bem. Olhei rapidamente para Marco e ele nos olhava com raiva. O que foi agora? Por que ter ciúme de um dos melhores amigos dele? E se isso não for ciúme, é o quê? Entrei no carro. Depois da noite maravilhosa que nós dois tivemos, porque ele não continuava sendo o homem amável de antes?

— Acha que ainda é uma boa ideia irmos até Ágata? – Diego perguntou assim que ligou o carro. – Não quero causar discórdia entre você e o Marco.

— Não, nós vamos hoje. – falei firme.

— O que é que está rolando entre vocês?

— Nada, eu pensei que nós havíamos nos acertado ontem. – murmurei.

— Talvez nós dois não devêssemos sair hoje. – ele pegou a minha mão. – Tenho certeza que Ágata estará disponível outros dias e...

— Não, eu quero ir. – forcei um sorriso. – Ela preparou tudo com carinho Diego, fez até comida italiana. – ri. – Não posso faltar. Além do mais, nós vamos nos resolver no final do dia. – tentei tranquilizá-lo. – Nós sempre nos resolvemos.

— A Francesca que via uma solução em tudo está de volta. – ele sorriu de lado. – Acho que ela está viva afinal de contas.

— Sim, acho que ela está. – sorri contente. – Vamos?

Diego assentiu e deu partida.

 

León

 

Assim que entrei naquela faculdade, perguntei a várias pessoas que estavam saindo se haviam visto Gery, até que finalmente uma, depois de eu tirar uma foto e dar um autografo, me contou que ela estava no vestiário feminino.

— León?! – Gery disse dando um pulo de susto quando me viu passar pela porta do vestiário. 

— Preciso conversar.

— Não podemos fazer isso mais tarde? Eu preciso me trocar.

— Gery, por favor, me escuta. – pedi.

Ela revirou os olhos e colocou sua blusa de frio e em seguida sua calça de moletom. Sentei-me no banco que ficava no meio do vestiário e esperei que ela fizesse tudo. Só tinha ela ali dento. Assim que fechou sua mochila e pegou seu copo de suco, veio se sentar de frente para mim.

— O que quer conversar? – perguntou manuseando o copo. – Quer um pouco? – ofereceu para mim, e eu neguei. – É um mix de frutas, você vai adorar, é super...

— Gery, vamos conversar. – interrompi suspirando.

— Experimente. – estendeu o copo em minha direção. – Aposto que vai melhorar essa sua cara de irritadinho.

Revirei os olhos e tomei um pouco daquela vitamina. Sim, era boa.

— Comprei aqui dentro da faculdade mesmo, uma delícia né? – ela disse pegando o copo de minhas mãos. – Tem banana, maçã, e bastante...

— Eu não posso mais. – falei agoniado interrompendo-a. – Realmente não posso.

— O que foi baby? – franziu a testa.

— Não posso mais continuar nessa relação Gery. – murmurei. – Eu espero que você me perdoe um dia, mas eu realmente não quero mais, eu não posso mais.

— León, o que aconteceu? – ela me perguntou se levantando. – Vamos conversar em casa amor, você está claramente angustiado com algo. – olhou fixo em meus olhos. – Vamos conversar com calma e...

— Gery, por favor, me escuta. – me levantei também. – Eu não posso mais adiar isso. – suspirei. – Nosso relacionamento acaba aqui.

— E o que te faz pensar que eu vou aceitar isso sem explicação nenhuma? – cruzou os braços. – Você está claramente fora de si.

— Nunca estive tão são em minha vida.

Seus olhos se estreitaram em minha direção e ela se aproximou.

— Não pode estar falando sério. – pegou minhas mãos. – Estávamos indo bem até agora, porque você quer acabar com isso de uma hora para outra? Não faz sentido meu amor. – suspirou. – Seja lá o que estiver te atormentando, vamos conversar, como duas pessoas maduras, em casa.

— Gery, eu não posso mais estar com você. – falei devagar. – Não quero te fazer sofrer, não quero te ver... – ela me cortou.

— Está maluco?! León, você não me faz sofrer! Eu amo você justamente porque me faz a pessoa mais feliz do mundo.

— Mas posso vir a te machucar, e eu não quero te fazer infeliz. – expliquei. – Você é muito importante para mim, e você sabe bem disso. – soltei nossas mãos quando vi seus olhos marejarem. – Eu não quero que a minha loucura, a minha confusão, te machuque.

— Mas do que você está falando? – perguntou. – Por que terminar agora? Estamos construindo nossas vidas juntas. Não pode jogar isso pelos ares, não faz sentido, não faz... – ela parou de falar.

Seus olhos ficaram vermelhos e eu pensei que ele fosse chorar. Mas então sua testa franziu e ela me encarou como se eu fosse o mais malvado dos homens. Gery estava com raiva. Com muita raiva.

— Tem outra mulher. – se aproximou mais de mim. – É isso? Tem outra mulher? Apaixonou-se por outra mulher? Quem é ela? – começou a falar desesperada. – Qual o nome dela? Eu conheço? Quem é León?!

E quando eu dei por mim, ela bateu com a palma em minha bochecha.

— Você está louca? – perguntei sentindo a ardência em minha bochecha.

— Um tapa não chega nem perto do que eu estou querendo fazer com você! – gritou. – Eu não acredito que... Nós passamos tanto tempo que... Eu não sei o que dizer... – seus olhos marejaram. – Quem é?

— Pare de perguntar quem é. – suspirei. – Não tem outra pessoa. – olhei em seus. – Apenas não posso estar com você. – segurei suas mãos para evitar que ela me desse outro tapa. – Estou me sentindo fora da minha própria pele, quando cheguei aqui, todo o meu passado retornou, e eu sinto falta de quem eu era quatro anos atrás...

— Seu passado retornou? – ela franziu a testa. – Eu não vou nem perguntar se isso tem haver com a sua ex. namorada porque seria demais para mim.

— Tem haver com ela, com a minha história, com tudo o que aconteceu. – me aproximei um pouco mais dela. – Tem haver com quem eu sou. – acariciei seu rosto. – Algo está errado, oculto, algo que não se encaixa com os fatos.

— Que fatos? – perguntei. – Será que você não se toca que ela te abandonou? Não se toca que ela não te ama? León! Acorda! Estive com você em todos os momentos, eu sei como você se sentiu. Eu sei como ela te destruiu! – apertou minhas mãos. – Meu amor, eu te ajudei a se recuperar, te ergui do chão. Fiz de você um homem completo, um artista amado, um astro. Será que você não enxerga que seu passado não vai fazer com que você continue crescendo? Eu vou te ajudar a crescer! Eu!

— Mas eu não quero crescer. – falei diminuindo o tom de voz. – Eu não quero mais do que eu já tenho Gery. – soltei suas mãos. – Realizei os meus sonhos, e eu te agradeço imensamente por ter me ajudado em cada momento, em cada queda. – enxuguei algumas de suas lágrimas. – Você foi, e é extremamente importante para mim.

— Se eu fosse importante, você não estaria terminando comigo.

Então ela se virou, pegou a mochila e andou em direção à porta.

— Nossa relação não terminou. – disse sem olhar para trás. – Não ainda.

Então ela saiu.

Sentei-me no banco e suspirei. Gery havia deixado seu suco no banco. Minha garganta estava estranhamente seca e eu estava me sentindo sufocado, acho que devido a discussão, então bebi mais um pouco do suco tentando acalmar os meus ânimos. Agora o próximo passo seria falar com Violetta, dizer que eu precisava...

Escutei o barulho de uma das portas do vestiário se abrirem, e rapidamente me virei. Havia alguém dentro do vestiário.

Quando me virei, não acreditei.

— Acho que precisamos conversar.

Olhei para ela e me senti um pouco tonto. Só não sei se me senti tonto por conta da estranha sensação de falta de ar e a garganta se fechando aos poucos, ou por saber que a Violetta escutou toda a minha discussão com Gery.

 

Violetta

 

— Violetta. – ele murmurou perplexo.

— Bem, digamos que eu ouvi uma coisinha ou outra. – murmurei saindo de onde eu estava. – Ou digamos que eu escutei exatamente tudo, e agora, eu ache que mereça ouvir explicações sobre o porquê de você ter feito isso.

Ele estava um pouco pálido e sua bochecha estava vermelha com a marca da palma de Gery, devido ao gesto bastante indelicado da mesma. Seus olhos verdes estavam angustiados e ele não parecia nem um pouco bem. Talvez ele estivesse muito mal. Ele está com a mesma cara de alguém que está prestes a vomitar. Sei que foi errado ficar quietinha enquanto os dois discutiam, mas não pude evitar.

— Ou ainda, digamos que eu tenha que me sentar neste banco junto com você e perguntar o que está rolando e se você está se sentindo bem.

Fiquei com a minha sugestão, e me sentei no banco que ficava no meio do vestiário, e esperei com que ele fizesse o mesmo. León hesitou, eu percebi. Mas depois de dois segundos ou quase isso, ele se sentou, bastante afastado de mim, mas se sentou.

— O que está rolando? – perguntei ficando com a postura reta, assumindo a mesma posição de psicóloga/amiga que a Francesca assume quando percebe que eu estou com problemas. – Não precisa me contar se não quiser. Você não me deve explicações e...

— Terminei com ela. – ele me cortou.

— Bem, disso eu sei. – larguei a mochila no chão. – O que eu quero entender...

— Estou me sentindo mal. – ele colocou a mão sobre o estômago e eu pensei que ele fosse vomitar de verdade. – Preciso de um pouco de água.

— Água? – franzi a testa. – Tudo bem, água.

Vasculhei dentro da minha mochila e encontrei uma garrafa de água pequena e entreguei a ele. León bebeu tudo em menos de cinco segundos e em seguida fez uma careta colocando a mão sobre o estomago de novo.

— León, está tudo bem? – perguntei me aproximando vendo que parecia que ele estava com muita dor.

— Não, estou... – então ele começou a tossir.

Arregalei os olhos ao ver suas bochechas se avermelhando e seu pescoço com pequenas manchas avermelhadas, como se fosse o início de uma catapora. León espirrou e tossiu novamente.

— Preciso de ar. – ele disse puxando a gola de sua camisa.

— Uma crise alérgica? – perguntei para mim mesma analisando aquelas reações. – Mas você não tem alergia a nada, a não ser que seja...

Antes de completar a minha análise olhei o copo de suco que estava ao seu lado e rapidamente o peguei em minhas mãos.

— Quanto desse suco você bebeu? – perguntei lendo o rótulo, tentando achar os ingredientes do suco.

— Um pouco. – León continuava tossindo.

Quando li morango no rótulo, eu soube que precisava de um médico. Segurei o rosto de León em minhas mãos e percebi que seus olhos estavam quase fechados de tão inchados.

— Minha nossa, eu não sei o que fazer. – peguei meu celular dentro do bolso da minha calça não tirando a outra mão de seu rosto. – Uma ambulância, eu vou chamar uma ambulância. – murmurei aflita.

— Minha mãe. – ele murmurou com a voz fraca. – Ligue para a minha mãe.

Senti minhas bochechas arderem e mordi o canto da bochecha.

— O que foi? – ele perguntou num sussurro de voz.

— Não tenho mais o número da sua mãe. – respondi constrangida.

— Pegue o meu celular. – ele se esforçou para dizer. – Está no bolso de minha calça. – ele disse e eu rapidamente fui atrás do celular. – Eu pegaria, mas minhas mãos já perderam a sensibilidade.

Quando enfim peguei seu celular, por impulso, digitei a senha que ele costumava deixar para desbloquear, e por incrível, era a mesma senha de quatro anos atrás. Quatro números, um único significado.

— Não sou muito original, eu sei. – ele murmurou.

Apenas sorri, e procurei pelo número de sua mãe.

León, ainda bem que me ligou, porque você não vai acreditar...— tive que interromper, a mãe de León estava muito entusiasmada.

— É a Violetta. – falei constrangida.

Violetta?

— Sim, aconteceu um probleminha... – comecei e peguei o copo de suco. – León tomou um mix de frutas. – olhei o rótulo. – E continha muito morango. – estranhei por ele não ter percebido o gosto do morango.

Ah claro. — ela suspirou. – Ele já está vermelho?

— Está sim. – dei uma olhada no León que suspirava. – E está com falta de ar.

Onde estão? Vou pegar minhas coisas, e já estou indo.

— Estamos na minha universidade, dentro no vestiário feminino. – contei. – A universidade perto daquela cafeteria famosa, sabe?

Sim, sim, já estou chegando.— disse rapidamente. – Obrigada por ligar, querida.

E então ela desligou.

— Como é que você não sentiu o gosto de morango? – perguntei lhe devolvendo o celular.

— Faz uns anos que eu não como morango, não me lembro do gosto. – ele riu. – O que minha mãe disse?

— Que está vindo pra cá.

— Estou ferrado.

— Acho que está. – sorri. – O que eu devo fazer enquanto ela não chega?

— Que tal me distrair? Assim me esqueço de que estou sufocando. – riu fracamente.

— Tudo bem. – peguei sua mão. – Vou tentar.

 

***


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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora
Ainda esta semana farei o possível para postar novamente
Beijos de luz
Até logo.



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