Escolhas escrita por Bianca Saantos


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

AAAH não voltei quinta passada porque tive que finalizar umas partizinhas da história e me levou mais tempo do que devia, sem contar um simulado que surgiu do nada (mentira só esqueci de olhar o cronograma mesmo) :(
Massss cá estou eu novamente
E primeiro de tudo eu queria agradecer a recomendação da minha leitora "Lovesheeran "!!!!!! Obrigada pelas palavras e pelo carinho, de verdade, sou muito grata! Obrigada também as que comentaram no capítulo anterior, me deixaram muito happyyyyyyyy!!!! Melhores leitoras do mundo!!!
Boa Leitura!!



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Gery

 

— O que é que você está fazendo aqui?!

— Credo menina, isso é jeito de receber a sua mãe? – retrucou entrando no apartamento sem ao menos pedir licença. – Até que é bem bonitinho esse lugar, mas essas paredes podiam ter um pouco mais de cor, não acha?

— Eu não acredito que você veio mesmo para cá. – murmurei perplexa com a presença dela. – Acho que foi a primeira promessa que você cumpriu de fato.

— Eu sempre cumpro minhas promessas. – disse e eu arqueei minha sobrancelha. – Ok, quase todas. – corrigiu.

Os cabelos dela estavam escuros, e eu aposto que ela tinha feito uma cirurgia plástica no nariz. Ela também estava um pouco mais magra do que antes, e usava um vestido preto com detalhes em prata. Até que não estava tão vulgar quanto da última vez que eu a vi. Até que estava bonita, tirando o botox um pouco exagerado nos lábios.

— Acho que seus lábios estão desproporcionais. – comentei.

— Que nada, apliquei botox anteontem, daqui uns dois dias estarão normais. – disse colocando a bolsa sobre a bancada da cozinha. – O que você tem para comer aqui? Estou morrendo de fome. Acredita que vim de classe econômica? Eles não servem nem um champanhe naquela ala, que desagradável. – abriu a geladeira. – Hm! Sala de frutas! Eu gosto. – pegou o recipiente.

— Que história é essa de Marie Bernardi?

Não sabia que além de mercenária minha mãe estava cometendo o crime de falsidade ideológica. Eu não duvido nada de que ela esteja fugindo da polícia, ou quem sabe se envolveu com um mafioso e agora a estão tentando matar. Arregalei os olhos. O que será que essa louca aprontou agora?

— Bem, se lembra do meu francês? – perguntou fazendo uma carinha triste. – Ele voltou com a ex. mulher. – revirou os olhos. – Até propôs que eu fosse amante, mas eu não sou mulher de ser segunda opção de ninguém como você sabe. – assenti. – Voltei para Itália, e conheci Vitório Bernardi, ele se apaixonou por mim, e bem, estamos juntos.

— E o que isso tem a ver com esse nome que você está usando?

— Bem, ele disse que quando nos casarmos ele me chamará de Marie Bernardi. – deu de ombros. – Ele disse que Mary é muito comum, por isso me chama de Marie, e Bernardi é apenas o sobrenome dele. Eu achei bem bonito, então comecei a usar desde agora. – sorriu.

— Ele não pode mudar o seu nome verdadeiro. E eu gosto de Mary.

— Bem, eu nunca gostei. – deu de ombros. – Acho Marie mais chique.

— Está bem, mude o seu nome até para capivara se achar bonito, mas o que é que você está fazendo aqui?

— Você disse que precisava de mim, por isso estou aqui. – deu um sorriso convencido. – Uma mãe sempre atende as necessidades da filha.

— Você nunca se prestou a esse papel, tenho direito de achar estranho. E faz um tempinho que eu te pedi conselhos, deveria ter chegado mais cedo. – falei e ela revirou os olhos se sentando no sofá. – Acho que não faz tanta diferença agora, meu relacionamento com o León vai bem.

— A questão é que você não sabe nada sobre homens Gery. – disse séria. – Eu não estive muito presente em sua adolescência, mas sei que você nunca teve muitos namorados, nunca foi boa em relacionamentos. – suspirou. – E isso é culpa minha, confesso. Quem sabe se tivéssemos passado mais tempo uma com a outra, você saberia mais sobre como funciona um relacionamento, e como fazer com que os dois sejam felizes juntos, ou quem sabe ao menos fazer o homem que você quer feliz, nem que seja por dinheiro, vingança ou... – a interrompi.

— Amor. – abracei o meu próprio corpo. – Estou com o León porque o amo, porque de todas as besteiras que eu fiz a minha melhor escolha foi ele. – ela deu um sorriso pequeno. – E eu não vou deixar que ele me escape tão fácil.

— É por isso que estou aqui. – se levantou vindo até mim. – Juntas podemos fazer com que ele jamais saia do seu lado. Uma coisa que sua avó me ensinou, é que quando uma mãe se alia a filha, sempre tem chances de conseguir qualquer coisa dessa vida.

— Então porque não se aliou a mim antes de eu precisar chamar por você?

— Bem, você não era prioridade, mas agora garanto que é. – pegou minhas mãos. – Juntas teremos tudo aos nossos pés.

— Eu só quero o León para sempre mamãe, nada mais importa. – olhei para com toda a vulnerabilidade e sinceridade que havia em mim.

— Se é o León que você quer, é o León que você vai ter. Para sempre.

 

Francesca

 

— Alô? Marco, onde você está? Estou te esperando há séculos, e estou morrendo de fome. – reclamei sem dar a chance de ele falar primeiro. – Estou me segurando para não comer o meu lanche que está bem aqui na minha frente.

Sinto muito Fran, mas não irei poder comparecer.

Jura? Por que é que eu ainda acredito nas promessas que ele me faz?

Houve uma reunião de última hora, e agora eu preciso...

— Já entendi. – o cortei.

Eu não queria furar com você, mas se eu não ficar aqui, os meus sócios ficaram furiosos comigo, você compreende, não é?

— Claro. – tentei soar mais despreocupada possível. – É claro que compreendo.

Tenho sorte de ter você como namorada, porque sei que ninguém seria tão compreensiva como você. — ele disse todo orgulhoso. – Passo na sua casa mais tarde. Até mais.

— Tchau. – murmurei sem paciência desligando em seguida.

Eu duvido muito que ele vá até a minha casa mais tarde. Duvido também que ele se lembre de que combinou que iria passar na minha casa mais tarde. Era sempre assim, dia e noite naquela maldita empresa. “... sei que ninguém seria tão compreensiva como você...” É claro que ninguém seria. Sou uma idiota mesmo por pensar que algum dia ele voltará a ser como antes.

— Frustrada? – escutei alguém dizer.

Olhei para trás, e encontrei Diego segurando uma bandeja com o seu almoço. Ele me deu um sorriso, mas não consegui retribuir. Marco esgotava todos os meus momentos felizes, e isso estava me cansando mais do que todos pensam.

— Você não deveria estar com sua garota anônima da internet? – perguntei.

— Você não respondeu a minha pergunta, e a minha garota não tão anônima da internet cancelou o encontro. – ele suspirou. – Está chovendo muito na cidade dela, não tem como chegar aqui.

— Não estou frustrada, mas também cancelaram o encontro comigo. – dei um sorriso. – Quer se sentar aqui?

— Eu ia sentar mesmo que você não convidasse. – respondeu vindo sentar na cadeira a minha frente. – Sabia que lanches fazem mal a saúde, não sabe?

— Se vai falar mal do meu mc você pode ir sentar bem longe de mim. – falei séria e ele deu risada.

— Marco cancelou com você então? – perguntou e eu assenti colocando uma batata frita na boca para não ter que prolongar o assunto. – Que pena, estava mesmo com vontade de reencontrá-lo. – deu de ombros colocando sal na salada em seu prato. – A gente podia combinar alguma coisa, relembrar os velhos tempos, o que acha?

— Claro. – peguei outra batata.

— Como ele está? Conseguiu tudo que almejava no ensino médio? – perguntou e eu me esforcei para não fazer uma careta. Será que não podíamos conversar sobre outra coisa?

— Sim. – respostas rápidas e curtas. Talvez ele se ligue de que eu não quero falar sobre o Marco.

Ele me olhou e abriu a boca para falar novamente, mas em seguida fechou e desviou sua atenção para o prato de comida a sua frente. Talvez eu tenha sido um pouco grosseira e rude, mas estou chateada, o que é que posso fazer quanto a isso? Diego enrolou o macarrão em seu garfo, mas antes de levá-lo a boca olhou para mim.

— Vocês não estão bem, não é? – perguntou.

— Não. – a resposta saiu quase que imediatamente da minha boca e eu revirei os olhos. Agora além de ser trouxa não consigo controlar a minha própria língua.

— Percebi. – ele riu brevemente.

Revirei os olhos uma segunda vez e comi o resto de minhas batatas fritas. Era tão chato falar sobre Marco agora. Antes ele era um assunto agradável, hoje em dia falar sobre ele é como ir ao médico, sempre tento evitar.

— Apenas uma fase ruim, logo passa. – Diego comentou como se estivesse todo esse tempo acompanhando o meu relacionamento com o Marco.

— Que fase hein. – comentei sarcástica. – Duvido que passe, mas se dermos a volta por cima, agradecerei a sua energia positiva.

— Cadê a Francesca que via uma solução em tudo? – arqueou um de suas sobrancelhas.

— Acho que ela morreu. – dei de ombros colocando um pouco de ketchup em minhas batatas e percebi o olhar de perplexidade dele. – Ok, talvez ela esteja adormecida, ou quem sabe um pouco mais realista? Acho que realista se encaixa bem.

Ele deu risada e eu sorri. Não era pra ser legal alguém rir dos meus dramas, mas um pouquinho de sorrisos podia fazer do meu dia mais agradável e confortável. Afinal de contas nem tudo são flores o tempo todo.

Comemos entre risadas e conversas. Descobri que ele está terminando a faculdade de arquitetura, e já está estagiando na área. Descobri também, que diferente do Marco, ele não passa os dias da vida dele obcecado e atolado no trabalho. Além disso, descobri que ele gosta de futebol, e que pratica duas vezes na semana, e às vezes sai para barzinhos com os amigos na sexta-feira. Uma vida normal. Ganha dinheiro suficiente para levar uma boa vida, se diverte, está com os amigos, consegue passar um tempo em paz. Como é que o Marco não pode gostar de levar uma vida assim?

— E você? Está fazendo o que de faculdade? – perguntou terminando o seu suco de laranja natural, enquanto eu terminava o meu hambúrguer.

Antes que eu conseguisse responder, meu celular tocou. Rezei para que não fosse o Marco, e realmente não era ele. Dei um sorriso. Era o León. Qual será o problema agora?

— Oi, aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupada.

Sim e não. Conversei com a Violetta ontem, e Francesca, a coisa é mais confusa do que eu imaginava. Violetta pensa que eu comecei a namorar Gery antes dela terminar comigo. Era sobre o telefonema que você não queria me contar, não é? Isso é realmente verdade? Gery ligou para ela?

— O que você acha? – perguntei. – Eu não estava no momento em que ela ligou, mas confio plenamente na Violetta, sei que ela não mentiria e nem fingiria dor, não em relação a você. – dei um gole em minha coca-cola.

Será que a gente podia conversar? Não consegui voltar para casa ontem. Estou em um bar fugindo dos meus problemas como o covarde que eu sou.

— Ah León... – suspirei lamentando. – Você não exagerou na dose, exagerou?

Não, só fiquei pensando mesmo. Não poderia encarar Gery, porque se isso for mesmo verdade... Se for mesmo verdade...

— Você não vai saber o que fazer. – o interrompi. – Qual barzinho? Chego o mais rápido que eu puder.

Perto do shopping. Não seria melhor eu te encontrar?

— Não, eu já estou na rua.

Ok, mas quando chegar me dá um toque. Não entre.

— Por que eu não entraria? – perguntei confusa.

Porque é um bar, com caras bêbados e tarados, preciso explicar mais alguma coisa?

— Não, tudo bem, eu não vou entrar. Estou chegando.

Desliguei a ligação e Diego me olhava com um olhar de convencimento. Eu o olhei perguntando mentalmente o que é que ele estava pensando.

— Então a Francesca que via uma solução ainda está aí? – perguntou com um sorriso.

— Pare, ela não está aqui. – peguei minha bolsa. – Adorei almoçar com você, mas preciso ajudar um amigo.

— León? Eu ouvi. – sorriu. – Ele é um pop star agora, certo? – assenti. – Uma vez ele fez um show na Espanha, minha prima é louca por ele, e bem, ela voltou frustrada porque não conseguiu chegar antes das outras fãs para tirar foto com ele.

— Tenho certeza que se ela tivesse chegado mais cedo, ele seria um amor com ela. – me levantei. – Tenho que ir.

— Se quiser posso te levar. – ofereceu.

— Não, estou de carro, e não é tão longe. – olhei o relógio. – É um barzinho aqui perto.

— No Blues? É o único bar que tem aqui perto, e eu não vou permitir que você entre lá sozinha. – disse e eu revirei os olhos. Homens são todos iguais.

— Acha que eu não consigo me cuidar? Além do mais, o León disse para eu não entrar, ele vai me encontrar do lado de fora.

— Mas eu duvido que você vá esperá-lo do lado de fora. – ele disse se levantando também. – Vamos, dá para ir a pé, depois voltamos para o shopping e pegamos os carros.

Fiz uma cara emburrada. Seria inútil tentar fazer com que ele me liberasse para ir sozinha. Espantei os maus pensamentos. Em toda a minha vida foi assim. Os meus amigos são como irmãos, e acho que eles me veem como irmã também, e eu até gosto. Mais gente para me proteger não é mesmo?

 

***

 

Entrei no estabelecimento que não era nem um pouco parecido com os lugares que eu ia. Era bonitinho, não era um bar feio, mas ainda assim era um bar né? Diego estava atrás de mim e isso me dava certa segurança, porque quanto mais eu adentrava no bar, mais homens, que estavam nas suas mesas bebendo, olhavam para mim.

León estava na bancada, e dava um dinheiro para o barman que sorria agradecido. Ele virou um último copo de sei lá o que e se levantou segurando o balcão para não perder o equilíbrio. Seus cabelos estavam bagunçados e a camisa um pouco amassada.

— Não foi assim que eu imaginei um astro de Hollywood. – Diego comentou baixinho do meu ouvido e eu tive que rir.

— Pare. – pedi.

Depois de uns instantes, León se virou para sair dali, e me viu. Dei um sorriso, porque por mais que ele tenha passado a noite naquele bar, ele não parecia que tinha bebido, e sim que estava muito cansado. Ele sorriu de volta, mas estreitou os olhos em repreensão de não sei o que, e se aproximou de onde estávamos.

— Eu falei para esperar lá fora. – León disse com um tom de voz severo.

— Eu também falei, mas ela não me deu ouvidos. – Diego contou e eu o fuzilei com o olhar. – O que? Isso não é lugar para você estar.

— Não mesmo. – León concordou.

— Ah será que vocês podem parar de falar o que eu tenho ou não que deixar de fazer? – perguntei com as mãos na cintura.

— E aí cara, faz muito tempo que não te vejo. – León disse me ignorando completamente, cumprimentando o Diego com um toque que eu desconheço.

Revirei os olhos e enquanto os dois conversavam fui a bancada. Pedi um copo de água, porque eu estava morrendo de sede. O lugar não parecia de fato um bar. Era aconchegante, colorido e moderno, e não tinha cheiro de cerveja. Era até que jeitosinho, nunca tinha visto algo parecido aqui em Buenos Aires antes.

— Aqui está senhorita. – o barman disse me entregando um copo e uma garrafa e eu sorri agradecida.

Só então vi que por baixo do copo tinha um bilhetinho feito com guardanapo e sorri. Era do barman, e estava escrito o seguinte:

 

 

Adorei seu sorriso
Se quiser sair um dia
Me ligue
(xx) xxxxx-xxxx
Joseph

 

Olhei para o barman que servia um homem que estava sentado um pouco longe de mim. Sorri e ele sorriu de volta. Era até que bonitinho, tinha os olhos azuis e os cabelos castanhos claros quase loiros, sem contar que tinha um sorriso maravilhoso. Ele deu uma piscadela e eu senti as minhas bochechas vermelhas e desviei nossos olhares. Em anos, acho que nunca flertei com ninguém ou alguém flertou comigo, a não ser o Marco, mas nós éramos adolescentes e ele nem precisou me paquerar muito porque meu coração já era completamente apaixonado por ele.

— Te deixo sozinha por dois minutos e você troca olhares com o barman? – León perguntou surgindo, literalmente, ao meu lado, me dando um susto, e em seguida riu da minha reação. – Marco não vai gostar disso.

— Ele não precisa saber. – dei de ombros guardando o guardanapo dentro de minha bolsa, onde continha o número de Joseph.

— Vai mesmo guardar este bilhete? – León franziu a testa. – Eu jamais contaria ao Marco sobre quem dá em cima de você, mas guardar evidências já é demais, não?

— Não acho. – dei um gole na minha água. – Ele não está ligando para mim ultimamente, então tenho que valorizar quem liga correto? E no momento, Joseph, o barman, está indo muito bem.

— O que é que está acontecendo entre vocês? – ele perguntou com um semblante desconfiado meio preocupado.

— Uma fase ruim, mas já vai passar. – fingi indiferença, mas ele pareceu não acreditar muito.

— Você precisa conversar com alguém, posso ser essa pessoa se você quiser.

— Tá, é só que... – suspirei. – Eu não gosto de falar dessas coisas tá?

— Tudo bem. – sorriu.

— Mas e aí? Como foi a conversa com a Vilu ontem? – perguntei animada em saber. – E cadê o Diego? Ele não estava aqui agora? – perguntei o procurando por todos os lados daquele bar moderno.

— Ele foi ao banheiro. – León me olhou desconfiado. – Vocês saíram juntos?

— Não, nos encontramos no shopping, coincidência né? – contei com um sorriso.

— Demais. – riu. – Bem, eu e Violetta conversamos ontem, como eu te disse.

— E isso lhe tirou o sono e a vontade de ver a carinha linda da Gery? – perguntei um pouco sarcástica e ele me lançou um olhar irritadinho. – Desculpa, pode continuar.

— Eu fiquei irritado. – ele abaixou um pouco a cabeça e parecia confuso. – Sabe, é estranho quando alguém acusa sua namorada de algo que você nunca suspeitou que ela tivesse feito. – suspirou. – Ela estava comigo no dia em que a Violetta terminou comigo, eu sei que ela estava porque não nos desgrudamos em nenhum momento.

— Não se desgrudaram? – cruzei os braços.

— Não no sentido que você está imaginando. – sorriu nervoso. – Era o dia em que eu finalmente assinaria o meu contrato, firmaria a minha carreira, e o pai dela é o meu empresário, estar ao lado dela naquele momento foi importante para mim.

— E você não deixou o celular dando bobeira nem nada? – perguntei confusa.

— Não... – ele pareceu pensar. – Me lembro de tê-lo perdido e achá-lo depois dentro do banheiro. – franziu a testa. – Eu queria achá-lo antes da reunião para falar com a Violetta, mas estava atrasado, Gery estava me apressando, e como eu não o encontrava, deixei para falar mais tarde com a Violetta.

Homens são mais ingênuos e menos inteligentes do que as mulheres. Eu acabei de concluir isso com tamanha tolice do León em deixar o celular dando bobeira.

— Não te passou pela cabeça que ela poderia ter pegado o celular? – perguntei.

— Mas nós estávamos todo o tempo juntos, como eu não vi?

— Eu não sei. – dei um sorriso tentando confortá-lo. – Converse com ela, faça o que o seu coração mandar. – suspirei. – Você saberá se ela estiver dizendo a verdade.

— E se eu não souber?

— Bem, se você não souber, é porque você a ama. – sorri. – E se você ama, é porque você confia.

León sorriu, mas não foi bem de felicidade. Sei que ele estava confuso, mas o que eu poderia fazer? Tem coisas que só ele pode resolver e que só ele pode achar uma solução. Avistei Diego conversando com uma mulher perto de uma mesa e ri, acho que alguém estava mesmo atrás de alguém.

 

***

 

 

Gery

 

— Pensei que não ia voltar pra casa nunca. – falei assim que León abriu a porta do apartamento. – Porque já faz mais de vinte quatro horas que eu não vejo o meu namorado. – pausei o filme que eu estava assistindo. – Você perdeu a visita ilustre da minha mãe, ela está doida para te conhecer.

— Gery, nós precisamos conversar. – disse direto som um suspiro.

— Jura? – olhei para ele sarcástica. – É claro que precisamos conversar León! Você está a mais de vinte e quatro horas sem me dar notícia! Acha mesmo que qualquer namorada aceiraria isso de boa? Não, não aceitaria. Então vamos conversar, porque com a raiva que eu estou eu poderia explodir você e esse prédio juntos.

Ele me olhou inexpressível. Como eu odiava quando ele ficava indiferente. Será que é sempre assim? Que saco! Depois de tanto tempo juntos, nunca pensei que ficaria difícil conviver, ou tentar entender o León, porque homem mais confuso e inconstante que ele não existe.

— Não é sobre isso que eu quero conversar.

— Bem, mas é sobre o que eu quero conversar. – cruzei os braços. – Onde é que você estava? Por que não respondeu minhas ligações? E, além disso, por que saiu de casa sem me avisar?

— Eu só queria pensar.

— Poderia pensar aqui em casa.

— Não com você falando vinte horas seguidas sobre os vestidos que chegaram de Paris para você. – me olhou irônico e eu arqueei as sobrancelhas, completamente chocada com a petulância dele.

— Está dizendo que eu sou fútil e tagarela?

— Estou dizendo que precisava ficar sozinho, pensando.

— E onde é que você estava?! – perguntei perdendo a paciência.

— Em um bar. – respondeu e eu senti todo o meu corpo esquentar. Eu estava com muita raiva. – Não se preocupe que eu não perdi a linha com a bebida, porque como eu disse, eu precisava pensar.

— Isso não justifica!

— Sim, justifica. – por que ele insistia em me contrariar? – Gery, há momentos na vida que eu simplesmente preciso pensar comigo mesmo, preciso refletir, preciso me entender.

— Quando você conseguir se entender, por favor, me explica, porque eu gostaria de entender também. – falei de mau humor, e ele revirou os olhos. – León, eu estou falando sério! Tenta se colocar no meu lugar pelo menos uma vez! – me irritei. – Se fosse você no meu lugar, como é que se sentiria se eu saísse sem avisar, passasse um dia inteiro fora e não respondesse suas mensagens? Como se sentiria?

— Gery esse não é ponto.

— Para mim é! – me estressei.

— Vou tomar um banho rápido.

E assim ele saiu da sala. Sentei-me novamente no sofá e continuei o meu filme. Se ele acha que eu aceitaria isso de boa, ele estava muito enganado. E até parece que eu não sei investigar o que é que ele estava fazendo ou fez nos últimos dias né? Será que ele nunca ouviu falar em detetive particular? Eu posso contatar um quando eu quiser.

Eu estava assistindo um filme que falava sobre dança. Querendo ou não, agora eu teria que focar nos meus estudos, e até que eu gosto disso, me faz lembrar de quando eu fazia ensino médio, que pena que não tive oportunidade de fazer faculdade antes, com certeza eu teria mais conhecimento na minha área.

León voltou depois de mais ou menos vinte e três minutos. Seus cabelos estavam molhados e ele estava vestido apenas com uma calça de moletom, sem camisa. Bem, eu poderia estar irada com ele, mas não podia deixar de reparar em como eu tenho um homem maravilhoso ao meu lado.

León veio para o sofá e se sentou ao meu lado, entrando debaixo do cobertor que eu estava, e colocando o braço por cima dos meus ombros, e eu reparei no quanto ele estava cheiroso. Então é assim? Ele vai agir como se nada tivesse acontecido? Tá.

— Você já mentiu para mim? – León perguntou do nada.

O olhei sem entender a pergunta e ele se ajeitou para olhar para mim, pausando o filme e colocando a pipoca de lado. Eu realmente não havia entendido, ele estava tão quieto que eu até estranhei ele ter aberto a boca para falar alguma coisa.

— Não entendi. – franzi a testa.

— Você já mentiu para mim? – repetiu a mesma pergunta e eu repeti a mesma expressão. – Nem que a mentira fosse pequena, mas você já mentiu?

Suspirei e desviei nossos olhares. Até onde ele estava querendo chegar?

— Sim, eu já menti para você. – olhei em seus olhos verdes que estavam estranhamente misteriosos e brilhantes. – Mas por que isso agora? Pensei que estávamos discutindo o porque de você ter passado um dia inteiro fora "pensando".

— Mentiu sobre o quê? – ele perguntou baixo ignorando o meu último comentário e e eu revirei os olhos. Ele quer minhas mentiras, ótimo, aqui vão elas.

— Olha León, antes de falar sobre as minhas mentiras, quero dizer que  cometemos erros o tempo inteiro, às vezes nem é proposital e às vezes é para um bem maior, como o dia em que eu menti dizendo que eu estava no SPA, quando na verdade eu estava organizando a sua festa de aniversário. Foi uma mentira inocente, não pode me julgar por isso. – cruzei os braços.

— Apenas isso? – ele perguntou cuidadoso e eu arqueei uma das minhas sobrancelhas.

— Tudo bem. – suspirei. – A primeira revista que você foi capa, foi porque eu dei em cima do editor, mas eu juro que não rolou nada, eu só queria apressar as coisas para você. – ele me olhou com a boca semiaberta, perplexo. – Fiquei impressionada de conseguir isso usando só um decote, a maioria das minhas amigas precisam ficar nuas.

— Me poupe dos detalhes. – ele disse com uma expressão irritada no rosto.

— Você quem está perguntando. – dei de ombros. – Também menti para você nos nossos primeiros dias de namoro, quando você perguntou onde eu estava na noite em que não respondi nenhuma de suas mensagens, e não atendi nenhum dos seus telefonemas.

— Você me disse que passou a madrugada no hospital, e seu pai me confirmou essa história. – me olhou horrorizado.

— Bem, eu pedi que ele confirmasse a história, porque não queria que você pensasse o pior de mim logo na nossa primeira semana de namoro!

— E onde é que você estava então?

— Passei a noite com as minhas amigas bebendo e dançando em uma boate conhecida pelas pessoas de Los Angeles. Eu passei um pouco do ponto, acabei ficando inconsciente por umas horas. – contei. – Isso só aconteceu uma vez, eu juro.

— Você ficou inconsciente? – perguntou completamente chocado. – Gery o que é que você entende como responsabilidade?

— León, eu nunca tinha tomado um porre na vida, eu precisava fazer isso ok?

— Não, você não precisava. Isso foi imprudente da sua parte, poderia ter custado a sua vida, será que você não percebe o quão irresponsável foi?

— Não me julgue por um erro cometido há muito tempo. Eu sei que foi imprudente e desrespeitoso comigo mesma, mas eu quis fazer León, era uma das coisas que eu nunca fiz na minha adolescência, e eu queria quebrar um pouco das regras que o meu pai impôs na minha vida.

Ele revirou os olhos certamente pensando que eu sou uma rebelde revoltada contra os pais. Mas eu realmente estava cansada de ser controlada naquele tempo, não só pelo meu pai, mas também pelos meus instrutores, professores e a mídia principalmente.

— Tudo bem. – ele parecia um pouco atordoado. – Acabou? – perguntou me olhando fixamente.

Claro que não acabou, mas eu jamais vou dizer isso a ele. Talvez a maior mentira que eu tenha dito e feito contra o León, tenha sido o fato de me envolver no relacionamento dele e da Violetta, de tentar e ter conseguido que os dois se separassem, e de tê-lo comigo agora. Mas foi uma mentira para um bem maior. Estamos felizes agora, não estamos? Não importa o meio que eu consegui isso. O importante é a minha felicidade.

— Gery? – ele me olhou como se pudesse ler a minha alma, e eu senti as minhas bochechas queimarem, pisquei meus olhos algumas vezes e dei um sorriso, o mais verdadeiro possível. – Acabou? – repetiu.

— Sim, é claro. – pisquei me sentindo um pouco desconfortável por não contar o resto de minhas mentiras e segredos. – É claro que acabou. – mantive meu olhar fixo no seu e forcei um sorriso.

Desde quando isso passou de ser sobre ele e começou a ser sobre mim? Seja o que for, não é normal, e eu não sei da onde o León está tirando tanta abobrinha.

 

***

 

Violetta

 

— Angie? Você sabe onde está o papai? – perguntei ao entrar no quarto de Julietta e encontrar as duas brincando de chá de bonecas no tapete. – Não o acho em lugar algum.

— Não. – ela foi estranhamente sucinta e nem olhou para mim.

— Você sabe se ele foi para algum lugar? – perguntei tentando puxar algum assunto.

— Não. – foi sucinta novamente e ainda não me encarava.

— Tá tudo bem? – perguntei me sentindo um pouco desconfortável.

— Por que não estaria? – retrucou.

Ok. Chega.

Dei as costas e saí do quarto. Por que ela estava tão grosseira? Ainda estava brava comigo? Será que eu fiz mais alguma coisa ruim? Não dá pra entender. E agora eu tenho duas pessoas contra mim, que ótimo. Meu pai e Angie me odeiam no momento.

— Olga? – a chamei quanto cheguei à cozinha, a mesma cantarolava uma música antiga enquanto cortava alguns tomates.

— Oi minha linda. – ela sorriu para mim e eu sorri de volta. Era tão bom estar com ela, à mesma estava sempre de bom humor. – Adivinha o que eu fiz de sobremesa para o jantar? Uma dica: você vai adorar.

— Bolo de chocolate com sorvete? – me sentei em um dos banquinhos da bancada.

— Melhor do que isso. – me olhou misteriosa.

— Não consigo imaginar algo melhor do que bolo de chocolate com sorvete.

— Outra dica: envolve chocolate e sua mãe adorava. – me olhou esperançosa.

— Ai Olguinha... – sorri emocionada.

Que dorzinha me lembrar da minha mãe. Já faz tempo que ela se foi, mas nunca paro de imaginar em como as coisas seriam se ela estivesse viva, se ela estivesse ao meu lado, me ajudando, me aconselhando, estando comigo.

— Já sabe? – Olga perguntou.

— Muffin. – respondi. – Com bastante chocolate.

— Exatamente. – sorriu. – Não sei se seu pai vai aprovar, já que quando a sua mãe morreu, ele me proibiu de cozinhar muffins, mas hoje mesmo ele pediu que eu inovasse, ou fizesse algo que eu não faço há muito tempo. Então eu pensei, por que não mais fazer muffins? Ah! E tem brownies prontinhos.

— Você não existe! – a abracei. – É tão bom, tão bom ter você perto de mim. – ela me abraçou de volta. – Desculpe por todas as vezes que eu não dei o valor necessário a você, me desculpe.

— Ah meu amor... – me abraçou mais forte. – Não tem com o que se preocupar, você nunca me desvalorizou, nunquinha, eu pelo menos nunca senti. – riu e se afastou. – Ah meu bem, não chore, o que está acontecendo?

— Acho que eu só preciso de colo. – ri secando as poucas lágrimas que caíram de meus olhos. – E de muffins. – rimos.

— Muffins ainda não estão prontos, mas podemos comer brownies com leite quente, o que acha?

— Acho perfeito. – sorri.

 

***

 

Estava no sofá assistindo a um filme depois de um lanche delicioso com a Olga. Era tão bom colecionar momentos em uma fase tão difícil e chata da minha vida. Olga era a minha segunda mãe, a única pessoa que parecia me entender quando todos pareciam me dar às costas.

Estava assistindo Titanic. Um filme antigo e triste, mas eu estou tão feliz que nem estou chorando a morte trágica do Jack, e nem estou tão mal pela tristeza que Rose está sentindo ao observar seu amado congelar. Olguinha tem esse poder sobre mim, de me contagiar com o seu bom humor, de me deixar feliz da vida. E talvez eu não estivesse chorando porque eu praticamente não estava prestando atenção no filme, já que o ex. dono do apartamento estava me mandando mensagem me atualizando sobre a mudança e a retirada dos antigos móveis.

A campainha tocou, e Olga gritou para que eu fosse atender, e eu gritei de volta respondendo que iria. Fui saltitante, quem seria? León passou por minha mente, mas ele não seria tão louco de vir aqui durante o dia, e também acho que não deu o tempo suficiente para que ele descobrisse a verdade, e nem deu tempo de que eu preparasse a minha armadura. Podia ser o meu pai, mas ele nunca esqueceu a chave antes.

— Ah – suspirei surpresa.

Era o León mesmo.

Acho que vou ter que improvisar uma armadura.

— Tudo bem? – perguntei engolindo a ansiedade que surgiu do nada.

— Na verdade não. – ele me olhou um pouco desconfortável. – Será que eu posso...

— Claro, entre. – abri um pouco mais a porta já sabendo que ele pediria para entrar. – Desculpe é que...

— Tudo bem. – ele sorriu e entrou.

Fechei a porta assim que ele passou e respirei fundo. Seja lá o que ele for falar, eu tenho que estar preparada. Virei para encará-lo, e lá estava ele meio cabisbaixo, com as mãos enfiadas no bolso da calça jeans e os ombros curvados. Ele estava lindo. Ele sempre foi lindo, mas hoje, hoje estava excepcionalmente lindo.

— Suponho que esteja aqui por causa da conversa que nós tivemos ontem. – murmurei abraçando o meu próprio corpo, insegura, achando a presença dele na sala da casa do meu pai um pouco estranha e embaraçosa.

— É mais do que isso. – ele parecia angustiado e deslocado. – Eu preciso conversar com você, me resolver com você, resolver toda a nossa história, porque está tudo uma bagunça, tudo.

Escutei a porta dos fundos bater e soube que Olga tinha ido ao jardim. Angie estava brincando com Julietta no quarto, e papai poderia voltar para casa a qualquer momento. A sala não era o melhor lugar para ter uma conversa, muito menos para resolver os nossos problemas que não eram poucos.

— Vamos para o meu quarto, se o meu pai chegar e te ver – suspirei. – eu não sei o que ele é capaz de fazer.

Subimos a escada, e escutei as gargalhadas de Julietta soando altas de seu quarto e em seguida risadas de Angie. Sorri. É bom que elas fiquem se divertindo onde estão. Se Julietta me ver com León pode fazer perguntas embaraçosas e provavelmente Angie me ignorará o resto da minha vida.

— Pronto, aqui podemos conversar. – fechei a porta do meu quarto.

— Faz tempo que não entro aqui. – ele disse dando uma olhada em volta do quarto.

Apenas sorri, mas ele provavelmente não viu, pois estava de costas encarando a parede que costumava ficar o meu mural de fotos, mas agora tinha um pôster gigante da época em que minha mãe era bailarina.

— Eu não sei como começar a dizer isso. – ele ainda estava de costas, e eu não podia ver suas expressões. – Eu nunca nem pensei que chegaria o dia em que nós dois teríamos uma conversa civilizada sobre o passado, embora machuque ambos.

— Nem eu. – murmurei.

— Estou sem dormir desde ontem, por conta das acusações que você fez a Gery. – ele ainda não me encarava. – Você insinuou que ela é a culpada.

— Não insinuei. – falei e ele se virou para mim lentamente com os olhos  um tanto quanto alarmados. – Eu tenho certeza que ela é a culpada, que ela é e sempre foi o problema. – olhei seus olhos esverdeados. – E que se ela não tivesse entrado na sua vida, nós poderíamos estar juntos hoje, e se não juntos, poderíamos ter tido ao menos um término agradável.

— O que quer dizer com término agradável?

— Eu não sentiria a insegurança que eu sinto estando no mesmo lugar que você, e eu até conseguiria agir normalmente, porque tivemos um relacionamento duradouro. Mas por conta dela, por conta daquele telefonema humilhante, tudo que eu sinto em relação a você é decepção. E isso não é um término agradável.

— Eu conversei com ela, estive com ela, olhei nos olhos dela e... – o interrompi.

— Você não acredita em mim. – desviei nossos olhares, eu não posso chorar. – Tudo bem. – fingi estar indiferente. – A vida é feita de escolhas, como todo mundo sabe, e se você escolheu confiar nela – engoli o nó em minha garganta, porque não parecia justo, mas eu teria que engolir a decisão dele. – se você escolheu confiar nela, é porque o amor de vocês é real, é verdadeiro. – forcei um sorriso e olhei para ele. – E de verdade, se chegamos até aqui sem resolver nada, tudo bem, eu só quero tirar esse peso dos meus ombros, essa coisa que me prende a você.

Ele deu passos largos em minha direção, e eu não me afastei. Não havia nada entre nós, eu não tinha o que temer nem o que esperar. Então eu não precisava fugir. Eu não queria fugir, simplesmente não queria.

— O problema, o grande problema – ele me olhou com os olhos aflitos e angustiados. – é que por mais certa que a Gery pareça estar, por mais confiança que eu tenha nela, eu... – ele se engasgou com as próprias palavras. – Eu não consigo...

— Não consegue o quê? – perguntei começando a sentir o mesmo sentimento de aflição que ele sentia.

— Não consigo não deixar de acreditar em cada palavra que você me diz.

Pisquei algumas vezes – milhares de vezes. Ele confiava no que eu dizia então? Mas confiava no que ela dizia também? Confuso, e não resolvia nada entre nós, como isso pode ser possível?

— Você confia em nós duas ao mesmo tempo? – perguntei baixinho já que ele estava próximo, e eu estava bem longe de estar exaltada, irritada.

— Não sei explicar, mas quando conversei com ela... – ele desviou nossos olhares e eu soube que ele estava envergonhado do que diria em seguida. – não me transmitiu confiança. – fechou os olhos. – E eu posso estar sendo injusto com Gery, nesse exato momento posso estar sendo o pior namorado do mundo, mas eu simplesmente não posso fingir que acreditei em tudo que ela me disse, ou só no que ela me disse.

Fiquei um tempo perdida em suas palavras, e só caiu a ficha quando observei que ele estava relativamente próximo e suas mãos estavam em meus braços. Não. Não vai acontecer. Virei para o lado tentando evitar o meu medo de tê-lo tão perto novamente. Fechei os olhos e respirei fundo. Sanidade, por favor, fique comigo.

— Eu preciso fazer uma coisa – ele sussurrou próximo, próximo demais. – realmente preciso. – suas mãos tocaram a minha cintura, e como se meus pés tivessem criado raízes no chão, eu não consegui me afastar.

— Não é muito sensato isso o que você quer fazer. – minha voz saiu igualmente baixa. - Muito menos certo.

Por mais que eu queira, por mais que eu adore que ele também queira, estaríamos sendo inconsequentes e loucos. Somos duas pessoas que foram causa de dor e sofrimento um para o outro. Somos a salvação e a destruição, sem distinção entre esses dois extremos. Estamos quebrados, em pedaços, tentando reconstruir uma verdade com versões de uma história mal contada.

 — Então vamos deixar de lado a sensatez. – sussurrou e antes que eu tivesse a chance de contrariá-lo e negar, aconteceu.

Seus lábios tocaram os meus. Da forma mais simples e delicada que pode acontecer. E mesmo assim, eu achei que a qualquer instante eu poderia perder o equilíbrio e cair no chão aos seus pés. Meu coração acelerou e eu senti um friozinho na minha barriga. Eu estava surtando. Com certeza eu estava surtando.

Sua mão cuidadosa segurou minha cintura, me puxando para ele. A outra adentrou em meus cabelos, e segurando a minha nuca, ele realmente me beijou. O encaixe ainda existia, e agora parecia ainda mais certo. Duas peças montando um quebra cabeça. É assim que eu estou me sentindo.

Minhas mãos subiram timidamente de sua cintura para o meio das costas e quando eu pressionei minhas unhas por cima do tecido atingindo com menos intensidade a sua pele, escutei o som do meu nome saindo de sua boca de forma espontânea e proibida. Sorri dando uma mordidinha tímida em seu lábio, e quando abri os meus olhos, vi os seus me observando intensos e escuros.

Essa intensidade me arrepiou até a alma, e para fugir dela, de seus olhos, e da emoção que eles me causavam, mergulhei em mais um dos beijos que consumiam com todo o meu ser. Beijei os seus lábios sentindo a essência de todos os beijos que nós já demos anos antes de acontecimentos e tramas nos separarem, mas por mais que haja essa essência, há também algo novo. Deve ser o jeito que ele está me segurando em seus braços, ou simplesmente a forma lenta e ardente em que ele está me beijando. Seja lá o que for, é espantoso, é consumidor, e de alguma forma, me fez recordar porque nunca consegui achar consolo nos braços de outro alguém.


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Notas finais do capítulo

Demorei um pouquinho, mas here I am
Beijinhos nos corações de cada uma de vocês
Tenham uma ótima sexta-feira, volto logo #prometo.



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