Três anos e seis meses antes

Violetta estava trancada em seu quarto, enquanto lágrimas e mais lágrimas escorriam por sua face. Ela sabia que cedo ou tarde esse momento chegaria, mas não sabia que iria partir o seu coração, como estava partido neste momento. Abraçada aos joelhos com as costas encostadas na porta de seu quarto, olhava fixamente para a revista jogada no chão e se recusava a acreditar que nas vésperas do seu aniversário de dezoito anos tinha que receber uma notícia daquelas.

Ela já sabia que o jovem e muito atraente León Vargas, logo seria motivo de assédio em Los Angeles, por causa de seu talento e também por sua beleza e sorriso perfeito, o sucesso dele foi consequência de todos esses adjetivos. Mas Violetta ainda tinha esperanças que no meio de todas as garotas que aparecessem para ele, León ainda iria preferir ela a uma que surgisse se oferecendo para o mesmo. O que foi um engano, já que todas as esperanças que ela nutria foram jogadas para fora por meio de suas lágrimas e soluços.

— Por quê? – se ouviu perguntar em meio aos seus soluços.

Pela porta, podia escutar os gritos alegres de seu pai ao ver que sua irmãzinha pela primeira vez havia falado papai. Ela queria descer e comemorar com sua família, mas não estava preparada para enfrentar tanta felicidade em meio à tristeza que estava sentindo, sem contar que certamente estragaria o momento em família, deixando seu pai preocupado com seu estado. E tudo que ela menos queria era acabar com o momento tão feliz como aquele.

A mais de três semanas, Violetta havia notado um comportamento estranho vindo de seu namorado sempre tão prestativo e amoroso. Ele não respondia direito as mensagens dela, sempre era curto e rápido, e também não andava atendendo as ligações que ela fazia deixando-a sempre preocupada.

Ela suspeitava que ele tivesse outra garota. E suas suspeitas foram confirmadas poucas horas antes de seu aniversário, quando viu a revista semanal de Buenos Aires, onde tinha uma matéria sobre ele.

“León Vargas, a nova sensação entre os cantores teen, curte o final de semana ao lado da modelo mais bem paga de toda a Europa, Gery, com quem foi visto pela última vez em um de seus shows em Los Angeles. Ambos passearam durante horas, e foram até um parque de diversões, onde curtiram o resto de suas tardes. E aqui vemos claramente uma foto suspeita. Será que vem um romance por aí?”

A foto em anexo na revista era de León com um sorriso gigantesco no rosto, enquanto segurava a cintura fina da modelo com as duas mãos. A mesma estava com uma das mãos no pescoço do rapaz, enquanto descansava a cabeça em seu peito. Mas se fosse apenas essa foto, Violetta não teria se abalado tanto e nem ficada com tanto ódio de Gery. O problema foi a segunda foto, onde a modelo segurava um chapéu, escondendo o rosto dela e de León, onde ambos pareciam estar escondendo um beijo.

Violetta se levantou, cansada de se lamentar, pegou a revista, escondendo no fundo de sua gaveta. Outro dia ela se livrava daquele material, naquele momento, ela apenas queria que alguém tirasse aquela dor de seu peito. Parecia que lhe haviam arrancado o coração. Secou as lágrimas na blusa de manga comprida que estava vestindo e deitou em sua cama, escondendo o rosto debaixo do travesseiro, se permitindo afogar-se em suas mágoas e decepções.

— Por que León? – sussurrou antes de cair em um sono carregado de tristezas.

*** 

Dias Atuais

Violetta

— Eu amei o apartamento Clement. – falei com sinceridade, enquanto ajeitava o cinto do banco do passageiro em meu corpo. – É perfeito. – sorri olhando seus olhos castanhos. – Obrigada por me ajudar, estava ficando quase louca sem saber onde morar. – rimos.

Clement é uma das melhores pessoas do mundo, ele é um ano mais velho que eu, mas isso realmente não importa. Conhecemos-nos quando eu fui à França com Francesca e Ludmila, no meu aniversário de dezenove anos, onde eu fiquei sabendo que ele e a Ludmila tiveram um caso, mas que não tinha significado muita coisa. Ele é uma ótima pessoa, e me ajuda em tudo, se mudou aqui para Buenos Aires ano passado, por conta da empresa do seu pai que abriu uma filial aqui, e ele precisava ficar de olho em tudo em todos.

— Eu sabia que você ia gostar. – sorriu para mim. – Meu amigo terminou com a namorada, e não queria ficar com esse apartamento. Assim que ele me disse isso, eu pensei em você.

— Você não existe, sério. – beijei sua bochecha. – Estava ficando difícil para mim, ter que ir da minha casa para a faculdade, é muito distante.

— Mas pensa no lado positivo, falta pouco pra você ter o apartamento.

— Sim, mas ainda tenho muita coisa para resolver. E não sei o quanto isso vai demorar. Tenho que comprar os móveis, ver qual a melhor forma de pagamento, convencer o seu amigo a pegar leve no preço, já que eu não quero usar o dinheiro do meu pai, e sim o dinheiro que eu guardei com os meus espetáculos de balé.

— Relaxa. Eu conheço o Breno desde quando há tempo. Nossos pais nos colocaram em um colégio interno na Inglaterra, nós odiávamos aquele lugar, talvez seja por isso que nos damos tão bem. — riu. —  Tenho certeza que ele não vai pegar pesado no preço do apartamento, além do mais, ele nem precisa de tanta grana, o cara é o maior empreiteiro de todos os tempos. – riu.

— Assim espero. – ri também. – Caso o contrário não terei como ficar com o apartamento.

— Mas e então, vamos comer alguma coisa?

— Por favor, estou morrendo de fome.

— Estava pensando em um lanche rápido, por que já está tarde, seu pai deve estar preocupado e você tem aula amanhã.

— Concordo com você, menos na parte do meu pai, sou quase responsável pelos meus atos, e pensa bem, ele tem que se costumar com essa ideia logo, porque em menos de dois meses eu já não estarei morando com ele. Eu espero.

— Seu pai é uma boa pessoa, Vilu, ele só quer o seu bem, e te protege demais também, todo pai de menina é assim.

— Entendi. – ri. – Eu não reclamo disso, eu adoro meu pai. Teve até uma época que eu achei que nunca teria um pai que me amasse do jeito que ele me ama agora, mas as coisas mudaram, e eu agradeço muito por isso.

— Eu ainda não sei o seu passado, mas eu gostaria muito que você me dissesse qualquer dia desses, você sabe, eu quero saber muito mais do que eu já sei sobre você. – colocou a chave na ignição e ligou o carro. – Mas e então... McDonald’s?

— Com certeza. – confirmei retribuindo o seu sorriso empolgante.

***

Três anos e seis meses antes

A noite estava fria, e Violetta estava enrolada em seus cobertores, com seus olhos e seu nariz vermelhos, pelo frio, e pelo tanto que já tinha chorado revendo as fotos e matérias sobre o León com a tal modelo. Até então, não tinha tomado coragem para falar com ninguém, nem mesmo com Francesca, porque a amiga estava cheia de trabalhos da faculdade e tudo que ela menos queria era que alguém se preocupasse com o seu coração partido.

Meio trêmula de frio, pegou o celular e procurou o contato de León. Ligaria para ele. Estava cansada de sofrer, precisava da verdade dita por ele, pois ainda tinha um sentimento de que todo aquele material poderia ser falso, mentiroso, e que seu namorado ainda esperava por ela, com todo amor que eles construíram enquanto estiveram e viveram juntos. Afinal, nem sempre os paparazzis estão corretos, não é?

Clicou no foto do contato e analisou por um estante. Olhos castanho-esverdeados, sorriso meio torto. O coração de Violetta apertou, ela precisava da verdade mais do que nunca, não poderia sofrer em vão. Deu outro clique, e assim discou para León. Suspirou fundo e pôs o celular encostado ao ouvido.

— Alô?

Surpreendeu-se ao escutar uma voz feminina. Sua primeira reação foi arregalar os olhos, esperava escutar a voz de seu namorado, não de uma garota. Seu coração apertou ainda mais.

— Olá, o León está? – perguntou educadamente, tentando fazer com que sua voz não parecesse tão fraca pelo tanto que chorou.

— Quem está falando? – a garota perguntou sem responder a pergunta, soando um pouco preocupada, fazendo Violetta arquear a sobrancelha.

— É a Violetta. – respondeu direta e um pouco grossa.

— León está dormindo. – respondeu. – E eu queria pedir para que você não ligasse mais, por favor. – a garota pediu.

— Quem está falando? – foi à vez dela de perguntar.

— A namorada dele. – disse enfática, fazendo Violetta perder a respiração.

— Namorada? – perguntou parecendo que seu cérebro tinha parado de raciocinar.

— Sim, namorada. Agora se você me der licença, vou voltar a dormir.

— Espera um minuto. – Violetta se alterou. – Você está com ele? – perguntou se levantando da cama completamente irritada com tamanha imprudência.

— Querida, aqui em Los Angeles, nós dormimos cedo. Eu estou com sono, e eu não deveria te dar explicações nenhuma, mas estou sim com o León. Agora eu preciso desligar. Tenha uma boa noite.

— Espera! Qual o seu nome?! – perguntou em uma última tentativa de entender o que estava acontecendo.

— Meu nome é Gery. – e assim a garota encerrou a ligação.

Violetta permaneceu imóvel, com o celular no ouvido e a boca aberta ao final da ligação. Desligou o celular e pôs sobre a cômoda. A princípio, não teve reação nenhuma. Voltou a deitar na sua cama e abraçou o travesseiro. Aos poucos a realidade foi caindo, e de seus olhos brotaram lágrimas. Fechou-os e segurou os soluços, não queria que ninguém se incomodasse com o fracasso do seu relacionamento. Acabou adormecendo e sonhando com aquele que fez seu coração partir em mil pedaços.

***