— Senhor, o prefeito está procurando pela filha dele. - Nooroo informou - Já está até oferecendo uma recompensa enorme.
— Não preciso de dinheiro. - Gabriel desdenhou.
— Mas agora que já tem Miss Fortune, porque não liberta a filha dele?
— Porque eu preciso de um plano B. Embora eu ache que não vou precisar me preocupar com o desempenho de Ladybug com meu filho.
— Não acha que está o subestimando demais?
— Ele é muito sensível. Nunca ouviu que sentimentos atrapalham o julgamento? Isso se enquadra em uma luta. - tomou um gole do café - Agora pode se retirar. - o mordomo assentiu e saiu.
— Está enganado Gabriel. - Nooroo murmurou para si - As vezes são os sentimentos que nos ajudam a ganhar a luta.
*
Miss Fortune hesitou e permaneceu parada por alguns segundos, como se pensasse em algo. Logo outro flashback invadiu sua mente:
"— Porque está chorando, princesa?
— Felicidade. Você me faz feliz, Adrien.
— Você também me faz feliz, Marinette."
A azulada cambaleou dois passos para trás. O instinto de sobrevivência liberado pelo akuma pulsava dentro de si e ordenava que avançasse em Chat Noir, porém algo a impedia de fazer qualquer coisa. Sua respiração estava ofegante como se tivesse acabado de correr uma maratona.
— E-Eu preciso... Hawk Moth... - colocou a mão no peito como tentasse lembrar de algo, mas as informações pareciam escapar da sua mente a medida que tentava agarrá-las.
Chat Noir retraiu o bastão e o guardou na parte traseira do uniforme. Ele tentou se aproximar, mas a garota recuou mais.
— Marinette? - chamou receoso.
— Marinette não existe mais, eu me chamo... - franziu a testa. Como se chamava mesmo?
— Olha, eu não sei do que você pode estar com raiva, mas fique calma. - Adrien se aproximava mais devagar, porém ela não recuou - Eu posso te ajudar.
Raiva.
A palavra ficou martelando na cabeça dela. Era isso! Isso que movia os instintos de sobrevivência e bombeava seu sistema nervoso. Pelo menos era isso que ela havia escutado.
— Eu me chamo Miss Fortune. - disse como se fosse uma informação que havia acabado de lembrar, o que ocorrera de fato.
— Não... - o loiro deu um passo para trás mas não foi rápido o suficiente para desviar do forte chute na barriga desferido por Miss Fortune. - Eu não entendo. Porque está com raiva, Bugaboo? - Adrien disse ainda no chão, com a mão sobre a barriga.
O apelido causou uma sensação estranha na garota, que só a deixou mais agitada.
— Para com isso! - ela esbravejou e ele ficou de pé. Miss Fortune estendeu o braço e disparou algo na direção dele que logo sentiu um choque percorrer seu corpo, fazendo-o cair de joelhos. Os projéteis.
— Marinette. - ele murmurou sentindo seus músculos se contraírem.
Miss Fortune se aproximou e segurou o garoto pela gola do traje. Adrien girou seus braços com dificuldade e a empurrou para trás. Porém antes que ele conseguisse sair, a garota deu uma rasteira nele que caiu de cara no chão, fazendo um mínimo corte no lábio. Ela o segurou novamente e o jogou contra um parede em seguida. Chat Noir sentiu a dor do impacto e tratou de levantar, se apoiando em algumas caixas que tinham ali. O herói permaneceu escorado na parede, com a respiração ofegante enquanto Marinette tentou acertar mais um projétil, porém ele jogou a cabeça para o lado bem a tempo.
A garota avançou, tentando acertar um soco nele, que jogou a cabeça para o outro lado, fazendo a mão dela acertar a parede, que acabou quebrando com a força que ela possuía.
— Do que você tem raiva? - ele perguntou com dificuldade. Marinette esbravejou algo e tentou acertar outro soco, mas Chat Noir foi mais rápido e se abaixou, atirando-se contra o corpo dela, agarrando sua cintura e a empurrando para o chão.
Os dois estavam caídos, com ele por cima dela. Adrien não tardou a juntar seus lábios aos dela, que pareceu se acalmar com o toque. No entanto, Miss Fortune fechou suas mãos em formato de punho e empurrou o corpo do garoto para o lado, agora ficando por cima dele.
Adrien sentia o peito dela descer e subir em uma respiração descompassada, e imaginou que o seu não estaria diferente. Marinette encarou os olhos do garoto, e era como se um turbilhão de emoções estivessem a invadindo.
— Do que você tem raiva? - repetiu a pergunta.
Raiva.
Ela tentava buscar o significado em sua mente. O que era raiva? Miss Fortune ouviu que deveria ser movida pela raiva, mas aquilo que fazia seu coração apertar não era exatamente raiva, ou era?
Talvez fosse só... medo. Mas medo de quê?
Oras, medo de perder meus pais, medo de não conseguir salvar Paris, medo de perder o Adrien...
Era só medo.
Miss Fortune ficou de pé e estendeu seu braço. Chat Noir ainda no chão, jogou a cabeça para trás e apertou os olhos se preparando para receber o choque do projétil que ela lançaria. Porém, depois de alguns segundos ele ouviu o grito de Marinette ecoar pele beco e abriu seu olhos observando a cena da garota caída de joelhos. Miss Fortune havia atirado o projétil nela mesma.
— Adrien... eu também te amo.— lançou mais outro projétil na própria perna, e por fim tombou no chão.
*
Marinette abriu os olhos com cautela, se deparando com uma luz forte na sua frente.
— E-Eu morri? - perguntou semicerrando os olhos para se acostumar com a claridade. A garota ouviu uma risada e olhou na direção da pessoa. Adrien.
— Não, você não morreu, Marinette. - ele disse se aproximando da maca onde ela estava deitada. O loiro não perdeu tempo em abraçá-la com força.
— Ei, calma gatinho! - falou com dificuldade, graças ao aperto forte dos braços do garoto em torno de si.
— Desculpe, é que... você voltou. - suspirou e se afastou para que ela conseguisse sentar.
— Voltei? Mas aonde eu fui? - riu pelo nariz.
— Você foi akumatizada. - disse mais sério. Marinette franziu a testa e olhou para o próprio traje, notando que ao invés do vermelho, azul e preto, usava branco e preto, com peças diferenciadas também.
— Não... - levou as mãos até a boca. - E-Eu feri alguém?
— Ninguém além de mim. - ele riu sem graça.
— Oh meu Deus, o que eu disse? O que eu fiz? Eu bati em você? - ela levantou da maca, sentido uma tontura e em seguida uma enorme vontade de vomitar. Adrien segurou seu corpo com um os braços e puxou um balde, colocando na frente dela. A azulada segurou o recipiente e por fim vomitou.
— Está melhor? - ela assentiu, sendo levada até uma das poltronas.
— O que eu fiz para você? - perguntou, enquanto escorava a cabeça na almofada.
— Você só me bateu um pouco, mas não é nada que tenha que se preocupar.
— Por favor, me desculpa. - pediu e ele assentiu como se dissesse que está tudo bem - Eu disse alguma coisa? - indagou receosa.
— Bem... - os olhos da azulada se arregalaram - Você disse que me ama também. - o loiro desviou o olhar, corado. Marinette também corou e riu de leve.
— Pode acreditar que eu não estava mentindo. - sorriu. Os dois iniciaram uma troca de olhares, que logo foi interrompida pelos kwamis.
— Temos novidades sobre o plano do Hawk Moth. - Tikki disse.
— Qual é o plano dele? - Chat Noir questionou ficando de pé.
— Não sabemos, mas ele mandou Antibug e Copycat para a Torre Eiffel. - Plagg respondeu.
— O que eles estão fazendo lá? Estão atacando as pessoas? - o loiro se aproximou e Tikki negou com a cabeça.
— Na verdade. Eles estão camuflados, e segundo minhas análises cruzadas com as leituras do satélite, há uma quantidade alta do vírus akuma com eles.
— Vírus? Porque ele chama de vírus se funciona mais como uma droga? - Adrien levou a mão até o queixo e Marinette arregalou os olhos. - O que foi?
— Porque o que ele quer é infectar as pessoas. - o garoto franziu a testa sem entender a linha de raciocínio da azulada. - Típica história de filme. Ele quer soltar um vírus e iniciar um ataque em massa. - Chat Noir arregalou os olhos.
— Ele não seria capaz... - os últimos ocorridos passaram pela sua cabeça rapidamente - Ele seria capaz sim. Precisamos impedir.
— Também temos que ter um plano B.
— Entendi. - respondeu - Mas antes, tenho que te atualizar de algumas informações e o mais importante, achar um novo traje para você.
— Tem o que eu utilizava antes do novo. - a garota ficou de pé e se dirigiu até o uniforme antigo.
— Acha que nossos trajes são adequados? - Marinette mordeu de leve o lábio inferior, pensando por alguns instantes.
— Enquanto você dá um jeito sobre o vírus, eu dou um jeito nos uniformes.
— Certo. Mas o que você vai fazer neles? - a garota sorriu de canto.
— Uma nova mudança, mas desta vez eles vai ser bem mais extraordinária e formidável.