Mal preguei o olho durante a noite. Fiquei olhando para lua e pensando nela.

Como pode do dia para noite meu mundo mudar desse jeito? De repente todos os meus pensamentos eram dela e tudo o que eu queria fazer era para ela. Será que era normal se sentir assim?

Cara, amor era um troço complicado.

Tão logo amanheceu, decidi ir à casa dos Hyuuga. Não me importei de ter que falar com Hiashi. Era como Shikamaru disse, ela iria gostar que eu fosse falar com o pai dela. Não ia? Eu esperava que sim...

Chegando lá, encontrei Hiashi com a cara fechada. Desejei bom dia e ele nem me respondeu. Dei uma tremida na base, mas continuei. Perguntei por Hinata e ele me disse que ela havia partido e que ele não queria mais saber da filha.

— O-O QUEEEEE? – Eu perguntei e ele me explicou o ocorrido.

Ele mal terminara de explicar, saí correndo em direção ao portão de Konoha. Talvez desse tempo de pegá-la a tempo e pará-la. Kami, me ajuda!!!

Corria tanto que distraído, tropecei em alguém.

— Perdão – fui logo dizendo.

— Naruto!!! – reconheci a voz de Sakura-chan reclamando. Tive de sorrir. Algumas coisas permaneceriam as mesmas sempre.

— Aonde vai com tanta pressa, tonto?

Contei a ela o que Hinata ia fazer e Sakura ficou realmente chocada. Não esperava que Hinata fosse tão ousada. O comentário dela me incomodou um pouco. Sakura falou como se Hinata não fosse capaz de fazer seus feitos.

Bom, mas eu não ia mais perder meu tempo com a pessoa errada. Me despedi da amiga rosada, mas antes disso, ela me disse que ajudaria a procurar pela Hinata.

— Obrigado, Sakura.

Ativei o modo sennin e rapidamente a encontrei nos portões de Konoha com Hanabi a tiracolo e Kiba e Shino. Eles estavam se despedindo. Eu tinha que apressar o passo.

Cheguei lá em segundos. O clima parecia de velório e Hinata parecia que tinha chorado de novo. Por kami! Resmunguei em pensamento. Eu nunca mais a deixaria chorar.

— Hinata – eu a chamei com toda a emoção retida no peito.

— Naruto – ela disse sem muita emoção.

Eu murchei por dentro, mas não deixaria que ela notasse. Dei meu sorriso para disfarçar a tristeza.

— Você está indo mesmo?

— Sim.

— Para onde?

— Para onde a estrada de me levar.

Ela ia mesmo ir embora sem se despedir de mim. Sem nem ao menos me deixar explicar. O quanto eu havia magoado Hinata nesses anos todos? O pensamento me fez odiar a mim mesmo.

— Você vai com quem?

— Sozinha.

Não!!!! Meu cérebro gritava. Hinata não podia cair no mundo sozinha. Olhei para ela, tão linda, tão pequena e delicada. Ela precisava ser protegida. Tomei uma boa dose de ar antes de falar:

— Mas Hinata é perigoso e se alguma coisa acontecer?

— Eu não sou tão imprestável assim, Naruto. Sei me defender. No mais, se eu morrer não vai ser como se o mundo fosse parar de girar.

Eu não acredito que ela falou aquilo. E pelo jeito Hanabi, Kiba e Shino também não, pois protestaram. Mas diferente deles, eu fiquei com raiva. Raiva por ela se dar tão pouco valor. Raiva por ela dar pouco valor a vida e principalmente, raiva por ela não se dar uma chance de ser feliz.

— Eu não vou deixar que saia da vila para se matar, Hinata.

— E quem você pensa que é para me impedir de alguma coisa? – Ela retrucou.

Cara... ela estava realmente magoada comigo. Esse beijo que ela viu deve ter sido uma das piores coisas para ela. Pelo menos eu acho... afinal, ela não deixou nem a gente conversar sobre isso. Mas isso não importava. Eu aguentaria todo o ódio dela e o transformaria em amor de novo. Por que é isso que eu sou. É isso que eu faço. Eu não desisto nunca.

— Você pode me odiar o quanto quiser. Eu não me importo. Vou aguentar todo seu ódio se isso for te manter viva.

Ela pareceu surpresa com meu depoimento e aquilo me entristeceu.  Como ela pode achar que ela não significa nada para mim? Depois de tudo... Se bem que até Sakura-chan me dar uns chacoalhões para a realidade eu não tinha notado.

— Naruto, você realmente não tem poder para me impedir. E me refiro a legitimidade para isso. Força, todos nós sabemos que você tem, mas não é isso que vai me parar. Já tomei minha decisão e não vou voltar atrás. Esse é meu jeito ninja de ser. Você sabe... – soou quase como uma desculpa, mas eu amei a maneira como ela disse a última parte.

Era o nosso jeito ninja de ser, Hinata. Suspirei.

— Você não pode me pedir pra deixar você ir embora... sem... sem ajuda. Você é mui...

— Não diga que sou fraca, pois se falar isso, nunca mais dirijo a palavra para você. Eu acho que mereço um pouco de confiança. Não acha Naruto?

— Eu não ia dizer que é fraca e sim delicada como uma flor – corei um pouco ao dizer aquilo e percebi como deveria ser difícil para Hinata ficar corando toda hora.

— Que jeito bonito de chamar alguém de fraca – ela respondeu amarga – eu sou uma kunoichi e passei por muita coisa. Algumas delas você sabe, outras você nem imagina...

Não, não imagino. Mas quero que você fique aqui comigo e me conte todas. Quero que divida sua vida comigo porque eu juro que vou mandar essa tristeza embora... pensei, mas não disse. No entanto, cheguei perto dela a ponto de sentir seu perfume fresco de lavanda e foi impossível resistir a tocá-la. Foi o que fiz.

Levei minha mão até a pele macia de sua bochecha e fiz um carinho com as costas da mão. Hinata fechou os olhos ao meu toque e se esfregou como uma gatinha manhosa contra minha mão. Meu coração deu um salto com vara dentro do peito. Ela era linda demais. Como eu não percebi ela antes??Eu não ia me perdoar nunca por todo o tempo perdido.

— Não fecha os olhos, por favor – pedi. Eu queria muito ver o olhar meigo de Hinata me fitando como se eu fosse a pessoa mais especial do mundo. - Você já sofreu muito na vida. Eu sinto muito por ser parte disso, Hinata. Eu... E... Fica? – Essa foi minha tentativa patética de pedi-la para ficar.

— Por que?

— Por mim – eu disse simplesmente.

Vi-a ruborizar naquele tom que eu tanto adorava e sabia que a tinha reconquistado. Saudei-me internamente e dei mais um passo à frente. Juntando nossos corpos até eu sentir o calor gostoso do corpo dela que muito parecia com o sol da manhã.

— Hinata... – sussurrei, completamente cativo pela beleza dela. Aproximei-me de sua boca e quase pude sentir seu gosto quando alguém interrompe.

— Narutoooo! – era Sakura.

Ah, não! Agora não!!! Implorei aos céus por ajuda. Olhei para Hinata e eu a havia perdido mais uma vez. Não, não, não. Mas que droga!!!

Sakura percebeu a merda que fez quando já estava perto o suficiente para ver que eu estava quase beijando Hinata. Sakura recebeu olhares irritados da irmã e dos amigos de Hinata e aquilo a intimidou. Não achei legal fazerem aquilo com ela, mas no momento eu precisava desesperadamente fazer Hinata entender que eu queria ela e ninguém mais.

— Eu já vou indo, gente – Hinata se despediu de repente, soltando-se do nosso abraço. Eu senti falta na mesma hora.

— Hinata, espera! – Sakura gritou.

Olhei para Sakura desesperado com o que ela iria dizer a Hinata, mas ao ver seu olhar, notei que ela iria me ajudar. Relaxei um pouco, mas assim que Hinata se afastou demais de mim, puxei-a pelo braço.

— Hinata, não!

Ela olhou para minha mão e depois para mim com uma cara muito irritada. Fiz merda, notei. Então a soltei. Mas disse:

— Eu vou com você.

Naquele momento eu entendi o desespero que Sakura passou ao ver Sasuke partir. Naquele momento eu percebi o quão torturante seria se Hinata ficasse longe de mim. Eu não podia permitir aquilo.

— Não vai não – ela disse.

— Por favor... – eu quase implorei.

Sinceramente, eu me jogaria de joelhos se isso fosse dar certo, mas vendo como Hinata estava relutante comigo, notei que ela não cederia com uma simples demonstração de afeto, como Shikamaru disse. Eu precisava agir e precisava ser logo.

— Naruto, sua namorada está aqui. Vá ficar com ela. Estou bem sozinha.

Porra! Sabia que ela tinha visto a porcaria do beijo.

— Não, Hinata. Você não entende. Eu...

— Por favor, não, Naruto. Não fala nada. Eu não quero desculpas. Eu que-quero... que seja feliz. É só o que eu quero. E eu juro que vou tentar fazer o mesmo.

Ela estava se despedindo de mim para valer! Não, Kami!

— Mas Sakura não é minha namorada, Tebayo! – gritei por que já estava desesperado. Não sabia mais o que fazer.

— Eu vi, Naruto. Ninguém me contou. Vocês se beijaram no Ichikaru.

— Ela quem me beijou – eu disse, como um completo covarde.

— E você prontamente retribuiu.

— Hinata, você não...

— Você não me deve explicações, Naruto. Todo mundo sempre soube que você era apaixonado pela Sakura. Só eu que não... não queria enxergar isso – ela tentou sorrir, mas eu nem disfarcei o quanto aquilo me magoou.

— Hinata, eu e Naruto não – Sakura começou, mas foi interrompida por Hinata.

— Só promete que vai cuidar dele, Sakura.

— Hinata...

— Promete.

— Eu prometo.

Elas conversavam como se eu não estivesse lá. Hinata já nem me dava mais condição. Eu sentia o desespero emergir, pois estava se tornando escasso o que dizer. Palavras não a segurariam. Minha força também não. No entanto...

— Não – eu disse do nada. – Se você for, eu vou com você.

— Se você sair de Konoha assim, será considerado um ninja fugitivo. Eu obtive a autorização da Hokage Tsunade-sama. Você deve permanecer em Konoha que é o seu lugar. Quanto a mim, devo partir e procurar o meu lugar.

Seu lugar é comigo, do meu lado, Hinata. Eu queria gritar. Mas não tive coragem de falar. Tive de trincar o queixo para respirar calmamente e não chorar feito um bebê na frente dela.

— Acho que isso é um adeus definitivo, Naruto – ela disse.

— Não vai – minha voz foi só um fiapo, um último recurso.

— Adeus, Naruto – ela deu a sentença.

Eu não aguentei. O choro represado saiu lavando a minha cara de otário. Pensando em quanto tempo perdi correndo atrás de Sasuke ou de Sakura e nunca indo atrás da pessoa certa. É bem como dizem... a gente só dá valor quando perde. E para aumentar mais meu tormento, Hinata tocou meu rosto a fim de secar minhas lágrimas. A delicadeza com a qual ela executou aquilo foi sublime. Deixou um rastro quente por onde seus dedos passaram. Minha pele queimava. Eu precisava dela. E como se ela pudesse ler minha mente, Hinata atendeu meu pedido. Selou minha tristeza com um beijo casto, porém devastador.

Os lábios macios dela eram como bálsamo para o meu castigo e quando investi a língua pedindo licença, ela me concedeu entrada e pude provar seu gosto doce misturado às lágrimas minha e dela. Era um beijo todo nosso e naquele momento minha alma se tornou cativa do amor dela. Como se eu precisasse disso para viver. Estava em modo senin, então todos os sentimentos eram ampliados a máxima potência e eu também podia sentir a energia que Hinata emanava durante o beijo. E tive a certeza: ela me amava tanto quanto eu a amava. Senti-me brilhar como o sol num dia bem quente. Era incrível o poder do amor e eu não sabia que podia ser tão bom, mas quando ia pegar mais daquilo, Hinata se afastou de mim.

Ainda estava em outra dimensão sentindo o amor dela por mim em nosso beijo. Não tinha noção da cara que eu fazia porque eu ainda estava curtindo a sensação dela em mim e depois de tantos anos vivendo só, foi como ter um pequeno pedaço do paraíso.

— Adeus, Naruto-kun – a ouviu dizer.

OI??? Eu não vi essa chegando! Péra! A gente estava se beijando e de repente ela insiste nessa ideia de partir? Não pode ser, eu devo ter ouvido errado...

Mas então ela se afastou de mim e meu corpo protestou pela ausência dela. Ela se despediu mais uma vez do pessoal. Olhei de esgoela para Sakura para ela me ajudar a entender aquela situação, mas para minha surpresa, Sakura chorava. Mas que porra é essa? Me perguntei. Eu não estava entendendo era mais nada!

Hinata então deu uma última olhada para mim e depois para Sakura e sacudiu a cabeça como se negasse algo para ela mesma e partiu.

O amor da minha vida partiu levando meu coração junto. E eu não fui capaz de fazer nada.