Terra Fantástica, O Nascer De Um Novo Mundo escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 3
Memorável Dia, O Velho Sábio Louco


Notas iniciais do capítulo

Lipe, Aymee e Lara deixaram o casal que haviam encontrado e resolveram ir em direção a praia, em busca de outras pessoas e quem sabe algumas respostas. e eles irão encontrar, mas não como esperavam e nem o que esperavam, mas com certeza, esse encontro será algo que determinará suas vidas de agora em diante.



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Caminharam assustados e atentos pela floresta. Lipe ia à frente, enquanto era seguido por Lara e Aymee. Após poucos minutos chegaram à praia. Perceberam que os píeres de pedra haviam sido engolidos pelo mar e depois cobertos de Areia. A praia havia recuado uns vinte metros, notados apenas por causa das ruinas da ponte que ainda sobravam como ponto de referência e com o antigo píer de Iemanjá que desaparecera. Tudo havia sido destruído, ruído, mudado ou desaparecido. Era assustador e ainda era difícil acreditar de fato que tudo aquilo estava mesmo acontecendo. Na praia, avistaram de primeira mão algumas pessoas bem ao longe, do outro lado baía quase. Isso graças ao formato de “U” aberto que a baía possuía.

— Vejam - disse Lipe – Mais pessoas – apontou ele para a direção distante de um grupo de cinco ou seis pessoas ao longe, distantes o bastante para serem confundidas com qualquer outra coisa, se essas não se mexessem.

— Vamos até eles então.

Disse Lara que sentiu um solavanco em seu braço de Aymee, para chamar sua atenção, apontando para algo na praia que não precisou de mais insistência. Próximo a eles, de dentro de um buraco na areia, saiu um caranguejo. Era branco, como os goroçás típicos da praia. Porém seu casco era coberto de pontas, como inúmeros chifres ou espinhos. Mas não foi isso que deixou todos abismados, era o fato de que ele não media seus dez a quinze centímetros habituais, mas sim aproximadamente meio metro. Ele chiava num som audível por eles e fechava suas puãs fazendo um som de madeira seca batendo uma contra a outra. Suas puãs eram maiores que mãos humanas e esse, logo que percebeu os três, armou-se como todo goroçá faria, mas ao invés de voltar a sua toca e se esconder, uma toca bem maior que as que eles estavam acostumadas em ver na praia, ficou em posição de defesa esperando que eles o atacassem. E eles nada fizeram. Apenas observaram apreensivos e logo após algum tempo, o imenso Goroçá branco desistiu e retornou para sua toca vagarosamente.

— Vocês viram aquilo? – disse Aymee incrédula do que via após todo aquele momento em silêncio na presença da criatura diferente.

— Nunca vi um daquele tamanho, juro. Já vi aqueles Caranguejos enormes e azuis, mas ele ainda era maior acho. Parecia um...

— Goroçá – disse Lipe, interrompendo Lara que não tirava os olhos da toca da criatura – tirando aquela carapaça cheia de pontas e o tamanho dele, acho que ele era um goroçá ou foi um goroçá um dia. Provavelmente com essa onda misteriosa, houve um efeito de crescimento em toda forma de vida. Não só em plantas, mas também em animais.

— Mas nós não mudamos nada. Nós também somos animais. – disse Lara – Claro, tirando a cor dos olhos e o cabelo de Aymee, que parece mais colorido e natural agora. Mas fora isso, não mudamos nada.

— Só isso? Os olhos de Lipe estão laranja, nunca vi olhos laranja na minha vida. Só em animes Japonês – disse Aymee sarcasticamente.

— Fisicamente não mudamos muito talvez, mas podemos ter mudado de outras formas, não sei dizer – Retrucou Lipe.

Nesse momento o grupo de pessoas na praia começou a gritar, bem ao longe, mal podendo ser ouvidos. O vento soprava no sentido contrário e eles estavam realmente distantes. Mas foi o suficiente para que eles retornassem o olhar para eles, atentos e assustados. Ao olhar, viram de dentro da floresta, criaturas que não deram para ser identificadas. Mas grandes, do tamanho de grandes felinos ou pequenos bezerros. Não dava para definir do que se tratava. Mas foi possível ver que as pessoas correram e as criaturas, algumas em tom escuro e outra num tom mais claro, cercaram e pareceram acuar e ataca-los. Algumas das pessoas correram de volta a floresta e outra para o mar. Uma das criaturas entrou no mar atrás daquelas que correram para água, enquanto as outras foram em direção à floresta.

Eles se abaixaram e logo correram em direção a floresta próxima a eles mais uma vez, para se esconderem daquelas criaturas. E uma voz em meio às moitas e folhagens disse:

— Melhor se esconderem no meio das folhagens, pois o vento está soprando naquela direção e não se sabe o quanto o faro deles ficou apurado.

Assustados, eles procuraram quem disse aquilo e então viram agachado em meio a uma moita de uma planta que parecia muito uma samambaia, porem grande e frondosa, um velho senhor. Negro, de cabelos brancos e emaranhados. Estava mais maltrapilho que todos eles após as ondas, porem já se cobria com folhas largas e cipós.

— Venham aqui, eu não mordo – disse ele sorrindo um sorriso meio louco.

Assustados, mas ainda mais assustados com a cena ao longe na praia, eles se aproximaram do velho senhor.

— O que foi aquilo? – Perguntou Lipe ao velho Senhor.

— Cachorros. Ou no caso, eram cachorros antes da grande onda de mágia mudar tudo.

— Cachorros, daquele tamanho? – disse Aymee meio incrédula.

— Sim! Assim como aquele Goroçá branco de meio metro ou bombos do tamanho de frangos gordos.

— Meu Deus! O que aconteceu? – disse Lara assustada com tudo aquilo, aparentando ficar levemente nervosa e assustada.

— Calma amor – disse Aymee, abraçando ela e a acalmando como podia.

— Já disse – disse o velho senhor – A onda de mágia fez isso. Eu não acreditei quando ví também, afinal, ela foi contida no centro da terra quando destruíram os canais e a pouca livre que sobrou se extinguiu há milênios. Sim! Havia de fato algumas relíquias carregadas dela nos últimos séculos, mas mesmo assim. Não existia mais magia no mundo e agora, eu sinto ela em tudo. Nas plantas, na terra, na água, no ar, nos seres vivos e em vocês também.

E ele olhou para eles pela primeira vez e eles puderam notar seus olhos, completamente brancos enevoados, como olhos de um cego. Lipe não conseguiu conter a surpresa ao olhar os olhos daquele senhor, afinal, como ele enxergou os “cães” na praia se era cego.

— Me desculpe senhor, mas, conseguiu ver os cães ou...

— Cego? – perguntou o homem sorrindo – Já fui, mas há alguns minutos a minha visão está voltando, não como já foi um dia, mas está voltando.

— Me desculpe perguntar – disse Aymee curiosa – mas quem é o senhor.

— Depende minha querida – disse ele rindo, mas com um semblante estranho e meio louco – Ultimamente as pessoas tem me chamado de João. Mas já fui Álvaro, Antuan, Zulu, Amulab, Calibe, Rasfanac...

— Acho que ele não é uma pessoa muito normal – sussurrou Aymee para Lara, tentando descontraí-la e ao mesmo tempo expressar algo que todos estavam ficando levemente desconfiados, que aquele senhor era senil.

— Não minha querida... – então ele olhou direto nos olhos de Aymee com seus olhos brancos e um brilho estranho pareceu refletir em seus olhos na percepção de Aymee, que ficara um tanto quanto assustada com aquilo e com o que ele disse a seguir – ...Aymee! Belo nome. Eu não sou normal – e riu ele de forma meio louca, mas contida.

— Vocês viram aquilo? Como ele sabe meu nome? – perguntou a garota, tendo a confirmação dos outros dois jovens também surpresos.

— como o senhor... ? – perguntava Lara que foi interrompida pelo Velho senhor que continuava a falar após a risada súbita.

— Mas podem me chamar de qualquer nome que quiserem. Afinal, o mundo renasceu e nada melhor que um novo nome para recomeçar tudo e comemorar, não acham?

— Me desculpe senhor – disse Lipe mais uma vez – como sabe o nome dela? Como enxerga com esses olhos e sabe o que aconteceu? Porque o mundo ficou assim?

— Eu sei o nome dela porque ela sabe o nome dela e os olhos dela disseram isso pra mim. E como disse, eu estou voltando a enxergar aos poucos, ainda não enxergo tão bem como já enxerguei, mas eu também já disse isso – riu ele - e se sei o que aconteceu sim meu jovem. Eu já disse, a magia voltou ao mundo, mais uma vez.

— Senhor, eu sei que o seu olho brilhou de forma estranha e tudo isso é bem louco e parece ser fruto de magia, bruxaria ou sei lá o que. Mas magia não existe, eu adoraria que existisse, sonhei em ir para Hogwarts ou dominar os elementos feito o Avatar, mas, magia é historinha, assim como papai Noel – disse Aymee um tanto quanto fora de si e irritada, pois no fundo estava com medo e ela não sabia lidar com esse tipo de coisa.

— Minha criança. Essa magia fantástica criada por ermitões, atores, poetas, escritores, bardos e recentemente por produtores de televisão – riu ele – não tem nada haver com essa força extrema da natureza que une todas as forças naturais, todos os seres e criaturas vivas ou mortas. Magia é muito mais que a capacidade de fazer feitos impossíveis ou milagrosos. Magia é uma ciência exata e difícil de controlar, eu sei, pois levei séculos para controlar os meus dons naturais.

— Ele disse séculos – disse Aymee – ele não bate muito bem mesmo.

— Eles sumiram – disse Lara olhando para a praia e já não vendo mais nada lá – as pessoas e as coisas sumiram de lá e eles podem estar vindo para cá.

— Não se preocupem – disse o senhor – eles estão indo para longe daqui. Infelizmente, assim como poucos humanos sobreviveram as mudanças, poucas criaturas também sobreviveram.

— Como sabe de tudo isso?- Perguntou Lipe curioso com a forma que a cada instante o velho com ar de louco passava a ficar cada vez mais eloquente em suas palavras, por mais loucas que elas fossem.

— ele não sabe nada Felipe! Ainda não entendeu? Ele é um velho louco que está inventando tudo isso – disse Aymee levemente irritada e descontrolada.

— Aymee. Não desconte seus medos e frustações no senhor... – retesou Lipe, sem saber ao certo que nome daria ao velho – como explica ele saber seu nome ou ele conseguir enxergar com esses olhos? Tudo é possível!

— Da mesma forma que os seus olhos ficaram laranja e meu cabelo colorido, meus olhos mudaram de cor, como vocês disseram. Foi essa coisa que aconteceu, esse apocalipse Verde louco e impossível! ARG! – resmungava ela irritada e confusa.

O Velho homem olhou nos olhos de Lipe e depois os desviou para Aymee e Lara. Então ele disse dessa vez mais sério e centrado, menos risonho e louco como antes.

— Eu sei que vocês acham tudo isso loucura. Mas acham que alguma tecnologia feita pelo homem seria capaz de mudar o mundo dessa forma? Que terrorista faria isso? Quem queria que o mundo voltasse a ser um paraíso natural além das ONGs de proteção? Acha que o Green Peace fez isso Aymee?

— Como sabe meu nome droga? – disse a garota irritada e assustada.

— Ele deve ter ouvido a gente dizer – disse Lara irritada com aquilo também.

— Obrigado pela ajuda senhor, mas acho que precisamos procurar mais pessoas e de fato, talvez, ir para UFES seria o mais sensato – disse Felipe se preparando pra levantar e sair dali.

— Não adianta ir para lá – disse o velho senhor – Aconselho irmos para O convento da Penha. Se eu estou certo e acho que estou, construções antigas a base de matéria prima natural pouco processada, com pouco contato com o homem deve ter resistido melhor às condições de mudança das ondas mágicas. Além de lá ser um lugar estratégico, no alto de um morro, com vista ao redor. Os homens não evoluíram com uso da magia e chegaram aonde chegaram atoa.

— Mas o senhor disse que a magia havia desaparecido, se entendi bem – disse Lipe tentando colocar em contradição o que o velho disse e provar, mais para si, mais que para as outras, se ele falava alguma coisa sã em meio aquilo tudo ou se de fato era pura insanidade.

— Meu jovem... – olhou ele no solhos de Felipe que até tentou desviar o olhar, mas não conseguiu, vendo o mesmo brilho estranho anterior, quando o senhor olhou nos olhos de Aymee – Felipe. Porque acha quem uma espécie primata se sobressaiu tanto assim à frente de todas as outras espécies? Mera inteligência casual? Sim de fato evoluímos, mas não foi mero acaso. Existe essa Lacuna entre as espécies evoluídas do homem primitivo por uma única explicação. Nós evoluímos num salto surpreendente com o uso da magia.

Parecia loucura tudo aquilo dito pelo velho homem, mas ao mesmo tempo, um velho senil não seria tão eloquente em certas informações e usaria vocábulos tão bem elaborados como ele usava às vezes.

— Vamos Felipe – disse Aymee – eu sei que você simpatizou com esse senhor estranho, mas eu estou realmente assustada e queria achar um lugar seguro antes que aquelas coisas apareçam, ou aquele lagarto gigante que você disse ou qualquer outra coisa grande e faminta.

— Eu sei que a sua vida não foi muito fácil minha jovem – disse o velho olhando para a praia e não para ela nesse momento – ser abandonada pela mãe, criada por um pai inseguro. Não o culpe pelo o que ele fez consigo mesmo. Ele não entendia que aquilo não era loucura, era uma parcela de algo maravilhoso que já existiu nele, mas ele não podia saber. Veja o jovem Felipe, está aqui tentando decidir o que fazer de imediato, mas não para de pensar em sua irmã e seu sobrinho. Isso me lembra que também já me chamei Antônio.

Aymee foi criada pela avó. Após a mãe abandoná-la com o pai e fugir, o pai entrou em depressão e se suicidou. Ela não contou essa historia para muitas pessoas, nem Lara sua namorada sabia dessa história ao certo. Mesmo o velho homem não dizendo com palavras exatas, ela sabia, sentiu que ele sabia exatamente do que estava falando, sem falar no fato de saber que Felipe tinha uma irmã e um sobrinho chamado Antônio.

— Como você sabe disso? – perguntou ela num tom agora menos revolto e mais frágil, beirando os sussurros.

— como sabe de minha irmã e meu sobrinho? – Perguntou Felipe assutado, muito assustado com aquilo.

— Seus olhos me disseram. Precisam aprender a esconder suas dores e fraquezas melhor, elas estão muito superficiais em suas almas, apesar de ser alguém um tanto quanto iluminada – disse o velho homem para Aymee – e um jovem bem determinado – disse para Felipe - eu posso ensiná-los se quiser. Posso ensinar a todos. Afinal sinto que você tem grandes talentos.

— Ele disse o nome do seu sobrinho Lipe? – perguntou Lara Confusa.

— Sim disse – disse Felipe ainda incrédulo – e eu não falei dele em nenhum momento desde que tudo aconteceu, como ele poderia saber? Quem é o Senhor?

— O que é o Senhor? – Perguntou Aymee se recompondo, mas ainda surpresa com as palavras deles.

— Já disse para me chamarem como quiserem – disse ele mais uma vez em um tom meio risonho e louco, como de bêbados.

— Eu estou assustada, aflita, com medo de tudo isso. Não tem como isso ser real... Não tem como as coisas que esse velho fala fazerem sentido – disse Lara com um olhar perdido.

— Me chame por um nome, eu sei que sou velho, mas, eu gosto de nomes. – disse o senhor menos risonho e meio rabugento - Acho melhor irmos para o convento, logo a noite irá chegar e não deve ter ficado nenhum barco inteiro, então teremos de improvisar uma balsa para atravessar o Canal, já que ainda não sei se consigo atravessar andando.

O Velho Senhor se levantou, começou a caminhar e então perguntou aos três:

— Vocês vêm?

— Tem um lagarto gigante na Ilha, não acho que seria prudente irmos para lá senhor... – disse Felipe ainda um tanto quanto incrédulo com toda aquela situação.

— Um nome, por favor. Qualquer um serve.

— João! Pode ser João? – disse Aymee nervosa.

— Eu preferiria um nome novo, mas eu gosto de João, pode ser João então – riu ele – e não se preocupe Felipe. Criaturas não deve ser seu pior pesadelo agora. Nem nosso. Temos coisas mais preocupantes a temer, como a noite. Então, vocês vêm ou não?

E os três se entre olharam, olharam para o velho senhor vestido de poucos trapos, sujo, mais que o habitual, Enrolado com cipós, folhas largas, uma cabeleira branca emaranhada e seus assustadores e belos olhos brancos enevoados e se levantaram. Eles decidiram seguir o velho Senhor João e este sorriu quando eles tomaram essa decisão. Eles o seguiram em direção ao pequeno canal próximo, para atravessá-lo e irem em direção ao antigo convento que ficava no alto de um morro do outro lado do canal do outro lado da ilha, na cidade de Vila Velha ou nesse caso, no que um dia foi a Cidade de Vila Velha.


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