Terra Fantástica, O Nascer De Um Novo Mundo escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 1
Memorável Dia, O começo


Notas iniciais do capítulo

Felipe é um rapaz de vinte anos, moreno claro, alto, bonito. Tem olhos cor de mel, bem intensos e cabelos lisos, bem cortados, corpo bem cuidado na medida do possível. Ele é estudante de biologia, desempregado e está morando de favor com uma amiga. Tudo ia mal após perder o emprego numa pesquisa da faculdade até essa peculiar segunda feira, quando o mundo resolveu mudar catastroficamente para um novo mundo que só era visto em filmes de ficção científica. Antes ele estava preocupado em conseguir um novo emprego. Agora, ele tem duas metas na vida: sobreviver e encontrar sua família.



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Ainda era cedo, por volta das cinco e meia da manhã. Felipe havia madrugado novamente, pois não conseguia dormir muito bem no sofá cama velho de sua amiga de Universidade, Aymee. Eles estudavam juntos biologia na UFES (Universidade Federal do Espirito Santo). Havia perdido a vaga na pesquisa que estava trabalhando a dois meses e por isso estava sem grana para pagar as contas da quitinete sozinho, por isso resolveu aceitar a ajuda da amiga e ir morar com ela. Como sempre, iria sair cedo a procura de trabalho. Qualquer coisa, desde que houvesse flexibilidade para estudar. Sua família não podia ajudar muito. Era apenas sua irmã mais velha e seu sobrinho que moravam no norte do estado. Eles tinham uma barraca de praia, algo bem simples que mal pagava as contas, sem mãe, sem pai, sem parentes, apenas eles. Ele meio que se arrependia de ter escolhido seu gosto pela natureza ao invés de estudar algo mais rentável, como direito, medicina, engenharia. Mas faltava apenas um ano e ele iria aguentar até lá de alguma forma.

Já sem sono e com dor nas costas, resolveu ligar a TV. Estava passando o noticiário da madrugada que falava de algo sobre uma incrível descoberta arqueológica no Saara. Ele gostava dessas coisas, mas não naquele dia, não com dor no corpo, cansado e se sentindo um fracassado. Levantou e resolveu fazer café. Forte e doce, como gostava. Iria aproveitar e deixar para Aymee que dormia no quarto com a namorada. Naquela segunda feira, ele tinha uma entrevista numa empresa pequena ambiental. Na verdade era um estágio, mas qualquer coisa serviria. Ele tirou uma muda de roupa mais apresentável da bolsa, esse era seu guarda-roupa naquele momento. Deu outra olhada na TV, parecia que era uma apresentação ao vivo. “Porque diabos estariam fazendo uma cobertura sobre uma descoberta arqueológica ao vivo? Seria tão fantástico assim?” pensou ele. Eram ruínas, provavelmente haviam descoberto outra pirâmide dessas com múmias e faraós.

Ele estava amarrotado, mas não iria acordar sua amiga pra pedir o ferro de passar emprestado. Havia se esquecido de pedir a ela na noite anterior. Então tomou seu café puro, pegou sua mochila e saiu. Da entrevista iria para a Universidade, dando tudo certo ou não. Seu ponto de ônibus era em frente a uma padaria, a uma quadra da praia. Ao chegar, viu certo número de pessoas aglomeradas em frente a TV, pareciam estar assistindo ao noticiário sobre as ruínas. O volume estava alto e foi inevitável não ouvir o que falava. Pareceu meio serio o tom de voz do jornalista, ele voltou-se para a TV e ao olhar viu algo bem estranho, diferente de tudo que já vira na vida. De dentro das ruínas, subia uma luz intensa e branca como um imenso raio laser desses de filmes de ficção científica. Só que não era filme. Ele esqueceu-se do ônibus e foi de mais perto. Nessa hora seu telefone tocou. Era sua irmã, Mariana, ou Mari como ele a chamava.

— Oi Mari?

— Liga a TV.

— Tô vendo, estou na padaria, tenho uma entrevista agora cedo. É lá no centro da cidade.

— Me fala o que é isso? O apresentador do jornal não sabe do que se trata.

— Não deve ser nada, se não os Estados Unidos já teriam cortado o sinal de TV.

— Acha que é coisa de alienígena?

— Com certeza. Homenzinhos verdes saírão de dentro da ruína gritando que a terra será deles. Claro que não! Deve ser alguma arma nuclear maluca dessas de terroristas ou da Coreia do Norte.

— No deserto do Saara? Isso tá rolando no meio da Argélia, parece.

— Não vai ser nada, deve ser um canhão desses de luz bem potentes.

— No deserto do Saara?

— Não sei...

Então Felipe ouviu ao fundo o som da voz de seu sobrinho, Antônio ou Toninho como todos chamavam.

— Pera que Antônio tá bêbado de sono e deitou aqui no sofá. “Antônio, fala com seu tio”.

— “Não, depois.”

— Ele não quer falar, está cochilando no meu colo. Mas sério, tô assustada com isso.

— Já falei que se fosse algo...

E nessa hora a luz que subia num jato retilíneo, oscilou e começou a falhar. De repente um clarão. E o sinal de TV sumiu. Pássaros pareceram sentir aquilo e começaram a voar e se reaninhar nas árvores. Bando de pássaros surgiram do mar vindo em direção ao continente. Outros animais também pareceram sentir. Cachorros em apartamentos e casas, assim como alguns a passear na rua com os donos começaram a entrar pânico e a latir, uivar e chorar. Um gato saiu correndo de uma casa próxima indo na direção contraria do mar.

— Caramba Lipe, que foi aquilo?

— Acho que outro onze de setembro... Mari? Mari?

Então a ligação também caiu, assim como o sinal de TV. Segundos depois foi a luz. E de repente pessoas gritavam olhando em direção a praia. De onde ele estava era possível vê-la a uma quadra de distância dali. E ao longe percebeu algo bem estranho. No horizonte, parecia que uma onda de luz se propagava em direção ao litoral e isso criou pânico a quem estava nas ruas naquela hora.

Pessoas começaram a correr para todos os lados e ele não sabia ao certo o que fazer, apenas se afastou dos prédios a volta e pensou: “se eu for para praia pode haver um tsunami, então ficar aqui é perigoso. Se houver algum tremor, os prédios podem cair. Caramba! o que eu faço, o que eu faço?” e logo ele se lembrou. Estava próximo a um morro natural, alto o suficiente nos cálculos dele para se livrar de um tsunami e seguro o suficiente caso acontece algum tremor de terra acontecesse. Ele não pensava muito, mas instintivamente ele corria para o lado contrário de todas as pessoas. Carros começaram a perder o controle e a bater um nos outros, em postes e árvores. Antes de chegar ao fim da primeira quadra da praia a luz atingiu o continente. Era apenas uma luz, clara como se o sol de meio dia chegasse às seis da manhã e assim que chegou, continuou caminhando continente adentro. No ar ficou uma espécie de neblina, uma luz densa que deixou tudo claro e branco. As pessoas pararam. Algumas estavam assustadas, outras aliviadas e uma parcela maravilhada com aquilo. Mas ele não, ele continuava a correr, como um louco em direção aquele morro que ficava no fim da baía, bem no litoral, beirando o mar. O cenário não era legal, nada legal. Carros batidos e consequentemente pessoas atropeladas e feridas pelo caminho. Nenhum carro se movia, que o levou a entender que os carros também sofreram pane com a luz, logo possivelmente tudo que era elétrico sofreu pane. Ele se sentiu um monstro egoísta em não parar e ajudar, mas sentia que algo viria do mar e realmente veio. Ele chegou à avenida beira mar e estava prestes a cruzar a ponte que separava a ilha de Vitória ao continente. Ele percebeu a segunda onda de luz, essa não era branca como a outra, ela parecia luz prismática, colorida como arco-íris de forma bem sutil e ele sentia algo estranho no seu corpo. Parecia que a energia o formigava todo, de sua pele a seus órgãos. Ele continuou a correr, mesmo sentindo aquela sensação. Sua pele formigava, mas não doía, era apenas estranho. Chegou à subida do morro e continuara a correr, era uma estrada que circulava a rocha. Algumas pessoas faziam a mesma coisa. Ele abandonou a estrada e começou subir em meio à vegetação e finalmente alcançou o topo. Ao chegar pode ver o horizonte meio enevoado devido à estranha luz que banhava toda atmosfera. Lá em cima junto a ele havia uma mulher, um casal de idosos e um homem. Ele se aproximou da mulher que parecia assustada e ela lhe perguntou.

— Sabe o que aconteceu?

— Estava vendo a TV e vi que haviam descoberto umas ruínas em meio ao deserto e parece que essa coisa veio de lá.

— Acha que tem alguma coisa a ver com terrorismo?

— No Brasil? Eu não sei, não tenho ideia do que seja.

E ninguém tinha. Quando finalmente o homem gritou.

— Está vindo outra!

Ele se referia a onda de energia. Essa, porém, era aparentemente mais forte e consistente, diferente das outras anteriores. Antes de ela chegar, rajadas de vento começaram a soprar do mar em direção ao continente. E o mar começou a ficar revolto. O vento se intensificou. A onda, essa terceira, vinha mais lenta que as outras e o céu estava nublado nesse momento. Relâmpagos começaram a brilhar em meio às nuvens, mas não se ouvia os trovões. O vento ficou tão intenso que era difícil se manter ali em cima, então, Lipe procurou uma rocha próxima, era pequena, mas o protegia do vento e a mulher se juntou a ele. O homem que avisou sobre a onda começou a gritar.

— É loucura ficar aqui em cima, eu vou descer.

Em meio a tentativa, a terceira onda atingiu eles. Parecia que ela era densa, pois Lipe sentiu o impacto dela, como uma forte rajada de ar quente. Isso desequilibrou o homem, que rolou pelo morro e bateu forte contra uma árvore. O que veio a seguir foi o mais assustador e inesperado. No ar, iluminado como antes, mas com a luz mais densa, começou a surgir pequenas fagulhas multicoloridas pairando no ar. Era estranho, como mini fantasmas nos tons da luz dos prismas, nos tons do arco íris. O homem que havia caído, bateu a cabeça e parecia sangrar. Então, o extraordinário aconteceu. Ele começou a se desintegrar, sim! Se desmanchar nessa energia multicolorida estranha, e se tornar parte dela enquanto a energia varria a superfície da terra. Uma árvore foi arrancada do chão e bateu contra outra na qual o casal de idosos se agarrava e protegia fortemente. Ela também se tornou luz multicolorida, se assim posso chamar. O velho senhor pareceu não aguentar a força daquela estranha energia e começou a também se desintegrar. A senhora, vendo o marido se desintegrar naquela estranha energia, soltou-se da árvore em que se segurava e o vento a carregou com certa violência. E ela, pareceu que também sucumbiu após algum tempo, sumindo em fagulhas de luz multicolorida. A mulher ao lado de Lipe gritava desesperadamente e ele só pensava em sua irmã, seu sobrinho e sua amiga, no apartamento com a namorada.

Ouvia-se o som de carros sendo lançados uns contra os outros e o barulho do mar invadindo as ruas. Ouvia-se o barulho das ondas quebrando contra as pedras e sentia os respingos ali em cima, no alto daquela elevação rochosa. Logo, veio o barulho do primeiro prédio a ruir, seguido de outro e de outro. De repente, a quarta onda chegou e aí sim, tudo ficou verdadeiramente assustador. Ao olhar para o lado, Lipe via árvores e plantas morrerem e o mais extraordinário de tudo até então aconteceu diante de seus olhos. Ele viu um pequeno broto surgir do chão, como naquelas cenas de alta velocidade de documentários naturais. Mas aquilo não era um vídeo, era a vida real. O broto começou a crescer mais rápido e outro começou a crescer da mesma forma próximo. Brotos começaram a virar arbustos e logo árvores em questão de segundos e poucos minutos. A mulher entrou em pânico e correu, perdendo-a de vista. Ele não iria sobreviver aquilo de qualquer forma, pensava ele. Então, para que correr? Do seu lado uma planta começou a surgir no chão, então ele se arrastou para o lado, com dificuldade e subiu a pedra, ficando deitado ao chão, sobre a pedra e sentiu o chão tremer finalmente. Um imenso silêncio, uma forte sensação no corpo, aperto no peito e o seu cérebro pareceu pulsar dentro do crânio e ele apagou.


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Notas finais do capítulo

*Editado e Modificado em 22/05/2016



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