Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mais um capítulo para vocês. Vamos ver como as coisas estão indo para os dois lindinhos, e como o Ced reage ao ouvir as fofocas auhauha
Espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/692675/chapter/25

Quando o Ced me falou para sentir muita saudade dele, realmente não estava brincando, a segunda feira tinha sido tranquila, mas na terça, eu daria tudo para ele estar sentadinho na mesa dele, e vir correndo atrás de mim para a minha sala, logo que eu cheguei com vontade de jogar alguma coisa, ou melhor, alguém, na parede. Eu tinha acabado de sair de uma reunião com a Dolores e a consultora, entrei na sala da minha chefe, achando que seria apenas um repasse rotineiro de informações, levei os relatórios com os dados de até onde tínhamos avançado com a idealização da nova linha de roupas que seriam lançadas até o começo do ano, porém aquilo pareceu mais um ataque planejado.

De repente, jogaram no meu colo a bela notícia de que tudo tinha mudado de figura, as novas coleções que seriam reveladas apenas no primeiro desfile do próximo ano, teriam que entrar em catálogo para o natal desse ano, o que me deixava com menos de 4 meses para tirar da cartola alguma coisa. Claro que tinha uma boa parte adiantada, estávamos trabalhando nisso desde julho, mas nada comparado ao tempo que seria se o prazo fosse março, como havia sido estipulado antes. O que mais me irritava, era que essas mudanças de ideia pareciam surgir do nada, sem considerar a logística e a mão de obra envolvida. Se a intenção era emplacar vendas no período do natal, que tivessem falado isso desde o começo, assim eu, e os outros departamentos, poderíamos ter já começado com um ritmo de trabalho mais acentuado. Mas, não, deixaram para comunicar depois e enlouquecer a todos.

—Vai dar tudo certo, querida - a dondoca falou tentando me confortar, assim que saímos juntas da sala da Dolores, porém eu não consegui nem escutar direito.

Aquele sorriso dela também estava me incomodando, qualquer tipo de felicidade me parecia uma afronta diante da indignação que eu sentia, e eu vi que ela parecia muito satisfeita ao dar as notícias do dia, eu não duvidava nada que tinha dedo dela nessa mudança. Ela era a  consultora, estava na descrição de trabalho fazer alterações que melhorassem o desempenho da firma, mas eu não tinha gostado nem um pouco dessa.

Passei o resto da tarde elaborando cronogramas e metas que teriam que ser atendidas por todos os departamentos. Eu sabia que precisaria exigir muito de todos, mas a decisão não era minha, estava bem acima do meu salário. Me irritei por ter esquecido o meu bom humor em algum lugar do caminho com as novas circunstâncias, e decidi fazer algo sobre isso. Sai pontualmente do escritório ao terminar o expediente, as horas extras começariam em breve, eu não precisava me antecipar, e levei o meu carro por um caminho não tão usual.

Primeiro, eu parei no primeiro supermercado que vi, entrei rapidinho e comprei algumas bobageiras para comer, incluindo uma boa quantia de chocolate. Alguns minutos depois eu estava na porta do prédio do Ced. Eu tinha dito que o faria esperar até a sua volta para contar tudo o que aconteceu entre mim e o Ron, mas não resisti, até porque ele precisava dividir comigo a indignação pelas decisões bipolares da chefia da nossa empresa. Toquei a campainha e esperei alguns minutos até que o meu amigo me atendesse. Era engraçado ver como, até mesmo resfriado, ele ainda estava impecável. Trajando um dos seus milhares de pijamas, a única coisa que denunciava que ele não se encontrava nas condições normais de saúde, era o nariz ligeiramente vermelho,e os olhos um pouquinho caídos, de resto, nem um fio de cabelo fora do lugar.

—Ora, se não é a pessoa que não queria ficar resfriada? - ele falou irônico ao abrir a porta.

—Fiquei com pena de você aqui sozinho e doente - dei de ombros e ele riu, me deixando entrar, fiz menção de abraçá-lo, mas ele levantou as mãos impedindo.

—Melhor não encostar muito, Mi - a voz dele ainda estava um pouco fanha - não quero que você fique doente mesmo.

—Larga de ser besta, Ced - dei um tapa na mão dele e o abracei - como você está?

—Quase curado, mas algo me diz que vou melhorar mais ainda depois de todas as fofocas que você tem para me contar - ele parecia uma criança aguardando o saco do papai noel.

—São muitas mesmo - levantei a sacola que eu tinha nas mãos - trouxe até uns presentinhos.

Ele abriu a sacola, assim que eu a entreguei, e eu percebi o exato momento em que os olhos deles registraram o chocolate.

—Meu favorito! - ele me olhou com um sorriso enorme - como você sabia?

—Esse era o que sumia mais rápido quando eu levava para o trabalho - expliquei e ele riu.

—Anda, vamos espalhar isso tudo para você comer, enquanto eu imagino o gosto e me divirto com o chocolate.

—Ei, se você não está sentindo o gosto, pode deixar o chocolate para mim!

—Negativo, meu psicológico sabe o gosto - ele falou sério, e eu não aguentei segurar o riso, só o Ced conseguia falar tanta besteira como se fosse ciência pura.

—Tá bom.

—Você se importa se a gente conversar no quarto, prefiro me esparramar, ainda estou meio moído.

—Não, vamos.

Eu tirei o sapato e subi no colchão ao lado do Ced, que se esticou, jogando as comidas que eu comprei no meio da gente, se certificando de que o chocolate favorito dele ficaria em sua posse.

—O que você quer saber primeiro? Temos a história de como o Ron foi me procurar na sexta feira…

—Essa! - ele exclamou sem nem me deixar terminar.

—Você nem ouviu o resto - reclamei, olhando feio pra ele.

—O que me importa o resto? São os capítulos finais da minha novela!

—Mas o resto envolve as milhares de horas extras que vamos ter que fazer novamente.

—O que? - ele me olhou horrorizado - eu ainda nem me recuperei das olheiras da última batelada de trabalho extra.

—Pois pode se preparar.

—Aí, Jesus Cristinho… começa com a notícia ruim então, pelo menos eu termino a noite feliz com o seu conto de fadas - ele falou dramático.

—Tive uma reunião com a Dolores e a Dondoca…

—Olha, o nome delas até combina! DD - ele riu sozinho.

—Quer fazer o favor de me deixar chegar até o final? Come o chocolate e fica quieto - reclamei em tom debochado.

—Aí, que delicada, eu estou dodói, sabia? Preciso de amor, não patadas - ele fez um bico e eu levei a mão ao cabelo dele, bagunçando as mechas.

—Ei, o que é isso? - ele se espantou, exasperado.

—Você não queria carinho? - lancei um sorriso levado, eu sabia que ele odiava estar despenteado, o cabelo dele estava sempre despretensiosamente arrumado de forma a não parecer arrumado, uma arte que, de acordo com ele, era muito difícil de conseguir.

—Se seu carinho vier em forma do assassinato do meu cabelo, pode deixar que eu estou bem - ele abanou a mão - anda, continua essa história e fica com a mão longe dos meus fios.

—Pois então, nessa reunião as nossas queridas me avisaram que as novas linhas de roupa tem que entrar no catálogo para o marketing do natal.

Se a situação não fosse tão enervante, eu teria rido da cara do Ced que ficou paralizado com a boca em formato de o.

—Fala que isso é brincadeira.

—Infelizmente não.

—Mas é menos de quatro meses! - ele falou em desespero.

—Eu sei.

—Como elas esperam que saia algo que preste? Até o papai Noel tem um ano inteiro para fazer os presentes do natal, e olha que ele tem elfos que ajudam…. - ele olhou para o chocolate que tinha nas mãos - me diz que a gente vai ter elfos também - ele gemeu.

—Bem que eu queria, mas não entrou no orçamento a contratação deles - dei uns tapinhas no ombro dele, tentando consolá-lo.

—Essas vacas! Estão querendo acabar com a minha vitalidade essas ridículas, só pode….

Era engraçado como ele sempre relacionava tudo a ele, mas eu já estava acostumada era quase um charme próprio do meu amigo. De repente ele pareceu lembrar de algo muito importante.

—Que horas foi isso?

—A reunião foi antes do almoço.

—E como eu não sabia disso ainda? - mais uma vez ele parecia horrorizado - não sou mais o mesmo, tive que esperar você vir me contar.

—Tenho certeza que seus milhares de espiões espalhados pelo escritório só não quiseram atrapalhar a sua recuperação.

—Nem unzinho?? Acho que estou precisando de espiões melhores…

—Eu quase joguei a minha pasta na cara delas, Ced! Não acreditei quando me disseram.

—Pois devia ter jogado, apesar que a pasta não merece entrar em contato com aquela argamassa de maquiagem que a bruxa põe na cara.

—Você é péssimo, sabia? - eu ri mais ainda com o sorriso perverso dele.

—É uma das minhas especialidades, está até no meu currículo. Eu te falei que essa consultora ia ser mau negócio, isso tem dedo dela.

—Deve ter mesmo, mas ela está certa em querer usar as vendas dessa época do ano, a Dolores que devia ter antecipado a decisão - eu tinha que ser justa na minha análise.

—Nem tento discutir mais essa mulher com você, porque eu acuso e você defende, fica exaustivo.

—Ced…

—Mas chega desse assunto que está me deixando mais doente, agora eu quero saber do Sr Incêndio - ao escutar o apelido dele, eu já comecei a sorrir - ai que lindo, esse sorriso, vejo que as coisas estão realmente bem.

—Estão - eu me estiquei para pegar um pacote de salgadinhos.

—Anda logo, conta como foi, quero toooooooooodos os detalhes - ele até se ajeitou para ficar sentado e olhar para mim.

—Quando eu cheguei em casa ele estava sentado na minha porta - comecei.

—Ui, ui, já gostei da cena, posso fazer comentários dessa vez, né? Preciso disso - eu ri e assenti ante que ele continuasse - ele estava com carinha de cachorrinho abandonado?

—Estava.

—E aí você fez o que? Correu para os braços dele, no melhor estilo novela mexicana, ou deu uma de difícil?

—O que você acha? - eu levantei a sobrancelha e ele não demorou nem cinco segundos para responder.

—Bom, como é você, a resposta é nenhuma das alternativas anteriores, você não se fez de fácil, nem de difícil, se fez de impossível.

—Ei! - eu reclamei pela descrição que ele tinha feito de mim.

—Mas em sua defesa, por dentro tenho certeza que você estava querendo ser facinha - ele me provocou, desafiando a soltar uma negação.

—Bom, eu o deixei entrar para me dizer o que ele tinha a falar, e isso é o que importa.

—Eeeeeeee?

—Ele me contou tudo o que tinha pra dizer, Ced, aí eu entendi porque ele demorou tanto - expliquei.

—Nossa deve ter sido boa mesmo, essa razão.

—Ele foi casado - o Ced parou com o chocolate do meio do caminho até a boca.

—Oi?

—Eles se separaram há uns dez anos, foram casados por cinco.

—E não sabíamos disso como? - ele ainda estava confuso - ou melhor, o que isso tem a ver com tudo?

—Ele nunca fala dela - comecei, já sentindo a raiva surgir de novo - e tem a ver, porque ele chegou em casa um dia e ela simplesmente tinha ido embora, deixou só um bilhete e a aliança, eles nunca mais se viram.

—Santa Reviravolta! Por essa eu não esperava! Mas eles estavam mal?

—Não, e esse foi o pior, ele nem sabe porque ela foi…

—Como existe gente filha da puta no mundo, não? - eu assenti - nem precisa terminar a história, já entendi tudo, ele ficou com medo, não foi?

—Ficou, você precisava ver a cara dele ao me dizer isso Ced, ele estava apavorado.

—Imagino, mas você tem classe, Mi, nunca ia fazer uma coisa dessas.

—Ele sabe, mas eu entendi porque foi tão difícil pra ele.

—Eu entendi também, podemos oficialmente perdoá-lo - ele balançou a cabeça afirmativamente como se a decisão estivesse pura e simplesmente com ele.

—Ah, claro, pode deixar que eu vou comunicar.

—Mas essa mulher era uma nojentinha então?

—De acordo com ele, foi o pior erro da vida dele, e de acordo com a Ginny a maior sorte dele foi ela ter ido embora - comentei e ele pareceu satisfeito com o veredito.

—Então está combinado, a gente odeia a ex Sra Incêndio - ele determinou - não, pera! Esse não pode ser o apelido dela.

—Por que não?

—Porque ele é o seu Sr Incêndio, não dela  - ele falou como se fosse óbvio - qual o nome da individua?

—Não sei e não quero saber - declarei sem nem pensar.

—Boa escolha, chefinha.

—Já basta saber que ela era loira platinada.

—Cruz credo! Não precisa de mais mesmo - ele colocou a mão no queixo - minha imaginação está com problemas, só consigo chamá-la de vaca - comentou decepcionado.

—Acho que vaca resume bem.

—Mas é tão sem originalidade, prometo pensar em algo melhor quando meus neurônios estiverem completamente curados.

—Tudo bem - concordei.

—Mas agora o mais importante, você agora faz oficialmente parte do casal Incêndio.

—Sim - eu respondi com um sorriso radiante - oficialmente meu namorado.

—Own, seus fofos! Medida do nível de felicidade, por favor.

—Até as estrelas - resolvi não maneirar no exagero.

—Acho que está satisfatório - ele riu - adoro, te ver alegrinha, Mi, o Ron ganhou muitos pontos nesse final de semana, já posso quase considerar deixar ele casar com você, mas vamos esperar o período probatório passar,

—Ced! - como ele podia falar tanta besteira? - Primeiro, quem aqui falou em casar? E além disso, eu tenho muita certeza de que não preciso da sua permissão.

—Aí, Mi… esqueço que você não tem a minha mente visionária, vamos deixar isso quieto, voltamos a esse assunto quando for pertinente.

—Eu devia te dar uns tapas, mas vou respeitar o seu nariz de palhaço - provoquei, sabendo que ele ia ficar ofendido.

—Nem está tão vermelho assim! - ele levou a mão ao nariz com a cara sentida.

—Se você diz… - ele abriu a boca para rebater, mas o meu celular começou a tocar e eu me estiquei para pegá-lo do criado mudo - Oi, Ron - atendi sorrindo, mesmo que ele não pudesse ver e percebi a expressão maldosa na cara do Ced.

—Oi, amor, tá em casa?

—Não, saí do trabalho e vim para a casa do Ced, ele ainda está doente, tinha umas fofocas urgentes para contar.

—Fofocas? - ele perguntou curioso, mas eu percebi que já não tinha nada do tom ciumento de antes.

—Você está em boa parte delas - ele riu - o resto é do trabalho, depois eu te explico.

—Tem a ver com a chefe vaca, de novo?

—Claro.

—Ótimo, você fica linda quando está nervosa falando dela - ele falou manhoso e de alguma maneira, o meu sorriso ficou maior ainda, eu ia responder, mas o Ced puxou o celular da minha mão - Ced! Devolve isso! - reclamei.

—Calma, só quero falar um pouquinho - ele colocou o aparelho na orelha e eu fiquei ansiosa com o que ele podia falar - Olá Sr Weasley.

—Ron, então. Uma pena que nosso primeiro contato em circunstâncias oficiais seja com a minha voz assim, mas preciso deixar registrado as minhas felicitações - eu sorri, meu amigo tinha o habitual tom bem humorado, mas a sinceridade estava escancarada.

—Pode deixar que eu vou fazer ela cuidar direitinho de mim - ele fazia pausas para escutar o que o Ron respondia, e eu estava me mordendo de curiosidade - Ah, claro, eu devolvo inteira depois. Falo sim, tchau, obrigado.

Eu estiquei a mão para pegar o celular de volta, mas ele desligou.

—Ced, você desligou!

—Ele me falou para te pedir para ligar quando chegar em casa.

—Ah ele falou pra você? - parecia que eu tinha duas partes separadas do meu mundo entrando em colisão, eu ainda não sabia o que pensar disso - o que ele te disse?

—Isso é entre mim e o Sr Incêndio, Mimizinha - ele sorriu presunçoso

Fiquei mais algum tempo conversando com ele, na maior parte respondendo a perguntas que variavam das mais simples às mais indiscretas, respondi na medida do possível, recebendo bicos e cara de vítima quanto eu tentava desviar do assunto. Já era quase dez da noite quando eu me despedi dele, notando que ele precisava dormir. Ele me levou até a porta e disse que no dia seguinte estaria comigo no trabalho.

Não demorei muito para chegar em casa, fui direto tomar um banho. Coloquei a minha camisola e entrei debaixo das cobertas antes de pegar o celular e ligar para o Ron.

—Já estou em casa.

—E eu já estou com saudade, você me trocou pelo Ced, hoje… - ele resmungou.

—Eu precisava contar as mais novas loucuras da nossa chefe pra ele - eu contei rindo - aliás, o que foi que vocês conversaram?

—Ele não te disse?

—Não.

—Assunto entre eu e o Ced - ele repetiu a frase que eu já havia escutado.

—O que é isso? Vocês tem um complô agora? Bastou uma ligação?

—Seu amigo é engraçado.

—Não desvia do assunto, Ronald!

—Não briga comigo, amor - ele murmurou, era uma tática clara para me distrair, o pior é que ele conseguiu - quer vir pra cá amanhã?

—Quero, vou direto do trabalho, tá bom?

—Vou deixar uma chave pra você na portaria, se por alguma probabilidade maluca você sair primeiro do que eu.

Conversamos por mais alguns minutos antes de nos despedirmos, com a promessa de nos vermos na noite seguinte. Faltava só mais uma ligação para que eu desse o meu dia por terminado. Abri o aplicativo que fazia ligações pela internet e busquei o número da minha mãe. Da última vez que nos falamos, eu estava num estado de espírito péssimo, ela ia ficar extremamente alegre de saber que tudo se ajeitou.

—Oi, querida - a voz carinhosa da minha mãe me recepcionou do outro lado do mundo - Não está tarde ai filha? - esse não era o horário mais comum para as minhas ligações e eu notei uma certa preocupação na pergunta dela.

—Um pouco, mas eu já demorei demais para ligar - respondi animada.

—Que voz feliz é essa?

—O Ron e eu nos acertamos, mãe!

—Quem bom, filha! - ela ficou alegre como eu sabia que seria.

Eu resumi rapidamente o que aconteceu, pulando várias partes, mas deixando a parte mais importante: estávamos juntos.

—Ah, meu Deus, preciso conhecer esse seu namorado direito!

—Você vai conhecer, mãe.

—Seu pai, então… vai se morder de curiosidade e uma boa dose de ciúme também - ela zombou.

—Ele não precisa de ciúme nenhum - argumentei.

—Querida, você vai ter seus netos e ainda vai ser a princesinha dele, deixa ele ser feliz assim - ela explicou e eu acabei me juntando a ela em uma gargalhada - ele não está aí com você?

—Hã? - achei a pergunta estranha e nem um pouco típica de minha mãe.

—Só queria saber pra ver se dava para falar um pouco com ele….

—Ele não está - agradeci mentalmente por isso, não precisava apressar as coisas.

—Fica para a próxima então. Estou tão feliz por vocês, querida.

—Obrigada, mãe.

Não demorei muito para dormir depois que terminei de falar com a minha mãe, eu passaria a ter dias cheios novamente, era melhor usar cada minuto de descanso possível. Pelo menos me alegrei ao ver que o Ced estava recuperado o suficiente para ir trabalhar no dia seguinte, nada como as observações rápidas e bem humoradas dele para deixar a carga de responsabilidades um pouco menos pesada. Quase na hora do almoço, eu recebi uma ligação inusitada, era difícil o Ron me ligar nesse horário.

—Oi, Ron, tudo bem? – atendi um tantinho ansiosa.

—Tudo sim, você pode falar agora?

—Posso, já estou quase saindo para o almoço.

—O Nick tá parado aqui na minha frente me esperando te dizer que ele e a Alex nos convidaram para jantar na casa deles nesse sábado – ele explicou, e eu escutei uma voz masculina no fundo, dizendo algo que eu não consegui entender - mas não precisa aceitar, viu! Esse meu amigo é um intrometido.

—Claro que nós vamos! – eu não perder a oportunidade de conhecer os melhores amigos dele, de quem eu ouvi falar muitas e muitas vezes.

—Tudo bem, já coloca na sua agenda então, te passo os detalhes mais tarde.

Terminei aquela ligação satisfeita em saber que mais um pedacinho da vida dele, onde eu nunca tinha chegado antes, estaria agora disponível para mim.

—Vamos almoçar, Mi? – o Ced veio me chamar – agora você sorri o dia todo, é? – ele olhou desconfiado para a minha expressão contente.

—Acabei de falar com o Ron.

—Ah, tá explicado – ele revirou os olhos – as regras ainda valem, viu? – ele apontou para o quadro de proibição de incêndios pendurado novamente na minha porta, foi a primeira coisa que ele fez no dia.

—Não vou nem te dar atenção – desconversei - O amigo dele e a esposa me convidaram para jantar no sábado.

—Olha, já vai conhecer o BFF? Ei, posso saber porque eu não ganhei um jantar pra ser apresentado também – ele cruzou os braços em protesto.

—Você me ouviu dizer que foram os amigos dele que convidaram?

—Isso são detalhes – ele chacoalhou a mão – eu vou adorar bater um papo com o Senhor Incêndio, tenho uma lista de recomendações.

—Agora é que não vai ter jantar mesmo! – provoquei, só de imaginar as besteiras que sairiam da boca do Ced, me dava até medo.

—Sempre uma estraga prazeres – ele mostrou a língua para mim, mas a birra durou pouco pois ele me acompanhou assim que peguei minhas coisas para ir comer.

Claro que eu não saí no horário normal no trabalho, porém aquilo já era tão habitual para mim, que deixei de me preocupar. Como tínhamos combinado antes, eu fui para a casa do Ron, a surpresa foi ver que ele não tinha chegado ainda. O porteiro me entregou a chave que ele tinha deixado, e eu achei engraçado o chaveiro que estava pendurado junto, um sapato vermelho de salto alto não me parecia uma escolha com a cara dele, ainda mais que eu já havia notado que todas as chaves dele eram adornadas com temas de vídeo games. Deixando aquilo de lado, eu estacionei o meu carro na vaga de sempre e entrei na casa vazia.

Larguei a minha bolsa no aparador e carreguei a que continha as minhas roupas comigo até o quarto. Já que ele ainda não tinha chegado, eu decidi tomar um banho e deixar para trás o cansaço do dia. A água quente ajudou me ajudou a relaxar e esquecer um pouco de tudo o que eu tinha que fazer nos próximos meses. Minha mente estava um belo branco, eu tinha os olhos fechados, me preocupando apenas em massagear o shampoo na minha cabeça.

—Amor, cheguei! – escutei a voz do Ron de longe – eu trouxe o jantar.

—Estou no banho – avisei.

—Nem me esperou, né? – ele fez bico ao passar pela porta do banheiro.

Eu abri um pouco a porta do box, apenas para passar a minha cabeça e receber um selinho.

—Tem espaço aqui, se você quiser – convidei com um sorriso muito sugestivo.

—A comida vai esfriar – ele rebateu, mas já estava tirando o cinto.

—É pra isso que existe a maravilha que é o micro-ondas – ele riu, e em poucos segundos se juntou a mim, debaixo do jato de água quente – você chegou depois de mim, aconteceu alguma coisa? -  perguntei passando os braços pelo pescoço dele e trazendo o corpo dele para mim.

—Umas confusõezinhas com datas de fechamentos, um assunto muito chato para o momento – respondeu deslizando a mão pelas minhas costas até chegar na minha coxa que ele apertou com gosto.

—Concordo – afirmei, contendo um suspiro quando a outra mão dele começou a acariciar os meus seios.

Quando saímos do banho, nossa janta estava de fato fria, mas a comida chinesa continuou apetitosa depois de passar pela mágica do reaquecimento. Nos sentamos lado a lado no balcão e começamos a devorar as embalagens que ele havia trazido.

—Então, sobre o jantar no sábado... – comecei.

—Ah, sim. Somos esperados as oito – ele me olhou meio hesitante antes de continuar – eles provavelmente vão fazer mil e uma perguntas, Mione.

Eu ri da preocupação dele, mas era natural, eu já ouvia falar deles há tantos anos, que se a recíproca era verdadeira, eles ficariam curiosos, eu sabia que eu estava. Além do que, também tinha certeza que no dia que eu apresentasse o Ron direito para o Ced, ele teria muito mais do que mil perguntas para responder.

—Sou ótima com perguntas, e não só em fazê-las – respondi convencida, tirando a cara de preocupação do semblante dele.

Arrumamos tudo e fomos direto para cama, ambos cansados do longo dia de trabalho.

—Ah, eu deixei a chave em cima do aparador – me lembrei de avisar, assim que ele apagou as luzes e veio se deitar ao meu lado.

—Nem precisa, essa é sua agora – ele declarou apoiando a cabeça no meu ombro.

—Bem que eu percebi que aquele chaveiro não combinava muito com você – eu brinquei, desviando do fato de que eu tinha adorado o gesto.

—Usei bem a minha imaginação, gostou?

—Adorei – eu me virei e dei um selinho nele – vou fazer uma do meu apartamento para você também.

—Não precisa me dar uma chave só porque eu te dei uma – ele falou sério.

—Claro que não é por isso! – exclamei – eu te quero na minha casa também, aqui não tem tudo o que eu preciso, fazer o que? – dei de ombros zombando da falta de itens que eu considerava essenciais.

—Tipo o que?

—Que tal, secador de cabelo, chapinha, um espelho decente... – comecei a enumerar e ele logo me interrompeu rindo.

—Tá bom, entendi. Mas não seja por isso, algumas coisas eu posso remediar – ele não quis me explicar melhor o que aquilo significava, então, depois de insistir um pouco, acabei desistindo e me rendendo ao sono.

Na quinta, foi a vez de outra ligação inusitada no meu horário de almoço.

—Oi, Harry, como vão as coisas? – perguntei com cautela.

—Muito bem! – a voz dele estava irradiando felicidade, alguma coisa tinha acontecido.

—E da onde veio toda essa animação? Ela é ruiva de olhos azuis por acaso? – só tinha um motivo que o deixaria contente dessa forma e ainda por cima o faria me ligar assim do nada.

—Pode apostar! Ela veio atrás de mim ontem! – parecia que ele ainda nem conseguia acreditar que tudo tinha se acertado, eu conhecia a sensação.

—Isso merece uma comemoração, amigos são amigos na alegria e na tristeza, não? – ele concordou antes de continuar.

—Foi tão difícil escutar a história toda – o tom dele tinha mudado para um bem mais sóbrio – vê-la daquele jeito.... – ele não precisava me explicar, eu entendi exatamente o que ele quis dizer.

—Mas agora vocês estão juntos e ela não tem motivos para ficar se lembrando do que passou.

—Você está certa, mas mesmo assim dá vontade de conseguir apagar tudo pra eles...

—Eu sei, só que o passado a gente não controla, Harry, mas no futuro damos os nossos pitacos, certo? – falei tentando voltar a conversa para um tópico mais animado.

—Com certeza! Bom, liguei só pra te contar a novidade mesmo, afinal você estava certa.

—Você vai ver que geralmente estou – brinquei.

—Já está anotado. Tchau, Mione.

—Tchau, Harry, estou muito feliz por vocês.

A notícia deixou o meu dia mais alegre, finalmente os meus amigos tinham conversado e se entendido, o Ron ficaria contente de saber que a irmã estava com o Harry e feliz. Minha vontade era de ligar pra ele e contar, mas eu sabia que isso era entre a Ginny e ele, então me contive. Depois do trabalho, eu refiz o caminho da casa do Ron, ele teria um jantar de negócios na sexta então não poderíamos nos ver, aproveitaríamos a noite livre que tínhamos.

Eu estava deitada confortavelmente no sofá junto com o Ron, enquanto esperávamos o jantar sair do forno, quando a campainha tocou e revelou a visita da minha amiga que parecia um tanto reticente ao entrar. Realmente foi engraçado nos encontrarmos pela primeira vez os três juntos assim, mas eu logo esqueci esse fato ao lembrar da razão que certamente a tinha trazido até ali. Eu tentei disfarçar que já sabia, mas ela acabou percebendo e implicando em como o Harry conseguiu ser um mensageiro mais rápido. Ela acabou ficando para jantar conosco. Eu pedi detalhes, querendo partilhar do novo ar de felicidade dela, enquanto o Ron passou a maior parte do tempo calado, mais tarde eu perguntaria a razão.

Assim que ela foi embora e ficamos sozinhos, eu me apressei a trazer o assunto Harry e Ginny à tona.

—Que bom que eles se acertaram, não? – comecei, enquanto levava os pratos para cozinha junto com ele.

—Aham – ele respondeu sucinto.

—Isso é tudo? “Aham”? – provoquei.

—Estou feliz por eles, tá bom assim? – ele resmungou.

—Ronald Weasley! – o repreendi, passei as minhas mãos pelo lado dele, prendendo-o de frente para mim tendo a pia como barreira às costas – isso por acaso é ciúmes da sua irmã?

—Não... – ele começou meio sem convicção – o moleque é gente boa.

—Claro que é.

—Eu só não quero que ela fique triste de novo, me preocupo, só isso – ele deu de ombros.

—Você é um ótimo irmão, sabia?

—Podia ser melhor – eu vi uma nuvem rápida passando pelos olhos dele, e eu sabia que ele estava se focando em tudo o que não tinha conseguido fazer pela Ginny, ao invés de pensar nas vezes em que ele foi o que a manteve inteira.

—Negativo! – declarei incisiva – bem que eu queria ter um irmão assim – provoquei.

—Desculpa te decepcionar, mas não é essa vaga que eu quero ocupar na sua vida – ele disse com um sorriso atrevido – irmãos não podem fazer isso – ele colou a testa na minha, roçando a boca na minha, antes de prender o meu lábio nos dentes, me provocando até finalmente eu me esticar para completar o beijo que eu queria.

—Não podem fazer outras coisas também – adicionei prendendo a minha mão no cós da calça dele e arranhando de leve a pele ali em cima.

—Namorado é bem melhor –  ele continuou a me beijar e eu não podia concordar mais.

No sábado a tarde, eu estava bem perto de um ataque de nervos, o Ron me olhava de canto de olho sentado na minha cama, enquanto eu ia e voltava pelos modelos de roupa no meu armário. Toda a satisfação que eu senti ao ser convidada para conhecer o Nick e a Alex, foram transformados em ansiedade. De repente eu não sabia o que usar, como a noite seria, se eu causaria uma boa impressão.

—Mione, eles vão te adorar com qualquer roupa – o Ron tentou me confortar, sem muito efeito.

—Eu não sei vestir qualquer roupa, Ron – eu praticamente gemi, não estava nem me reconhecendo.

—Todas as opções que eu te der vão ser erradas, não é? – ainda bem que ele sabia, eu só fiz acenar com a cabeça e ele acabou rindo –  calma, vou pegar o seu celular.

Eu nem registrei direito o que ele tinha dito, estava focada em pelo menos escolher se eu ia de vestido, saia ou calça, mas a voz dele falando com alguém que não era eu, me chamou atenção.

—Não, é o Ron – ele falou, voltando para o quarto com o meu celular no ouvido – estou bem, mas a Mione está tendo um colapso nervoso de vestuário.

—Com quem você está falando? – levantei a sobrancelha, curiosa.

—Isso, ela não sabe o que vestir pro jantar – ele se calou e ignorou a minha pergunta – já falei que é casual, são só os meus amigos.... você não quer falar com ela?

Mais uma vez ele fez uma pausa para escutar e eu já estava me mordendo de curiosidade.

—Calma, repete mais devagar, ah tá, vermelho? Ok, valeu pela ajuda, qualquer coisa ela liga de novo, tá bom – ele riu e se despediu antes de encerrar a ligação.

—Posso saber quem era? – coloquei a mão na cintura esperando a resposta.

—O Ced falou para você ir com a saia preta, ai meu deus era o que mesmo? Média?

—Midi?

—Isso! Sua blusa vermelha, que ele falou que você saberia qual era e qualquer um dos sapatos nudes de salto, isso faz sentido?

—Faz – ele estava tão satisfeito da conquista e eu acabei caindo na gargalhada com aquela cena toda – você ligou para o Ced pra me ajudar a arrumar o que vestir?

—Ele me pareceu a melhor alternativa, eu claramente não ia ajudar em muita coisa, pra mim você fica linda em qualquer roupa – ele deu de ombros.

—Você está me saindo um namorado melhor do que o esperado – eu o peguei pela cintura, tomando cuidado para não amassar a camisa que ele usava, a meu pedido, claro.

—Sou bom em gerenciar crises – ele falou convencido – consegui te livrar dessa?

—Conseguiu, a sugestão dele foi muito boa, vou acatar. – dei um selinho nele e fui em direção ao armário pegar as peças indicadas pelo meu amigo – agora o que você não imagina é como ele vai ficar metido com isso.

—Essa parte já é pra você cuidar – ele levantou as mãos se excluindo do problema.

—Muito bonzinho, você. Fica dando corda para o Ced e depois quem sofre sou eu.

—Resolveu ou não resolveu o problema? – eu assenti – então pronto, vai se trocar que já são sete horas e eu te conheço dona Hermione.

O relógio marcava exatamente 20:10 quando chegamos na casa dos amigos do Ron. Assim como ele, eles moravam em um condomínio fechado e nos receberam animados pouco segundos depois que tocamos a campainha.

—Vamos entrando – um homem moreno e mais baixo que o Ron, que eu supus ser o Nick nos cumprimentou.

—E aí, Nick. Essa é a Hermione – ele passou a mão pelos meus ombros, mas a minha atenção tinha sido roubada para o seu amigo.

—Olha, existe mesmo! – zombou, bem humorado - Prazer em conhecê-la – ele estendeu a mão que eu apertei.

—O prazer é meu, ouvi muito sobre você.

—Espero que coisas boas, porque esse aí – ele olhou com acusação fingida para o Ron – adora fazer propaganda errada.

—Para de falar besteira, cadê a Alex? – o Ron se apressou a desconversar.

—Está terminando de ajudar a molecada a arrumar as coisas, vão dormir na mãe dela hoje, ela já vem.

Nós o seguimos até a cozinha ampla, onde ele foi ajustar a temperatura no forno e pegar uma garrafa de vinho para começar a noite.

—O Ron falou que você gosta de vinho, aceita uma taça?

—Claro.

—O cheiro tá bom, só me diz que não foi você que cozinhou – o Ron provocou o amigo enquanto recebiámos nossas taças cheias.

—Já começa me detonando, muito obrigado, ferrugem – eles pareciam duas crianças brigando e eu acabei rindo, ainda mais do apelido.

—Ai, ai, já começaram as brigas, meninos, se comportem que hoje tem visita! – a Alex chegou sorridente, já colocando ordem na área – Oi, eu sou a Alex, claramente a pessoa mais sã desse trio aqui.

—Percebi na hora – eu a cumprimentei com um abraço, a disposição simpática dos amigos dele me deixou logo tranquila, dava pra ver que se conheciam realmente há muitos anos.

—Daqui a pouco a comida fica pronta, vamos esperar na sala? Assim a gente senta e faz todas as perguntas indiscretas para a Hermione – a Alex me lançou um sorriso levado e eu não pude deixar de lembrar do aviso do Ron.

O Ron sentou no sofá maior e eu me acomodei do lado dele, do meu outro lado estava a Alex, e o Nick escolheu se alojar na poltrona do lado da esposa.

—Então, Mione, posso chamar assim?  - eu confirmei, claro e ela continuou – me conta, como vocês se conheceram? O nosso amigo aqui nunca conta todos os detalhes.

Ela estava abertamente curiosa sobre nós, mas eu não me importei de responder, ignorei o olhar de desconforto do Ron e respondi.

—Sou vizinha da irmã dele.

—Ah, quanto tempo não vemos a Ginny, não é Nick?

—Ela já não sai mais tanto com o irmão – ele falou claramente para provocar o Ron – pelo que eu sei agora ela tem alguém mais interessante.

—É bom que você tenha alguma coisa que tira mancha de vinho de roupa se você não fechar essa boca grande – era tão engraçado ver aqueles dois se provocando.

—É sempre assim? – eu me inclinei de modo a falar apenas para a Alex.

—O tempo todo, desde que eu os conheço, são piores do que irmãos – ela deu de ombros.

Continuamos conversando, alternando entre eles contando histórias antigas – de preferência embaraçosas – e eu respondendo ocasionais perguntas. O clima era leve e descontraído, eu estava me acabando de rir e foi ótimo escutar mais sobre a vida do Ron antes de mim. Um tempo depois, escutei passos na nossa direção, e um menino que devia ter seus 15 anos e uma garotinha bem mais nova apareceram. Não precisavam nem me dizer para eu saber que aqueles eram os filhos dos dois, a semelhança era impressionante. Eles tinham as mochilas, prontos para sair.

—Mãe, a vó disse que já está chegando, vamos esperar lá na porta – ele levantou os olhos do celular e viu as visitas – ah, oi tio Ron! – o ânimo dele foi uma gracinha, tanto quanto escutar o Ron sendo chamado de tio, e ao me ver, eu percebi os olhos dele se arregalando um pouco e as palavras sumindo.

—Não seja mal educado, Nathan, diz ou pra Hermione – a mãe o repreendeu.

—Oi – ele respondeu sem muito ânimo.

—Oi, Nathan, e essa menininha linda como chama? – me virei em direção a garotinha que me olhava como se eu fosse uma atração turística.

—Meu nome é Rebeca, mas todo mundo me chama de Beca, adorei o seu batom – ela falou tudo tão rápido que eu tive que conter o riso, a menina era uma graça.

—Obrigada, Beca quando você for maior eu te dou um de presente, vai ficar muito bem em você – ela abriu um sorriso tão lindo, como só as crianças conseguem.

—Escutou, mãe! Vai ficar lindo em mim – a Alex se acabou de rir com o estado da filha.

—Pegou sua escova de dentes? – a menina respondeu em negativa e a mãe e mandou de novo pra dentro para buscar – você conseguiu uma fã para a vida toda, ela ama maquiagem e roupas.

—Olha que coisa, acho você também, né amor? – o Ron zombou e eu virei pra ele torcendo o nariz com a gracinha, mas ele me deu um selinho rápido desfazendo logo a minha irritação fingida.

Me ajeitei de novo no sofá, olhando para os nossos anfitriões e encontrei os dois nos encarando fixamente com expressões idênticas de satisfação no rosto. Me toquei que eu e o Ron estávamos agindo como se não houvesse mais ninguém em volta. Por sorte o Nathan chamou a atenção do Ron para algum jogo no celular dele, e disfarcei a ligeira inibição que me ocorreu. A Beca voltou logo depois, e as crianças se despediram para ir encontrar a avó.

—Eles são uns amores – parabenizei os dois recebendo sorrisos agradecidos de volta.

Logo depois, fomos para a sala de jantar, nos acomodamos enquanto o Nick buscava a comida, que estava uma delícia. Acabei descobrindo que a falta de habilidade do Nick na cozinha era algo lendário, então para nossa sorte, foi a Alex que se ocupou de preparar a comida, relegando a ele apenas as tarefas de organização. A noite se estendeu bastante, eu percebi que o Ron parou na segunda taça de vinho, pois tínhamos vindo no carro dele. Já de madrugada, depois de muita conversa, nos levantamos para nos despedir, com promessas de repetir a dose em breve. O casal nos levou até a porta, e em meio a um abraço, a Alex falou:

—Mantém ele na linha, viu! – eu ri da recomendação, mas depois ela continuou mais baixinho apenas para os meus ouvidos captarem – estou muito feliz por vocês.

O Ron tinha sorte em ter aquelas duas pessoas na vida dele. Ficou mais do que claro para mim, que eles se preocupavam e tinham um carinho enorme por ele. Me alegrou ver que mesmo com uma família tão pequena, ele tinha com quem contar caso precisasse, não que ele fizesse muito isso, pelo jeito o meu namorado possuía a mania de manter tudo sobre os ombros, o que se dependesse de mim, mudaria com o tempo, eu estava mais do que disposta a ajudar a aguentar qualquer coisa que fosse.

Ele entrou no carro e eu me acomodei no banco do passageiro. Percebi que ele estava meio calado durante o início do trajeto, me lançando olhares de lado, como se quisesse falar alguma coisa sem saber como.

—O que foi, Ron? – resolvi dar uma ajuda.

—Gostou da noite? – ele finalmente perguntou, eu notei a dose de insegurança que ele tentava esconder em vão, a cada dia era mais fácil para mim ler o que se passava por detrás daqueles olhos, só bastou ele começar a me deixar ver.

—Adorei, seus amigos são ótimos – confirmei sincera.

—Eles também gostaram de você – disse, já mais tranquilo - não que eu dê muita atenção para o gosto do Nick – adicionou com ironia.

Chegamos na casa dele e fomos direto para a cama, a noite tinha saído melhor do que eu imaginei que seria, eu já aguardava com certa ansiedade a próxima vez em que nos encontraríamos. No domingo o Ron declarou que íamos resolver os problemas na casa dele, e passamos um bom tempo no shopping. Ele voltou segurando várias sacolas, que tinham conteúdos variando de um secador de cabelo, até o recibo de um espelho mais decente. Falei para ele que não tinha necessidade de tudo isso, porém ele insistiu, nem reclamou quando eu entrei em várias lojas diferentes antes de me decidir, ele estava aprendendo rápido, era melhor eu aproveitar esses momentos de paciência extrema. Eu disse que pagaria pelos itens, já que eu que os usaria, novamente ganhei uma negativa.

—Não senhora, são da minha casa, considere novos itens de decoração – ele argumentou.

—Desde quando uma chapinha é objeto decorativo?

—Desde agora, vão deixar o armário do meu banheiro mais colorido, leva a vermelha – ele indicou e eu acabei rindo.

Ele me ajudou a colocar as coisas no lugar quando voltamos para a casa dele, agora, uma boa parte do armário do banheiro estava ocupado com coisas minhas. No fundo eu estava completamente feliz ao ver que cada vez mais, ele abria um espaço na vida dele para mim, aprofundando a relação que durante tanto tempo não passou de um caso certamente passageiro, mas cinco anos não é pouca história, o que se refletia na facilidade que estávamos tendo em mesclar as nossas rotinas. Meus dias não eram mais completos sem o som da voz dele, nem que por um momento, e o melhor é que eu não me importava nem um pouco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então o que acharam? O Ced sempre engraçado e agora a Mione conhece os amigos do Ron tbm! Me contem se gostaram do jantar deles :)
Espero vcs nos comentários.
Bjus

Crossover: para ver melhor a visita da Ginny para contar que ela e o Harry estão juntos, ou saber da história toda que o Harry comentou com a Mione, não deixem de ler DV!
https://fanfiction.com.br/historia/687490/Deja_vu/