Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Capítulo chegando antes da hora de novo, acho que estou ficando boazinha demais.... huahauha
Agora vamos ver o que a Mione achou da explicação toda do Ron e o que fica resolvido de agora em diante.

Espero que gostem :)



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No momento em que eu o vi sentado na porta do meu apartamento, eu senti que já sabia o que iria escutar, as minhas apostas estavam na opção de que ele diria que eu tinha exigido demais, que ele não queria mudar nada entre nós e que eu não poderia esperar receber nada além do que tínhamos. Como eu estava errada. Nada saiu como eu esperava, misturando descrença com alívio. Finalmente ele tinha se disposto a me contar sobre as partes da vida dele as quais eu nunca tive acesso. O meu coração mole, já me fez querer abraçá-lo logo que ele terminou o relato sobre os pais, pois eu vi a tristeza que morava no fundo daqueles olhos azuis, mas eu me segurei, coloquei de novo uma capa de distância e disse com todas as palavras que aquilo não era suficiente. Ainda não tinha me explicado porque eu tive que passar duas semanas amargando uma espera que parecia que nunca ia terminar, foi ai que ele jogou a bomba de verdade em cima de mim.

Bem ou mal, eu já sabia que os pais dele tinham falecido, os motivos e circunstâncias não deixaram de ser uma surpresa, mas por isso eu já esperava. Quando ele me disse que tinha sido casado, eu levei um choque. Minha primeira conclusão foi a de que ele ela viúvo, algo que marca alguém para o resto da vida, de novo eu estava errada. A história daquela mulher que teve a capacidade de jogar fora a vida que tinham, e ainda não ter o mínimo de consideração pela pessoa que fazia tudo por ela, me atingiu em cheio. Eu fiquei com raiva de uma mulher que eu nem conhecia, pelo estrago que ela fez no homem que me contava aquilo tudo, a pessoa que eu queria ver sempre sorridente. Percebi que os desdobramentos daquele incidente tinham sido profundos e doídos, mas mesmo assim não deixei de rebater, eu não era ela...

Senti meu peito se apertando enquanto ele dizia como tinha ficado perdido, e o medo que guardava de que aquilo tudo se repetisse, não me orgulho em dizer que eu fiquei com ciúmes também, por saber que existia alguém no mundo que tinha desfrutado de uma vida completa com o Ron, que eu não queria que fosse nada além de meu. As palavras dele foram me comovendo, me fazendo entender a razão de tanta hesitação por parte dele, o porquê de ter precisado de tantos dias para tomar uma decisão. O que o prendia, eram laços muito bem apertados. Aí ele começou a falar de mim, de quando nos conhecemos e como as coisas evoluíram. O meu coração, que já não estava muito sincronizado, perdeu totalmente o ritmo ao escutar que ele sentia a minha falta, que pensava em mim o tempo todo, ia permanecer para sempre um mistério como eu consegui não exibir um sorriso radiante a me jogar em cima dele, pois eu estava finalmente escutando tudo o que eu queria ouvir.

Ele estava com medo, mas para mim não era muito mais fácil. Querer tê-lo para mim, significava me doar da mesma maneira, a beleza de tudo era encarar o risco juntos. Eu realmente não estava à procura de alguém que cuidasse de mim, fizesse tudo por mim, eu queria a presença dele, o sorriso e as palavras que sempre sabiam o que dizer para me deixar feliz, e foi o que eu falei a ele. Sem me privar mais do que eu queria, eu trouxe os lábios dele aos meus, matando um pouco da saudade daquele beijo, até que ele me puxou para o seu colo, de onde eu não tinha vontade nenhuma de sair.

Minhas mãos não precisaram nem de incentivo para subir pelos braços dele até se afundar nas mechas de cabelo macio. A boca dele encontrou a pele do meu pescoço, me arrancando um suspiro com a ajuda dos dedos que apertavam as minhas coxas sem espaço para gentileza, apenas vontade. No auge da minha falta de esperanças, eu cheguei a pensar que nunca mais o teria assim ao alcance dos meus braços, e isso só fazia com que eu sentisse um desejo desenfreado de sentir cada pedacinho dele de encontro a mim. Ele me puxou mais para frente, e eu apertei meus joelhos em volta dele, aumentando a pressão dos nossos corpos. Eu insinuei meus dedos por debaixo da camisa dele, alisando o estômago firme, antes de levantar o tecido a fim de expor a pele que eu precisava explorar com mais afinco. Ele levantou os braços e me ajudou e me livrar da peça de roupa.

O desejo era evidente nas pupilas dilatadas dele, assim como eu, ele não parecia querer mais nada além de eliminar toda a distância que se instaurou entre nós nessas duas semanas, mas para minha surpresa, ele levou a mão à minha bochecha, enquanto a outra acariciava o meu pescoço, e ficou me encarando sem nem piscar. Nossos olhares se prenderam, quase um feitiço que não nos permitia movimento, até que ele se inclinou para frente e me prendeu num abraço, afundando o rosto no meu ombro.

—Eu senti tanta saudade - ele confessou e meu coração quase tocou uma marcha de comemoração, eu realmente era uma boba apaixonada.

—Eu também - admiti, acariciando os cabelos dele, e levando os meus braços a sua volta - cada dia que passou eu queria te matar mais um pouquinho - completei em tom de brincadeira, mas com o fundo de verdade que ele sabia existir.

—Desculpa, Mione - ele levantou a cabeça e me olhou de maneira que eu podia ver a culpa estampada nas suas feições.

—Eu achei que você não fosse voltar - eu sussurrei, estávamos no momento de dizer todas as verdades, por mais que admitir aquilo tivesse me feito desviar o olhar daqueles cristais azuis.

—Ei, olha aqui pra mim - ele levantou o meu queixo para que eu o encarasse novamente - eu podia não saber como, mas se tinha uma certeza na minha mente, era a de que dizer não, era impossível.

—Podia ter sido mais rápido, seu idiota - briguei com ele dando um tapinha de leve no ombro dele - teria me poupado muitas lágrimas - eu não senti nenhum problema ao revelar que tinha sim chorado pelo que aconteceu, era difícil que eu conseguisse partilhar falhas minhas, mas com ele, eu me sentia à vontade.

—Odeio pensar que eu te fiz chorar - ele declarou triste, os dedos dele acariciaram o meu rosto, trilhando o caminho que minhas lágrimas passaram a conhecer tão bem.

—É só prometer que não vai fazer mais - eu dei um sorriso, querendo espantar o remorso do semblante dele.

—Prometo - ele assentiu com a cabeça e eu percebi a solenidade do momento, aquilo não tinha sido uma promessa vaga - só que…

—O que, Ron? - pensei ver uma sombra de preocupação.

—Eu nem sei se ainda sei como fazer isso, ser o namorado de alguém, vou ter que aprender de novo - dessa vez eu não consegui conter o sorriso.

—Não se preocupe, eu sou uma ótima professora, e vou te dar várias aulas - ele se acalmou com a minha resposta, e eu recebi o sorriso que eu tanto queria.

—Tenho direito a erros? - ele zombou, apesar de eu perceber a atenção que ele tinha ao esperar a resposta.

—Uhm… - levei a mão ao queixo fingindo pensar no assunto - talvez um ou dois, sou uma namorada legal.

—Que sorte a minha de ter uma namorada tão compreensiva - eu ia me acostumar facilmente a esse título, meu sorriso não cabia no rosto - vem cá - ele me puxou para um beijo profundo e quente.

O momento para conversas se dissolveu, dando lugar apenas a necessidade de contato que tínhamos colocado de lado por um breve período. Num entendimento mudo, decidimos que o sofá não seria o suficiente, e aos beijos e abraços, fomos para o quarto, deixando para trás uma trilha de roupas. Eu me acomodei no meio da cama apenas com a minha lingerie, satisfeita ao sentir o corpo dele se juntando ao meu. Em poucos instantes, os últimos itens de vestimenta foram eliminados, dando espaço para nos aproveitramos por inteiro. A boca dele se separou da minha, distribuindo beijos até chegar a pele sensível dos meus seios.

—Eu já falei que estava com saudade? - ele repetiu, apenas recebendo um sussurro em confirmação antes de me provocar com a língua e me arrancar um gemido - senti falta dos seus gemidos também - ele completou com a voz baixa e insolente.

Ele continuou avançando, descendo as carícias enquanto me arrepiava e me levava ao precipício de uma loucura completamente gostosa.

—Vamos ver se eu consigo te fazer gritar, tenho que matar toda a saudade.

O afinco para cumprir essa vontade foi impressionante, a pressa se traduziu em provocação, aumentando a intensidade de tudo e acabamos aquele encontro, com uma coleção de sons e sensações que conseguiram matar a saudade que sentíamos  um do outro. Terminamos suados e ofegantes, me aconcheguei no conforto do abraço dele, ligeiramente cansada, mas agitada demais para sequer pensar em dormir, minha mente trabalhava a mil por hora, processando toda a felicidade, ansiedade e expectativa do que vinha pela frente, além de tentar lidar com as perguntas que inevitavelmente eu ainda tinha.

Mesmo sabendo que ele provavelmente não gostaria de tocar no assunto, eu decidi tentar. Se eu não pudesse esclarecer as minhas dúvidas com ele, com quem mais seria?

—Ron? - chamei a atenção dele, que mantinha o foco em apenas acariciar a linha do meu ombro.

—Hum…

—Posso fazer uma pergunta…. ou várias? - ele riu com o meu requerimento.

—Claro que você tem perguntas, se não, não seria você - ele zombou, antes de beijar o meu pescoço.

—Eu sei que você não quer mais falar disso, mas…

—Mione - ele me interrompeu - vamos fazer o seguinte? Você tem hoje para fazer todas as perguntas do mundo sobre tudo o que você quiser, depois eu prefiro que esse assunto fique bem enterrado, não gosto de lembrar de nada disso.

Achei o pedido dele bem sensato.

—Tudo bem, vou usar bem o meu tempo - porém logo me ocorreu estabelecer melhor os termos - mas com “hoje” você quer dizer até a gente dormir, né? Porque se for só até meia noite não vale, falta pouco.

—Muito espertinha para o meu gosto - ele fez cócegas na minha cintura, o que me fez rir e me contorcer.

—Para, Ron! - reclamei em meio aos risos.

—Pode começar a perguntar - ele falou assim que parou de me provocar.

—Negativo, você não me respondeu - olhei feio pra ele que revirou os olhos em derrota.

—Droga! Achei que tinha te distraído…. tá bom, até a gente dormir - ele suspirou e eu me inclinei para dar um selinho rápido nele, que acabou segurando a minha nuca e aprofundando o contato, segurando o meu lábio entre os dentes antes de se afastar e dizer - já vi que estou lascado.

—Não perdi o poder de te convencer a fazer tudo o que eu quero? - perguntei muito interessada na resposta.

—Nem um pouquinho - ele fez uma cara de vítima, mas acabamos caindo na gargalhada.

Um silêncio confortável se seguiu, onde eu tentava escolher as palavras para fazer aquilo da maneira menos pior para ele, pois por mais que eu quisesse saber mais, eu não o faria sofrer apenas para satisfazer a minha curiosidade. Acabei me ajeitando de modo a ficar sentada, e ele seguiu o meu exemplo, eu precisava olhar para ele enquanto perguntava o que eu queria saber.

—Pode falar, Mione - ele me incentivou, ao perceber que eu não achava as palavras certas para começar.

—Como você a conheceu?

—É isso que você quer saber primeiro? - ele levantou a sobrancelha, desconfiado.

—Sim, não quero saber nome, nem como ela parecia, ou o que fazia da vida, não preciso de uma versão propositalmente assustadora criada na minha mente - confessei, de que adiantava esconder? Eu não queria ter conhecimento desses detalhes, não iam me fazer nenhum bem, só criar comparações idiotas na minha cabeça.

—Tá bom, nos conhecemos na faculdade, fazíamos cursos diferentes, mas nos cruzamos pelos corredores - ele respondeu ainda achando graça.

—Foi bastante tempo juntos…

—Nos casamos dois anos depois da formatura, eu era um idiota nessa época - ele passou a mão nos cabelos.

—Não precisa falar assim.

—Mas é verdade, Mione. Olhando para trás hoje, 10 anos depois do fim de tudo, eu vejo como as coisas estavam erradas desde o começo.

—Me conta um pouquinho, mas só se você quiser - curiosidade era um defeito que eu nem me dava ao trabalho de negar, e por mais que eu soubesse que não tiraria nada de bom em ouvir sobre a relação deles, eu precisava entender essa parte da vida dele, pelo menos um pouco.

—Ela era um bebê, como eu te falei, acredita que era assim que eu a chamava?

—O que? Isso é brincadeira, né? - respondi incrédula.

—O pior que não - ele fez uma cara de desgosto profundo.

—Se você me chamar assim, eu te mato - ameacei apontando o dedo indicador na cara dele.

—Não tem nenhuma chance disso acontecer - ele pegou a minha mão que o ameaçava, trazendo aos lábios para me distrair com alguns beijos -  até porque o seu apelido já é outro - ele sorriu misterioso.

—Você ainda não vai me contar? - insisti contrariada.

—Uma hora eu conto - ele riu, me trazendo para perto, de modo que eu apoiasse as costas no peito dele e eu revirei os olhos com mais uma negação.

—Não vou nem perguntar como ela te chamava, vou me poupar disso.

—Obrigado, assim posso manter a minha imagem - pelo alívio dele, devia ser ruim mesmo.

—O negócio é que eu percebo agora como ela era egoísta e mimada, eu tentava o máximo, e ela sempre queria mais. Eu estava junto com ela e mesmo assim não tinha apoio, era mais uma pessoa para eu cuidar, não alguém que me ajudasse a enfrentar as coisas - ele completou, agora num tom mais melancólico.

—E quando seus pais… - eu não precisei terminar a frase para ele saber do que eu estava falando.

—Pareciam que tinham sido os dela, pois eu era o que tinha que manter os olhos secos, enquanto ela chorava no meu ombro.

—Posso detestar essa mulher? - como podia existir um ser insensível nesse nível? Só de pensar em tudo o que ele teve que passar, ainda por cima tendo que se fazer de forte pela irmã, me dava uma raiva imensa de saber que ele não teve apoio da pessoa que devia ter sido um pilar para ele.

—À vontade.

Tinha uma coisa que eu precisava deixar bem clara agora que eu sabia que daríamos uma chance à nossa relação, então eu me endireitei de frente para ele e olhei direto em seus olhos.

—Você não precisa cuidar de mim, isso não combina comigo - peguei as mãos dele nas minhas - mas podemos cuidar um do outro - ele me olhava como se eu fosse algo quase desconhecido, mas o sorriso radiante que eu recebi, foi o suficiente para eu saber que, mesmo desconhecida, eu era bem vinda.

—Você não existe, sabia? - ele me trouxe em sua direção me abraçou, colando os lábios nos meus.

Ficamos abraçados por um tempo, aproveitando a proximidade e o fato de que nenhuma conversa era realmente necessária para nos sentirmos confortáveis um com o outro, porém eu ainda tinha perguntas, e o dia ainda não tinha acabado.

—E a Ginny? Se dava bem com ela? - retomei repentinamente a conversa e ele deu risada com a ação antes de responder.

—Ela nunca reclamou, mas sei que não se gostavam, as coisas ficaram difíceis quando a Ginny foi morar conosco, para maiores informações no assunto, melhor você perguntar a ela.

—E ela vai me dizer? - perguntei em dúvida, eu não sabia se aquele era um assunto que a minha amiga se importava em abordar.

—Ah, vai - ele riu novamente - ela acha que eu não sei, mas minha irmã ama falar mal de quem não gosta.

—Espero que eu nunca dê motivos, então - provoquei.

—Ela te adora, Mione, é mais fácil ela falar mal de mim - ele resmungou fazendo um bico que eu desmanchei com um selinho.

—Ron… - pausei, tomando coragem para perguntar o que eu mais queria saber, percebi no franzir de sobrancelhas dele, que ele tinha entendido que aquela não seria uma pergunta leve e descontraída como a anterior - você a amava?

Ele ficou em silêncio por algum tempo, olhando para nada em particular, e eu me peguei tendo ciúmes de memórias, mas joguei essa besteira para o fundo da minha mente, ficando apenas com a companhia do meu coração que pulsava nos meus ouvidos.

—Amava…- ele começou meio incerto, e eu senti meu estômago afundado, por mais injusta que eu estivesse sendo ao reagir dessa forma, afinal ele tinha tido uma vida antes de mim -  na verdade nem sei, acho que eu não consigo saber, porque eu achava que ela me amava também, então como minha opinião pode ser confiável?

—Isso não importa mais - levei a minha mão ao rosto dele, acariciando a sua bochecha - agora você pode confiar em todas as sua opiniões.

—Ai, ai… vou me acostumar muito rápido com você dizendo sempre as coisas certas - ele riu e se esticou para alcançar os meus lábios.

Acabamos dormindo pouco tempo depois, tantas reviravoltas nos deixaram cansados do dia. A melhor parte foi acordar ao lado dele na manhã seguinte, sem ser nenhum tipo de miragem fabricado pela minha cabeça.

—Bom dia - ele chamou a minha atenção já parecendo muito acordado.

—Faz tempo que você acordou? - perguntei ainda sonolenta.

—Um pouco.

—Por que você não me chamou? - resmunguei, escondendo a cabeça no ombro dele de maneira a fugir da luz que ainda me incomodava.

—Você estava dormindo tão bem que eu não tive coragem, alguém já te falou como você é linda dormindo? - ele murmurou no meu ouvido.

—Não - eu levantei meus olhos para ele, abrindo um sorriso para combinar com o que eu recebia.

—Então problema resolvido - ele beijou o meu pescoço, passando o braço por baixo dele de modo a me trazer para mais perto - você tem alguma coisa pra fazer hoje?

—Não.

—Nenhuma loucura de última hora daquela sua chefe simpática? - ele perguntou surpreso.

—Nadinha - afirmei novamente.

—Então você é todinha minha pelo final de semana?

—Hum…. depende - fingi pensar no assunto - algum momento desse final de semana envolve aquele molho que eu adoro?

—Agora eu descobri a verdade, isso tudo foi só pela minha receita! - ele reclamou de maneira dramática.

—Poxa, e eu achando que escondia tão bem… - acabamos rindo das nossas besteiras.

—Vou pensar no seu caso.

Enrolamos na cama mais um pouco antes de levantar para começar o primeiro dia do novo “nós” que agora era uma realidade. Diferente do que eu achei que pudesse acontecer, não houve nada de desconfortável ou estranho, éramos apenas nós mesmos, do jeito que já vinha acontecendo há um tempo, só que com a vantagem de não ter que esconder nada, ou ficar tentando ler nas entrelinhas de todas as ações. Ele me acompanhou até o chuveiro, onde levamos muito mais tempo do que o que seria considerado normal para a simples ação de tomar um banho. Eu comecei a me vestir, ainda com os cabelos molhados enrolados numa toalha, e ele foi buscar as roupas que tinham ficado espalhadas na sala.

—Essas são suas - ele me estendeu a mão com as minhas peças de roupa e se pôs a colocar novamente as dele.

Enquanto ele se vestia, eu voltei ao banheiro, enxuguei os cabelos mais uma vez com a toalha e peguei uma escova para começar a desembaraçar as mechas.

—Tudo bem, ai? - ele perguntou ao vir para perto de mim, já vestido, enquanto eu lutava com um nó particularmente difícil.

—Sim, já estou quase terminando, você pode pegar o secador para mim? - se eu desse uma escovada nos cabelos, não precisaria me preocupar com eles no dia seguinte.

—Deixa assim - ele me abraçou por trás,  enlaçando a minha cintura e colando os lábios ao meu pescoço - eu adoro os seus cabelos enrolados.

—Se eu deixar assim, amanhã vai estar um ninho - zombei, mas já quase sem nenhuma convicção, pelo jeito era difícil pra mim também, negar o que ele me pedia.

—Eu molho o seu cabelo de novo amanhã, não se preocupe - ele continuou, mas dessa vez num tom sugestivo.

Já estava bem perto do horário do almoço, então decidimos pular o café da manhã e pedir alguma refeição, pois a minha geladeira se encontrava vazia, não daria para fazer nem um omelete. Enquanto esperávamos o nosso pedido chegar, ficamos conversando sobre nada e tudo, até que ele me olhou de um jeito meio estranho.

—O que foi, Ron? - perguntei curiosa.

—Lembrei que eu trouxe uma coisa pra te mostrar, acabei esquecendo ontem - ele puxou um papel do bolso - mas acho que nem vale a pena.

O tom de desdém dele, aliado ao papel que parecia antigo e amassado, me deu uma boa ideia do que se tratava.

—É o bilhete que ela deixou? - ele assentiu, e eu respondi apenas esticando a mão em direção a ele.

A existência daquilo parecia colocar uma nuvem escura no nosso dia ensolarado, mas eu não me importei de dar passagem a ela. Era uma parte da vida dele, e eu queria entender o máximo que pudesse, por isso respirei fundo e abri o pedaço de papel, que não continha nada mais do que algumas palavras sem significado, escrita às pressas. Não daria para dizer que pertencia a alguém que passou cinco anos dividindo a vida com ele.

—Só isso?

—Sim… não sei nem pra que eu trouxe isso - ele falou contrariado.

—Não tem problema, Ron. Agora eu entendo melhor ainda - dei um sorriso travesso, tentando levantar o humor dele, antes de completar - e pelo menos posso dizer que a minha letra é mil vezes mais bonita.

Ele riu da minha gracinha, o bilhete permanecia preso entre os meus dedos, e antes que eu pudesse me conter, outra pergunta saiu da minha boca.

—Você nunca mais a viu? - aguardei ansiosa para saber se ele voltaria a falar no assunti.

—Não - ele respondeu sem demora.

—Teria sido melhor se tivesse?

—Duvido muito - ele deu de ombros, destilando desdém - teria sido um teatro, isso sim

—E qual é o problema com isso? - aquilo me deu uma ideia - Vamos ser teatrais agora então.

Eu corri até a cozinha, antes que ele pudesse perguntar do que se tratava, procurei nos meus armários as coisas que eu precisaria, e voltei para o lado dele com um recipiente de vidro, uma garrafa e uma caixinha.

—Você não exagerou no teatro - ele zombou ao ver o que eu tinha em mãos e deduzindo o que eu prentendia com a aquilo.

—Posso? - perguntei, fazendo menção de rasgar o bilhete, assim que eu deixei tudo entre nós no sofá.

—Sim, eu ia jogar fora de qualquer jeito.

—Assim vai ser mais satisfatório - falei confiante, sentindo uma satisfação intensa ao transformar aquele pedaço de tristeza em pequenos pedeacinhos de nada. - faça as honras - indiquei jogando tudo no pote.

Ele pegou a garrafa de álcool, a sombra de um sorriso no rosto, e jogou sobre os retalhos.

—Ei, não exagera! - adverti, segurando a mão dele - não é pra incendiar o meu apartamento.

Ele estava tão concentrado que nem comentou nada antes de colocar o pote sobre a mesinha de centro, riscar um fósforo e jogar lá dentro. Nossa atividade não era nada adequada em quesito de segurança, mas foi até um espetáculo bonito assistir, as pequenas chamas consumindo o papel. Encostei a minha cabeça no ombro dele e prendi a mão dele entre os meu dedos, nenhum de nós precisou falar nada, para entender o que aquilo significava.

—Isso foi surpreendentemente libertador - ele falou assim que não tinha mais nada para queimar.

—Ótimo, agora não tem nada para te lembrar dela - eu não sabia se a minha afirmação foi para confortar a ele ou a mim, mas ele sorriu o que me indicava que eu tinha feito a coisa certa.

A campainha tocou anunciando a chegada da nossa comida, e desfez a nossa bolha de sobriedade, hora de deixar a nuvem ir embora e voltar ao dia ensolarado. Comemos em meio a mais conversas, assim que terminamos, coloquei as coisas na pia e o deixei lavando os pratos, enquanto eu ia jogar fora as embalagens que usamos. Despejei tudo na lata de lixo grande que eu tinha na área de serviço, e meus olhos se fixaram no saco preto que ainda estava pacientemente aguardando ali no canto. Fui lá e peguei o saco onde tinha colocado tudo que me lembrava dele.

—Você está colecionando lixo por acaso? - ele zombou ao me ver voltando com aquele volume nas mãos.

—Nada aqui dentro é lixo, eu só precisei de um pouquinho de distância nesses dias.

Minha declaração o deixou curioso, ele secou as mãos e veio olhar, eu não me importei de permitir que ele visse, e coloquei o saco nas mãos dele. Ele levou até a mesa e abriu para vasculhar. Não precisou de muito para entender do que se tratava.

—Você pensou em jogar fora? - ele indagou com a voz baixa, eu percebi a nota de tristeza.

—Foi meu primeiro impulso - eu admiti, sentindo uma pontadinha de culpa agora que estávamos em bons termos - mas claramente eu não consegui - falei revirando os olhos de maneira que ele riu.

—Ainda bem, porque eu nunca mais faço desenhos de novo - ele puxou o papel com as árvores que ele tinha feito - esses são exemplares únicos! Aliás deviam ir pro lixo mesmo...

—Não! - reclamei tirando da mão dele - é meu, você não pode jogar fora. Um dia eu te faço um desenhista

—De arte moderna, quem sabe… - ele continuou mexendo no saco - pode colocar esses daqui de volta no armário, gosto muito deles - ele falou ao achar a última lingerie que eu tinha comprado de presente pra ele.

—Vai tudo voltar pro lugar - eu o assegurei, mas ai me lembrei do que mais eu tinha jogado fora - ai, merda!

—Que foi?

—Eu apaguei todas as fotos - falei triste mas ele caiu na gargalhada, o que me deixou meio confusa.

—Que radical a minha Mione, não? - meu coração ia pular para sempre quando ele me chamasse assim? - dá aqui o celular.

Peguei o objeto na mesinha do meu abajur, desbloqueei o aparelho e passei pra ele, que sentou no sofá e começou a mexer. Fui me juntar a ele, esperando que ele conseguisse alguma boa notícia.

—Sorte a sua que seu namorado é mais entendido que você em tecnologias, é só recuperar as fotos, ficam armazenadas até trinta dias antes de serem definitivamente apagadas - ele falou todo convencido.

—Ainda bem que você não demorou esse tempo todo então - rebati torcendo o nariz para a observação sobre a minha falta de entendimento em relação ao meu celular.

Ele continuou olhando a minha galeria de fotos.

—Que foto bonita - ele virou para mim e eu vi que foto se tratava.

—Foi o Ced que tirou no dia do desfile - expliquei, e ele até tentou disfarçar a cara feia com a circunstância da foto, o que eu achei muito engraçado.

—Por que você está com essa cara triste?

—Se você adivinhar, ganha um beijo - provoquei, me apoiando nele.

—A culpa é minha por acaso? - ele me olhou fingindo espanto.

—Sim e não - respondi.

—Pode explicar, mas depois de me dar o meu prêmio, eu meio que acertei

Ele passou a mão na minha nuca e reclamou o beijo que eu prometi, apesar de que o combinado era apenas um, e ele só me soltou depois de “alguns”, não que eu fosse reclamar.

—Eu só estava chateada com aquela modelo atrevida colocando as mãos em você - expliquei, ainda sentindo irritação ao lembrar daquela abusada.

—Eu nem me lembrava mais dela - ele riu.

—Bom mesmo!

—Não achei que você fosse ciumenta, Mione - ele debochou, porém eu notei que ele gostou da descoberta, até demais para o meu gosto.

—Não sou - dei de ombros, uma bela mentira - você é muito mais - provoquei, mas ele fingiu nem escutar e continuou rolando as fotos.

—Tem umas fotos bonitas demais do seu amigo aqui - ele falou depois de um tempo, a cara agora abertamente feia.

—Viu só, muito mais ciumento!

—Não tem graça - ele resmungou.

—Talvez eu devesse te falar mais sobre o Ced…. - comecei a frase, parando propositalmente -  mas eu ainda estou esperando para saber o meu apelido, então não vou gastar minha moeda de troca.

—Sua mente funciona de maneira muito perigosa pra mim, sabia? - ele levou o dedo indicador à minha testa - E eu já te chamei pelo seu apelido, não é minha culpa se você não percebeu.

—Chamou? - ele confirmou com a cabeça.

Aquilo me deixou mais curiosa ainda, quando ele tinha me chamado de qualquer outra coisa que não pelo meu nome? Fiquei reprisando as nossas conversas na minha cabeça, tentando me lembrar, sem nenhum sucesso.

—Ah, não, Ron! Me diz…. - pedi fazendo bico.

—Agora estou até chateado de você não lembrar - ele falou com ressentimento fingido.

—Uma dica pelo menos.

—Foi na nossa viagem.

Finalmente, a lembrança me atingiu, eu e ele no cassino, o jeito como ele tentou disfarçar. Meu sorriso cobriu o meu rosto inteiro ao perceber que as coisas já eram diferentes para ele há tanto tempo quanto para mim,

—Pode me chamar assim de novo - eu disse doida para ouvir de novo.

—Primeiro eu quero saber o que você tem para me contar do seu assistente - ele falou sério, e eu precisei de muito esforço para não rir, decidi provocar um poquinho mais.

—Fora o fato dele ser o meu melhor amigo, eu ter dormido na casa dele no dia do desfile, onde ele até me ajudou a sair daquele vestido e dividiu a cama comigo, e inclusive ter uma foto minha só de lingerie no celular dele? - falei como se não fosse nada.

—O que? - a voz dele saiu esganiçada, o olhar incrédulo.

—Não se preocupa, Ron que o Ced não está nem um pouco interessado - expliquei, finalmente tirando-o do estado em que ele se encontrava - eu que tenho que me preocupar com os olhares compridos dele pra você.

—Ah - eu vi o exato momento em que ele entendeu o que eu tinha dito, pois sua expressão se suavizou, até um sorriso apareceu no canto da boca dele - ainda bem, já gosto mais do seu amigo.

—Ah é? Quer o telefone dele também? - perguntei levantando a sobrancelha.

—Para de ser boba, amor  - ele me puxou para perto, e eu fui, me sentindo quase uma gelatina ao escutar novamente ele me chamando de amor - você que foi malvada comigo esse tempo todo.

—Fui, é? - ele esfregou o nariz no meu pescoço, levando junto o resto da clareza que tinha na minha mente.

—Aham - ele confirmou, substituindo o nariz pelos lábios - acho que eu mereço uma retratação.

—E como seria isso? - não me dei nem ao trabalho de abafar o tom indecente na minha pergunta.

—Vou pensar numa coisinha ou duas.

Ficamos um bom tempo aos beijos e carícias no sofá, aproveitando o nosso tempo de fazer nada para não ter que manter as mãos longe um do outro.

—Que tal eu fazer o jantar hoje? Assim cumpro a cláusula de fazer o meu molho.

Eu estava deitada com as costas apoiadas no peito dele, entre suas pernas, com os braços dele me enlaçando.

—Se eu soubesse que ia ser tão bem tratada assim, tinha falado antes com você - zombei.

—E por que não falou?

—Você está mesmo me perguntando isso? - eu me virei ligeiramente para ver a cara dele.

—Tá bom, vou mudar a pergunta, o que te fez falar?

—Agora você que é o curioso?

—Se eu te chamar de amor de novo, você me responde? - ele perguntou já sorrindo.

—Hum….

—Conta vai, amor - ele murmurou, manhoso, como eu negaria com ele me olhando assim?

—Foi uma coisa tão besta… - de repente me vi encabulada do meu ataque de ciúmes.

—Quero saber mesmo assim.

—Foi aquela modelo, ela estava no meu escritório aquele dia.

—E?

—E ela me pediu seu número de telefone! - completei indignada.

Ele se acabou de rir, e ganhou um tapa.

—Ei, eu não mandei a moça ir pedir meu número, mas talvez eu devesse conseguir o dela para agradecer.

—Rá, rá, muito engraçadinho - reclamei fazendo cara feia - agora pode me dizer o que te fez vir aqui.

—Foi mais besta ainda.

—Se eu tive que te contar, você também tem.

—Eu te mostro quando chegarmos lá em casa.

—Hã?

—Nada contra a sua cozinha, mas a minha é melhor equipada, prefiro cozinhar lá - ele explicou.

—Tá bom, não tem problema - já estava escurecendo, o melhor seria irmos logo, provavelmente teríamos que passar no mercado - eu coloquei roupas de ficar em casa, vou me trocar então.

—E você precisa se arrumar para ir na minha casa, por acaso?

—Não vou sair na rua assim, Ronald! - olhei para ele indignada - não tem nada a ver com a sua casa.

—Ai meu Deus, essa é uma hora que eu só aceito e não discuto, certo?

—Certo, primeira lição para o meu namorado - dei um selinho nele antes de me levantar e ir para o meu quarto.

Me arrumei até rápido para os meus padrões, mas eu tinha certeza que para o Ron ainda tinha sido tempo de mais. Não era minha culpa se ele achava que se arrumar constituía em pegar a primeira calça e a primeira camiseta que visse pela frente, eu ainda mudaria isso. Arrumei uma bolsa com as coisas que eu precisaria, já que provavelmente dormiríamos lá e anunciei que estava finalmente pronta para sair.

—Eu devia ter ido no supermercado enquanto esperava, dava para ter comprado tudo - ele me olhou com um sorriso atrevido - três vezes!

—Mas aí você não teria a minha companhia - falei convencida, nem dando atenção ao comentário sobre a minha demora.

—Verdade - os olhos dele se suavizaram ao encontrar os meus, e algo me dizia que se alguém olhasse naquele momento, pareceríamos dois bobos - vem, vamos logo.

Ele estendeu a mão, que eu peguei na minha e traçamos o caminho até o carro dele. A ida ao mercado realmente foi rápida, compramos apenas o que ele disse não ter em casa, e algumas besteiras para completar a sobremesa. Ao chegarmos na casa dele, ele se ocupou com a maioria das sacolas, ficando impossibilitado de abrir a porta.

—Pega a chave aqui, amor - ele indicou com a cabeça o bolso direito da calça e eu fiz como ele pediu, transferindo os meus volumes para uma mão só.

Não tive dificuldades em achar a chave certa, ela já tinha passado pelas minhas mãos anteriormente, mas aquela foi uma cena tão simples e comum, que denotava toda a proximidade que agora realmente tínhamos, eu abri a porta com um sorriso enorme no rosto, apenas para se transformar em confusão ao ver o estado da casa dele.

—Meu Deus, o que aconteceu aqui? - tinham coisas espalhadas por todos os lados, gavetas abertas, nada estava no lugar.

—Me esqueci que tinha deixado as coisas meio bagunçadas - ele comentou um pouco sem jeito, ao ir deixar as compras na cozinha.

—Meio? Parece que aconteceu algum desastre natural nessa casa - eu disse rindo, mas na verdade já morrendo de vontade de colocar tudo no seu devido lugar, esse era o tipo de coisa que me dava quase coceira.

—Eu tava com pressa - ele deu de ombros.

—Pode me explicar direito eu vou adorar saber - me coloquei ao lado dele, e ajudei a tirar as coisas das sacolas.

—Antes de ir atrás de você, eu quis achar o bilhete e… - ele fez uma pausa e me olhou como se estivesse pensando se devia continuar ou não.

—E? - ele estava sonhando se achava que eu não ia insistir em escutar tudo.

—E as alianças.

—Ah - não me toquei de que ele ainda teria aquilo, e eu estaria mentindo se dissesse que não me incomodou nem um pouco, porém eu deixei isso de lado - onde elas estão? - foi uma pergunta válida, já que eu tinha visto apenas o bilhete, e se dependesse de mim, daria o mesmo tratamento às alianças.

—Joguei fora - ele falou decidido, e a minha cara de surpresa ficou evidente.

—Estão no lixo, então?

—Não, joguei num lago - ele deu um sorrisinho antes de continuar - eu consigo ser bem teatral também.

Ele parecia uma criança levada ao contar a ação, e eu acabei rindo, por mais que estivesse satisfeita de saber que ele se livrou de tudo que ainda restava daquela mulher. Sem muita demora, ela começou a preparar os ingredientes e fazer a janta. Eu não tinha muito o que fazer, já que ele não tinha me deixado ajudar por ter prometido cozinhar, então fui me ocupar de outra maneira. Fui até a sala e comecei a colocar tudo no lugar, ou pelo menos no que eu achava ser o lugar.

—Mione, não precisa arrumar essas coisas, depois eu dou um jeito! - ele reclamou quando percebeu o que eu estava fazendo.

—Não estou fazendo nada, só dando um jeitinho - desconversei, arrumando o conteúdo do armário que ficava embaixo da televisão.

—Um jeitinho… esqueço como você gosta de tudo arrumado - ele zombou - mas se controla, deixa isso aí, não foi você que bagunçou, vem abrir um vinho para nós.

—Sua oferta está ficando tentadora - ele me incentivou um pouco mais e eu acabei concordando, só dando uma última ajeitada nas almofadas da sala, passei pelo balcão para pegar um abridor de garrafas, e acabei notando o imã quebrado que se encontrava ali - poxa, quebrou - comentei avaliando melhor.

—Foi sem querer - ele explicou, me olhando com culpa escrita na cara.

—Não precisa ficar com essa cara - eu me aproximei dele, abraçando-o pelas costas enquanto ele mexia a panela do molho que já estava cheirando bem - eu compro outro.

—Agora você já sabe o que me fez ir atrás de você.

—O imã? - olhei confusa para ele, que assentiu com a cabeça.

—Quebrou de um jeito que eu não queria que acontecesse com a gente - ele explicou, e não precisou de mais palavras para que eu entendesse.

Passamos o resto do final de semana tão grudados quanto possível, as semanas que passamos separados serviram mesmo para nos mostrar que era muito melhor estarmos apenas à alguns palmos de distância um do outro. No domingo a noite, eu tive que voltar para casa, pois não tinha vindo com o meu carro, e ele claro, veio junto. Antes de sair para trabalhar, eu o deixei em casa, nos despedindo com um beijo que na verdade eu não queria que acabasse, era difícil colocar a vida real no meio do meu sonho que tinha começado na sexta feira.

Cheguei ao escritório doida para falar com o Ced, eu precisava contar para alguém sobre tudo o que tinha acontecido, espalhar um pouco a minha felicidade, que eu tinha certeza estar evidente até no jeito com o queal eu andava, e ele era a pessoa ideal para isso, até porque foi quem me ajudou em todos os momentos. No entanto as hora foram se passando e ele não apareceu, fiquei preocupada, pois nem ele chegava tão atrasado, e resolvi ligar para ele.

—Ced? - chamei, ao ouvir uma voz fraca do outro lado da linha.

—Oi, Mi - ele falou, apesar de ter soado mais como Bi, alguém estava resfriado.

—Você não vem hoje?

—Estou com a cara horrenda de quem pegou um resfriado, não quero me olhar nem no espelho, imagina sair na rua - ele explicou sentido - já ia ligar para avisar, acordei agora, esse remédio me derruba.

—Tenho certeza que você continua lindo, mesmo com o nariz vermelho - brinquei - mas fica descansando, só é uma pena que eu não vou poder te contar as novidades…

—Novidades? - eu não precisava estar ao lado dele, para saber que o ânimo dobrou de tamanho.

—Depois a gente conversa direito, pelo telefone não tem tanta graça.

—Ah, Miiiiiiiiii! Não faz isso comigo.

—Melhora logo, que eu te conto tudo.

—Só uma diquinha então, pra me fazer feliz.

—A dica é que eu estou feliz.

—Ai, minha Nossa Senhora do até que enfim! - ele deu uma pausa na celebração, para lutar com alguns espirros - não acredito que fui ficar doente logo agora, tem certeza que não quer passar aqui depois do trabalho?

—E ficar doente também? Não obrigada.

—Sua chata, nem para ser solidária comigo - ele resmungou - mas não se preocupe, no máximo na quarta eu estarei de volta, belo e radiante, e aí você vai poder me enjoar a vontade com toda a sua felicidade enquanto eu te olho convencido por ter estado certo o tempo todo.

—Nem doente você perde a pose - falei com tom de deboche.

—É só uma gripe, não estou em estado terminal - falou dramático.

—Tá bom, Ced - eu precisava trabalhar e ele descansar, hora de terminar aquela ligação - melhoras pra você, vou voltar para a minha pilha de papéis.

—Obrigada, chefinha. Sinta muito a minha falta.

—Não poderia ser diferente - concedi, animando-o.

Nos despedimos e eu voltei a me ocupar dos meus afazeres. O dia passou rápido e sem acontecimentos. O Ron me avisou que sairia mais tarde do que o normal do escritório, então nos veríamos só no dia seguinte, desse modo eu fui direto para casa depois do expediente. Até as coisas mais bestas pareciam agradáveis para o meu humor que estava nas nuvens, eu jantei e no entanto, antes de tomar banho, uma ideia meio arriscada tinha surgido na minha mente. Talvez a felicidade que eu sentia estivesse me influenciando a querer ver todo mundo feliz, então decidi fazer uma visita à minha vizinha que eu sabia estar passando por um momento delicado. Depois que o Ron me explicou o que aconteceu com os pais dele, eu consegui entender melhor as razões da Ginny para ter reagido da maneira que fez, porém, eu sabia também que estar longe do Harry, não era o que ela realmente queria, e muito menos ele. Eu não tinha pretensões de conseguir resolver nada por eles, mas um ombro amigo e algumas palavras por outra perspectiva, talvez ajudasse um pouco.

Ela abriu a porta com a mesma cara desanimada que tinha ao me visitar na semana passada, mesmo assim me convidou para entrar. Eu falei que o Ron tinha me contado tudo, o que ela não encarou com naturalidade, ao julgar pelo semblante dela. Uma coisa levou a outra, e eu acabei perguntando o que ela via de problema no Harry, recebendo como resposta a confirmação de que no fundo medo era o que ela tinha. No final das contas, eu a aconselhei a procurar por ele, deixando de lado um pouco da minha política de não divulgar assuntos alheios ao contar que ele estava mal no dia em que brigaram. Ela achava que a vida estava boa antes da reviravolta que o Harry havia causado em tudo, mas eu vi que ela não sabia mais viver num mundo em ordem, a bagunça já fazia falta.

Eu falei o que podia para ajudar, e percebi a Ginny querendo mudar de assunto ao me perguntar sobre mim e o Ron, eu ainda precisava conciliar de verdade o fato de eu que estava namorando o irmão da minha melhor amiga, mas isso se resolveria logo, entrei no novo assunto, aproveitando para perguntar coisas que eu estava muito interessada em saber.

—Me conte sobre vocês, agora está tudo certo? - ela indagou.

—Sim - respondi sem conseguir conter o meu sorriso, mas ao mesmo tempo não querendo esfregar a minha felicidade na cara dela - ele fez um discurso muito convincente.

—Até que enfim ele me ouviu e deixou de fazer merda - ela falou irônica, revirando os olhos.

—Sim, ele me contou tudo e… - fiz uma pausa, pensando em como colocar em palavras.

—E você não resistiu? - ela me olhou com um sorriso maldoso no rosto que me fez ficar ligeiramente sem graça, nunca tínhamos falado tão às claras sobre o meu relacionamento com o Ron.

—Exato - confirmei, me distraindo ao me lembrar da cena.

—Ai, ai, é assim que eu vou encontrar o Ron também? Suspirando alegre pelos cantos?

—É bom que sim! - afirmei incisiva, o que a fez rir de novo.

—Estou contente que vocês tenham se acertado, Mione, meu irmão é um idiota às vezes, mas é um idiota gente boa.

—Obrigada, também estou feliz - eu fiz uma pausa antes de tomar coragem para continuar - Gin… eu queria te fazer uma pergunta.

—Sobre? - ela me olhou interessada.

—Sobre uma das idiotices do seu irmão, uma das bem antigas - expliquei, sentindo que a minha expressão perdeu o brilho que tinha até  então.

—Ah - pela cara da minha amiga, eu sabia que ela tinha entendido - você está falando da vaca.

—Sim, ele me contou o que aconteceu, eu não quis saber muitos detalhes, não preciso disso pesando na minha cabeça, mas eu queria saber o que você achava dela, um olhar que não fosse… - como explicar a razão da minha pergunta?

—O dele? - ela sugeriu.

—Isso.

—Vou ser bem sincera, Mione. Eu não entendo até hoje o que o meu irmão viu naquela mulher, e o maior dia de sorte da vida dele foi quando ela foi embora, não, pensando bem foi o segundo maior dia de sorte.

—E qual foi o primeiro?

—Quando eu nasci na família dele, claro - ela deu de ombros, rindo.

—Você não ficou triste quando ela foi embora?

—Triste? - ela me olhou exasperada - tava mais para querer socar a cara da barbie. Se você visse como ele ficou…

Eu não precisava ter visto para sentir a mesma indignação que ela, ou a pontada de tristeza que me acometeu ao pensar que existiu alguém que o machucou dessa forma.

—Mas vamos pular essa parte - ela logo desconversou ao ver a minha cara - o que importa é que eu não senti o mínimo de tristeza ao saber que não ia ter que colocar mais os meus olhos naquele cabelo platinado.

—Ai meu Deus, ela era loira platinada? - que falta de bom senso, pelo jeito, em termos de moda eu também não precisava me preocupar.

—Parecia realmente a barbie, e tão desmiolada quanto - ela completou ácida, não tinha nem um pingo de amor por ali.

—Sou muito péssima ao ficar feliz por você não gostar dela? - zombei.

—Nem um pouco, acho que nem a mãe dela devia aturá-la.

—Ai, Gin, não precisa exagerar - tentei apaziguar o desgosto que eu acabei desencavando, pelo jeito minha amiga tinha muitas opiniões sobre a ex esposa do irmão.

—Juro que não estou exagerando - o mais engraçado era notar que o Ron estava certo, ela estava se divertindo ao falar mal da ex cunhada.

—Tá bom, então - preferi concordar logo - pelo jeito não preciso pensar mais nesse assunto.

—Não perca seu tempo, Mione. Primeiro, porque ela sumiu do mapa,  segundo porque ela não vale a pena em nenhum sentido, e agora o Ron sabe disso perfeitamente. E terceiro, mas não menos importante, você é muito superior, só não fique se sentindo.

—Não vou, prometo - porém o tamanho do meu sorriso dizia uma história muito diferente.

Notei que a Ginny estava cansada, depois de um dia todo de trabalho, ela provavelmente estaria precisando descansar, então eu falei que já estava indo, e ela me levou até a porta.

—Tchau, Gin - eu a abracei - pensa com carinho no que falamos antes, quero te ver tão feliz quanto eu.

Ela não respondeu, apenas assentiu de leve com a cabeça, mas eu sabia que a tinha deixado com muito o que digerir. Cruzei a pequena distância até o meu apartamento, pensando que ainda tinha uma pessoa com a qual eu precisava falar, e por sorte eu havia pedido o telefone dele recentemente. Sentei no meu sofá assim que peguei o meu celular e selecionei o contato do Harry, se o Ced estivesse ali, provavelmente zombaria da minha atitude, dizendo que eu estava bancando de cupido, mas eu não me importei nem um pouco, eram meus amigos, duas pessoas que eu queria ver felizes, além de eu saber que o meu assistente faria a mesma coisa, até pior se bobeasse.

—Oi, Harry - cumprimeitei assim que ele atendeu.

—Mione? - ele pareceu meio surpreso ao me encontrar do outro lado da linha - você perdeu seu carro dessa vez? - brincou.

—Não, ele está direitinho na garagem, só queria saber como você está.

—Bem - ele falou sem rodeios.

—Essa é a resposta padrão, agora pode me dizer a de verdade - insisti, não tinha como ele estar realmente bem, eu vi em primeira mão como ele tinha ficado depois da briga.

Primeiro eu ouvi um suspiro profundo, antes da resposta que eu pedi.

—Eu to bem, sério, mas essa sua amiga faz falta, sabia? A vida era mais legal com a bagunça que ela fazia.

—Claro que é - confirmei, sentindo o tom de tristeza que ele tentou esconder - tenho certeza que ela sente sua falta também - comecei na parte de ajudar.

—Não sei quanto a isso, não foi o que ela deu a entender da última vez que nos falamos.

—Harry, vocês falaram o que nem sentem naquele dia -  como eu podia ajudar sem ultrapassar barreiras do que seria aceitável? Eu não ia me intrometer no que não me dizia respeito - e se você ainda pensa em levar essa relação em diante, precisa preparar a paciência e a empatia, você vai ter que usar mais do que nunca.

—Você falou com ela?

—Um pouco - confessei.

—Você já sabe o que aconteceu, não sabe?

—Ela não me contou, Harry - desviei abertamente dessa resposta, eu não queria deixá-lo magoado - e em todo caso não seria o meu lugar te contar nada disso.

—Claro, obrigado pelo conselho, Mione, mas não vou precisar. Ela não vai vir me procurar e eu cansei de ser o otário que vai sempre atrás dela - ele não falou com raiva, pareceu apenas conformado, o que conseguiu me deixar mais triste ainda por ele.

—Eu pensei a mesma coisa sobre o Ron, e agora as coisas se ajeitaram.

—Sério? Que bom, Mione, fico feliz por vocês.

—Talvez as coisas terminem de um jeito diferente entre vocês também dessa vez - e tinha plena confiança nessa afirmação, só esperava poder passar um pouco desse sentimento para ele.

Nos despedimos pouco tempo depois. Eu não sei se tinha feito algum bem ao ligar, mas eu tinha que tentar, eu e o Ron já estávamos felizes, agora só faltava aqueles dois teimosos, e eu que achava que não existiria ninguém mais lerdo do que nós.


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Notas finais do capítulo

Oooown como estão fofos agora, esses dois, não? Até de amor ele já a chama (vocês não sabem o quanto ele se segurava pra não fazer isso antes, apaguei várias vezes da história nos capítulos anteriores hauauha)
O que vcs acharam da resuloução da "briga" deles? Vamos esperar que tenha sido suficiente se livrar das alianças e do bilhete, para que ninguem precise mais nem pensar na vaca horrorosa que abandonou o Ron, só falta o Ced ouvir a história! Algo me diz que ele vaiter ótimas opiniões sobre o assunto...
E a Mione tentanto dar uma forcinha para a Ginny e o Harry? Momento #amigacupido, mas acho que ela fou até sutil, espero que eles se resolvam logo.
Espero mais uma vez os comentários de vcs ;)

Bjus

Crossover: tenho certeza que vcs estão se mordendo de curiosidade para saber o que aconteceu aos papais Weasley, não percam nenhum capítulo de DV! Lá vcs podem ver melhor como foi a conversa entre a Mione e a Ginny.