Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 1
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Olá galera me empolguei tanto com essa história de escrever que já me meti a começar outra história :)
Fiquei mais do que feliz em receber o convite da Paulinha para escrever um spin off Romione da história dela chamada Déjà vu, que para quem ainda não acompanha aqui está o link:
https://fanfiction.com.br/historia/687490/Deja_vu/
Leiam pois o enredo é ótimo e a escrita da Paulinha é melhor ainda, eu não me canso de ver novas encarnações do Harry e da Ginny que saem de dentro da cabeça dela.
Ambas as histórias vão caminhar juntas, mesmo que o tempo não se passe igualmente entre os capítulos das duas.
Não é estritamente necessário ler as duas, mas algumas cenas só serão retratadas pelo ponto de vista de uma das garotas, e algumas coisas que começam em uma das histórias tem repercussão e explicação na outra, então eu aconselho a não perder nenhum detalhe! ;)

Para quem está em dia com Déjà vu, Backstage começa quando o Harry e a Ginny já se conheciam há 3 semanas.

Enfim, espero que vocês gostem, eu amo esse casal e acho que nunca direi que já os vi em histórias de mais.



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CAPÍTULO 01

O despertador do meu celular insistia em me dizer que já era a hora de levantar, mas como era possível se eu havia fechado meus olhos o que me parecia ser meros segundos atrás? Finalmente me rendi, e ao pegar o objeto para desligar o barulho enervante, percebi que já estava atrasada, mais um dia sem café da manhã para mim.

Levantei-me com um pulo e bati meu recorde pessoal de me arrumar em menos de quinze minutos. Meu quarto teria que ficar com a cama desfeita e as roupas que eu usei para decidir meu look do dia permaneceriam espalhadas. Eu odiava desordem, mas odiava mais ainda chegar atrasada. Fechei a porta do meu apartamento terminando de ajeitar os cabelos e quando o elevador chegou trazendo minha vizinha Ginny de volta ao nosso andar com cara de cansada, provavelmente por causa de mais um plantão, tudo o que eu tive tempo de dizer foi:

—Oi Gin, tenho que ir, depois nos falamos, tchau.

A porta se fechou deixando como última cena, o sorriso bem humorado no rosto da minha amiga, depois de tantos anos morando lado a lado, ela já havia se acostumado com a minha velocidade anormal com as palavras, contudo ela tinha me dito que nunca deixaria de ser engraçado.

Felizmente, o trânsito contribuiu para que eu não me atrasasse ainda mais, entrei no estacionamento do prédio comercial onde ficava a sede da companhia de moda para a qual eu trabalhava e estacionei meu carro de qualquer jeito na vaga destinada a mim. O percurso até a minha sala foi feito com a velocidade máxima que os meus saltos me permitiam, e ao finalmente chegar a minha mesa, eu desabei na minha cadeira, tentando aquietar o meu fôlego que estava totalmente descompassado pelo esforço.

Estávamos a apenas alguns meses do desfile que lançaria a nova coleção da loja, o que significava trabalho a mais e descanso a menos, eu não podia nem sonhar em perder o horário, pois a lista de coisas a fazer parecia nunca ter fim. Assim que eu consegui me recompor, liguei meu computador para começar os afazeres do dia. Eu sempre chegava muito cedo, então o andar ainda se encontrava em silêncio, minha hora preferida para trabalhar, sem ninguém para atrapalhar. Em breve haveria um trânsito incessante de pessoas atribuladas para todos os lados, com ordens sendo gritadas a torto e a direito e uma boa dose de pânico por parte dos funcionários menos resistentes, ou seja: o caos normal.

Eu sou a encarregada por desenvolver todas as estampas que serão utilizadas nos modelitos do desfile, em resumo, o conceito da arte era de responsabilidade minha. Não adiantava nada a equipe de criação elaborar os melhores modelos de roupas se eles viessem em estampas de sapinhos saltitantes. O padrão dos tecidos definia o tom e a ocasião da vestimenta, a pressão para que tudo saísse perfeito nunca estava longe da minha cabeça. Abri o arquivo que eu havia deixado incompleto no dia anterior e com minha prancheta de desenho, me pus a trabalhar. Em poucos minutos minha concentração estava toda destinada aos desenhos e o mundo a minha volta foi relegado a um plano secundário.

“O mundo da moda é tão fútil”, não existia afirmação que me desse mais raiva. Eu amava o meu trabalho e me enfurecia que o senso comum o diminuísse a ponto de pensarem que tudo pelo qual eu dedicava minhas horas de esforço não valia de nada. Para mim, a criação de uma estampa tinha o mesmo peso de qualquer outro tipo de arte. Uma roupa finalizada tinha o dever de ser uma forma de expressão por parte da pessoa que a usa, e eu adorava ver o sorriso no rosto de nossos clientes quando eles se sentiam satisfeitos com a imagem que nós havíamos criado para eles. Meu trabalho não se resumia a desenhos, e sim possibilitar que as pessoas se sentissem confortáveis e satisfeitas consigo mesmas. Eu certamente não iria ganhar nenhum Nobel da paz, mas eu me sentia completamente realizada.

Os minutos se transformaram em horas e eu fui escutando ao longe o barulho dos meus colegas chegando e começando o dia deles. Quando eu já estava a três horas imersa em minhas criações, uma cabeça de cabelos escuros e sorriso atrevido apareceu pelo vidro da minha porta. Sem nem bater, meu assistente foi entrando em minha sala e começou o seu discurso.

—Bom dia chefinha, o dia está indo bem? – eu não notava nem um pingo de culpa em sua voz, o que me restava era rir.

—Maravilhosamente, Ced. Você chegou bem cedo para amanhã – respondi mantendo o bom humor na minha voz.

Eu tinha desistido de tentar fazer meu assistente seguir meus horários malucos de trabalho, trabalhávamos juntos há muitos anos e eu sabia que ele não era uma pessoa produtiva logo cedo e para a sorte dele, sua eficiência era o que o mantinha seguro ao meu lado. Não tinha como negar que ele resolvia qualquer problema que eu jogasse em cima dele. Para o meu azar, ele sabia disso também, tornando impossível não encarar tudo com bom humor, pois ele saberia que qualquer bronca que eu desse seria no fundo sem validade alguma.

—Surgiram alguns contratempos na vinda para o trabalho, mas cheguei para tirar essas rugas de preocupação do seu rosto, do que você precisa? – ele me encarava, esperando as primeiras ordens do dia, confortavelmente sentado em uma das cadeiras que ficavam na frente da minha mesa.

—Aquelas pastas contém o resto do trabalho de ontem, elas precisam ir para a equipe de produção – apontei para a pilha de papeis que se encontrava amontoada no aparador que ficava no canto direito da sala. – e eu preciso que você ligue de novo para o fornecedor das tinturas e use todo esse seu charme para adiantar a entrega, a corda está no nosso pescoço, Ced, a Dolores quer os previews na reunião do final dessa semana.

—Pode deixar, chefinha, suas ordens serão todas atendidas, não podemos deixar aquela bruxa pensar que nosso departamento não é eficiente! – sua determinação sempre levantava o meu ânimo.

Ele recolheu as pastas e já estava de saída quando se virou e ficou me encarando por algum tempo.

—O que foi? – perguntei curiosa com seu comportamento.

—Nada, mas vou trazer um café pra você também, claramente será necessário – esse meu assistente não perdia nenhum detalhe.

—Como sempre, você leu meus pensamentos – concedi, sabendo que ele sempre ficava feliz ao me agradar.

—Claro, por isso eu sou o melhor!

Antes que eu pudesse elaborar uma resposta para diminuir o ego habitualmente inflado do meu assistente, ele fechou a porta. Nossa relação sempre foi assim, ele era uma pessoa altamente confiante e que sabia de toda sua competência e eu não me importava com isso, desde que ele executasse tudo de maneira correta, ele podia fazer quanta graça quisesse e não tinha como negar que ele mantinha o ambiente de trabalho animado. Essa dinâmica funcionava muito bem, eu tendia sempre a me preocupar demais com tudo e ele era o meu “amortecedor” para que eu conseguisse lidar com essa carga toda.

O restante do dia seguiu como sempre, fui eliminando alguns itens da minha lista infinita, coordenei o restante do meu time, lidei com algumas emergências e tive que gritar com alguns prestadores de serviço, nada que eu já não tivesse feito antes, mas por algum motivo eu me sentia esgotada. Esse ritmo de trabalho estava acabando comigo, eu não via a hora de chegar logo à data desse desfile para que meus dias pudessem voltar a funcionar de maneira menos frenética.

Quando percebi que começava a escurecer, olhei no relógio do computador e já eram 18:30, já passava da hora de eu ter ido embora, trabalhar quase 12h não era saudável para ninguém, por mais que a Ginny como médica discordasse ferrenhamente, no entanto eu sempre tinha dificuldades de sair e deixar meu trabalho incompleto. Eu estava debatendo se ia ou ficava quando senti meu celular tremendo indicando a chegada de uma mensagem.

Um nome que não aparecia há varias semanas naquela tela me encarava, sem parar para pensar muito se eu deveria ler o não o conteúdo daquela mensagem, eu abri o aplicativo:

“Oi Mione, quanto tempo que não nos vemos.”

A decisão acerca da sensatez em responder ou não foi sobrepujada pela irritação que aquela frase me causou, meus dedos agiram mais rapidamente que meu cérebro.

“E de quem é a culpa disso, Ron?”

Um sorriso surgiu em meus lábios quando eu vi os pontinhos que indicavam que uma resposta estava a caminho.

“Ei, a culpa não é só minha, mas você tem razão. Deixa eu me desculpar direito, vem jantar aqui em casa.”

Fiquei olhando para a última mensagem por alguns instantes, o que eu estava fazendo? Quando se tratava do Ron, eu não tinha ideia nenhuma de onde estávamos indo.

Nós nos conhecemos há vários anos atrás quando a Ginny, que é irmã dele, se mudou para o apartamento ao lado do meu. Sou uma boa vizinha e logo que ela chegou, eu me ofereci para ajudar com a mudança. Assim como ela, eu morava sozinha e não tinha tantos afazeres na época, além de que nós nos demos bem desde o primeiro momento. Ele aparecia bastante na casa dela no começo, sendo o irmão mais velho e protetor que era, teve dificuldades de aceitar que a irmãzinha estava segura sozinha.

Algumas semana depois, ele fez uma visita numa tarde em que eu estava lanchando com a Ginny. Não percebi nenhuma surpresa ao me encontrar ali, mas notei que ele me olhava de canto de olho quando achava que eu não estava vendo. Não posso negar que me senti intrigada com a atenção. Sendo dez anos mais velho do que eu, o Ron era um homem maduro, sensato e com a vida decidida, todas qualidades que me atraíam. Sem contar aquele par de olhos azuis e o sorriso que eu tinha presenciado algumas vezes.

Naquele dia, antes de ir embora ele pediu meu telefone para poder ter algum meio de entrar em contato com a irmã em caso de alguma emergência. A atitude me pegou de surpresa, mas eu concordei rapidamente. No fundo eu queria mais é que ele usasse o número recém-adquirido. Não foram nas próximas semanas que meu desejo foi atendido, mas alguns meses depois, no inicio da noite, quando eu já me encontrava em casa, meu telefone tocou e um número desconhecido estava no visor.

—Alô, quem é? – atendi, curiosa para saber quem estava me ligando.

—Oi, aqui é o Ronald, irmão da Ginny, lembra de mim? – respondeu uma voz grave do outro lado da linha.

—Claro, em que posso ajudar, Ronald? – não sei da onde surgiu aquela formalidade toda, mas de repente me senti tímida.

—Desculpa te incomodar uma hora dessas, é que eu estou viajando a trabalho e precisava avisar a Ginny que cheguei bem, vou ficar sem sinal, mas não consegui falar com ela, ela deve estar de plantão, você poderia avisá-la por mim? – senti em sua voz o quão encabulado ele estava em ter que me pedir esse favor.

—Claro, sem problema algum. Assim que ela voltar amanhã eu aviso. – consegui mascarar o nervosismo em minha voz.

—Muito obrigado mesmo, Hermione, eu não gosto de deixar minha irmã preocupada sem razão.

—Você é um ótimo irmão, a Ginny tem sorte – o comentário saiu antes que eu pudesse segurar a minha língua.

—Até parece, é o meu trabalho – escutei um riso fraco em sua declaração – bom, não vou mais tomar o seu tempo. Boa noite, Hermione e obrigado novamente.

—De nada, e boa sorte com seu trabalho – eu me peguei querendo que essa ligação não terminasse, mas era inevitável. Eu já estava prestes a desligar quando ele falou por fim.

—Bons sonhos, durma bem – antes que eu pudesse responder ele desligou.

Aquela última frase provavelmente veio do hábito de anos de cuidar da irmã mais nova, mas o efeito que causou foi o de justamente me fazer pensar nele pelo resto da noite.

Foi assim que tudo começou, algumas ligações, sempre com a Ginny como razão, e alguns encontros casuais quando estávamos ambos na casa dela. Até que um dia a ligação não teve nada a ver com a irmãzinha. Atendi esperando acudir mais uma emergência fraternal e fui surpreendida por um convite para jantar. A surpresa não foi o suficiente para me fazer recusar, e aceitei o primeiro de muitos convites que se seguiriam. De conversas, em pouco tempo nossos encontros evoluíram para beijos e muito mais, desde o princípio estabelecemos que aquela era uma relação casual e não tínhamos obrigações um para com o outro. Por mais que já tivesse estado lá várias vezes, e nunca tinha dormido na casa dele, da mesma maneira que ele sempre achava uma desculpa para não dormir na minha.

Essa relação era o suficiente para o que queríamos a princípio, eu sinceramente não levava a sério que fosse durar muito tempo, mas os meses viraram anos a depois de tanto tempo, ainda não tínhamos nem dado um fim aquela situação e nem evoluído para lugar algum. Às vezes passávamos semanas sem nos falar, mas eu não conseguia mais simplesmente partir para outra. Cheguei a namorar outras pessoas nesse meio tempo, mas no fim das contas sempre voltamos a nos ver, como se nada tivesse acontecido.

O Ron era uma pessoa maravilhosa, mas eu sabia que ele não queria nada a mais, eu já não entendia o que estávamos fazendo e para uma pessoa que tinha concordado com uma relação causal e sem compromisso, eu estava falhando em não me importar com a falta de ciúmes dele ao saber que eu estive com outra pessoa, ou mesmo com a falta de interesse dele de que nosso caso pudesse ser algo mais.

Eu ainda não tinha respondido a mensagem que ele havia me mandado, e com um suspiro, me rendi ao inevitável.

“Hoje? É quinta feira, tenho que estar cedo na empresa amanhã.”

Por um momento, pensei que ele fosse desistir do convite, o que me deu uma pontada de decepção, eu realmente sentia falta daquele sorriso, de escutar a voz dele no meu ouvido e de sentir as mãos dele no meu corpo.

“Se não der tudo bem, mas eu ia fazer seu prato favorito.”

“Golpe baixo, Ron, eu nunca resisto a sua lasagna!” Minha resposta trouxe um riso involuntário aos meus lábios, queria ver se ele ia captar a mensagem.

“Lasagna? Seu prato favorito mudou? O rondele já está meio pronto.”

Um sentimento de satisfação me animou, podia até ser uma atitude infantil, mas por mais que a nossa fosse uma relação estritamente casual, eu gostava de saber que ele prestava o mínimo de atenção.

“Foi só um teste. Que horas? Eu levo o vinho.”

“A hora que você quiser, já estou te esperando”

Depois de uma resposta dessas, eu não ia ficar nem mais um momento no trabalho, a decisão de ir embora tinha sido tomada.

“Eu chego em 40 minutos”

Terminei o último retoque que eu estava fazendo e desliguei meu computador, juntei todas as minhas coisas o mais rápido que pude e me dirigi para a porta, assim que passei pela mesa do Cedrico, seu comentário chegou aos meus ouvidos:

—Onde é o incêndio que você vai apagar, chefinha? Nunca te vi saindo daqui com tanta pressa numa quinta feira... – suas sobrancelhas levantadas denunciavam sua provocação, ao longo desses anos, ele já tinha me escutado ao telefone com o Ron e sabia da existência da nossa “não relação”, e sendo o observador insuportavelmente bom que era, as chances eram de que ele sabia exatamente onde eu estava indo.

—Quem te disse que eu quero apagar o fogo? – respondi entrando na graça.

—Touché! Pode chegar mais tarde amanhã, eu juro que não conto pra ninguém. – rebateu enquanto eu já me dirigia ao elevador que ficava bem próximo à mesa dele.

—Claro que não, porque eu estarei aqui na hora exata que tenho que estar, e mesmo que não estivesse, você ainda não teria chegado para ver – as portas do elevador se fecharam e eu não pude escutar a resposta falsamente ultrajada que ele com certeza tinha formulado.

Em menos de vinte minutos me dirigi ao supermercado mais próximo e selecionei uma garrava de vinho que, a experiência de muitos anos tinha me ensinado, estava entre os favoritos do Ron. A casa dele não ficava tão perto de onde eu trabalhava, foram mais uns vinte minutos até chegar lá, com todo o transito que se espera nesse horário. Embiquei meu carro na entrada do condomínio e o porteiro, que já me conhecia, abriu o portão para que eu pudesse entrar e percorrer o curto caminho que levava até a garagem da casa dele, onde eu estacionei em uma das duas vagas que eu já visitava há muito tempo.

Ao juntar minha bolsa e a sacola das compras, não pude deixar de notar mais uma vez a ironia da situação, eu era tratada praticamente como uma moradora do condomínio quando essa afirmação não podia estar mais longe da verdade. “Pare de se lamentar, Hermione”, ultimamente eu caí em um padrão de pensar demais sobre a relação que não tínhamos, era necessário que eu lembrasse a mim mesma que não levaria ao lugar nenhum criar expectativas, as coisas eram do jeito que eram, e se cinco anos eram algum indicativo, elas não mudariam nunca e eu nem sabia direito se eu queria que mudassem.

Percorri o caminho de tijolinhos do jardim até chegar à porta da casa dele que como de costume estava destrancada. Não me incomodei nem em tocar a campainha e entrei. A mesma sala com móveis escuros e um sofá cor areia me recebeu. Notei que a ligeira desordem ainda estava presente e não pude deixar de sentir a familiaridade com o local. Atravessei a sala e fui para a cozinha da onde um cheiro delicioso de comida estava saindo.

O Ron se encontrava debruçado sobre a bancada da pia de costas para a porta, ele estava cortando alguma coisa em cima de uma tábua e eu fiquei alguns segundos observando os braços dele trabalhando. Quando julguei já estar a tempo demais espiando para que isso parecesse inocente, resolvi anunciar a minha presença.

—Olá, cheguei – murmurei.

Ele se virou rapidamente e me recebeu com o sorriso que eu mais gostava.

—Oi, você chegou rápido – ele respondeu olhando o relógio no seu pulso, constatando que de fato eu tinha cumprido os 40 minutos – sempre tão pontual, essa minha Hermione – ele já estava próximo de mim para me dar um abraço e essa frase foi dita quase no meu ouvido.

Eu sabia que não significava absolutamente nada além de um modo de falar, mas ouvi-lo dizendo “Minha Hermione” fez uma das batidas do meu coração perder o ritmo. Eu estava sendo idiota, o melhor era mudar de assunto.

—O cheiro está delicioso, ainda bem, porque eu estou faminta – declarei depois de receber um beijo rápido.

—Ainda vou levar uns dez minutos, você espera? – indagou com um sorrisinho atrevido no canto da boca.

Essa pergunta já era quase um ritual, às vezes não estávamos com vontade de esperar a comida ou qualquer outra coisa e logo que nos encontrávamos nossas roupas eram rapidamente tiradas do caminho para que fossemos direto ao assunto que tinha nos levado ao encontro, outras vezes nos comportávamos como pessoas mais pacientes e o jantar vinha antes.

—Espero, vou abrir o vinho enquanto isso.

Retirei a garrafa de dentro da sacola que eu tinha deixado na sala e voltei à cozinha depositando o objeto em cima do balcão. Passei por trás dele e me inclinei ao seu lado para alcançar as prateleiras do armário onde eu sabia que se encontravam as taças e o abridor de garrafa, a cozinha até que era grande, mas eu não fiz esforço nenhum para impedir que meu corpo encostasse-se ao dele no processo.

—Se você continuar me provocando assim, vai ter que esperar mais tempo pelo jantar – ele falou rindo quando eu já tinha minhas mãos ocupadas com os objetos que eu queria pegar.

—Não faço ideia do que você está falando – retruquei com a maior cara de inocente, mas não demorou muito para que um sorriso brotasse em meus lábios.

Ele se inclinou e me deu um beijo demorado até que o apito do timer o fez se afastar para ir tirar nosso jantar do forno.

Abri a garrafa, servi o vinho nas taças e terminei de colocar a mesa, que se encontrava parcialmente arrumada sobre o balcão da cozinha, enquanto ele dava os toques finais na nossa comida.

Não era novidade declarar que o jantar estava uma delicia, ao longo do tempo que eu conhecia o Ron, ele melhorou de um cozinheiro competente para um realmente bom, e eu sabia por meios nada louváveis que meus pratos preferidos estavam entre as especialidades dele, o que me deixava ridiculamente feliz. Às vezes até eu me admirava das minhas próprias bobeiras, mas eu não ia compartilhar isso com ninguém, então eu estava completamente livre de julgamentos.

Comemos tranquilamente, a garrafa de vinho sendo esquecida na metade, conversando sobre o que tinha acontecido desde a última vez que nos vimos. Por mais que estivéssemos em uma relação casual, nós conversamos sobre uma infinidade de coisas, sabíamos as preferências um do outro, apenas quando os assuntos chegavam muito perto de adentrar em tópicos muito particulares é que a conversa tomava rapidamente um novo rumo. Até hoje eu não sabia nada sobre a família dele, de tudo o que eu já quis saber, isso era algo sobre o qual eu nunca consegui arrancar nada, o passado dele não era algo que ele gostasse de compartilhar, e eu respeitava isso, pois na posição em que eu estava, era tudo o que eu podia fazer e em contrapartida me reservava o direto de não responder algumas das perguntar curiosas que ele me lançava também.

Terminamos de comer, sem nos preocupar em levar os pratos para pia e quando nossa paciência chegou ao limite máximo, ele se levantou e me puxou em sua direção, passando os braços em minha cintura e colando seus lábios nos meus. Eu seria a maior mentirosa do mundo se dissesse que não tinha sentido falta dele, da sensação da boca dele na minha, do calor que subia pela minha pele quando ele passava suas mãos em minhas costas. Não demorei muito em enrolar meus dedos em seus cabelos do jeito que eu sabia que ele gostava, enquanto minha outra mão se ocupou em explorar a pele do seu abdômen por baixo da camiseta larga que ele usava.

Ele afastou seus lábios dos meus e trilhou um caminho de beijos por meu pescoço e eu não consegui evitar a pergunta que eu estava querendo fazer desde que cheguei.

—Posso saber a razão desse jantar numa quinta feira? E depois de tanto tempo sem me ligar... – eu ia continuar a frase, mas perdi o fôlego, do modo que ele sabia que eu faria quando ele mordiscou a minha orelha.

Ele levantou o olhar até encontrar os meus, suas pupilas dilatadas denunciavam todo o desejo que se encontrava ali, e sorriu maliciosamente antes de responder:

—Eu estava morrendo de saudade de ver essas suas roupas estilosas no chão, por que esperar até sábado?

Eu costumava gostar dele dizendo que queria ver as minhas roupas no chão, não foram poucas as vezes que eu havia escutado isso, mas das ultimas vezes comecei a ficar decepcionada com a resposta, não conseguia evitar a sensação de querer que a saudade que ele sentisse fosse de mim e de mim apenas. Sem deixar que ele percebesse minha reação eu me apressei em responder.

—Tá esperando o que?

Foi todo o incentivo que ele precisou para continuar, ele calou minha resposta com mais um beijo, sua língua explorando minuciosamente minha boca, enquanto seus dedos começaram a desfazer os botões da minha camisa. Não perdi tempo em puxar sua blusa para cima e ele parou rapidamente o que estava fazendo para se livrar de vez dela. Em poucos instantes as minhas roupas “estilosas” se encontravam no chão da cozinha ao lado das não tão estilosas roupas dele, tudo o que nos separava eram a minha lingerie e a cueca que ele usava.

—Pronto, as minhas roupas já estão no chão, já está satisfeito? Posso ir pra casa se você quiser – não resisti à provocação.

—De jeito nenhum! Temos assuntos inacabados ainda – eu ri da sua resposta e ele me virou de forma que eu ficasse entre ele e o balcão da cozinha.

A exploração dos seus lábios recomeçou, ele afastou a alça do meu sutiã e lambeu de leve o meu ombro, o que arrancou um gemido baixinho dos meus lábios. Encorajado pela minha reposta ele continuou o caminho até chegar aos meus seios, se meu folego já estava entrecortado, naquele momento todo o ar me abandonou de vez.

—Acho que não fiz o trabalho direito, você ainda está com muita roupa pro meu gosto – ele passou as mãos por trás das minhas coxas com a intenção de me levantar para cima da mesa.

Eu me aproximei do seu ouvido e sussurrei:

—Vamos para o quarto, se continuarmos aqui eu não vou ter pique pra ir trabalhar amanhã.

—Longe de mim cansar demais você – ele respondeu bem humorado – seu desejo é uma ordem.

Ele me levantou e eu passei minhas pernas ao redor de sua cintura e ele percorreu a curta distância até o quarto sem desgrudar sua boca da minha como havíamos feito inúmeras vezes.

Ele me deitou na cama que eu já conhecia intimamente e se ajoelhou entre as minhas coxas antes de perguntar:

—Mais confortável agora, senhorita?

Ele estava bem engraçadinho naquela noite, mas eu adorava seu bom humor.

—Agora sim – respondi puxando ele em minha direção, ansiosa por sentir seu corpo sobre o meu.

Com mãos altamente habilidosas ele conseguiu abrir o fecho do meu sutiã e jogá-lo no chão ao lado da cama. Suas mãos me acariciaram ali por alguns momentos antes de descerem em direção a minha cintura, onde ele afastou a minha calcinha para baixo, apertando de leve a pele no interior das minhas coxas e arrancando mais suspiros de mim.

Era a minha vez de arrancar gemidos dele, capturei seus lábios novamente em um beijo e encaminhei minhas mãos por suas costas até alcançar o elástico da cueca dele, sem me apressar, passei meus dedos por debaixo do tecido e escutei com satisfação um gemido grave soando bem perto do meu ouvido. Ele cobriu uma de minhas mãos com a dele e a empurrou para baixo, eu decidi atender de uma vez por todas a vontade dele e me livrei da última barreira que nos separava.

O ritmo mudou agora que não tínhamos mais nada entre nós, seus lábios e suas mãos pareciam estar em todos os lugares, ele afastou minhas coxas me acariciando exatamente onde eu queria, eu senti um arrepio gostoso subir pela minha espinha e arqueei minhas costas em sua direção, nada mais de esperar, tudo o que queríamos naquele momento era um ao outro.

Deleitamos-nos no prazer que sentíamos e quando terminamos, levamos alguns instantes para recuperar o fôlego. Ele rolou para o meu lado, e num gesto não tão comum passou seu braço por baixo da minha nuca e se aproximou de mim. Ficamos calados por alguns minutos, sua testa colada a minha e nossas respirações se misturando com a proximidade. Me peguei querendo saber como seria acordar no dia seguinte ainda enlaçada por seus braços fortes, mas eu sabia que não adiantava nada, eu iria embora como sempre a na manhã seguinte tudo permaneceria como sempre foi. Percebi que ele olhava atentamente para mim e temi que pudesse ter, de alguma maneira, adivinhado os meus pensamentos.

—Já está bem tarde – até que tinha demorado muito, o comentário dele me indicou que era hora de eu ir embora.

—Vou parecer um zumbi amanhã – respondi tentando suprimir minha decepção por mais uma vez ir embora no meio do noite, parecia que o que me restava era uma sucessão de desapontamentos, a razão que me compelia a continuar a vir toda vez que ele convidava e a chamá-lo quando eu queria,  estava além da minha compreensão.

—Até parece, você nunca está nada além de linda – ele falou beijando a minha testa e se afastando para que eu pudesse me levantar.

Eram exatamente momentos como esse que me faziam voltar, a mistura de carinho com sua falta de interesse calculada jamais deixava de me confundir e eu nunca fui boa em deixar quebra cabeças sem solução.

—Já vou indo – levantei da cama, recolocando as peças de roupa que estavam ali perto, notei seus olhos sonolentos e completei – não precisa se levantar eu sei o caminho da saída.

Ele me olhou para protestar, mas eu me inclinei para calá-lo com um beijo.

—Até a próxima, Ron – dei um último selinho e me dirigi à cozinha para terminar de me vestir.

No início, as nossas despedidas me deixavam nervosa e encabulada, mas isso tinha sido há muitas vidas atrás, estávamos nesse arranjo a tanto tempo que não existia mais espaço para timidez, só o que crescia cada vez mais para mim era a vontade de que eu pudesse ficar.

Recolhi as minhas roupas que estavam misturadas às dele e me vesti, meu lado altamente organizado não conseguiu deixar as outras peças de roupa jogadas de qualquer jeito, então as dobrei rapidamente e coloquei-as sobre o balcão, eu sabia que isso traria um sorriso aos lábios dele no dia seguinte e um revirar de olhos por minha quase obsessiva necessidade de ordem.

Peguei a minha bolsa e atravessei a porta, tranquei a fechadura com a chave que ficava no aparador sem chaveiro, de maneira que eu pudesse passá-la por debaixo da porta. Caminhei em modo automático pelo jardim e em instantes eu estava no meu carro a caminho de casa. Naquele horário quase não havia trânsito então percorri o trajeto rapidamente. Entrei no meu apartamento e sem nem acender a luz, me dirigi para o meu quarto. Não me dei ao trabalho nem de procurar minha camisola, só removi a saia e a blusa e me enrolei no cobertor, o sono levando a melhor de mim. Meu último pensamento antes de finalmente me deixar levar para a terra dos sonhos foi certo par de olhos azuis.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Me contem se estão gostando, comentários são sempre bem vindos!
Aqui nas notas finais eu irei sempre chamar atenção para as partes da história que podem vir a continuar em cross over com Dèjá Vu (DV)

Cross over: como será que o Ron reage quando a Ginny vê os pratos esquecidos na cozinha no dia seguinte? Descubram lendo DV!

Beijos e até o próximo capítulo.