Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 2
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos, esse capítulo foi postado rapidinho para conseguir ajustar a cronologia com Déjà vu.
Espero que vocês gostem :)



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Como já era de se esperar, eu acordei no dia seguinte me sentindo um zumbi, podia até ser que eu não parecesse com um, mas a privação de sono me deixou com a capacidade intelectual aproximada de um morto vivo. Eu era muito disciplinada com o meu sono nos dias úteis da semana, justamente para evitar ter que ir trabalhar com o auxilio de um balde gigantesco de café, e a noite anterior tinha sido sem dúvidas uma quebra de protocolo. Meu humor, contudo, estava nas alturas, efeito colateral habitual dos meus encontros com o Ron, o saldo final era positivo, sempre era.

Comecei a me arrumar num passo de lesma, agradecendo mentalmente pela pequena conquista de ter acordado com a primeira chamada do despertador, o que me proporcionou tempo suficiente para fazer todas as minhas atividades matinais com o mínimo de pressa. Depois de praticamente ignorar todo o meu café da manhã, com exceção do café em si, selecionei um dos meus vestidos favoritos, preto, acima do joelho com uma barra de desenhos geométricos vermelhos, e terminei os últimos detalhes do meu vestuário.

No momento em que o relógio, pendurado na frente da recepção do andar que eu trabalhava, marcou o horário no qual eu geralmente começava minha jornada de trabalho, eu já me encontrava sentada em minha mesa analisando os e-mails que ficaram sem resposta no dia anterior, claro que com um copo fumegante de café ao meu lado. Não foi surpresa nenhuma ver que o Cedrico não estava lá, ele pode ser bom em fazer as piadinhas dele, mas nem isso o tiraria de “madrugada da cama”, como ele dizia.

A melhor informação contida naqueles e-mails, que provavelmente seria a melhor notícia do dia, era que a reunião que estava marcada para aquela tarde com a minha chefe, tinha sido adiada para a próxima semana. Não pude deixar de sorrir aliviada ao ler as poucas linhas que diziam que ela estaria indisponível hoje. Eu sempre respeitei muito a hierarquia e tudo atrelado a ela, mas a minha chefe era algo muito além de insuportável e eu adorava ter que vê-la o menos possível. Realmente o único ponto baixo do meu trabalho era ter que lidar com ela e conseguir não se descabelar de raiva no processo. Ela não era uma mulher simpática, e diversas vezes suas atitudes não nos davam brechas para prever o que ela iria fazer, contudo não se podia negar que ela sabia gerenciar um departamento como ninguém, mas até aí, eu também achava que ela conseguiria gerenciar até o exército se precisasse.

Fechei o e-mail e parti para as minhas estampas, a melhor parte do trabalho. Eu estava tendo uma ligeira dificuldade em definir perfeitamente a arte para um dos modelos principais do desfile, já havia começado tudo de novo várias vezes, tinha que sair perfeito. O tempo estava cada vez mais curto e eu tinha que terminar logo aquilo. Aproximadamente uma hora depois, meu assistente deu as caras, o que era uma surpresa.

—Nossa, a que devo a honra de sua presença tão cedo? – falei, sem levantar os olhos do computador quando ele entrou na minha sala para me cumprimentar.

—Droga, achei que eu ia chegar primeiro! Eu madruguei – a decepção fingida em sua voz me fez rir e levantar o olhar para ver sua expressão de chateação tão fingida quanto.

—Acorde mais cedo na próxima – aconselhei.

—Ui, que cara de sono, parece que a noite ontem foi bem aproveitada hein, chefinha querida – seu tom se alterou rapidamente para um de provocação bem humorada.

Conte com o Ced para dizer na sua cara o que pessoas mais delicadas jamais mencionariam, lancei um sorriso irônico em sua direção, sem confirmar ou negar a afirmação e fiz menção de voltar a minha atenção para a tela à minha frente, mas claro que ele não iria parar por ali.

—Posso saber o nome da causa da sua insônia? – ele se sentou à minha frente e perguntou com os cotovelos apoiados na minha mesa e a cabeça apoiada nas mãos, naquele momento ele parecia uma criança curiosa e novamente eu estava rindo do seu jeito.

—Não tente me enrolar para conseguir informações que você já sabe Ced, não lhe cai bem. – rebati fingindo repreende-lo, o efeito sendo totalmente anulado pelo sorriso que eu não consegui fazer sumir, era difícil ficar séria ao lado dele.

—Oras, eu não quis ser indelicado – levantei as sobrancelhas demostrando que eu não acreditava por um momento naquilo, ele nunca se importaria com isso - Quando você vai me apresentar o Sr. Weasley? Ele nunca veio aqui, podia pelo menos me mostrar uma foto para matar a minha curiosidade.

—O que te faz pensar que eu tenho uma foto dele? – a verdade era que eu não tinha mesmo, mas respondi de uma maneira que isso não ficasse exatamente aparente.

—Como não teria? – ele me olhou como seu eu fosse desprovida de senso comum.

—Bom, isso não importa, já ficamos enrolando por tempo o suficiente, as planilhas no seu computador não vão se organizar sozinhas. – indiquei com a mão a mesa dele que o esperava lá fora e ele entendeu que aquele assunto estava terminado, melhor mesmo, eu já estava pensando em coisas que não deveriam ocupar minha mente naquele momento, ou em qualquer outro.

Voltei minha atenção para o meu trabalho, mas o comentário do Cedrico continuou pairando em minha mente... Eu sei que provavelmente ele achava que eu e o Ron éramos algo muito próximo a namorados, o que não correspondia à verdade, mas mesmo assim eu me descobri incomodada ao notar que realmente nunca tínhamos nem tirado uma foto juntos, o que era uma besteira sem tamanho, no entanto já se somavam cinco anos no final das contas. Mas era o Ron e eu, aquela era a forma que a nossa relação funcionava, em um equilíbrio em que até uma foto não tinha espaço, para que as coisas continuassem muito bem definidas, ou melhor, indefinidas.

Sacudi a cabeça, como se aquilo fosse me ajudar a expulsar os pensamentos inoportunos que estavam atrapalhando a minha produtividade habitual. Eu nunca fui iludida pelo Ron de que o que tínhamos fosse passar do que era, da mesma forma que não era a minha intenção de forma alguma quando tudo começou, eu queria me divertir e ele era o irmão gato da minha vizinha. O problema era que cada vez mais eu me sentia distante da menina que embarcou nesse caso e dúvidas e a vontade de que as coisas tomassem um novo rumo começaram a surgir, fazendo com que até um comentário besta sobre uma foto me deixasse pensativa.

—Chega, Hermione! Você tem mais o que fazer – me repreendi em voz alta, um suspiro escapando dos meus lábios.

Depois de conseguir focar novamente meus pensamentos nos assuntos que realmente precisavam da minha atenção, o resto da manhã passou de maneira veloz. Fiz um intervalo na hora do almoço e acabei aceitando o convite do Cedrico para comermos juntos em um restaurante que ficava bem perto dali. Geralmente eu só comia algo rápido para não perder muito tempo, mas a chantagem emocional dele acabou me vencendo aquele dia. De acordo com ele eu não podia ficar sem dormir e comer no mesmo dia, não fazia bem pra pele e ele ainda acrescentou que viver de café não valia. Tudo o que ele conseguiu em reposta foi meu virar de olhos característico, mas acabei me rendendo à sua lógica manipuladora.

Ele estava me esperando na porta da minha sala, desliguei a tela do computador, peguei a minha bolsa e nós nos dirigimos ao elevador. Uma caminhada de menos de cinco minutos nos levou ao local onde iríamos comer, e rapidamente conseguimos uma mesa. Uma garçonete simpática nos trouxe o cardápio e em pouco tempo já tínhamos feito nossas escolhas. Assim que ela se afastou, o Cedrico puxou conversa:

—Já falei como você fica linda com esse vestido, chefinha? – seu tom já me indicava exatamente o que ele queria com aquele comentário.

—O que você quer, Ced? Não precisa ficar enrolando – respondi desafiando-o a me contradizer.

—Credo, não posso mais nem fazer um elogio? Que mundo é esse? Cheio de pessoas desconfiadas... – ele colocou a mão no peito, um gesto totalmente teatral, esse meu assistente era uma peça mesmo.

—Você só pensa que me engana, fala logo o que você quer – cruzei os braços esperando, com certa quantidade de curiosidade, para saber o que o estava fazendo dar tantos rodeios.

—Eu já perguntei várias vezes e você nunca me respondeu, qual é o rolo entre você e o incêndio de ontem? – toda a indignação falsa foi substituída por seu melhor sorriso atrevido, que eu tinha que admitir que era lindo, ele tinha dentes perfeitos emoldurados por lábios bem desenhados.

—Se eu nunca respondi, você deveria ter entendido a mensagem – rebati, rindo.

—Ah me conta, vai? Você não quer arriscar perder seu assistente fabuloso porque ele morreu de curiosidade, né? – eu podia jurar que os olhos dele ficaram maiores ainda ao me fazer esse pedido, na tentativa de conseguir o que queria.

Foram inúmeras as vezes que o Ced havia abordado o assunto ao longo dos anos, mas como ele mesmo tinha frisado, eu sempre desconversava. Qual era o sentido de falar sobre um relacionamento desse tipo para alguém? Eu ia dizer: a gente se diverte e só? Mas naquele momento algo me fez mudar de ideia, de repente eu queria compartilhar com alguém aquela história, quem sabe assim eu conseguiria colocar em ordem os meus próprios pensamentos e consequentemente dar um fim às minhas divagações mais recentes.

—Tudo bem, seu exagerado! O nome dele é Ronald Weasley, mas isso você já sabe. – parei de propósito no fim da frase, eu não ia facilitar pra ele e despejar a história toda de uma vez, se ele queria saber ia ter que perguntar.

—Só isso? Pode continuar, há quanto tempo vocês se conhecem – raramente eu o tinha visto tão compenetrado em alguma coisa, mas ele nunca me escondeu que adorava uma boa fofoca.

—Cinco anos – eu vi sua cara de surpresa, mas antes que ele pudesse responder fomos interrompidos pela garçonete trazendo o nosso almoço, o cheiro do salmão que eu havia pedido me fez perceber que eu estava com muita fome.

Assim que a moça terminou de nos servir, ela se afastou e meu curioso assistente não perdeu um segundo em continuar seu interrogatório.

—Nossa, faz uma eternidade, você conhece ele a mais tempo do que eu, agora estou com ciúmes – ele fez um biquinho com os lábios, o que me levou a rir novamente.

—Não seja bobo, você sabe que existe um espaço no meu coração só pra você – ele rapidamente desfez a expressão de tristeza e abriu um sorriso convencido.

—Eu sei, estava só me certificando. – revirei os olhos ante o seu comentário cheio do seu ego inflado. – mas me conte mais, como vocês se conheceram.

—Ele é o irmão mais velho da minha vizinha, nos conhecemos quando ela mudou para lá e uma coisa levou a outra... e de repente já passaram cinco anos – me perdi um pouco nos meus pensamentos, revivendo momentos passados durante esse período e percebendo que contado assim, parecia que tinha sido cinco semanas, e não cinco anos atrás.

—Pelo olhar distraído que te levou pra longe dessa conversa, foram cinco anos muito bem aproveitados – sua risada me fez voltar a prestar atenção na conversa.

—Sim, foram. O Ron é uma pessoa maravilhosa.

—“Ron”, é? Que fofa a minha chefinha falando do namorado – seu tom condescendente não escondia o fato de que ele estava adorando aquele questionário.

—Ele não é meu namorado – de repente eu não estava mais confortável naquela conversa, da onde eu tinha tirado a ideia de que abrir a boca seria inteligente?

—Não? Ele é o que então? – ele desviou o olhar para o prato dele e eu agradeci mentalmente por não ter que responder àquilo com alguém me encarando.

—Nada, não temos esse tipo de relação, nos vemos de vez em quando, é só uma coisa casual.

—Casualmente longa, você quer dizer? – ele aparentemente não acreditava na minha declaração.

—Estou falando sério, nós nos divertimos e só – percebi tarde demais que dei exatamente a resposta que eu tinha evitado por tanto tempo, mas de que maneira melhor eu poderia definir?

—Tudo bem, se você está dizendo... mas me parece um tempo longo demais só para diversão – ele deu de ombros e voltou a comer.

Comemos em silêncio por alguns momentos, mas eu não queria terminar aquela conversa assim, alguma coisa me fez voltar ao assunto, não sei da onde veio a necessidade de convencê-lo de que a minha relação não era nada além de uma diversão casual.

—Não é como se eu estivesse com ele por todos esses anos, já tive namorados ao longo do tempo – eu comecei essa conversa para dividir a minha confusão, mas terminei tentando convencer mais a mim do que a ele de que aquilo ainda era o que eu queria – não é um compromisso nem nada.

—Ah sim, teve aquele, como era mesmo o nome dele? O estrangeiro? – ele passou a mão pelos cabelos tentando recordar.

—Viktor – respondi, me lembrando pela primeira vez em muito tempo do modelo búlgaro que eu tinha namorado.

—Isso! Eu não gostava dele, prefiro o “Ron” – a ênfase no apelido me mostrou que ele nunca ia deixar isso passar.

—Você nem o conhece, deixa de ser bobo! – respondi rindo do absurdo que tinha sido a sua declaração.

—E isso é culpa de quem? – me olhou acusador – Mas enfim, você fica mais alegre falando do seu não namorado atual do que em todo o tempo que esteve com aquele antipático.

Terminamos as últimas garfadas, e eu me senti aliviada por dar aquela conversa por encerrada, eu sabia que agora que eu tinha aberto aquela caixa de pandora, ele voltaria a fazer perguntas mais frequentemente, mas por hora já era o suficiente, eu preferia a abordagem homeopática nesse assunto. Pagamos a conta e refizemos o caminho de volta para o escritório. Felizmente os assuntos seguintes passaram bem longe do meu relacionamento, nos atemos principalmente em reclamar da nossa chefe que tinha feito uma colega nossa sair chorando da sala dela no início da semana.

Despedimo-nos assim que chegamos às nossas estações de trabalho e eu voltei a me concentrar nas minhas obrigações, mantendo aprisionados todos os pensamentos acerca da nossa conversa. As coisas renderam bem aquele dia, eu estava satisfeita com a quantidade de trabalho que eu tinha conseguido finalizar. Por mais que eu me realizasse com o meu serviço, eu não via a hora de dar como encerradas as minhas obrigações para com e desfile da empresa. Eu sabia que ele era muito importante, cada lançamento da marca determinava o quão bem seriam as vendas da loja na estação seguinte, mas a pressão para que tudo desse certo já estava durando tempo demais.

Já se aproximava a hora de terminar o expediente do dia quando o Ced anunciou que a Padma, uma das responsáveis pela área de informática da empresa, estava querendo falar comigo. Pedi para que ele a deixasse entrar e fui surpreendida por sua expressão de assustada quando ela abriu a porta e se sentou à minha frente.

—O que foi, Padma? Aconteceu alguma coisa? – minha intuição já dizia que nada de bom viria daquela resposta, porém não havia como evitá-la.

—Hermione, eu juro que não sei o que aconteceu, vamos tentar resolver o mais rápido possível... – ela continuou a balbuciar incontrolavelmente, ficou claro que o nervosismo estava afetando sua comunicação.

—Calma, respira e começa me dizendo o que aconteceu – eu me levantei e fui me sentar na cadeira ao seu lado, coloquei minha mão em seu ombro tentando passar um pouco de tranquilidade, não parecia estar funcionando, pois a menina estava visivelmente a ponto de começar a chorar.

—Estávamos fazendo os uploads dos arquivos que recebemos nessa semana para o servidor central que se comunica direto com a fábrica... – ela parou, fechando os olhos como se estivesse com medo de continuar.

—E? – por mais que eu tenha perguntado, eu já sabia onde ela iria chegar, se ela estava ali para me contar algo tão desagradável, eu estava prestes a ouvir que parte do meu trabalho havia sido perdido.

—E os dados foram corrompidos no momento em que a gente estava trabalhando com os arquivos do seu departamento – seu olhar se grudou no chão, ela parecia querer olhar para qualquer lugar além de mim.

Por um instante eu perdi o chão, só conseguia pensar que as horas gastas para elaborar tudo com perfeição tinham sido jogadas fora. Felizmente o meu lado prático não demorou muito a aparecer e eu me pus a pensar em várias opções que poderiam ser levadas em consideração para contornar a situação.

—Quanto do meu trabalho foi perdido? – foi tudo o que eu consegui perguntar, sem deixar transparecer o ligeiro desespero que começava a cravar suas garras em mim.

—Metade do trabalho dessa semana, foram os arquivos de três dias – finalmente ela me encarou, e seu olhar exprimia toda a culpa que ela sentia no momento.

—Padma, isso não é sua culpa, são máquinas, você pode saber mexer muito bem com elas, mas não tem como controlá-las – ela tinha que saber que o ocorrido jamais faria com que eu julgasse que a culpa foi dela, ou de qualquer outro funcionário do setor.

—Obrigada – o alívio em seu rosto foi instantâneo – mas mesmo assim eu estou muito mal com isso, nunca aconteceu antes e você já tem tanto trabalho, ter que refazer vai atrapalhar muito.

—Não se preocupe, eu dou um jeito – falei confiante.

Eu pedi para que ela me enviasse sem demora a relação dos arquivos que tinham sido perdidos, pois eu precisava começar a refazê-los imediatamente. Ela saiu para atender ao meu pedido e quando me vi finalmente sozinha, cai em minha cadeira deixando de lado toda a falsa confiança que eu tinha acabado de encenar. Levei minhas mãos à cabeça e fiquei paralisada tentando imaginar da onde eu tiraria tempo para produzir 50% a mais na semana que vem. Depois de passado o choque inicial, chamei o Ced na minha sala e contei a noticia.

—O prazo final de entrega é no fim da semana que vem – foi tudo o que ele conseguiu elaborar, não havia nenhum ar de gracinha em seu rosto dessa vez, era tão estranho vê-lo sério.

—Eu sei, Ced, o que significa que eu estarei aqui amanhã e que será uma semana e tanto. – respirei fundo, fazendo mentalmente as contas de quantas horas a mais eu teria que trabalhar – Ced eu vou precisar que...

—Claro que eu estarei aqui mais cedo, e fico com você até o horário que precisar – ele me interrompeu, adivinhando exatamente o que eu iria pedir.

—Você sabe que eu não pediria se não fosse absolutamente necessário, não é? – subitamente me senti esgotada, tudo o que eu queria era ir para casa, encostei a cabeça no encosto da minha cadeira e fitei o teto branco.

—Nem precisava perguntar isso, eu posso ser um assistente fabuloso, mas você também é uma chefe bem decente – apreciei sua tentativa de levantar o meu espírito, e em partes ele conseguiu, pois um riso tímido saiu dos meus lábios.

—Eu só espero que dê tempo, é tanta coisa.

—Não estou nem um pouco preocupado, se fosse qualquer outra pessoa eu poderia até duvidar, mas é da minha chefinha que estamos falando – ele contornou a mesa e sentou-se nela de frente pra mim.

—Você acha mesmo? – naquele momento eu me senti precisando de todo o incentivo do mundo.

—Óbvio! – ele revirou os olhos e fez um gesto de dispensa com as mãos como se estivéssemos discutindo se chocolate é melhor do que salada – vai dar tudo certo, mas agora você precisa ir embora pra casa.

—Embora? Perdeu a cabeça? – ele estava completamente fora de si se achava que eu sairia dali com tanto trabalho a ser feito, minha cabeça tinha começado a latejar só de repassar o montante de coisas interminadas. – Só saio dessa sala depois que tiver tudo pronto.

—Hermione, Roma não foi construída em um dia – apesar do ditado popular clichê, seu tom e o uso do meu nome me mostraram que ele estava falando sério. – você não vai conseguir fazer nada hoje com o cansaço da noite mal dormida e a provável dor de cabeça que você já está sentindo.

—Como... – comecei a indagar para saber como ele sabia que minha cabeça de fato estava doendo.

—Você cerra os olhos e franze as sobrancelhas quando está com dor de cabeça – Ced respondeu convencido, ele precisava me ensinar como fazia aquilo, eu era péssima em ler as pessoas e pra ele todo mundo parecia um livro aberto – vá pra casa, descanse. Amanhã nos vemos bem cedo e você vai ver que até o fim da semana nossa Roma estará construída.

Aceitei a sabedoria do seu conselho e com um suspiro concordei em ir embora. Ele ficou me observando enquanto eu arrumava tudo e me acompanhou até o elevador.

—Está se certificando de que eu não vou voltar correndo para minha sala? – perguntei antes de entrar.

—Com certeza, se eu olhasse para o lado você poderia mudar de ideia – ele me deu um abraço apertado.

—Obrigada, Ced, de verdade. – me desvencilhei dele e entrei no elevador.

—Sem problemas, boa noite chefinha – seu sorriso gentil se despediu de mim quando as portas se fecharam me levando até o estacionamento.

Dirigi até em casa no piloto automático, coloquei o rádio no volume máximo para tentar abafar o barulho dos meus pensamentos. Não surtiu efeito nenhum além de agravar a minha dor de cabeça, então resolvi desligá-lo e me entregar ao redemoinho que habitava a minha mente. O trânsito atrasou um pouco o meu trajeto, mas nem percebi o tempo que levou para eu chegar em casa, quando notei as portas do elevador já tinham aberto e eu estava no corredor do meu andar. Passei pela porta do apartamento da Ginny e parei por um instante, debatendo se eu deveria tocar a campainha ou não, era uma sexta e eu sabia que ela não trabalhava a noite. Acabei por decidir contra, ela podia estar ocupada ou com alguém, eu bem que gostaria de alguém para conversar no momento, porém não ia atrapalhar as poucas horas de descanso da minha amiga com meus problemas.

Entrei em casa, larguei a bolsa no sofá e fui direto para a cozinha. Comi meio sem vontade um lanche rápido, tomei um banho e me deitei na cama. Eu tinha mesmo que dormir se fosse aguentar o longo dia de trabalho seguinte, e a próxima semana que seria mais exigente ainda. Claro que meus olhos teimaram em ficar abertos e meu cérebro se recusou a desligar dos problemas. Eu sentia que precisava gritar ou jogar alguma coisa na parede, mas claro que não fiz nenhuma dessas coisas. Num impulso eu me virei e peguei meu celular que estava repousado carregando no criado mudo e fiquei encarando o visor. O que eu queria mesmo era ligar para o Ron, escutar a voz dele sempre me acalmava, quem sabe ele pudesse vir até a minha casa e... “Não!” falei em voz alta, recolocando meu celular na mesa de cabeceira como se ele tivesse me queimado.

A voz no fundo da minha consciência dizia “Ele não é seu namorado, não vai vir aqui te acalmar só por que você teve um dia ruim no trabalho, é só diversão, lembra? Não confunda as coisas” e eu continuei a repetir para mim mesma que não devia confundir as coisas sem que o desejo que ele estivesse ali diminuísse um pouco sequer. Será que era isso o que eu queria? Alguém que pudesse e quisesse estar ao meu lado em qualquer momento? Essas divagações quase me fizeram esquecer a bomba que tinha estourado na minha cabeça ontem. Eu caí no sono ainda pensando que eu não sabia o que queria.

Acordei ainda mais cedo do que o normal no sábado, a preocupação me impedindo de aproveitar os últimos minutos de sono. Como eu estaria fazendo hora extra e ainda por cima a carga de trabalho era imensa, me dei ao luxo de escolher uma roupa bem confortável sem me importar se ela era formal o suficiente para os padrões do escritório. Coloquei uma calça jeans escura, uma blusa preta simples e sapatilhas, dispensando pela primeira vez em muito tempo os saltos altos. Prendi o cabelo em um coque desarrumado e passei um colar comprido sobre a cabeça, colocando as pulseiras que faziam o par. Roupas confortáveis não eram desculpa para não ser “estilosa”, como dizia o Ron.

Cheguei ao trabalho com uma vontade enorme de começar de uma vez por todas a recuperar o tempo perdido. O Ced chegou apenas alguns minutos depois de mim, sua aparência não era das melhores, como indicava os óculos escuros, os cabelos revoltos e o copo de café em sua mão, o que me fez ficar mais agradecida ainda por sua presença, ele não necessariamente tinha que estar ali. Trabalhamos incessantemente durante boa parte do dia, parando apenas para comer um lanche comprado na padaria da esquina na hora do almoço. Não havia muitas pessoas no escritório aquele dia, a tranquilidade do ambiente facilitou nosso progresso.

As 17:00 eu fui conferir até onde tínhamos caminhado e constatei que infelizmente não tínhamos chegado nem ao final dos arquivos deletados de um dia de trabalho. Quando mencionei o fato ao Cedrico ele se indignou:

—Quem foi mesmo que inventou essa moda de salvar os arquivos num sistema de nuvem? O que aconteceu com o antigo CD ou o primo dele, pen-drive? – ele passou as mãos pelos cabelos, tentando compreender porque as coisas não podiam ser mais simples.

—Você sabe que a norma é essa para evitar que as informações vazem antes do tempo, são pessoas afinal de contas – respondi, mesmo que eu concordasse plenamente com ele.

—É, mas não estaríamos nessa situação, se eles deixassem a gente manter nem que fosse uma cópia dos arquivos nos nossos computadores – sua cara emburrada me lembrou a de uma criança mal-humorada o que me fez rir.

—Nem tudo é como queremos, meu caro – dei uns tapinhas em seu ombro em sinal de simpatia.

—Não mesmo, porque se fosse, nós dois estaríamos em casa nos preparando para aproveitar a noite de sábado de uma maneira bem mais agradável.

Voltei à minha sala, o dia não tinha terminado e muita coisa ainda podia ser feita. Alguns minutos depois o barulho do telefone da minha mesa tocou, e quando eu atendi, a voz alarmada do meu assistente soou do outro lado.

—A bruxa acabou de entrar para a sala dela, pela cara que ela lançou em direção à sua sala, se prepara que ela deve chegar daqui a pouco. – agradeci o aviso e respirei fundo para enfrentar o que quer que a Dolores quisesse comigo.

Como sempre, o Ced previu muito bem o que aconteceria e a “simpatia” que era a minha chefe entrou na minha sala batendo a porta ao passar como se ela fosse feita de aço ao invés de vidro, típico dela.

—Boa tarde Sra. Umbridge, posso ajudar em alguma coisa? – perguntei normalmente, mesmo com o olhar raivoso que ela lançava.

—Me ajudar, Stra Granger? Eu espero que você possa se ajudar! – ela apontou o dedo indicador em minha direção e eu já senti a raiva surgindo, eu odiava ser tratada como criança e essa era a especialidade dela

—Fiquei sabendo agora há pouco que você fez o favor de perder três dias inteiros de trabalho e tive que cancelar a minha manicure para vir aqui me certificar que tudo vai estar pronto até o fim da semana que vem.

Aquilo não tinha sido uma pergunta, ela decidiu que eu tinha sido a culpada por ter perdido os arquivos e pronto. Como ela podia pensar isso? Eu era algum tipo de idiota que sai destruindo o próprio trabalho por acaso? Tentei começar um argumento, mas ela rapidamente me cortou.

—Eu não quero saber das suas desculpas esfarrapadas, o que eu quero é a sua garantia de que eu vou ter as estampas todas prontas no prazo – ela me encarou esperando a resposta.

—Sim senhora, estará tudo terminado no prazo – aquilo tinha virado uma questão de honra, eu não ia dar nenhuma razão para ela vir me importunar de novo sobre isso.

—Ótimo, então estamos entendidas, não quero saber como você vai terminar tudo, sua vida não me interessa, mas saiba que o seu emprego depende disso – ela se virou para sair, mas antes ela desferiu o último golpe – É uma pena, Srta Granger, eu sempre pensei que você fosse uma funcionária realmente competente e exemplar, é triste se decepcionar com as pessoas.

Assim que a porta foi fechada novamente, eu percebi que tinha prendido a respiração. Aquela mulher era um monstro! Como uma pessoa podia falar tantos absurdos em tão pouco tempo? A sua declaração me deixou com tanta raiva, que eu me mantive parada por medo de satisfazer a minha vontade de sair correndo e pular no pescoço dela. Não sei quanto tempo depois o Cedrico entrou na minha sala.

—A cara de sapo já foi, pode reclamar a vontade, você ganhou o direito, eu ouvi tudo – ele me olhou com cara solidária.

A verdade era que eu não conseguia nem reclamar, gritar, nada. Minha respiração estava vindo em longas bufadas e eu sabia que se eu abrisse a minha boca para colocar toda a raiva que eu estava sentindo pra fora, eu não ia parar tão cedo.

—Eu vou embora – declarei secamente.

—Já? – o Ced respondeu espantado.

—Se eu ficar aqui vou quebrar alguma coisa, segunda feira continuamos – respondi já juntando as minhas coisas – aquela horrorosa vai ter o trabalho todo terminado até o fim da semana ou eu não me chamo Hermione Granger!

—Isso aí, chefinha! Gostei da atitude. – ele bateu palmas

—Ninguém me chama de incompetente!

Cheguei ao meu carro e fechei a porta com mais força do que de costume, agarrei as mãos ao volante e respirei fundo algumas vezes, para ver se eu conseguia me sentir um pouco menos ultrajada. Não funcionou, eu precisava me desestressar porque corria um sério risco de ter um ataque cardíaco, sem nem pensar duas vezes peguei o celular e liguei para o Ron.

—Oi, Mione – ele atendeu depois de alguns toques.

—Oi, Ron você está ocupado agora? - perguntei sem rodeios.

—Eu... não – percebi uma certa hesitação em sua voz.

—Se você tiver outros planos não tem problema, nos vemos outra hora – respondi tentando não transmitir minha decepção, eu realmente estava precisando de uma distração.

—Não! Eu estou livre, o que aconteceu? – percebi uma nota de preocupação em sua voz e vi que não fui eficiente o suficiente em esconder a raiva que eu estava sentindo.

—Nada, eu só estava precisando desestressar um pouco hoje – rebati tentando desconversar – você pode vir pra minha casa? Estou saindo do trabalho, mas eu chego rápido.

—Sem problemas – ele respondeu.

—Mas você vai ter que providenciar a comida, não estou com a mínima vontade de cozinhar hoje, ou de esperar chegar em casa para pedirmos a comida – fui franca o suficiente, mas a verdade era que se eu fosse tentar ligar o fogão aquela noite, eu provavelmente tacaria fogo no meu apartamento.

—Tudo bem, pode ser comida chinesa?

—Sim.

—Até daqui a pouco – ele se despediu e desliguei o telefone.

Joguei o celular no banco do passageiro e liguei o carro. Não prestei atenção em nada no caminho, tudo o que eu conseguia me lembrar era a cara odiosa da minha chefe apontado o dedo para mim e dizendo que eu era uma decepção, um dia eu ainda ia responder essa mulher a altura! Esse item estava bem alto na minha lista de sonhos.

Ao chegar em casa eu deixei a porta só encostada para que o Ron pudesse entrar e fui direto tomar um banho, eu precisava tirar a sensação de ter estado perto daquela mulher de cima de mim. Demorei mais do que o normal no chuveiro, ficando por minutos olhando para o nada apenas sentindo a agua quente que eu esperava que levasse consigo um pouco da minha raiva.

Escutei a voz do Ron me chamando assim que eu fechei a torneira e eu o avisei que estava terminando de me arrumar. Ele abriu a porta do banheiro enquanto eu terminava de enxugar meus cabelos e colocou a cabeça para dentro.

—Oi, já posso arrumar a comida? – ele parecia meio apreensivo, mas seu sorriso me distraiu de pensar em qualquer outra coisa por um momento.

—Sim, já estou indo – enrolei meu cabelo na toalha e saí do banheiro, ele se aproximou, me deu um beijo rápido e se dirigiu à cozinha.

Sem pensar muito no que ia vestir, troquei a toalha por um shorts e uma blusa já surrada e tentei dar um jeito nas mechas ainda molhadas. Eu nunca saía de casa ou recebia alguém com os cabelos molhados, mas era o Ron que estava ali ele já visto meus cabelos naquele estado muitas vezes, principalmente por ser o responsável por deixá-los assim.

Ele já havia arrumado a mesa da cozinha e eu me sentei ao lado dele para comer. Percebi que ele estava mais calado do que o normal e que me olhava de canto do olho como se estivesse procurando alguma coisa, ou esperando alguma reação. Acho que meu tom durante a ligação tinha deixado transparecer que eu não estava no meu estado de espirito normal. Sem querer que a situação se agravasse, decidi puxar conversa:

—A comida está uma delícia, obrigada por trazer o meu favorito – tinha como eu falar alguma coisa mais idiota? Mas qualquer palavra estava me custando muito naquele momento, pois o que eu queria era gritar e expulsar toda a fúria que estava contida. Ele não tinha culpa disso, então me limitei ao comentário superficial.

—Você parecia estar precisando de um pouquinho de felicidade – ele respondeu me olhando com uma expressão muito sincera.

Terminamos de comer em silêncio e eu recolhi rapidamente a louça, depositando tudo na pia para ser lavado na manhã seguinte.

—Você não vai me dizer o que aconteceu? – ele finalmente perguntou o que eu sabia que ele queria saber desde que chegou.

—Não aconteceu nada, só foi um dia longo no trabalho – falei ainda de costas para ele.

—Tem certeza disso? – senti suas mãos envolvendo a minha cintura por trás e quando dei por mim eu já tinha me inclinado em sua direção para aproveitar mais o abraço.

Fechei os olhos, contendo a vontade exorbitante de contar tudo o que tinha acontecido, mas me contive.

—Tenho – me virei para encará-lo, passei meus braços ao redor do seu pescoço e levei minha boca até a dele, me demorando em um beijo nada delicado.

Eu não estava com paciência para delicadeza ou demora naquela noite, me afastei dele interrompendo o beijo e o puxei pela mão até a sala onde nos sentamos no sofá, eu em seu colo com as minhas pernas apoiadas de maneira que ele estivesse preso entre elas. Por alguns minutos eu esqueci toda a minha raiva, todo o desgosto do dia e me concentrei apenas nas sensações que as mãos e os lábios deles provocavam em mim. Senti sua boca distribuindo beijos no meu pescoço e levei minhas mãos até os botões da camisa dele para me livrar da peça. Acabei me atrapalhando ao tentar passar as pequenas peças pela abertura da blusa e de repente a minha irritação inteira voltou me atropelando com a sutileza de um trem em alta velocidade. Bati a mão no peito dele, frustrada com aquela peça de roupa e soltei um suspiro exasperado.

Ele parou o que estava fazendo e me olhou desconfiado, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

—Parece que hoje eu não estou competente nem para lidar com uma porcaria de botão – minha voz saiu mais alta e mais ríspida do que era a minha intenção e eu percebi que o Ron captou de uma vez por todas que eu estava mentindo sobre nada ter acontecido.

—De onde veio isso? Se esse for o problema eu abro os botões – se tom me dizia que ele não acreditava nem de longe nessa afirmação, mas mesmo assim ele foi em frente - Vai continuar me dizendo que não aconteceu nada? – ele se calou esperando a minha resposta, mas tudo o que eu fiz foi sair do seu colo e levantar.

—Desculpa ter falado assim, é só a minha chefe que é uma vaca – deixei escapar.

—Vem cá, senta aqui do meu lado e me conta direito o que aconteceu – ele me puxou pela mão e me guiou até que eu estivesse acomodada ao seu lado.

—Não sou a sua irmã, não precisa se preocupar – retruquei, tentando fazê-lo desistir da ideia.

—Eu sei que não, você é... a Hermione, e eu me importo sim – notei a pausa no meio da sua frase, não tinha uma definição para o que eu era na sua vida, da mesma maneira como eu não conseguia achar uma para ele.

—Já falei que não foi nada, eu exagerei, podemos retomar de onde paramos? – a verdade é que se eu começasse a falar, eu não ia parar mais e eu sabia que ele não tinha obrigação nenhuma de me escutar, mas seu tom preocupado estava deixando bem difícil manter essa resolução.

—Você acha que eu não sei que isso é mentira? – ele levantou as sobrancelhas e me olhou com ar de desafio – Não é da minha boca que você está precisando hoje e sim dos meus ouvidos, anda fala.

A intensidade daqueles olhos azuis nos meus minou todo o meu autocontrole e eu despejei tudo em cima dele. Falei sobre a carga imensa de trabalho que eu estava tendo nos últimos dias, sobre a perda dos arquivos, e principalmente sobre o acontecimento daquele dia que tinha me tirado tanto do eixo. Em algum momento eu me levantei a continuei a contar a história andando de um lado para o outro e gesticulando para dar a ênfase certa em todos os pontos necessários. Muito tempo se passou durante o meu desabafo, mas ele não deixou de prestar atenção por um momento sequer e não me interrompeu até que eu tivesse chegado ao fim e voltado a me sentar do lado dele.

—Você realmente trabalha para uma vaca – foi seu primeiro comentário, que sumarizava em poucas palavras a minha situação - Mas eu sei que você vai conseguir, você é uma das pessoas mais competentes que eu conheço – ele me puxou para perto de si, passando o braço por trás do meu pescoço.

—E como você sabe disso? – respondi, rindo em tom duvidoso.

—Eu te conheço há cinco anos, você acha que não deu tempo de perceber? – ele levou o dedo indicador, tocado de leve no meu nariz me fazendo rir da sua graça - Você é super organizada, nunca está menos de dez minutos adiantada para chegar em lugar nenhum e não desiste de nada até que esteja perfeitamente do jeito que você quer, lembra que você até conseguiu me fazer usar um terno no seu ultimo aniversário? São todos sinais, não acha?

Fiquei olhando para ele, surpresa com o quão bem ele tinha conseguido me descrever, para ser sincera eu nunca imaginei que ele estivesse prestando muita atenção e não posso dizer que aquilo não me agradou. Ele estranhou o meu silêncio e a minha expressão que provavelmente estava transmitindo a minha confusão.

—O que foi? Falei algo errado? – ele indagou.

—Não, na verdade foi bem certo, só fiquei surpresa – admiti, percebendo momentos depois que eu deveria ter guardado para mim aquela última parte.

—Surpresa? Eu presto atenção, tá! Posso não parecer a pessoa mais atenta do mundo, mas tenho meus momentos – seu tom de falsa indignação foi cômico.

—Ok – retruquei, dando a entender que eu custava a acreditar naquilo – Obrigada por escutar toda essa ladainha, eu realmente estou melhor agora.

—Ao seu dispor – ele fez um gesto de tirar um chapéu imaginário da cabeça e mais uma vez arrancou um riso dos meus lábios - Estou vendo que você está muito cansada, quer ir dormir? Eu posso ir pra casa.

—Não vou conseguir dormir agora – era a mais pura verdade, se eu fosse deitar naquele momento, o sono não viria.

—Tudo bem, vou ligar a TV e a gente assiste alguma coisa de preferencia bem violenta pra você imaginar a sua chefe morrendo de várias maneiras, o que acha? – um sorriso maldoso surgiu em seus lábios.

—Pode ser – falei baixinho.

Ele se levantou para pegar o controle da televisão e eu aproveitei o momento para absorver essa atitude dele. Eu tinha ligado para ele com a intenção de acabar essa noite de um modo bem diferente, e com certeza era o que ele esperava também ao vir até aqui. E agora ele me sugeria assistir um filme, coisa que nunca tínhamos feito juntos, porque percebeu que a minha cabeça estava em outro lugar. Ronald Weasley, o que eu faço com você? Não tive tempo de estudar a minha mais nova indagação, pois ele se acomodou de novo ao meu lado, me trazendo para perto de si até que eu ficasse deitada de lado com a cabeça apoiada em seu ombro.

Eu não consegui prestar atenção nenhuma no filme, só vi que, como ele prometeu, tiveram muitas mortes, que naquele momento eu adoraria que acontecessem com a minha chefe. A proximidade dele me transmitiu uma tranquilidade muito bem vinda e antes mesmo do filme acabar eu já estava dormindo.


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Notas finais do capítulo

A confusão na cabeça da Mione só está aumentando, e contar a história para o Ced não melhorou muito a situação....
É claro que a Mione não encarou bem a bronca de chefe, ninguém pode chamá-la de incompetente! Essa chefe é péssima mesmo.
O que dizer da Mione chamando Ron e jogando tudo em cima dele?
Comentem o que acharam.

Crossover: esse capítulo é totalmente independente de DV, mas não deixem de acompanhar, no próximo já temos as histórias se cruzando de novo.

Bjus



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