Alluring Secret. escrita por Hachimenroppi


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Dá pra acreditar que minha primeira "Alluring Secret" tá pra fazer quatro anos em dezembro desse ano? ♥
E nossa, não dá pra acreditar o quanto eu evoluí.
Enfim, a quem leu a primeira versão, e a quem não leu: tenham uma boa leitura.
Enjoy :3



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“Um anjo sem asas

Rendeu-se ao contrato com o diabo.

Mesmo que no passado fosse apenas um amor não correspondido.

Ele pôs fim com suas próprias mãos.”

            Anjos são os agentes especiais de Deus, criaturas espirituais que servem como ajudante ou mensageiro do Divino. Descritos sempre como seres com o corpo do homem, mas alados, asas que se assemelham a de aves, cheias de penas, carregam um halo na cabeça e têm uma beleza bastante delicada. E assim era Shizuo.

Alto e magro, cabelos bagunçados e olhos cativantes que dividiam a mesma cor dourada. Suas roupas brancas – uma blusa de manga comprida e uma calça, sempre descalço – indicavam sua pureza. E por fim, suas asas eram enormes e brancas, quem olhasse, diria que ele poderia voar até o infinito ou até mais longe. É, ele podia mesmo. Só não pode mais.

Quando já estava caído no chão, ferido e perdido, com suas grandes asas sujas e enfraquecidas ele pensou na maldição que vivia. Ele não era homem. Não podia viver como um. Amar e demonstrar o amor eram privilégios humanos. Pois o amor, mesmo que parecesse puro, andava de mãos dadas com o desejo e a luxúria, não eram coisas permitidas para ele. Caiu exatamente por sua pureza ter sido prejudicada. E ele não sabia quem culpar: o humano por quem se apaixonou, por despertarem desejos nele, Deus, por não permitir que amasse os homens, ou a ele mesmo, por não saber se controlar, assim como os humanos não sabiam.

Ele havia caído dentro de uma cidade, mas ainda em um local afastado onde ninguém o encontraria. Shizuo não sabia onde estava. É sempre bom permanecer no mesmo lugar quando se está perdido, para que seja mais fácil de encontrar. Mas já que ninguém estava a sua procura, ele resolveu andar, não tendo exatamente para onde ir. Sem rumo, como qualquer anjo caído.

Enquanto andava por entre as pessoas bem vestidas chamava a atenção da maioria, para não dizer todos. Afinal, Ikebukuro podia ser uma cidade movimentada, com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, mas não era todo dia que viam um anjo de roupas e asas encardidas. Era possível ouvir os comentários de pessoas animadas dizendo que a fantasia era incrível, e outras preocupadas e curiosas perguntando o que havia acontecido, para onde ele ia e se aquelas “coisas” em suas costas eram de verdade.

E quando parou em um lugar afastado e escuro da cidade, onde ele não queria ficar, pelo contrário, desejava ir embora o mais rápido possível, reparou que tinha um péssimo senso de direção. Para quem vivia voando, andar parecia muito fácil, imaginava que era muito mais fácil identificar lugares do chão. Talvez fosse, algumas pessoas tinham esse talento. Ele não.

Ele sabia o que acontecia a humanos que se enfiavam em ruas escuras, afastadas e parcialmente vazias. O seu medo não era ser atacado, e sim atacar alguém, pois tinha uma força descomunal – isso se não tivessem tirado sua força também.

Rendendo-se, ele sentou-se no chão, exausto e encostou as costas num prédio. Acreditou que se não descansasse, seus pés o trairiam ali mesmo. Juntou os joelhos contra o peito. Ele ameaçou a chorar. Ele achou que choraria pela primeira vez, mas um humano o tocou no ombro, forçando-o a segurar o choro por mais um tempo. Shizuo não deixaria um humano vê-lo soltar lágrimas.

Ele reconheceu aquele humano baixinho, de cabelos pretos, assim como era o céu acima de suas cabeças, olhos castanho-avermelhados, uma jaqueta com as extremidades felpudas e um olhar curioso sobre o anjo.

— O que aconteceu com você? – Ele perguntou. A sua voz era leve e mais agradável de ouvir do que esperou que fosse.

            Aquele era o humano que o fizera cair. De quem ele voava atrás sempre que podia, ou não podia, desrespeitando as ordens que Deus lhe dera.

— E-eu... Eu caí. – Shizuo respondeu, gaguejando, sem saber como reagir na frente do amor da sua vida. O homem moreno estendeu-lhe a mão, oferecendo ajuda para levantá-lo, e ele aceitou, vendo o menor estranhar seu tamanho.

— Isso é um pouco óbvio. – Olhou para ele dos pés à cabeça enquanto sorria, achando graça da bagunça em que o anjo se encontrava. – Eu sou Izaya. Não sou do tipo que ajudo as pessoas, mas não costumo ver pessoas aladas por aí. – Apresentou-se enquanto tocava nas asas de Shizuo e mostrando-se assustado logo depois. – São... De verdade! – Afirmou, tirando rapidamente as mãos das asas, temendo machuca-las. – Se elas são de verdade, o que você faz na Terra? Achei que anjos vinham voando para dar alguma mensagem e não caíssem de vez. – Ele perguntou. O tanto que perseguiu esse humano, conseguiu ver que ele era informante. Informantes sabiam demais por serem curiosos demais, estavam sempre em busca da verdade, eram como jornalistas que guardavam a informação para si e só a contava se alguém perguntasse.

— Não sei. – Ele mentiu, deixando que mais um pecado entrasse em sua lista. – As minhas asas apenas enfraqueceram e eu caí.

            Ele sabia por que estava ali. Mas encolheu-se de medo da rejeição internamente, assim como um humano fazia. Shizuo se sentiria muito humano se aquelas asas não estivessem mais grudadas nas suas costas e se não acreditasse em amor à primeira vista, por saber que eles – os humanos – não eram muito fãs dessa ideia, apenas os mais românticos e melosos – provavelmente poetas e músicos. E seu amado não era diferente. Ele se lembrava de tê-lo visto dispensar uma garota por ela ter dado esse motivo para o amor dela. E ela era linda. E quem era Shizuo agora? Um anjo-caído, sujo, homem. Izaya nunca o aceitaria. Shizuo queria o fruto proibido de um amor impossível.

            Izaya havia repetido que não era o tipo de coisa que ele costumava fazer, mas, ele levou Shizuo para sua casa dizendo que o cuidaria até que as asas estivessem boas o suficiente para voltarem a voar, mas o anjo sabia que o amado ainda estava fascinado com o que tinha a sua frente.

            Lá, o moreno deixou que Shizuo dormisse em sua cama, o sofá tinha muito menos espaço para aquelas asas, imaginou que as machucariam demais caso ficassem em um lugar apertado e assim elas nunca mais teriam forças para levantar voo se fossem amassadas.

            Shizuo quis pedir para que Izaya se deitasse com ele. Mas não teve coragem o suficiente. Com certeza o menor protestaria, dizendo que machucaria suas asas. Aquelas malditas asas, ele pensava, elas chamavam a atenção, ocupavam espaço e preocupavam as pessoas ao seu redor, mas não voavam, ele as odiava.

            Ele não conseguiu dormir – não que precisasse. Já que ficaria acordado, não precisava roubar a cama de Izaya, ele se sentiu mal enquanto via o homem deitado no sofá preto, mesmo que parecesse confortável, sabia que na cama seria muito melhor.

Ele permaneceu ao lado do amado, como um anjo da guarda. E toda vez que sentia vontade de beijá-lo, repetia em sua cabeça sempre que era errado, pois Izaya não estava acordado para consentir. Quando o sol deixou seu primeiro raio atravessar a janela e a cidade, Shizuo apenas selou um beijo rápido na testa de Izaya.

— Bom dia, anjo. – Disse Izaya assim que Shizuo afastou-se dele. Sua voz era arrastada por ainda estar acordando.

— Bom dia. – Shizuo respondeu um pouco irritado com o apelido. Ele apenas passara a odiar suas asas inúteis, elas que o faziam parecer um anjo, pois ele não mais era um mensageiro de Deus, apenas um pecador alado.

            Izaya disse a Shizuo que sairia junto com ele pela cidade naquele dia. O loiro não entendia suas razões, e quando questionou, o informante respondeu que estava escapando de alguém, o que não esclarecia muita coisa. Sentiu falta de quando os humanos lhe eram transparentes, quando ele podia ver através das palavras, o que elas escondiam atrás.

            Antes que ele pudesse sair do banheiro uma mulher entrou no escritório, alta e magra, com uma pele pálida e olhos castanhos, porém, não eram avermelhados e com vida como os de Izaya, eram cinzentos e mortos, os cabelos também eram castanho-acinzentados, e muito lisos. Usava uma blusa de manga comprida verde, saia vermelha, uma meia-calça preta e um sapato desbotado. Ela toda aparentava não ter vida ou nunca ser capaz de estar feliz. Mas ela sorriu, assustando o anjo, ao ver Izaya passar de toalha até seu quarto.

            Quando o moreno desceu, ela correu para seus braços, abraçando-o. Ele retribuiu, escondendo seu rosto na curva do pescoço da mulher, acariciando os longos cabelos castanhos.

— Bom dia para você também, Namie. – Izaya falou assim que se soltou dos braços da mulher.

— Bom dia, meu bem. Meus pais pediram que viesse ver o vestido comigo. – Namie respondeu, olhando para o amado de Shizuo com as mãos apoiadas no peito do mesmo. E o anjo, quem assistia à cena, sentia uma raiva tomar conta de si, talvez fosse o que eles chamavam de ciúmes e também se perguntava para que o vestido.

— Isso não dá azar? – Ele perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas com um sorriso de canto no rosto.

— Claro que não. Só dá azar se você me ver vestida com ele antes do casamento.

            Casamento. Essa palavra ecoou na cabeça do anjo, que assistiu ao seu ciúme aumentar. Ele havia caído, suas asas já não mais funcionavam, era uma parte inútil de seu corpo, tudo por um humano que estava comprometido. Também não podia voltar para o Céu. Caiu por ser teimoso e insistir num amor impossível, não voltaria desiludido para ouvir que todos o avisaram, e não queria abandonar o seu amor, deixar o direito de amar de lado. Mas, por mais que tentasse encontrar lados positivos, ele não conseguia, pois não tinham. O máximo que sua vida podia se tornar, caso não voltasse, era num inferno, preso em uma espécie de show de horrores, o homem alado que não pode voar.

— Como você vai sair do provador para eu dizer se gostei ou não? – Ele riu dessa vez.

— Ora, vamos. – Ela continuava a insistir. – Gostaria da sua aprovação.

— E eu que fosse uma surpresa. Você sabe que eu amo surpresas. – Ele fez uma pausa para beijá-la nos lábios, envolvendo a cintura dela, aproximando seus corpos. – E você nunca precisa da minha aprovação. Você é linda em qualquer roupa. E aposto que é ainda mais sem elas. – Izaya mordeu os lábios. Depois do que ele disse, ela não hesitou em bater nele, dando uma tapa em seu rosto. – Mas é uma pena que eu não posso. – Ele riu, acariciando a bochecha quente da pancada. – Tenho que mostrar a cidade para um amigo. – Ele finalmente se voltou para Shizuo, que viu a mulher olhá-lo estranho.

Já era hora, Shizuo pensou. Ela havia chegado ao escritório do informante e nem sequer pareceu notar o loiro alto, dono de asas enormes. Era como se ela visse anjos andando pela cidade todos os dias.

— Bom saber que sua noiva não é nada ao lado de um dos seus amigos estranhos e ligados em animes. – Ela cruzou os braços, sorrindo, mas era aparente a sua irritação.

— Desculpe, mas não hoje. – Ele ajeitou sua jaqueta preta com as extremidades felpudas, sem querer explicar para ela que Shizuo não era um dos garotos que andava com Walker e Erika. – Eu te amo. Tranque a porta se for sair. – Mais uma vez ele a beijou rapidamente. – Vamos? – Olhou para Shizuo.

            A cidade não era tão bonita de manhã como era de noite. Ela era apagada e movimentada. Lá de cima, Shizuo lembrava, ele adorava observar as cidades iluminadas à noite, era como um céu cheio de estrelas, porém, abaixo de si.

            O primeiro lugar que Izaya o levou foi a sushiaria, na qual podiam ver, mesmo de longe, um homem alto, negro de roupa quase que completamente branca, oferecendo panfletos e convidando quem passasse para entrar e comer um bom sushi, numa voz amigável. Anjos não precisavam comer. Mas, ele aceitou a tira de salmão em cima do arroz. E após comer, ele riu da própria hesitação, pois gostou muito e chegou a pedir um do prato de Izaya, que deu de bom grado.

            Ao saírem da sushiaria, Izaya começou a andar e Shizuo não conseguia dizer para onde ele estava indo. Não perdia a chance de reparar no informante, notando que ele sempre parecia satisfeito com tudo, pois sorria enquanto andava. Eles sentaram-se num banco a frente da fonte de água.

— Izaya... – Ele começou, chamando pelo nome do amado, o qual virou para escutar o que o anjo tinha a dizer. – Você disse que estava fugindo de uma pessoa. Quem era?

— A Namie. – Respondeu rapidamente.

— Pensei que a amasse. – Shizuo disse num tom de completa dúvida.

— E eu amo.

— Os humanos fogem das pessoas que amam? – Ele perguntou, surpreso. Caíra por querer ficar junto de seu amado, mas ele tinha o costume de correr da pessoa que ele amava.

— O quê? – Ele riu. – Claro que não. A mãe dela me pediu que não saísse para comprar o vestido de casamento com ela, porque dava azar. Não sou supersticioso, mas não vou me aventurar a dizer não à minha sogra.

— Por que a escolheu? Namie, digo. – Shizuo perguntou, invadindo a privacidade do moreno. Chegou a achar que ele não responderia, mas ele o fez, como se não se importasse.

— Não escolhi. Foi um casamento arranjado. É uma prática antiga e eu não sou fã dela. – Revelou. E uma faísca de esperança cresceu dentro do loiro. – Mas eu e Namie nos entendemos muito. – Ele sorriu para o anjo.

            Aquela faísca de esperança, fraca, que não conseguiria acender um cigarro, dizia que ele talvez pudesse deixar de amá-la. Mas ele se tocou que a faísca era na verdade um incêndio quando puxou Izaya pelo braço, e sua mão livre se ocupou de segurar o queixo do moreno, para que enfim, tocasse seus lábios nos dele, num selinho longo, devido à resistência do informante a entreabrir seus lábios.

            O choque e o desagrado o fizeram empurrar Shizuo e afastar-se, levantando do banco e virando de costas para o anjo. Sua mão pálida tocava a sua boca, enquanto ele perguntava-se a razão de lágrimas surgirem em seus olhos. Izaya forçou-se a engolir o nó que formara em sua garganta e a limpar as gotículas de água que ameaçaram escorrer pelas suas bochechas e olhou novamente para Shizuo, preparado para rejeitá-lo, mas ele não estava mais lá, deixando para trás um informante confuso e uma pena branca, a qual Izaya presumiu que fosse parte de sua asa.

            Ao voltar para casa, ele encontrou sua noiva ao lado de uma caixa dourada e retangular enorme no sofá. Quando a abriu, Namie revelou um longo vestido branco, cauda de sereia, sem alças, bordado com linhas prateadas. Ela encostou a veste em seu corpo, girando com ele pela sala do escritório. O informante fingiu estar feliz, envolveu seu corpo e a pegou no colo, com um sorriso falso no rosto. Ele queria muito se casar com ela, mas o incidente com aquele anjo o abalou. Era permitido a ele fingir que o ocorrido não o afetava, mas não negar para si mesmo.

“Tudo que desejava era que o fruto proibido fosse correspondido

Ocultado por um sorriso

Para concretizar o amor entre anjo e humano

O que ele apenas tinha que fazer era

Destruir tudo”

"Estou disposto a abandonar o meu coração puro

Se me for permitido viver e te amar

Não vou hesitar em arrancar as minhas asas

Rendo-me a mim mesmo ao demônio! "

            O noivo, completamente de preto, saindo da Igreja, onde pronunciaria os votos sagrados à sua amada, ele cruzou com uma garota misteriosa, que compartilhava a mesma cor amarela entre seus cabelos ondulados até a cintura e olhos e assim como ele, usava roupas completamente pretas. Ele julgaria que ela estava indo para um enterro se não fosse pelo sorriso que apareceu em seu rosto ao vê-lo. O informante congelou olhando para os orbes dourados da garota que ele nem sabia o nome, e como ela mesma estava esperando, o homem patético se apaixonou por ela do mesmo jeito que o anjo patético que fora se apaixonou por ele: à primeira vista e inesperadamente. A única coisa que machucava era o fato de não ser verdadeiro.

— O que foi? – Ela perguntou, ainda sorrindo, fingindo não ter conhecimento.

— O que? – Izaya tinha a dúvida em seus olhos, como se a garota fosse a real estranha e ele não estivesse encarando-a.

— Por que está parado aí? – A garota riu, com uma sobrancelha levantada, realmente ansiosa pela resposta.

— Uh... – Ele hesitou, passando a mão no pescoço, não sabendo lidar com o fato de a garota estar entretida com o seu nervosismo. – Queria perguntar... Qual o seu nome? – Ele finalmente disse algo.

— Shizuka. – Ela fez a reverencia, curvando-se diante do noivo. – Eu te conheço. É o informante da cidade... Orihara... – Levou a mão ao queixo, como se tentasse desesperadamente lembrar o nome.

— Izaya. – Ele completou, ajudando-a.

— Isso. – Ela sorriu. – Foi um prazer me encontrar com o homem com mais entendimento da cidade de Ikebukuro. Agora eu tenho que ir.

— Espere um minuto. – Izaya a impediu de prosseguir com seu caminho. – Não gostaria de conhecer a cidade?

            O convite era tudo o que ela precisava para pegar na mão do homem e passear por Ikebukuro, vendo de novo tudo o que ela já havia conhecido há um dia, quando seu amado se afastou, pois não amava homens... Nem anjos. Eles passaram novamente pela sushiaria, porém daquela vez, Shizuka não estava com vontade de experimentar nada. Mas isso não impediu Simon de se aproximar do casal, com uma expressão desconfiada e quase reprovativa, não para a menina que estava agarrada ao braço magro de Izaya, mas para o próprio informante.

            O grande homem chegou a perguntar se havia acontecido algo com Namie, mas Izaya negou, afirmando que ela estava bem e que a loira ao seu lado, apesar de grudenta, era apenas uma conhecida que esbarrara na porta da Igreja.

Ele inclinou-se para Shizuka e perguntou se ela gostava de livros, sem nem perguntar o nome dela. Os humanos são muito estranhos, pensou ela.

— É um dos meus passatempos. – Respondeu simplesmente.

— Passe aqui amanhã, eu tenho um livro a recomendar. – Ele sorriu novamente. – E aproveite para comer sushi! – Simon tinha um sorriso bobo e amigável. Mas aquele era falso, ela pôde ver. Era como se ele soubesse quem ela era de verdade.

            Izaya insistiu em passar por uma floricultura e comprar um buquê de margaridas para a loira, que mais tarde, em um banco de praça, enrolou as flores em uma coroa e colocou na cabeça de Izaya. O Rei do meu coração, pensava ela. Com a flor que sobrou, ela fez um anel, e insistiu em colocar no anelar esquerdo do moreno, uma vez que o direito tinha sua aliança de noivado. Ele permaneceu com os acessórios de flores até o fim do passeio.

            O pôr-do-sol findou a tarde, fazendo com que os postes de luz da cidade passassem a serem responsáveis pela iluminação. Com a lua já tomando seu lugar, Shizuka tentou despedir-se de Izaya, mas o informante não deixou, com a desculpa de que estava tarde e garotas bonitas não devem sair por aí sozinhas à noite. A loira pensava na força descomunal que possuía que derrubaria o mais forte do mundo, não tinha motivos para temer encrenqueiros. Mas ela também não contaria isso ao rapaz. Então, resolveu simplesmente aceitar.

            Se perguntassem à Shizuka como ela havia parado na cama com Izaya, ela omitiria que ela fez crescer sentimentos proibidos dentro dele e que o fez trair tudo ao que ele era devoto de propósito, porque era um anjo egoísta e cheio de pecados. Ela era tudo o que um anjo não deveria ser. Anjos são mensageiros, eles voam pela Terra entregando recados divinos, boas notícias. E Shizuka tinha apenas condenado quem amava, o colocando para segurar o fruto da luxúria junto dela, tornando até o mais puro de seus votos em pecado.

— Os fragmentos de um passado nos uniram. – Ela disse deitada de bruços sobre o colchão da cama, com a coberta cobrindo até metade de suas costas, enquanto observava Izaya dormir calmamente. Ela ainda não precisava dormir, o contrato mudou apenas a aparência, e sentia inveja do moreno. Queria saber como era dormir e relaxar àquele ponto. – Tenho a sensação de que tudo será apagado em pedaços. E chegaremos ao ponto onde só restarão arrependimentos lamentados. E se assim for, eu me afogarei em você e continuarei a cair... Viverei por você até o fim.

            Shizuka não estava arrependida de tudo o que fez. Mas ela também não era idiota. Estava feliz, vivendo e amando quem ela amava, o preço estava pago, mas toda a sua felicidade não duraria, ela não conseguia colocar uma data exata para que tudo acabasse. Tentaria aproveitar ao máximo enquanto estivesse ao lado dele. Passou a noite aninhada no peito do informante.

            Ao amanhecer, ela sentiu Izaya se mexer na cama e isso a obrigou a se apressar para vestir novamente sua blusa, para esconder as enormes cicatrizes causadas pela retirada de suas asas – elas ainda doíam, pois eram muito recentes. Izaya sorriu ao vê-la ainda ali, esperava mesmo que ela fosse embora. Talvez ela realmente estivesse indo, mas ele tentaria impedir.

            Apoiando-se nas mãos, engatinhou até ela, envolvendo sua cintura antes que ela fosse capaz de completar os botões de sua camisa preta. Ajoelhou-se atrás dela, e beijou-lhe o pescoço marcado da noite passada, enviando um choque por todo aquele corpo.

— Bom dia. – Ele disse. – Já vai embora?

— Eu vou comprar algumas coisas que o senhor não me deixou comprar ontem. – Ela sorriu para ele. – Estarei de volta em alguns minutos... Se você não se importar.

— Você sempre será bem-vinda aqui. – A mão do informante se dirigiu ao queixo da jovem, empurrando-o para que ela olhasse para ele, deixando seus rostos perigosamente perto. Até que ele finalmente a beijou sem dar tempo dela admirar os olhos castanho-avermelhados que ela tanto gostava da cor.

            Naquele beijo não havia resistência de nenhum dos lados, por isso ele foi tão gostoso e harmônico. E ela o xingou mentalmente quando se separaram e não começaram um novo.

            Shizuka se arrumou, uma vez que Izaya já não ia mais tocá-la e saiu da casa de Izaya. Na rua, ela passou por Namie, e sorriu para ela, num ato de provocação que só ela entendia.

Ela estava de fato indo até Simon para pegar o livro que ele estava para recomendar. Shizuka achava os trabalhos humanos extraordinários, histórias fictícias que se encaixavam perfeitamente na vida real, ou de mundos fantásticos tão bem descritos. Quando encontrou o homem entusiasmado, espalhando panfletos, ela aproximou-se rapidamente, pedindo pelo livro, sem fazer cerimônias. E ele entregou-o a ela.

“Ah, o pecado proibido.

Abriu uma ferida que não quer sarar.

O rancoroso tiro do julgamento

Penetrou o cavalheiro de preto”

            O livro que Simon lhe dera se chamava “De todos os amores, o próprio”, de poucas páginas, e com uma capa bege cheia de flores coloridas. Era um livro de autoajuda. Ela se perguntou o que faria com aquilo. Mas viu que não teria tempo de procurar pela resposta ao pisar novamente no apartamento de Izaya.

            Shizuka sempre achou que travesseiros não podiam ser feitos de sangue, mas sua opinião mudou ao ver seu amado deitado em um, como se alguém tivesse atirado em sua cabeça. Ela derrubou seu livro e o sushi que havia comprado e correu para Izaya, levantando-o e encostando a cabeça dele em seu peito enquanto chorava.

            Lembrou que a primeira vez que chorou de verdade foi quando teve seu beijo recusado. A sensação de chorar era horrível, ela não conseguia entender como os humanos conseguiam fazer isso tantas vezes em uma só semana. O nó na garganta a sufocava e seu peito parecia ser apertado, os olhos ardiam, o corpo tremia. Daria tudo para nunca mais chorar. Mas lá estava o anjo, chorando novamente. E dessa vez, parecia doer dez, vinte vezes mais. Sua felicidade fora esmagada.

— Meu querido, adormecido e frio. Eu viverei por você, como eu disse que iria naquele dia. – Ela começou, deixando que muitas das gotas salgadas caíssem sobre o rosto ensanguentado. – E meus pecados contra Deus, todos os meus atos de traição, deverão ser pagos com a minha morte e não a sua. Então, morrerei por você. – Ao proferir essas palavras, seu corpo mudou. Ele não era mais aquela menina delicada, ele era novamente o loiro alto, que sorriu ao ver os olhos do amado abrirem novamente. – Pois esse é o meu destino.

“O anjo sem asas

Libertou-se do contrato com o Diabo

Em troca de sua própria vida

Deixando apenas uma única pena negra

Ele salvou o cavalheiro

E depois desapareceu”

 

            “Você já ouviu aquela história engraçada?” Talvez não fosse mesmo a primeira vez que ouvia isso dele, mas deixou que continuasse a história. “Sobre um anjo caído e sem asas e o noivo pecador de roupas pretas, que, mesmo depois de caírem ambos em um abismo, os votos que eles fizeram permaneceram, ainda os unem e carregam o pecado imperdoável dos dois. Sua permanência me é um mistério. Acredito que os votos estão esperando o fruto do pecado desvanecer e trazer o dia em que eles possam se reunir novamente. Mas eu não sabia que votos esperavam.”

            “Você sabia que esse pecador desmanchou seu noivado por conta desse pecado? E que ele chora quando olha para uma pena preta que não consegue jogar fora e não sabe de onde veio? Patético, não é?”

            “Mas, não é importante, vamos para os meus problemas. Hoje, acordei de um sonho pacífico, porém triste. Pois eu havia destruído um tesouro muito precioso com minhas próprias mãos, e quando acordei, era como se o pesar fosse real. Como se fossem memórias esquecidas empurradas para o fundo do meu coração, memórias preciosas, que não importa o quanto eu tente, eu não consigo relembrá-las. E apenas solidão resta de mim e isso está destruindo minha mente vazia.”

            “Eu estava olhando para o céu, no sonho, e por mais que alguém segurasse a minha mão, eu não conseguia tocar a brancura das nuvens que se estendiam. E aquela pessoa que me segurava, ela sorria... Quem era ela? Eu não me lembro de seu rosto.”

            “E eu estou obcecado, admito. Se eu pudesse falar com aquela pessoa que tentava me puxar para o céu, eu diria: queria poder voar, e procurar-te entre as nuvens, eu te seguraria em meus braços para nunca mais largar, esse é o meu juramento. Posso jurar que minha alma gêmea apareceu em uma dessas memórias engaioladas e perdidas, e eu disse que ela sorria. Mas era um sorriso lamentoso. E instantaneamente, eu senti que o queria. Porém, parece que quanto mais o amo, mais meu coração esvazia. E me perguntou: estou falhando em alguma coisa importante? Apesar de amá-lo como louco, não consigo fazer com que meus sentimentos o alcancem.”

            “E é como se apenas as coisas doces tivessem desaparecido das profundezas da minha memória. Pois eu apenas tenho flashs muito tristes. Todos eles de meu amado desaparecendo, chorando. Meu amado era a única pessoa que conseguia ver o fundo do meu coração, mas eu...” Ele suspirou. “Eu não consigo ver claramente seu rosto em nenhum dos flashs. Quando penso em quem ele realmente é, apenas me lembro daquela pena preta.”

            “No fim, eu só consigo pensar no que diria mais uma vez: eu sei que esse sentimento nunca te alcançará, mas nada parece ser capaz de parar o que sinto por você. E se eu continuar te amando, talvez, eu possa tirar essa roupa branca algum dia e me tornar realmente puro como o branco que tudo envolve, dedicando-te esses votos, esperando, assim como o pecador de roupas pretas, que eu possa vê-lo novamente.”

— E no final, tudo parece apenas um nó em minha mente, e eu gostaria de ser atropelado por um carro. – Izaya finalizou seu desabafo, deitado na cadeira acolchoada da sala do terapeuta.

— Que tipo de carro?


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Notas finais do capítulo

Deus, eu sou muito talento.
Qualquer erro, por favor, me contem. Qualquer coisa que ficaram "MAS QQ ISS DEUS É MAIS?", me avisem. Se gostaram, falem comigo. Resumindo, falem comigo ♥ Me alavanquem para frente, me ajudem a melhorar. Não sejam tímidos.
Eu espero que tenham gostado.
Tenha um bom dia/semana/mês/ano/vida. ♥
E bye bye.



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