O restante da tarde passou tranquilo, Damon estava um pouco aéreo, mas após o que aconteceu é aceitável. No jantar ele já estava um pouco mais falante, mas não quis tocar no assunto de hoje a tarde, e eu respeitei seu espaço.

 Após um longo e relaxante banho me deitei na cama, ao lado dele, que estava olhando para o nada, me aconcheguei em seus braços e ele sorriu.

— Eu tive alguns sonhos – ele disse – de você se afogando, não foi apenas um, foram vários, e em todos eles você me deixou Elena, por isso tive medo naquele passeio dos golfinhos, por isso fiquei tão cismado com o que aconteceu hoje, poderia ser você no lugar daquela garota, e eu não saberia como viver sem você, não poderia.

— Amor – me sentei em seu colo, montada em seu corpo, com uma perna de cada lado, e segurei seu rosto entre minhas mãos, fazendo-o olhar nos meus olhos – Nada vai acontecer comigo ok? Você não vai me perder, nunca – acariciei seu rosto com o polegar.

— Eu sei pequena, mas eu tenho tanto medo – ele me abraçou, deixando minha cabeça em seu ombro.

— Você acha que eu não tenho? Já sonhei várias vezes que te perdi, que algo aconteceu, mas não posso deixar isso passar dos meus sonhos, não posso falar nisso, e não posso pensar nisso, e é o que faço, eu deixo meus sonhos, como sempre sendo apenas sonhos. – ele me apertou mais contra seu peito e depois me beijou com desespero.

                                                                                               *

Estávamos no decimo primeiro dia de viagem, e tudo não poderia estar mais perfeito, após aquele incidente não houveram mais problemas, e nós estávamos aproveitando cada minuto, fizemos aulas de mergulho, que foram um pouco assustadoras, a sensação de estar a mais de dez metros da superfície me deixou em pânico, mas o lado bom foi a caverna que conhecemos, um lugar lindo, que é iluminado pelo sol por um buraco no topo, uma das coisas mais lindas que eu já vi.

 Era triste pensar que a viagem estava acabando, havíamos decido prolongar mais alguns dias, mas mesmo assim, teríamos que voltar para a realidade, para empregos, e todos os nossos problemas.

 Fomos conhecer uma praia nova, era maravilhosa, havia um restaurante, que as mesas eram na água, eu estava sentada na frente de Damon, e nós conversávamos sobre o lugar, olhando para baixo podíamos ver os peixes passar por nossas pernas submersas. Meu celular começou a tocar, só então me dei conta que fazia dias que eu não falava com minha família.

— Alô – disse já esperando a bronca de minha mãe.

— Elena – era Jeremy – desculpa estar te ligando – pela sua voz ele parecia nervoso.

— Está tudo bem, o que houve?

— É o papai – ele pausou e eu prendi a respiração – ele está muito mal Lena, e nem ele nem a mãe queriam que você soubesse, eles disseram para deixar você aproveitar sua lua de mel, mas – ele pausou de novo e respirou fundo – acho que o papai não tem mais muito tempo. – sua voz saiu baixa, e parecia que algo havia acertado meu estomago.

— Faz quanto tempo que ele piorou? – tentei controlar minha respiração, Damon me encarava aflito.

— Cerca de uma semana.

— E ninguém me fala nada? – quase gritei – Jer, eu vou conversar com o Damon, vou voltar no próximo voo para Nova York ok?

— Ok Lena, mas não fala para ninguém que eu te contei, eles vão querer me matar.

— Não se preocupa, eu é que vou matar eles, até mais Jer – desliguei.

 Fiquei processando nossa conversa, meu pai estava pior, e ninguém nem ao menos me avisou, isso é ridículo, Damon tocou a minha mão acima da mesa.

— Nós podemos almoçar aqui, e quando voltarmos eu posso procurar um voo para Nova York, ou se quiser podemos ir embora agora.

— Não, vamos aproveitar os últimos minutos da nossa viagem – forcei um sorriso e ele assentiu.

 Eu não pude esconder minha preocupação, eu mal consegui comer, e estava agitada. Nós voltamos para o hotel, enquanto Damon checava com a empresa aviaria, eu arrumava nossas malas, tomei um banho rápido, voltei para o quarto e vesti uma calça jeans preta, uma e uma regata cinza, com um scarpin nude.

— Tem um voo saindo para Nova York em uma hora e meia, acha que da tempo?

— Podemos tentar – disse fechando a mala.

— Ok, vou fazer o check-out, te encontro lá em baixo – ele beijou minha testa e saiu.

 Me sentei na cama e suspirei, comecei a chorar, eu estava preocupada com meu pai, mas também não queria que minha lua de mel acabasse assim, não era justo.

 Quando consegui me recuperar, desci até o hall do hotel, Damon estava lá, caminhei até ele, ele me abraçou com força, e beijou o topo da minha cabeça.

— Ele vai ficar bem pequena.

 Eu não disse nada, Damon pegou nossas malas e nós estávamos saindo do hotel, quando uma garota de cabelos escuros parou na nossa frente, impossibilitando nossa passagem.

— Você é o cara da praia – ela disse olhado Damon – você salvou a minha vida – seus olhos ficaram marejados, e ela o abraçou, Damon arregalou um pouco os olhos e olhou para mim, eu ri. – Obrigada, muito obrigada.

— Não tem de que  - ele sorriu – só tome mais cuidado da próxima vez, você poderia ter morrido.

— Eu sei, obrigada – ela o abraçou de novo, e parece que só então ela me viu ali,  soltou e ficou vermelha como uma pimenta – me desculpe.

— Não tem problema – sorri.

 A nossa van chegou, um rapaz colocou todas as malas ali e nós entramos na van, a garota continuou olhando para Damon sorrindo, e ele acenou para ela quando a van saiu dali.

— Ela vai se lembrar de você pra sempre, principalmente por esse olhos – eu ri.

— Engraçadinha – ele fez uma careta e riu.

 Alguns minutos depois estávamos no aeroporto, fizemos o check-in, e nosso voo foi chamado. Me ajeitei na poltrona, fiquei estralando os dedos olhando pela janela.

— Ele vai ficar bem pequena, não se preocupe.

— Eu sei, só não queria que nossa lua de mel tivesse terminado assim.

— Nossa lua de mel foi perfeita amor, não mudaria nada, e bom é seu pai, você precisa estar com ele, e nós podemos voltar aqui outras vezes.

— Você tem razão – sorri e encostei minha cabeça em seu ombro. – Obrigada.

— Pelo que?

— Por ser você – ele sorriu e beijou minha testa.

                                                                         *

 Quando chegamos em Nova York já passava das onze da noite, nós pegamos um taxi e fomos direto para o hospital, eu estava nervosa, e muito preocupada, Damon segurava minha mão e dizia a cada cinco minutos que tudo ficaria bem.

 Quando cheguei minha mãe estava na sala de espera, ela estava com a cara inchada e vermelha, e seus olhos se arregalaram ao me ver.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu soube sobre o papai, vocês não tinham o direito de fazer isso.

— Elena, seu pai não queria que você voltasse da sua lua de mel por causa dele.

— E claro que você fez o que ele quis não é? – revirei os olhos – eu quero ver ele.

— O médico está terminando de examina-lo, acho que você vai poder entrar.

 Me sentei longe dela, com Damon a meu lado, cerca de dez minutos se passaram, e então o médico saiu, eu pedi para ele me deixar entrar, e depois de muita insistência ele deixou.

 Meu coração estava apertado, entrei no quarto e vi meu pai, ele estava pálido, e seus lábios estavam azulados, ele revirou os olhos ao me ver.

— Não era para você estar aqui.

— Ah não? Era para eu estar a onde? – me sentei ao seu lado na cama.

— Na sua lua de mel, com seu marido – sua voz era fraca e lenta, peguei sua mão.

— Você deveria ter deixado me chamarem.

— Não queria que você deixasse sua lua de mel para me ver assim – ele deu um sorriso fraco. – Obrigado por vir – seus olhos se encheram de lagrimas, segurei sua mão gelada.

— Eu estou aqui pai, vou ficar do seu lado.

— Não filha, você não vai – lagrimas escorriam de seus olhos – eu estava apenas te esperando, não podia ir sem falar com você.

— Você não vai a lugar nenhum, pode parar com isso – controlei as lagrimas.

— Elena, eu estou morrendo, a minha hora chegou, mas quero que você saiba – ele pausou respirando fraco – que eu te amo, eu fui um pai terrível, um pai ausente, um idiota, ah Elena, Deus sabe o quanto me arrependo, pena que foi tarde demais, mas eu quero que você saiba, que eu sempre te amei, tudo que eu fiz na vida, todo o trabalho, tudo, foi pensando no que seria melhor para você e para o Jeremy, claro que nem sempre eu estava certo, mas – sua voz falhou, eu já estava chorando, muito – mas você tem que me prometer, que vai ficar bem, e que vai continuar a ser essa mulher maravilhosa, a mulher que eu sempre quis que você fosse, mas que você sempre vai ser a minha garotinha.

— Pai não, para, isso não é uma despedida. – enxuguei as lagrimas em meu rosto.

— É sim filha, é a minha hora, e você vai ser forte, porque você é forte, e eu vou estar sempre cuidando de você, da sua mãe, e do seu irmão, onde quer que eu esteja – suas lagrimas escorriam.

— Eu te amo pai – ele sorriu.

— Eu te amo Elena – ele apertou minha mão, o aparelho a seu lado começou a fazer um barulho, seus olhos estavam brilhando, comecei a gritar para alguém vir até aqui, Damon entrou com minha mãe e Jeremy, ele ficou na minha frente, meu pai agarrou seu braço, Damon o encarou.

— Cuida da minha família.

— Eu vou – assim que Damon disse isso, seus batimentos cardíacos pararam, a linha reta apareceu no monitor, um grito veio á minha garganta, me deitei sobre seu peito.

— Pai – eu chorava desesperada, Damon tentou me tirar dali, mas eu me soltei de seus braços – não me deixa – disse entre lagrimas contra seu peito.

 O médico entrou ali e pediu para que saíssemos, eu não queria, queria ficar ali com meu pai, Damon praticamente me pegou no colo e me tirou do quarto.

— Eu quero ficar com ele – gritei enquanto ele me puxava pelas mãos – me deixa ficar com meu pai – gritei para ele.

— Elena ele se foi – Damon gritou – ele se foi pequena – sua voz diminuiu, e ele me puxou contra seu peito, afundei meu rosto ali, deixando todos os sentimentos saírem.

— Ele tinha mudado – eu disse chorando contra seu peito – ele mudou.

— Eu sei meu amor – ele disse afagando minha cabeça – eu sei.