A pior parte da segunda-feira, para mim é ter que preencher os formulários, é algo que eu definitivamente não vou sentir falta quando meu estagio acabar. Já estava terminando meu turno, e em vinte minutos poderia sair dali, e depois da faculdade, finalmente ir para casa, eu já estava exausta, e a semana nem começou. Senti meu celular vibrar, disfarçadamente o peguei e vi que era uma mensagem da Dani:

                     Elena, preciso falar com você, é uma emergência.

                      Ok, meu turno acaba em vinte minutos, pode me encontrar na minha casa em uma hora?

                     Ok.

 O que será que ela tinha de tão urgente assim? Droga, agora vou ficar ansiosa, e nervosa, e não vou poder ir para a faculdade, bom depois vou precisar da ajuda de Lexa, continuei preenchendo os benditos formulários, até que finalmente lá se foi o ultimo, deixei tudo anotado para a próxima enfermeira, fui até o vestiário, troquei a minha roupa e sai de lá. A parte boa desse hospital, é que fica quinze minutos da minha casa, a parte ruim é que tenho que ir de taxi até a faculdade, o que cada vez mais me faz pensar em comprar um carro, com urgência.

 Cheguei em casa congelando, peguei uma garoa forte no caminho, pendurei meus casacos e a bolça e caminhei até a sala, Lord veio todo feliz em minha direção.

— Por que não foi para a faculdade? – Damon perguntou do sofá.

— A Dani pediu para falar comigo, com urgência, não posso dizer não.

— Você também não pode ficar perdendo aula Elena, não está fazendo um curso simples, sabe disso.

— Claro que eu sei disso Damon, e estou indo muito bem, não precisa  se preocupar, eu consigo recuperar um dia. – me sentei ao seu lado e ele estava assistindo Velozes e furiosos. – De novo? Sério?

— Vai esperar sua amiga vai – ele me empurrou do sofá rindo.

 Tomei um banho e vesti uma roupa qualquer, Dani chegaria a qualquer minuto, resolvi fazer algo para comermos.

— Pode deixar que eu abro – gritou Damon já indo até a porta – Olá Daniela – ele sorriu.

— Oi Damon – ela entrou apressada, e seus olhos grudaram em mim.

— Está tudo bem? – perguntei desligando tudo no fogão e indo até ela.

— Não, não está, nem um pouco – ela estava pálida.

— O que foi?

— Podemos falar a sós? Por um minuto.

— Claro, vamos no quarto – nós subimos as escadas e fomos até meu quarto, me sentei na cama e ela fez o mesmo, e ficou longos minutos fitando seus dedos – O que foi?

— Acho que estou grávida – ela disse quase num sussurro.

— Grávida? – meus olhos se arregalaram de surpresa.

— Sim, grávida Elena – ela agora me olhava, e escorriam lagrimas de seus olhos – isso vai estragar tudo.

— Você já fez o teste?

— Não, trouxe dois, mas estou atrasada em duas semanas, e ando muito enjoada.

— Vai fazer os testes, eu te espero aqui.

 Ela respirou fundo e pegou um saquinho da farmácia, caminhou até o banheiro, e voltou cinco minutos depois com dois testes nas mão, se sentou na minha frente e ficou me olhando.

— Você pode ver para mim? – ela me entregou os dois, os peguei e fiquei esperando o resultado.

 Pareceu uma eternidade até que apareceu o resultado.

— Dois riscos.

— O que isso quer dizer?

— Você está mesmo gravida Dani – torci meus lábios e fiquei avaliando sua fisionomia abalada.

— Como eu pude deixar isso acontecer Elena? Como eu pude? – ela estava ainda mais pálida, chorando e em desespero, me aproximei e a abracei com força.

— Calma, vai dar tudo certo, você vai ver, você sempre quis ser mãe não é? – eu queria ser positiva, ela precisa que eu seja positiva.

— Sim, mas não agora, eu só estou namorando o Richard a seis meses, nós moramos juntos a pouco tempo, isso não poderia acontecer – ela estava com a cabeça no meu braço agora – Meu Deus a faculdade, eu iria começar a faculdade em alguns meses.

 Eu não sabia o que fazer, nem o que dizer, fiquei apenas acariciando sua cabeça e dizendo que tudo daria certo, quando vi Damon com um olhar assustado na porta, apenas fiz gesto para ele sair dali, e ele o fez.

— Como vou contar para o Richard?

— Você vai achar um jeito, e tenho certeza que ele vai adorar.

— Elena, eu não estou pronta para ser mãe – seus olhos estavam vazios, tristes e perdidos.

— Na hora certa você vai estar.

— Não quero ser mãe Elena, não agora, eu tenho que fazer essa faculdade.

— Você pode começar, e depois trancar enquanto estiver de licença.

— Não queria isso agora – ela disse choramingando e se deitando na cama, com a cabeça em minhas pernas.

— Eu vou estar com você ok?

 Ela não disse nada, apenas ficou fitando o nada enquanto suas lagrimas molhavam minha calça, fiquei passando a mão em seus cabelos, e não tive noção do tempo que passou, ela se levantou e me encarou.

— Eu vou fazer um aborto.

— Você o que? – disse irritada.

— Não posso ter um bebê agora.

— Você pode sim Daniela, você é saudável, tem um bom emprego, e não vai estar sozinha.

— Você disse que vai estar comigo Elena, então não preciso que concorde comigo, apenas que aceite a minha decisão.

— O Richard tem pelo menos o direito de saber antes disso. – me levantei e a deixei sozinha ali, desci as escadas, e senti os olhos de Damon em mim, me aproximei dele.

— O que aconteceu?

— Depois eu te explico – o abracei.

 Dani desceu cinco minutos depois, sem dizer tchau nem nada, apenas saiu pela porta apressada. Eu me sentia péssima, que tipo de amiga eu sou? Que não pode ajuda-la em um momento como esses? Não posso abandonar ela, mas também não posso passar a mão na cabeça dela, suspirei encostada na ilha da cozinha.

— Agora pode me contar o que aconteceu? – Damon se sentou na banqueta ao meu lado.

 Contei a ele toda a história, tudo o que ela me disse, e sobre o aborto, ele passou a mão em meu braço.

— Você sabe que precisa estar ao lado dela, não sabe?

— Sei Damon, mas não quero que ela faça algo desse tipo, eu me sinto tão mal com a ideia.

— Você sabe porque se sente assim né?

— Honestamente? Não, eu não sei.

— Porque no acidente você perdeu o nosso bebê. – e então fui atingida por um sentimento doloroso que dormia a algum tempo, ele estava certo, eu estou assim pelo meu bebê.

 Não consegui comer, eu só queria ir dormir, e assim eu fiz, enquanto Damon ficou resolvendo alguns problemas pelo telefone, eu me deitei na cama, e fiquei pensando no sonho que eu tive quando havia acordado do coma, do meu acidente, do dia em que perdi o meu bebê, e fiquei acariciando minha barriga, até pegar no sono.

 Acordei por volta das cinco da manhã, meu corpo estava pesado, e eu me obriguei a levantar, Damon dormia como um anjo ao meu lado, apenas dei um beijo em sua bochecha e fui para o banheiro. Tomei um banho quente e relaxante, fui de roupão até o closet, escolhi uma roupa, separei meu uniforme rosa que me deixava com muita saudade dos uniformes da Boutique. Tomei apenas uma xicara de café e sai dali, quinze minutos depois já estava no hospital, que estava ainda silencio e calmo, chequei alguns prontuários e dei alguns medicamentos que estavam marcados.

 Na hora do almoço recebi uma mensagem de Dani:

                    Marquei um horário em uma clinica que faz esses procedimentos, amanhã ao meio-dia, por favor, preciso de você lá comigo.

                          Estarei lá.

  Eu não queria fazer parte daquilo, não queria que ela tivesse tomado essa decisão, mas ela é minha melhor amiga, e eu tenho que estar lá com ela, não vai ser fácil para ela, e ela vai precisar de mim mais do que nunca, e eu estarei lá, com ela.