No dia seguinte saiu a papelada da alta de Damon, mas eu não pude assinar, então tive que encarar uma Lilly furiosa.

— Ainda não sei por que eu não posso ficar com você filho – ela dizia enquanto íamos para o carro.

— Mãe eu já te expliquei – ele revirou os olhos e segurou minha mão.

  O enfermeiro estava empurrando Damon na cadeira de rodas, e ele teria que usar um colar cervical por alguns dias, para que nada comprometesse a sua recuperação. Dani veio nos buscar, ela estava sorrindo, nós não tínhamos nos visto desde que ela voltou de viagem.

— Oi – disse abrindo a porta do carona.

— Oi Lena – ela me lançou um sorriso de orelha a orelha.

 Ajudei Damon a se sentar no banco do passageiro, pois ali era mais estável do que atrás. Fui com Lilly atrás, e ela reclamou o tempo todo, falando que ele á estava afastando, e dizendo o quanto ela havia sofrido por causa dele, Damon não dizia nada, apenas suspirava de vez em quando.

 Chegamos na casa dele, Dani teve que segurar Lord que estava totalmente eufórico, ele quase a derrubou três vezes. Levei Damon até o quarto dele, ele se sentou e eu coloquei dois travesseiros em suas costas.

— Bom, você só pode se levantar para ir ao banheiro certo? – disse – não quero ter que te dar broncas, então se comporte e faça o que eu disser.

— Caramba – ele riu – então você voltou mesmo, mandona e tudo mais.

— Sempre baby. – ficamos nos olhando, parecíamos dois bobos.

 Lilly veio se despedir de Damon, e perguntou mais duas vezes se ele não queria que ela ficasse, e ele com toda gentileza disse duas vezes que não precisava.

— Então – disse ao me sentar ao lado de Dani no sofá – como foi a viagem?

— Foi muito bom Lena – ela se virou para mim e me contou tudo sobre a viagem, a sua virada de ano, e o quanto estava feliz com Richard.

— Eu fico tão feliz por você estar feliz assim – peguei sua mão.

— E eu por você, logo logo tudo entre você e Damon vai se acertar.

— Você acha? Nós não conversamos sobre nós ainda, sobre tudo o que aconteceu – abaixei a cabeça.

— Elena, vocês se amam, o jeito que vocês se olham... É lindo – ela deu um sorriso bobo – você vai ver, daqui a pouco tempo vai ser como se nada tivesse acontecido.

— Eu espero que sim.

— O ruim é que você vai me deixar – ela fez beicinho.

— Calma, primeiro nós dois temos que nos resolver.

— Prefiro já ter isso em mente, porque é o que vai acontecer.

— Você tem noção do quanto gosto de você Daniela? – disse á ela.

— Espero que muito.

— Muito – confirmei, e nós rimos.

 Nós ficamos conversando por um tempo, e então ela disse que iria embora, e me deixar com Damon. Era quase hora do almoço, Damon estava dormindo, resolvi preparar algo para nós dois. Tive que deixar Lord fora da casa por um tempo, porque sei que ele iria pular como um louco em Damon, e eu precisaria controlar, então iria deixar isso para mais tarde. Preparei uma macarronada ao molho vermelho, com queijo, preparei um prato para ele e um para mim, e os levei até o quarto, ele estava dormindo, e eu fiquei com muita dó de acorda-lo.

— Ei dorminhoco – sussurrei em seu ouvido – hora de acordar, você precisa comer.

— Ah – ele choramingou sem abrir os olhos.

 Eu o sentei na cama, arrumando as almofadas e coloquei a bandeja no seu colo, e me sentei ao seu lado, com meu prato no colo.

— É muito ruim comer com isso – ele fez cara feia cutucando o colar cervical.

— São só por alguns dias.

— Eu sei disso.

 Algo estava estranho entre nós, uma certa tensão estava no ar, acho que os ânimos haviam relaxado, e ele acabou lembrando de tudo que havia acontecido entre nós dois.

— Então, já está pronta para conversar sobre nós? – as vezes eu tinha a sensação que ele podia ler a minha mente.

— Acho que sim.

— Eu ouvi tudo o que você disse aquela noite.

— Então acho que você me deve uma resposta não é?

— Sim – ele colocou os talheres no prato e direcionou o olhar para mim – Eu te desculpo por você não ter acreditado em mim, por ter me deixado, por ter me magoado, por você ter tomado cada decisão errada, por ter sido infantil, - ele parecia ter gravado cada palavra do que eu disse, minha garganta estava seca, e eu sentia a emoção vindo até mim - e acima de tudo por ter se esquecido de mim, a única coisa que eu não te perdoo é por ter demorado tanto para se lembrar de mim – ele sorriu, e meu coração pareceu transbordar de alegria.

— Você ainda acha que nós podemos dar certo?

— Você não?

— Eu só sei de uma coisa Damon – respirei fundo - eu te amo.

— Eu também te amo Elena – ele pegou a minha mão – Deus, como queria poder te beijar agora.

 Me inclinei até ele, ficando de joelhos na cama á sua frente, e o beijei, seu beijo era como ir ao paraiso e voltar, era quente, e aos poucos se tornou desesperado, sua língua explorava todos os cantos da minha boca, e meu coração batia acelerado, nós paramos apenas quando já não tínhamos ar.

— Eu senti tanto a sua falta.

— Eu também, muito.

— Você acha que depois de tudo isso, nossa vida pode voltar ao que era antes?

— Algumas coisas mudaram – disse ainda recuperando o ar.

— Tipo o que?

— Tipo nós não estarmos mais casados, não morarmos mais juntos, eu fiz tanta besteira – me sentei na cama.

— Sim você fez, mas nós vamos dar um jeito nisso tudo, nós sempre demos – ele sorriu e acariciou minha mão.

 Depois de uma longa troca de olhares e alguns suspiros, nós voltamos a almoçar.

 Após o almoço eu limpei tudo, e então resolvi levar o Lord até o quarto para ver Damon. Ele estava muito eufórico, e me puxava para dentro, e eu o segurava pela coleira.

— Vai com calma grandão – disse o acariciando ao abrir a porta, e quando ele viu Damon eu quase não o consegui segurar, ele era muito forte e praticamente me puxou com ele, mas ao invés de pular em cima dele, ele simplesmente parou ao seu lado, colocando a cabeça na cama, ao lado da mão de Damon.

— Eu também senti muito a sua falta amigo – Damon passava a mão em sua cabeça, me sentei ao pé da cama, e fiquei vendo os dois ali, pareciam conectados, Lord nem por um minuto tentou subir na cama, acho que ele sentia que Damon estava machucado, ele apenas colocou as patas dianteiras em cima das pernas de Damon e ficou recebendo carinho por um bom tempo.

 O restante do dia foi normal, eu já havia programado o celular para tocar nos horários dos remédios que Damon teria que tomar, e o ajudava a se levantar com cuidado para ir ao banheiro, e chegando lá ele me expulsava.

— Como se eu nunca tivesse visto – ri ao fechar a porta.

— Não assim, é humilhante, deixe-me um pouco de dignidade por favor – eu ri, encostando a cabeça na porta.

Já era hora de dormir, Damon estava sonolento por causa do remédio, me sentei ao seu lado e fiquei apenas segurando sua mão por um longo momento.

— Posso dormir com você? – perguntei.

— Você ainda pergunta?

— Sim.

— Elena, se queremos voltar ao que era antes, ou o máximo possível, temos que fazer as coisas como era antes, você não tem que me pedir para dormir comigo, você tem que dormir comigo – ele deu ênfase no tem, o que me deu um alivio – A única parte ruim é a tentação de  te agarrar.

— Concordo plenamente – eu ri – para mim também não é fácil.

— Mas nós podemos dormir abraçados não podemos? – ele piscou para mim.

— Acho que não vai fazer mal.

 Me deitei ao lado dele, nossos corpos colados um no outro, e nossas mãos entrelaçadas, e eu o observei pegar no sono, e fiquei ali o admirando por horas.

 Meu Damon, o meu amor, quanto medo eu tive de perder ele, e agora que eu tinha minhas memórias, tinha ele, e ele havia me perdoado por todas as minhas burradas, era hora de nossa vida voltar realmente ao que era antes, e eu estou prontíssima para que isso aconteça.