Calcei meus sapatos novamente e vesti uma jaqueta de couro, retoquei a maquiagem e Damon voltou até o quarto.

— Ela disse que fica, vamos – ele sorriu e pegou a minha mão.

 Nós fomos até o carro, no caminho conversamos sobre tudo o que aconteceu nesse um ano, e riamos de como ficávamos desesperados no começo quando Sophie acordava chorando de madrugada e nós não sabíamos o que fazer, ou das noites que passávamos em claro com ela, ou quando fazíamos apostas para ver quem iria se levantar durante a madrugada para cuidar dela.

— Você fica imaginando o futuro? – perguntei para Damon quando começamos a comer nossa comida – a Sophie quando for adolescente, quando levar o primeiro namorado em casa, quando se casar...

— Opa opa – ele disse me encarando – não penso nisso, e nem quero pensar na minha bebezinha namorando, e menos ainda casada, não posso pensar nisso. – comecei a rir.

— Damon um dia isso vai acontecer.

— Um dia, daqui no mínimo quinze anos, então até lá prefiro nem pensar na possibilidade.

— Vai acontecer mais rápido do que imagina. – ele revirou os olhos e mudou de assunto.

 Nós ficamos conversando sobre nossos amigos, sobre o trabalho, e Damon me disse que estava querendo abrir um outro bar, e eu o apoiei com a ideia.

 Estávamos comendo a sobremesa quando o celular de Damon tocou, era Lilly, ele atender e seus olhos se arregalaram. Sophie.

— A conta por favor – ele disse alto para o garçom que estava passando ao nosso lado.

— O que aconteceu? – perguntei nervosa.

— Nada, não precisa ficar preocupada - ele voltou a conversar com Lilly e então desligou.

— O que foi?

— A Sophie está com febre, minha mãe disse que já deu remédio e não baixa, por isso ligou.

— Ai meu Deus.

 Damon estacionou o carro e eu subi as escadas apressadas até o hall, ouvi o choro de Sophie vindo da sala, Lilly estava com ela no colo caminhando pela sala.

— Filha – peguei Sophie do colo de Lilly – o que foi meu amor? Por que você está chorando?.

— Ela caiu do berço Elena – Lilly disse chorando ao meu lado.

— Ela o que? – gritei.

— Eu fui preparar uma mamadeira, ela estava deitada no chiqueirinho assistindo desenho, e então a ouvi chorar, quando cheguei ela estava no chão chorando.

— Lilly você não podia ter deixado ela sozinha – olhei para o rosto de Sophie e em sua testa havia um galo enorme avermelhado, meu coração se apertou. 

— Foi por um minuto Elena, só fui fazer a mamadeira.

— Devia ter levado ela junto – gritei de novo, Damon pegou a minha mão e foi puxando até a cozinha.

— Ela não teve culpa amor, fica calma.

— Damon ela tinha que estar de olho na Sophie.

— Foi por um minuto Elena, se acalma.

 Resolvi ignora-lo, Sophie estava quente, e agora chorando baixinho, era visível que estava com sono, seus olhos estavam vermelhos, subi com ela até o quarto, e me sentei na poltrona, a colocando sentada em meu colo de frente para mim.

— Você não pode dormir agora princesa, você quer desenhar com a mamãe? – ela assentiu, com as lagrimas ainda escorrendo de seus olhinhos azuis.

 Eu medi sua temperatura, que estava trinta e oito graus e meio, dei um outro remédio para febre, troquei sua roupa e coloquei um pijama de oncinha rosa, sentei ela em cima do tapete rosa, e me sentei ao seu lado, entreguei dois giz de cera em sua mão e ela começou a riscar a folha em branco, fiquei a olhando vidrada.

— Você está mais calma? – perguntou Damon se sentando na poltrona.

— Sim, ficou só o galo mesmo, mas ela podia ter se machucado de verdade Damon, ela só tem um ano, tem que ficar de olho nela o tempo todo, você sabe disso.

— Eu sei pequena, mas minha mãe não fez por mal, ela ficou desesperada, foi para o quarto chorando, você foi dura demais com ela.

— Eu sei, vou falar com ela amanhã.

 Ele se sentou ao meu lado e me abraçou, a cada vinte minutos colocava o termômetro em Sophie, e só aumentava a temperatura.

— Não acha melhor levarmos ela ao médico? – ele perguntou.

— Que tipo de pediatra eu vou ser se não conseguir cuidar da minha própria filha?

 A peguei no colo e levei até o meu banheiro, a sentei na pia, molhei dois algodões e coloquei em seus pulsos, eu sei que isso ajuda a abaixar a temperatura, ela ficou choramingando, mas Damon a distraiu com suas brincadeiras, e ela se esqueceu dos algodões.

 Duas horas se passaram, já era madrugada, a temperatura de Sophie havia abaixado um pouco, e eu a deixei dormir, mas não quis sair do quarto de jeito nenhum, coloquei a poltrona ao lado de seu berço e fiquei ali por horas olhando ela, que dormia abraçada com sua girafa, cochilando vez ou outra.

— Vem para a cama Elena – Damon disse me assustando.

— Não, vou ficar aqui com ela.

— Quer que eu fique junto?

— Não precisa, pode ir dormir – ele deu um beijo no topo da minha cabeça e voltou para o quarto.

 Eu checava a temperatura dela de hora em hora, até a febre passar, o que foi um grande alivio, e eu acabei dormindo ali na poltrona mesmo.

 Acordei com Sophie conversando com a sua girafa, era engraçado ver ela batendo o maior papo com o bichinho, na língua que só ela entendia.

— Bom dia filha, você esta melhor? – disse a pegando do berço.

 Troquei sua fralda e sua roupa, penteei seus cabelos escuros e lisos, enquanto ela brincava com um pônei de silicone, o colocando na boca e rindo. Eu estava com a mesma roupa de ontem, a saia e o cropped, a levei até o quarto, Damon não estava lá, a sentei no puff do closet, e troquei de roupa.

— Bom dia – disse Damon quando nos viu – bom dia princesa do papai – ele pegou Sophie  e foi para a sala.

 Lilly estava em frente ao fogão fazendo panquecas, respirei fundo e parei ao seu lado.

— Lilly, me desculpe por ontem, eu fiquei nervosa por ela estar com febre, por ela ter caído, e assustada, porque ela poderia ter se machucado, e eu sei que não é sua culpa, poderia ter acontecido comigo, eu só acabei descontando meus nervos em você, me desculpa – ela olhou para mim, e deu um sorriso.

— Tudo bem Elena, eu sei que você estava nervosa, e sou mãe também, sei como é ter um filho doente, está desculpada.

— Obrigada – a abracei brevemente.

 Arrumei a mesa, e nós tomamos café da manhã os quatro juntos. Sophie estava sentada em seu cadeirão segurando sua mamadeira com as duas mãos, e ficava apenas nos olhando atenta.

 Durante a tarde a febre dela voltou, mas passava com o remédio, e nós ficamos na área de trás da casa, brincando com Lord e Sophie, Damon a colocava nas costas de Lord, ela gargalhava se segurando em seu pelo dourado enquanto ele andava até seus brinquedos espalhados pelo gramado, me juntei a eles, segurando Sophie nas costas de Lord enquanto ele ia apressado atrás de Damon que segurava um osso, ela gargalhava nas costas de Lord que nem ligou para ela.

 Eu já estava cansada de correr pelo gramado com eles, e me sentei ao lado de Lilly no sofá, ela os olhava com um sorriso de orelha a orelha.

— Você nem imagina o quanto eu estou feliz Elena – ela pegou a minha mão – ver o meu filho assim, tão feliz, e agora com essa neta maravilhosa, eu os amo tanto, e tudo isso  é graças a você, obrigada filha – ela me abraçou forte, com lagrimas nos olhos.

— Eu falei para você que cuidaria bem dele – disse rindo, e ela riu também.

— A sua família é linda.

— Sim – disse os olhando – minha família é linda.