Me virei para olhar Maxon bem devagar, tentando pensar em alguma coisa. A primeira foi: ele é um príncipe, e eu não vinha tratando-o como tal. Isso poderia me colocar numa enrascada. A segunda: talvez a Meri nem tenha chegado a sair do quarto. E a terceira: a culpa era toda minha.

— Bom... Alteza — fiz uma reverência longa e demorada, tentando mostrar o mínimo de respeito que eu não mostrei anteriormente. — Tenho um bom motivo, juro. Um ótimo motivo.

Ele não parecia estar realmente bravo, parecia mais... curioso. Como estivesse tentando entender o que eu queria dizer com aquelas coisas.

— Mil perdões, Alteza. Acredito que não era nada o que vi no meu quarto, já que o palácio continua tão calmo. Peço desculpas pela inconveniência, voltarei a dormir agora — falei, de cabeça baixa.

Então fiz uma reverência e me virei de costas para sair.

— Senhorita Annalise!

Me virei na direção do príncipe, encontrando-o mais perto do que antes.

— Peço que, por favor, não conte para as outras sobre esta noite. Receio que elas não ficariam felizes, já que o momento em que deveríamos nos conhecer oficialmente é amanhã.

Assenti com a cabeça. É claro que eu não contaria. Aquelas garotas já me odiavam o suficiente por um motivo besta.

— E há mais uma coisa — ele fez uma pausa. — Esperarei ansiosamente por nosso próximo encontro — falou, abrindo um sorriso em seguida.

Como se já não bastasse todo o estrago que eu fiz. Esperando pelo nosso próximo encontro? As coisas não deveriam ser assim. Como fui idiota.

Resolvi não responder nada. Apenas fiz uma outra reverência e corri para o quarto, subindo as escadas com velocidade.

— Senhorita, nós verificamos tudo e não encontramos nada. Ficaremos aqui do lado de fora esta noite para que não precise se preocupar — disse um dos guardas de antes quando apareci na porta do quarto.

Respondi com um aceno de cabeça.

Quando entrei no cômodo, fechei a porta com força e me encostei nela. Eu estava me sentindo o ser humano mais burro da face da terra. Qual era o meu problema? Por que eu tinha sempre que estragar tudo? Quando fui parar naquela dimensão, a última coisa que eu esperava era que faria estragos tão grandes assim. O que seria de Maxon e America agora? Aquilo tudo que aconteceu — e que deveria ter acontecido — foi essencial para o início do relacionamento dos dois. Como eles continuariam sem essa parte?

Eu não queria desistir deles, mesmo que naquele momento parecesse quase impossível juntá-los da mesma forma que a história original. Mas eu faria de tudo, tentaria com todas as minhas forças e faria com que eles se apaixonassem lindamente um pelo outro. Afinal, almas gêmeas sempre se encontram, não importa a circunstância. Pelo menos era isso o que eu esperava.

***

No dia seguinte, quando fui despertada pela voz calma e baixa de Bianca, meus olhos estavam pesados e sem vontade nenhuma de abrir.

— Senhorita Annalise, por favor, acorde — me virei para o outro lado, tampando o rosto com a coberta.

Passei muito tempo pensando em possíveis planos para aproximar o príncipe Maxon de America, o que resultou em horas de cabeça cheia. Eu não dormi praticamente nada.

— Senhorita? — Ela me sacudiu levemente. Descobri o rosto.

— Está bem, já estou levantando — resmunguei.

Era legal me produzir tão bem quanto como se estivesse indo à um casamento, mas também era cansativo. Mesmo que a maior parte fosse feita por outras pessoas. Eu ficava em silêncio a maior parte do tempo, apenas observando-as trabalharem.

Depois do banho, optei por um vestido da cor bege, mais apertado nos seios e solto na parte de baixo. Gisele foi quem fez meu cabelo novamente. Ela o prendeu todo num rabo de cavalo e fez duas tranças, enrolando-as e formando um coque. Depois da maquiagem, escolhi as joias e o sapato e estava pronta. Ana continuava agindo igual.

Quando tudo estava terminado, me dirigi para o vestíbulo onde encontraria as outras meninas.

A única parada ali era America, que olhava distraidamente para o teto.

— Oi — falei, me aproximando.

— Ah, oi — respondeu ela, ficando em silêncio depois.

Mexi nervosamente na barra do vestido.

— Então... Hum... Meri?

— Sim? — Ela direcionou seu olhar para mim.

— Ontem de noite você por acaso sentiu alguma coisa? Digo, um desconforto, talvez algo como uma falta de ar... — evitei encará-la, procurando qualquer outra coisa para olhar.

Passou um tempo e ela não respondeu, o que me fez dar uma conferida em sua reação. Ela parecia confusa.

— Não? — Continuei.

— Bom... Não. Na verdade, eu dormi bem rápido. Mas não entendi o motivo da sua pergunta.

Ela não parecia estar mentindo.

— Ah, nada não. Esqueça isso.

America assentiu, voltando a se distrair em seguida.

Então ela dormiu a noite inteira e nem sequer colocou o pé para fora do quarto. Maravilha, estraguei tudo novamente. Me encostei numa parede para esperar, soltando um suspiro. Eu ainda não havia tido ideias muito boas, mas precisava colocar algum plano em prática. Qualquer plano.

Aos poucos, as garotas começaram a chegar. Uma mais bonita que a outra, todas bem produzidas e arrumadas. Exatamente como America descreveu; elas queriam impressionar o príncipe, só não sabiam o que ele estava realmente procurando.

Após a chegada de todas nós começamos a andar. Fomos na direção do Grande Salão, que estava preenchido por fileiras de mesas individuais, cada uma com copos, pratos e talheres. Estávamos sendo filmadas, o que meu deixou um tanto nervosa. Também haviam sofás no canto da frente, encaixados na parede.

Tivemos liberdade para nos sentarmos onde queríamos, já que não haviam lugares marcados. Me sentei ao lado de America e Marlee. Ashley perto de nós. As meninas conversavam baixinho, mas logo se calaram quando Silvia apareceu para nos receber.

— Olá mais uma vez, senhoritas. Espero que tenham tido uma noite de muito descanso após o primeiro dia no palácio, porque é agora que nosso trabalho começa. Hoje, começarei a ensinar a vocês etiqueta e comportamento. Será um processo que durará todo o tempo que as senhoritas ficarem aqui. Por favor, saibam que qualquer mau comportamento de sua parte será relatado imediatamente à família real. Sei que parece cruel, mas este não é um joguinho qualquer. Alguém desta sala será a próxima princesa de Illéa. Não é uma tarefa fácil. As senhoritas devem procurar se elevar, não importa sua condição prévia. Serão damas de alto a baixo. E, nesta manhã mesmo, receberão sua primeira aula. É muito importante ter modos à mesa, e antes de fazer uma refeição na presença da família real, as senhoritas devem conhecer a etiqueta. Quanto mais rápido terminarmos a aula, mais rápido as senhoritas tomarão seu café da manhã. Assim sendo, levantem o rosto, por favor.

Depois de dizer isso, Silvia começou a explicar todas as regras de etiqueta, como deveríamos nos portar, o que deveríamos fazer e um monte de outras coisas das quais eu prestei bastante atenção. Senti meu estômago doer de fome quando dois guardas entraram no Grande Salão, abrindo caminho para o príncipe Maxon.

— Bom dia, senhoritas — ele disse, e todas as garotas começaram a se ajeitar mediante sua presença.

— Majestade — disse Silvia, com uma breve reverência.

— Olá, Silvia. Se não se importa, gostaria de me apresentar a essas jovens.

— Absolutamente — ela respondeu, inclinando-se mais uma vez.

Grudei meus olhos no chão, esperando não ser notada. Afinal, não era para ser eu. Finalmente criei coragem para levantar o olhar, sendo surpreendida ao ver que Maxon me encarava. Ele não parecia sério, tão pouco sorria. Ao invés disso, ele aparentava estar nervoso. Arqueei as sobrancelhas, um pouco surpresa, e logo em seguida voltei a olhar para o chão.

Precisava pensar e alguma coisa, e precisava ser rápida.