Aurora: Notes Of a Dead Girl escrita por Petra


Capítulo 4
IV - Meu nome é Apolline




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Dessa vez, o mundo é escuro. Muito escuro. E minha cabeça é mais pesada que a tampa da enorme caixa de brinquedos que não consigo abrir sozinha. Penso em pedir que mamãe venha me ajudar a abrir minha cabeça como ela me ajuda a abrir caixa. Só que o pensamento não está certo e fico brava. Me forço a entender, a acordar, a levantar, qualquer coisa. Não consigo, mas dessa vez não por estar amarrada, pois não estou, é pior. Meus braços e pernas estão lá, estão soltos, mas consigo apenas senti-los, e quando eu tento movê-los eles só tremem um pouquinho.

 

Tento abrir meus olhos. As pálpebras também são pesadas, mas ainda assim consigo. O mundo fica um pouco menos escuro, mas agora vejo pontos brilhantes e coloridos dançando a minha frente, eles acompanham minha visão para onde quer que eu olhe e me atrapalham. Espero que eles desapareçam e então olho ao redor. É um quarto de madeira e lá há duas mulheres.

 

Elas usam aqueles panos na cabeça que me lembram de algum desenho que já vi, mas não me lembro qual. A roupa é da mesma cor do pano, branca e azul clara. Elas têm caras bondosas e me lembram as Moças Que Sabem O Que É Melhor para Você lá da escolinha. Gosto delas.

 

Uma delas se aproxima rapidamente assim que olho para ela.

 

- Oi pequena, você está bem? Qual seu nome?

 

Tento mexer a cabeça ou falar “não me sinto muito bem”, mas só consigo deixar o queixo cair, abrindo a boca, não consigo fechar a boca novamente nem articular palavras, acabo pronunciando um “hummmmm”. Eu só arregalo os olhos. A Moça se preocupa.

 

- Não precisa, não se esforce. Recupere-se, está bem? Logo você vai ficar forte e aí nós conversamos de novo, ok?

 

Emito um “humm” de concordância, embora ache que empregar “conversaremos de novo” não seja exatamente adequado. Minha barriga resolve se pronunciar também e reclama de fome bem alto. Eu fico vermelha, envergonhada.

 

A outra moça, que tinha ficado atrás e segurava uma tigela na mão, corre para perto, se desculpando infinitamente. Ela pega uma colher sobre a mesinha ao meu lado e a usa para me estender o mingau da tigela. Eu só posso olhar ávida para a colher que vem. A primeira colherada volta para fora um segundo depois de eu ter tentado engoli-la, num engasgo, mas depois consigo comer o resto. Satisfeitas, a Mulher da Conversa e a Mulher do Mingau vão embora após um tempo. E eu, que lembro um pouco dos eventos recentes, me pergunto que bosque era aquele.

  ~~

Várias vezes voltam as duas mesmas moças, elas me alimentam mais uma vez com coisas fáceis de engolir e eu vou me sentindo cada vez melhor. Depois de um tempo, quando começa a escurecer, consigo mexer meus braços e balançar minha pernas, que vejo mais brancas que o normal. A primeira vez que me levanto, vou acompanhada pela Moça da Conversa dar uma volta no quarto. Até então não tinha me interessado pelo que tinha lá. Tem outra camas em volta da que eu estava, é um lugar até bonitinho, mas com um ar muito sério, tipo Quarto dos Pais ou Quarto do Trabalho do Papai. Chego até um espelho e aponto, ainda não falei com as Moças, apesar de saber que já consigo se tentar. Quando ela me estende, vejo na imagem alguém bem diferente de mim. Sou eu ainda, eu acho, mas estou magrela e muito branca, meu cabelo está bem curtinho, bem diferente dos fios tão longos que eu tinha antes, meu rosto tem umas boas marcas de cortes, que já estão sarando, e estou vestindo uma camisola rosa. No geral não gosto de rosa, mas gosto dessa camisola.

 

No dia seguinte, a Moça da Conversa vem e se senta na beira da minha cama. Ela tem um ar muito paciente.

 

- Está tudo bem com você? Você já se sente preparada para falar?

 

Eu concordo com a cabeça. Ela espera, indicando que quer me ouvir falar aquilo. Abro a boca, mas o que sai é diferente do “sim” que eu formulava.

 

 - É.

 

- Muito bem... Apolline, esse é seu nome não é? Você o murmura quando dorme.

 

Eu curvo as sobrancelhas, esse é meu nome? Eu acho que não, acho que meu nome é igual ao nome de uma daquelas princesas do desenho... Branca de Neve? Rapunzel? Não, minha mãe nunca me daria um nome desses, deve ser Apolline mesmo. Eu concordo fracamente com a cabeça. Ela mais uma vez espera, quer que eu me acostume a falar de novo.

 

- Sim. É. – Ela fica contente, eu também.

 

- É um nome muito bonito! Quantos anos você tem?

 

Quatro, eu sei que tenho quatro anos. Aquela idade chata na qual não se pode estender nem uma mão completa para indicar os anos de vida. Um segundo antes de falar, percebo que resolvi mentir.

 

- Cinco. Cinco anos. – E pronto, como um passe de mágica, eu tenho uma mão inteira indicando minha idade. Maravilha.

 

Ela sorri, encorajando.

 

- Você sabe de onde veio?

 

Isso eu sei também, é fácil.

 

- Do bosque. Do mato. – Mas não me parece totalmente certo. A Moça também parece não achar certo e eu fico meio nervosa, era isso? Eu balanço a cabeça, pareciam que todas as palavras recém-lembradas iam embora. Ela se preocupa.

 

- Não se esforce demais, querida. Já está muito bom, muito bom mesmo. Eu volto depois, pode ser?

 

E ela me deixa mais uma vez. Eu estou confusa, muito confusa.


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Notas finais do capítulo

Caraca, o próximo capítulo ta dificil ç_ç



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