Aurora: Notes Of a Dead Girl escrita por Petra


Capítulo 1
I - Escuro




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Meu nome? Será que algum dia eu chegarei ao ponto de esquecer definitivamente meu próprio nome? Espero que não... Até porque, se eu esquecer meu nome, como lembraria que esse caderno existe? Enfim, não custa registrar. Aurora Salander. E é só.

 

Minhas memórias começam num corredor imerso na penumbra, um corredor que poderia amedrontar qualquer criança de quatro anos como eu, mas ele não me assustava, pois eu conhecia aquele lugar como a palma de minha mão e ao meu lado vinha a pessoa que eu sempre acreditei que fosse me proteger de tudo.

 

Eu andava segurando a mão de minha mãe, ela falava que eu estava de parabéns por minha primeira semana de aula. Eu me sentia bem com a primeira semana de aula. Todas aquelas crianças correndo, algumas chorando, eu não via razão em chorar! Lá a gente estava sem os pais, sem os empregados pra chamar a gente de “pequena madame” ou “patroazinha”,  podia ser o Reino das Crianças! Mas as pequenas bobocas insistiam em chorar. Eu já havia resolvido que construiria meu Reino sozinha.

 

   Minha mãe pára de falar, um silêncio meio constrangedor se abate. É que estamos passando na frente do quarto dela, o grande Quarto dos Pais, aquele que era Quarto dos Pais e da Aurora até pouco tempo atrás. Ela acha que vou reclamar a essa altura, como eu fazia antes. Mas isso para mim é passado e eu sou uma criança crescida, mesmo que o “antes” fosse ontem. Apolline tinha dito que eu era grande muito grande e que eu não deveria chorar, eu ouvi, e gostei.

 

Passo pela porta do quarto dos meus pais sem hesitar, minha mãe fica orgulhosa e isso me deixa feliz. Vamos direto para o Quarto da Aurora, aquele quarto que antes parecia tão tão grande, assustador e solitário, mas que Apolline me ajudara a ver como ele realmente era: espaçoso, exclusivo, imponente e meu. 

 

Nós entramos, minha mãe me ajuda a vestir o pijama de girafas. Ela sabe que eu adoro aquele pijama. Ela se abaixa e eu fico na ponta dos pés para beijar seu rosto e receber meu Beijo de Boa Noite. Ela bagunça meu cabelo e diz “É hora da minha garota inteligente ir dormir”, ela vai me levar até a cama, mas eu faço questão de ir lá correndo sozinha. Digo “Tudo bem, mamãe”, me deito e me cubro o mais rápido que posso. Quero que ela fique feliz de novo. Ela até sorri, um sorriso bem largo, mas ele não alcança seus olhos. Posso ver nos olhos dela algo como melancolia – não que meu escasso vocabulário de criança de quatro anos tenha essa palavra – mas o resultado é um sorriso meio triste.

 

Finjo um sorriso, já não estou tão alegre. Ela diz mais um “Boa noite, durma bem querida.” E após uma breve pausa, fecha a porta. Esse era o momento que eu geralmente entraria em desespero, chamando por ela, mas isso era antes. Eu não estou nem com medo de dormir sozinha.

 

Espero a luz do corredor se apagar e ligo o abajur da cabeceira de minha cama. É um abajur bem bonito, faz aqueles bichinhos legais ficarem dançando pelo teto, eu mesma escolhi. Me sento, encostada no espaldar da cama, analisando com os olhos meu quarto escuro. Talvez as sombras fossem me assustar, talvez o vulto próximo a janela, que pode muito bem ser um galho, talvez o silêncio. Mas não me amedrontam, pois, como eu queria, Apolline estava ali, me esperando com aquele sorriso tão meigo que sempre reservava a mim.

 

Ela não viria até minha cama, é tímida. Eu me levanto e vou até ela, a saúdo da melhor forma possível. Ela me cumprimenta, sempre sorrindo. Eu percebo como adoro Apolline. Estendo os braços e a pego da prateleira onde se encontra. Ela é muito bonita, com aquele cabelão vermelho e aqueles olhos azuis. Muito mais bonita que aquelas Barbies que as garotas insistem em gostar. Apolline é macia, cheirosa e muito, muito simpática. Sei que posso confiar nela, ela também confia muito em mim.

  

Deito com Apolline aconchegada no travesseiro a meu lado, digo a ela que hoje não precisa contar histórias nem me acalmar, porque já sei que sou uma garota grande muito grande. Estendo o cobertor até que ele me cubra até o pescoço. Apolline prefere ficar meio para fora, então o cobertor está apenas sobre suas perninhas brancas de pano. Estou com sono, mas Apolline não, ela tem aquele olhar de “Está tudo bem”, ela diz que eu posso dormir, ela vai ficar vigiando meu sono. Eu fecho os olhos e acredito nela, sei que ela não vai dormir e vai cuidar de mim. Durmo meu sono pesado de criança satisfeita. Nada que eu fizesse diferente iria mudar o que aconteceu, pois, do Vulto na Janela que Não era Galho, nem meus pais, nem os empregados simpáticos que me chamavam de “pequena madame” e “patroazinha” e nem Apolline podiam me proteger.


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Notas finais do capítulo

P.S. Como tento descrever o pensamento de uma criança, escrevo alguns erros propositalmente, como a repetição de termos (que torna o raciocínio mais fácil, com frases mais curtas) e, em outros capítulos, a grafia de algumas palavras (que colocarei destacadas para mostrar que o erro é proposital).
Fora isso, agradeço todo e qualquer review que me atente a outros erros, ou qualquer questão referente a correção, estilo, incoerência, etc. =]



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