Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 24
Arriscar


Notas iniciais do capítulo

A Universidade federal da Saúde, pra quem não se lembra, é um local fictício que já foi citado aqui na fic.



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Quando começaram os preparativos para a festa, Marina decidiu logo de cara que queria uma coisa menos formal do que a de quinze anos. O salão se parecia bastante com uma boate, cheio de luzes coloridas, com um bar que servia bebidas de vários tipos (seus pais permitiram algumas bebidas alcóolicas leves, mas cobraram responsabilidade dos jovens) e uma enorme pista de dança. Quase todo mundo do colégio fora chamado e comparecera em peso.

Bia estava passando uns dias na casa de Xaveco, aproveitando que Xabéu ainda estava na cidade. Os três saíram juntos várias vezes e passaram algumas noites comendo pipoca e bebendo refrigerante de maçã, como faziam quando os mais novos eram crianças e a mais velha tinha que ficar de babá quando os pais saíram.

Mesmo estando no Limoeiro, ela não conseguira ver Nimbus nenhuma vez. O resultado do vestibular saíra algum tempo antes e ele estava bastante ocupado ajudando o irmão com os preparativos para sua mudança, já que ele iria definitivamente para o campus da UFS em algumas semanas.

Embora nunca fosse admitir, ficara bastante ansiosa para vê-lo. Quando ele chegou, muito bem vestido com uma calça e camiseta sociais, um friozinho apareceu no estômago. Sentira saudades dele, das conversas que tiveram na beira da praia enquanto amanhecia, das risadas e daqueles dias de verão que pareciam um universo paralelo.

Aquela festa estava marcada por reencontros, na verdade.

Magali estava um pouco tensa. Era a primeira vez que veria Cascão depois da viagem e ele lhe mandara uma mensagem quando estava a caminho do salão dizendo que precisava conversar com ela sobre algo importante. Estava tentando de todo jeito não transparecer o nervosismo, mas Mônica notara logo de cara.

Assim que chegaram à festa elas escapuliram para o bar. A comilona precisava de alguns minutos antes de encarar todo mundo e não queria ficar sozinha. A baixinha, ainda que não quisesse desgrudar do namorado, sabia que era o momento de ser uma boa amiga.

— Eu não sei se to preparada... – Magali confessou, tomando um gole de sua batida de melancia. – O que eu faço, Mô?

— Ai amiga... – a outra sorriu – Relaxa. Mesmo que seja uma conversa tensa, é o Cas né. Aposto que ele vai fazer alguma gracinha e vai ficar tudo bem.

— É... – suspirou pesadamente.

— Você gosta dele?

— Eu... – parou pra pensar. – Não sei. Eu sempre quis saber se... Ah, você sabe. Se daria certo. Mas... Nunca achei que fosse acontecer de verdade.

— Coisas maravilhosas acontecem quando a gente se arrisca, sabia? – Mônica deu uma risadinha, exalando confiança. Sua vida estava entrando nos trilhos tão rápido, que era impossível não ser otimista.

— É verdade... – as duas garotas quase deram um salto ao ouvir a voz masculina se aproximando. O garoto tinha um sorrisinho maroto no rosto, se divertindo com o susto delas.

— DO CONTRA! – Magali deu um gritinho, aborrecida. – Quer matar a gente do coração, é?

— Só vim dar os parabéns. – girou os olhos exageradamente. – Vocês, hein? Mó festão e as duas escondidas no cantinho fofocando. Depois eu que sou o esquisito...

— Não estamos fofocando! – Mônica se defendeu, mas logo deu de ombros. – Parabéns pra você também. Que loucura isso tudo, hein? – sorriu amistosamente.

Os dois se entreolharam por um instante. Depois de tantas reviravoltas, era estranho conversar assim, como se fossem apenas amigos. Era bom estarem conseguindo trocar algumas palavras, mesmo que casuais e sem importância. Por muito tempo ambos acharam que nunca seriam capazes de fazer isso de novo. De certa forma aquele clima de paz soava como o desfecho que ela tanto esperara.

— Será que a gente vai mesmo se esbarrar por aí no campus? – sorriu Magali, se referindo ao fato de que os três haviam passado para a mesma universidade, do mesmo jeito ela sonhara tantas vezes enquanto conversavam sobre isso durante o verão.

— Vou ter que assistir você comendo até as paredes do restaurante... – ele fez cara de pensativo, fazendo a menina dar um soco leve em seu ombro, irritada.

— Idiota! – ela reclamou, mas logo sorriu. – E eu que vou ter que te aguentar tentando ser o diferentão barroco vanguardista da faculdade? – rebateu, fazendo-o rir.

Mônica arqueou as sobrancelhas, assistindo aquela cena. Havia ali uma amizade que ela nunca tinha reparado que existia. Mais uma coisa estranha e ao mesmo tempo boa, no meio de tantas outras.

— Bom, vou deixar vocês aí com a fofoca. – ele riu, antes de acenar. Quando ia saindo hesitou por um instante e se voltou para elas novamente. – Ah, a Mônica tem razão. Coisas maravilhosas acontecem quando a gente se arrisca. – continuou, subitamente sério. – Especialmente quando é por alguém de quem a gente gosta. – completou, antes de ir embora de fato.

O silêncio reinou por vários segundos. Mônica corou, sabendo que ele falava dela. Por mais que tivesse acabado, ela nunca se arrependeria de ter dado uma chance a ele. Viveram um relacionamento incrível juntos. E Magali viu naquele conselho o incentivo que precisava para tomar coragem. Não fazia sentido nenhum ele ter vindo justamente de Do Contra, mas isso já não fazia diferença. De repente ela estava pronta para ouvir o que quer que Cascão quisesse lhe dizer.

— O que foi isso? – Magali franziu a testa, pensativa.

— Acho que do jeito dele isso foi um empurrãozinho... – Mônica respondeu. Ela, mais do que ninguém, sabia que DC não tinha filtro e dizia exatamente o que pensava. Depois de tantos anos, aprendera direitinho a decifrar o jeito estranho dele.

— Ok, chega de fugir. – a comilona concluiu, terminando seu drink e deixando-o sobre o balcão.

— Boa sorte, amiga. – Mônica sorriu, já assistindo a menina se afastar.

Em outra parte do salão Denise mantinha uma conversa animada com as outras meninas. Por fora parecia mais segura do que nunca, rindo animadamente e falando alto como sempre, mas por dentro estava tão nervosa que mal conseguia respirar.

Parte dela desesperadamente queria ver Xaveco logo, saber se ele estava bem, como tinha se saído no vestibular, o que tinha feito nesses últimos dias e, principalmente, se vê-lo ainda lhe faria sentir todas aquelas coisas que ela não sabia explicar. Mas outra parte, a que estava lhe dominando, só conseguia fugir dele, se esgueirando por todos os cantos da pista tentando evitar poucas os olhos nele por um segundo que fosse.

Conseguiu se esconder por um tempo, mas uma hora o inevitável aconteceu. Ele estava lá, no meio daquele mar de pessoas que enchia a pista, conversando animadamente com Jeremias e Aninha. Tudo nele fazia o coração da ruiva disparar. O jeito com que ele sorria, gesticulando exageradamente como fazia toda vez que um assunto o animava, o colarinho da camisa branca um pouco fora do lugar, porque ele não sabia se manter alinhado por muito tempo de jeito nenhum. O loiro nem reparara que ela observava, mas mesmo assim parecia que adivinhava cada coisinha que precisava fazer para deixa-la encantada. Como ela tinha sido ridícula de cogitar a possibilidade de não estar mais apaixonada por ele...

Pelo visto aquele menino nunca mais a deixaria em paz.

Ele ouvia atenciosamente Aninha e Jeremias falando sobre as séries que estavam acompanhando, os três rindo e se indignando com as tramas que assistiam. Era muito bom simplesmente parar e conversar com os amigos sobre essas besteiras, sem preocupações. A conversa corria perfeitamente bem, mas num instante tudo mudou.

Foi só uma olhadinha de relance, daquelas que a gente dá por reflexo, sem ter nem consciência do que faz. Mas quando a ruiva surgiu em seu campo de visão, ela se tornou tudo o que havia naquele lugar.

Ela estava lá, os cabelos soltos mais compridos do que ele se lembrava, lábios entreabertos, os olhos vidrados nele como se ela tivesse perdido a capacidade de desviá-los. Foi apenas um instante, mas que se tornou tão grande quanto uma cena em câmera lenta. Achava que já estava acostumado a conviver com tudo o que sentia por ela, mas aquele mês e que passaram sem se ver o despreparara para o turbilhão de sensações que um simples cruzar de olhares lhe trazia.

Quando se deu conta ela já estava se afastando, sumindo novamente no meio das pessoas, as costas e as pernas semicobertas pelo vestidinho curto se tornando a única coisa que podia ver dela.

Denise andou o mais rápido que podia, torcendo para que ele não tivesse reparado em seu olhar cobiçoso. Era tão ridículo ser pega no flagra daquele jeito... E mais ridícula ainda aquela vontade de se jogar nos braços dele e esquecer de todo o seu orgulho.

Por que não conseguia criar coragem de se arriscar de uma vez por todas?

Pela milésima vez naquela noite o garoto ensaiou mentalmente o discurso que pretendia fazer. Suspirou pesadamente, deu uma volta no terraço do salão, encarou os próprios pés, contou até dez. Já perdera as contas de quantas vezes repetira aquele processo. Uma, duas, três. O nervosismo lhe tirara a noção do tempo e espaço.

Ouviu o som dos passos dela atrás de si antes de vê-la de verdade. O toc toc da sandália de salto lhe invadiu os ouvidos e ele congelou, instantaneamente esquecendo tudo o que planejara falar.

— Oi. – ela murmurou, obviamente sem graça. Quando se virou ele quase perdeu a linha mais uma vez. Magali parecia mais bonita do que nunca, os grandes olhos castanhos enfeitados por uma maquiagem suave e delicada, como ela toda. – Bonito aqui, né? – continuou, abrindo um sorriso amistoso.

— É... – ele balbuciou, sem saber o que falar. Ela era tão incrível, que mesmo num momento como aquele tentava quebrar o clima todo e deixa-lo mais tranquilo.

— Parece tudo tão longe... – deu uma risadinha, se debruçado na grade que delimitava o espaço. De lá dava para ver as luzes nas casas e os carros passando na rua, aquelas pessoas totalmente alheias ao momento que acontecia entre o jovem casal. A música que tocava na festa soava tão baixinha que quase não dava para ouvir. A noite estava muito bonita, mas por mais clichê que fosse, ele só conseguia pensar que linda mesmo era ela.

— Eu tenho uma coisa pra te contar... – Cascão começou, finalmente tomando coragem. – Na verdade eu tenho uma porrada de coisa pra te contar, véi...

Magali o encarou, um pouco surpresa por ele ter tomado iniciativa tão rápido. O frio na barriga voltou a toma-la por inteiro, mas mesmo assim ela aguardou, não querendo desfazer o momento. Talvez essa fosse ser a conversa que mudaria tudo.


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Notas finais do capítulo

*cof cof cof* Então, tenho nem desculpa pra a demora dessa vez. Minha vida ta uma correria absurda, gente.
Maaaaas finalmente to aqui! Bom, não tenho muita coisa pra dizer, apenas que: preparem-se porque o Cas tem várias coisas pra contar! hehehe
Me surpreendi bastante com o pessoal sentindo falta das tretas! xD Bom, esse finalzinho tá todo paz, fofura e amor, mas to preparando o terreno pra as coisas que vão acontecer depois. Será que esse povo vai conseguir se manter na boa por muito tempo?
Hhhhmmmm... Acho que não.
Por fim queria pedir desculpas de verdade pela demora. Quero realmente voltar ao meu ritmo antigo de postagem, mas tenham paciência comigo porque to num momento meio tenso ):
Ah, tenho que avisar também que escrevi esse capítulo de uma vez e como queria postar logo não deu nem tempo de reler. Então perdoem quaquer coisa!
Enfim, obrigada pelos comentários e mensagens! Vocês são tudo de bom ♥
Kisses



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