Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 23
Como se fosse a primeira vez


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tem algumas passagens de tempo, então atenção para não se perder!



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O garoto vacilou, encarando a tela rachada do celular por alguns minutos. Relaxa mané, não vai dar nada repetiu mentalmente, tentando controlar a ansiedade. Finalmente tomou coragem para ligar. Enquanto esperava, cada segundo pareceu uma eternidade.

Olá, Cássio!— uma voz feminina atendeu do outro lado, já sabendo que era ele.

— O-oi. – ele se praguejou por ter gaguejado, mas não conseguiu controlar.

Estava esperando sua ligação. – continuou, com um tom alegre. – Precisamos acertar alguns detalhes antes de qualquer coisa.— continuou.

— Ok. – respondeu, sabendo que se falasse mais provavelmente a voz vacilaria outra vez ou ele acabaria dizendo besteiras.

“18 anos

Marina

Te convido a comemorar comigo este momento especial.

No salão Grand Hall – Rua das Macieiras – Bairro do Limoeiro

Dia 10 de Fevereiro - Às 21 horas”

No momento em que Mônica recebeu o convite da festa de Marina, ela soube que o grupo das garotas estaria sendo bombardeado de mensagens animadas. Em uma questão de minutos, todas já estavam falando sobre vestidos, penteados e planos para aquela data tão importante.

Havia uma tensão permanente entre os jovens, com o terror do resultado do vestibular que estava para sair e as recentes confusões sentimentais, então uma festa era sempre bem-vinda.

Agora, apenas alguns dias depois, ela, Magali e Denise batiam perna no shopping do Limoeiro, à procura do visual perfeito. Se olhou no espelho do provador, analisando o vestido azul claro que escolhera. Era engraçado como de repente se sentia mais vaidosa e bem consigo mesma. Só de pensar no sorriso bobo que Cebola lhe dava toda vez que a via, como se ela fosse a garota mais linda do mundo, já se pegava suspirando pelos cantos e escolhendo o que usaria com muito mais animação do que antes. Não que precisasse de um garoto para se amar, mas com certeza era um incentivo extra.

Nunca tinha sido assim com ele antes. Por mais que soubesse que ele sentia essas coisas por ela há tempos, não havia aquela segurança, a certeza de que eram um casal e estavam juntos de verdade. Agora, pela primeira vez, podia gritar para o mundo o quanto estava apaixonada, podia sonhar com a presença dele nas próximas ocasiões importantes de sua vida, como as festas de família, os aniversários e todos os momentos que estavam por vir.

Mesmo que fosse estranho notar que ela passara os últimos dois anos sem perceber aqueles sentimentos, agora que se permitira vive-los de uma vez eles se tornaram maiores do que nunca.

— Gatas, já to pronta! Podemos sair? – Denise gritou, do provador ao lado.

As três saíram ao mesmo tempo e se encontraram no corredor cheio de espelhos, rodopiando e fazendo poses para que averiguassem as escolhas. Magali bufou, insatisfeita com o vestido rosa que usava e Denise franziu as sobrancelhas, ainda nada convencida de que o conjunto de blusa e saia pretas era a escolha certa.

Para Mônica, aquele era o escolhido. Toda vez que via o próprio reflexo, se achava tão linda que só conseguia pensar que estava se vendo através dos olhos dele.

Como no dia da festa de 15 anos, garotos e garotas se dividiram para se preparar em conjunto. Na casa de Cebola, os meninos jogaram truco, bateram papo e no final se vestiram do melhor jeito possível. Enquanto Franja andava de um lado pro outro, nervoso como se estivesse se preparando para o casamento, Nimbus parecia um poço de tranquilidade. Finalmente veria Bia mais uma vez e estava extasiado, mas sem nervosismo nenhum, porque ela tinha esse poder de deixa-lo estranhamente calmo.

Xaveco tentava disfarçar a ansiedade. Seria a primeira vez que veria Denise desde a praia e era impossível não se sentir estranho com isso. Do Contra, sentado numa poltrona jogando alguma coisa no celular, já devidamente arrumado, franziu as sobrancelhas como se quisesse perguntar ao amigo se estava tudo ok. Toda aquela situação complicada pela qual ambos passaram os fizera se tornarem grandes amigos. O moreno se sentia um pouco perdido estando ali, especialmente por ser a casa de Cebola, mas não queria perder a oportunidade de viver esses últimos momentos com a turma. Depois daquelas férias, tinha planos para o futuro que talvez o levassem para longe dali.

Cascão dobrou as mangas da camisa social azul escura que vestia, tentando ignorar os olhares de cobrança que Cebola lhe lançara a noite toda. No momento em que o viu abrir a boca, já soube o que ele iria dizer.

— Cara, quando você vai falar com a Magali?

— Eu... – respondeu – Sei lá, careca!

— Mano, as coisas estão diferentes agora! – o outro rebateu, parecendo genuinamente preocupado – Você tem que contar pra ela! Aliás, você tem que contar pra todo mundo! Ou tu acha que ela nunca vai descobrir?

— Eu sei que ela vai descobrir! – bufou – Eu quero que ela saiba. É só que... Isso vai mudar tudo na minha vida. Tu sabe que eu ainda to meio perdido com essa coisa toda...

— Eu sei. Mas não perde as oportunidades...

— Porque elas podem não voltar depois e blá blá blá. – girou os olhos dramaticamente – Eu sei. E se tudo der certo, hoje mesmo ela vai saber também.

Cebola deu um sorriso animado, voltando a se olhar no espelho. Ele e Mônica finalmente estavam prontos para assumir aos amigos que eram um casal. Aquelas semanas que passaram juntos, curtindo vários momentos a dois sem ninguém para pressionar, tinham suficientes para provar que era isso o que queriam. Amava tanto aquela garota. Com todos os defeitos, o mau humor, os sorrisos e as músicas bregas que cantavam juntos enquanto faziam pipoca pra comer vendo filmes ridículos na TV a cabo. Depois de tantos anos de amor e amizade, achava que já conhecia cada coisinha sobre ela, mas Mônica sempre dava um jeito de surpreendê-lo, mesmo sem querer.

— Tu tá mudado mesmo, hein careca? – Cascão interrompeu seu devaneio, olhando-o com as sobrancelhas arqueadas. – Se tu visse as caras de mané que faz quando pensa nela...

— Ah... – murmurou, constrangido. Mas logo riu alegremente – Eu tô apaixonado, brother. Tô apaixonado.

— E aí, caras, ces tão prontos? – Xaveco chamou, aparecendo na porta do quarto.

— Mais pronto que nunca. – Cebola respondeu, colocando a mão no bolso da calça e sentindo a caixinha de veludo que colocara ali dentro. Só de lembrar do que tinha planejado um arrepio lhe surgiu na espinha, junto com um nervosismo gostoso e assustado que só situações assim são capazes de causar.

— To indo buscar a Marina. Vejo vocês mais tarde. – Franja anunciou, aparecendo ao lado do outro antes de sair apressadamente.

O caminho até a festa pareceu durar uma eternidade. Haviam tantas promessas implícitas naquela noite, que era impossível simplesmente encará-la como uma ocasião qualquer.

Franja foi recebido pela mãe de Marina e esperou na sala de estar, como se fosse a primeira vez que viviam um momento assim. E ao ver a namorada descer as escadas, mais deslumbrante do que nunca, ele soube que poderiam se passar anos e anos, mas o frio na barriga sempre voltaria.

Cebola pegou emprestado o carro do pai e rumou para a rua de Mônica. Os amigos haviam combinado de encontrar as garotas lá no salão de festas, mas ele tinha algo que precisava fazer.

Encontrou a casa dela em polvorosa, Magali andava pra lá e pra cá, ainda descalça, ajudando as meninas a ajeitarem algo nos cabelos ou na roupa. Dona Luísa lhe sorriu amistosamente quando o viu parado, um pouco em pânico, no meio daquela confusão de moças apressadas. Quando ela lhe disse que Mônica estava no quarto, o garoto precisou segurar a respiração. Bateu na porta um par de vezes e sorriu ao ouvi-la gritar um “não achei seu batom, Dê! Mas pode entrar!”.

— Eu acho que não sou a Dê. – ele riu baixinho, fechando a porta atrás de si. A garota estava sentada na penteadeira, colocando um brinco prateado cheio de penduricalhos e virou-se para ele, obviamente surpresa.

— Cê? – perguntou, em choque.

Ele não conseguiu evitar correr os olhos por ela, passando desde os pés calçados numa sandália com salto tão alto que o deixava tonto, as pernas ainda bronzeadas da praia, o vestidinho azul tão delicado, os lábios pintados com um tom rosado e os olhos marcados por uma maquiagem suave.

— Você... – ela balbuciou – Aconteceu alguma coisa? – levantou-se, mordendo o lábio inferior, ansiosa.

— Mônica... – ele começou subitamente sentindo as mãos suarem. – Você aceita namolar comigo? – perguntou, pondo-se de joelhos e abrindo a caixinha para mostrar o anel com uma pequena pedrinha verde. Ela levou as mãos à boca, chocada, mas logo o sorriso surgiu.

— Levanta daí, seu bobo! – sorriu, puxando-o pela mão. – É claro que eu aceito!

No instante seguinte ele já estava abraçando-a pela cintura, iniciando um beijo de tirar o fôlego. Parecia que tudo o que viveram servira apenas para tornar aquele momento ainda mais esperado e especial.

Quando saíram do quarto, com o anel já brilhando na mão dela, foram recebidos por vários gritinhos e risinhos animados das garotas. Seu Sousa fez questão de cumprimentar o genro e fazer as costumeiras advertências de pai ciumento.

Mônica já fantasiara inúmeras vezes com o dia que finalmente os dois se acertariam, mas a realidade, apesar de mais simples do que seus sonhos mirabolantes, foram melhor do que ela imaginara.


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Notas finais do capítulo

EU VOLTEEEEI VOLTEI PARA FICAR (8)
Perdão por demorar 84 anos pra postar e chegar aqui na cara de pau com um capítulo desse tamanho! :P
Mas foi um capítulo importante, vai?
Finalmente acabou o ENEM, tirei essa semana pra descansar bem e agora estou de volta à ativa. Queria agradecer a paciência e o carinho de vocês. É muito importante pra mim ♥ (tirei print de todos s comentários do aviso pra guardar dentro do coração! hahaha)
Nessa reta final da fic tá tudo puro açúcar, né? Esse capítulo em especial... Ai gente, não consigo me segurar. Particularmente gostei muito daquela parte da Mônica no provador. É muito bom a gente se ver num relacionamento que passa essa segurança!
E esse telefonema misterioso, hein? Logo logo revelo o segredo!
Um beijo enorme pra vocês ♥