Para Sempre - Parte II escrita por JVB
JULIE
Steve pediu a conta e insistiu que queria pagar. Quando ele abriu a carteira vi rapidamente uma foto que eu achei familiar. Não disse nada, devia ser coisa da minha cabeça.
- Vou no banheiro – ele disse.
Ah, eu não podia mentir e dizer que estava tudo bem, que eu estava aqui para virarmos amigos. Eu só queria ver Steve e toca-lo – mesmo que só na hora de dizer “olá” e “tchau”.
Mesmo que tivesse Stuart, mesmo que tenha se passado cinco anos, eu ainda sentia algo no meu peito toda vez que eu o ouvia falar. Aqueles olhos verdes não diziam muita coisa, ele não era muito transparente. Era difícil saber o que ele estava pensando e isso me frustrava muito.
Mas de qualquer maneira, ele tinha uma namorada também, é claro que ele não sentia nada por mim.
Ele chegou e nós nos retiramos do lugar. Steve me acompanhou até o carro, paramos em frente do mesmo e involuntáriamente ficamos nos encarando.
- Você ficou muito bonita com o cabelo escuro.
Abri um enorme sorriso.
- Ah, obrigada. Você está ótimo também. – Eu disse, mesmo que ele não tenha mudado quase nada.
- Bom, vou indo. – Ele me deu um abraço de despedida e aquilo se demorou mais do que o esperado. Eu queria muito ficar perdida naquele abraço mas ele logo se afastou.
- Até mais, Steve. – Entrei no carro da minha mãe e eu deixei ele ali, olhando para o caro até eu virar a esquina, como da primeira vez.
***
Era 27 de dezembro e eu não parei de pensar por um instante em Steve. Me sentia culpada toda vez que Stuart me ligava e dizia que me amava. Eu gostava dele mas depois de ver Steve novamente eu tinha certeza que não o amava o suficiente e que Steve ainda tinha um lugar muito maior no meu coração e na minha vida.
Eu estava ouvindo Augusto tocar piano quando a campainha tocou. A moça que trabalhava aqui foi abrir a porta então nem me incomodei. Já era quase duas horas da tarde e minha avó tinha saído com minha mãe para comprar algumas coisas.
A empregada da casa apareceu na sala e avisou que tinha uma visita no jardim e que não queria entrar. Falei para Augusto que eu iria ver quem era, e que podia prosseguir tocando seu piano.
Quando sai de casa, Steve estava saindo da casa da frente – da casa de sua avó – e me viu também. Acenou com a mão e eu acenei de volta. Fui para o jardim e me deparei com uma Jessy.
- Ah, meu Deus! – Eu gritei. Ela se virou e deu um gritinho também. Nos abraçamos por um longo tempo. – O que você estava fazendo aqui? Como sabia?
- Ah, encontrei sua mãe e ela me disse que você estava por aqui. Que saudade! – Ela me abraçou de novo.
- Nem me fala, eu prometi que iria procurar por você e por Mathew mas você foi mais rápida. Ainda fala com ele?
- Claro, ainda vive na minha casa. Vamos marcar de sair, Julie, como fazíamos antes.
- Sim, sim! Com certeza.
- Eu aproveitei que estava passando por aqui e parei para te ver, mas tenho que ir rápido. Minha mãe está me esperando no carro.
- Ah, então está bem.
Ela me passou o novo número dela e foi embora. Fiquei feliz com a visita e me senti muito bem em ver minha amiga novamente. Eu estava indo para dentro de casa quando Steve atravessou a rua e me parou.
- Aquela era a sua amiga Jessy?
- Era sim – eu respondi.
- Ela me viu e me cumprimentou – ele disse.
- Ah. Pensei que você estivesse indo embora.
- Eu estava, mas vi você e resolvi demorar mais um pouco. – Ele disse, mas não estava olhando para mim. – Preciso falar com Augusto, meu pai mandou um recado para ele.
- Ah, claro. Entre.
Steve entrou mas não fiquei na companhia dos dois. Deixei com que eles conversassem e eu fui para o quarto arrumar algumas coisas. Quando desci de novo, Steve já tinha ido embora e Augusto estava dormindo no sofá. Sobre a mesa de centro tinha uma carteira e alguns papeis.
Mais tarde, quando minha avó e minha mãe haviam voltado, elas mostravam as coisas que tinham comprado e Augusto disse que minha avó estava acabando com o dinheiro dele, mas disse isso de brincadeira.
- Compramos um vestido para você. Nada como os vestidos de Paris mas eu achei lindo – minha mãe disse e mostrou um vestido azul muito bonito.
- Ah, muito obrigada. É lindo.
- Que bom que gostou.
- Augusto, comprei uma calça nova para você porque aquela velha que você tem eu já não aguento mais olhar – minha avó disse.
- Ah, eu gosto daquela calça.
- Mas eu não.
Ele deu risada.
- Tire a carteira daqui para que eu coloque as coisas na mesa – ela entregou a carteira para Augusto.
- Essa carteira não é minha – ele disse e então abriu para ver se tinha algum documento. – É sua, Julie?
- Não, por que?
- Tem uma foto sua aqui. Ah, é de Steve – ele mostrou seu RG. – Vou ligar para ele e avisar que esqueceu a carteira.
- Uma foto sua? –Minha mãe perguntou, olhou para minha avó e as duas olharam para mim.
- O que? Eu não sabia disso, não. – Peguei a carteira e olhei a foto. Era a foto que tiramos e que ele tinha cortado no meio, onde eu fiquei com a parte em que ele aparece e ele ficou com a minha. - Meu Deus... –eu disse baixinho. Não pude esconder o enorme sorriso que surgiu no meu rosto.
- Mas ele não está namorando? – Minha mãe perguntou.
Minha avó olhou para ela e disse:
- Isso não importa. Julie, por que você não liga para ele e entrega a carteira?
- E-eu? Ta, eu vou ligar.
***
Era de noite quando a campainha tocou. Eu sabia quem era, então desci correndo com a carteira na mão. Abri a porta e ele estava lá, me encarando com aqueles olhos verdes.
Ele suspirou pesadamente.
- Sua carteira – e entreguei.
- Você...
- Se eu vi a foto? Sim.
Ficamos em silêncio.
- Olha, não preciso me explicar e nem dizer nada. Isso já diz tudo.
Quando eu vira a foto eu fiquei muito feliz. Ele ainda guardava a foto, ainda guardava o sentimento – isso eu não tinha certeza, mas tudo indicava que sim.
- Não queria que você tivesse visto isso – ele comentou.
- E por que não?
- Porque você tem um namorado e mora em Paris. E porque eu também tenho uma namorada.
Suspirei.
- Quer entrar?
Ele balançou a cabeça e entrou. Tranquei a porta e ele se encostou na parede da sala de recepção, onde tinha a escada que dava para o andar de cima e que minha mãe e meus avós estavam e as entradas para os outros cômodos.
- Por que você ainda guarda a foto, Steve?
- Não sei.
- Ah, não sabe?
- Não é óbvio, Julie? O que você quer que eu diga? Quer que eu fale que nunca parei de pensar em você? O que você quer com isso?
- É muito errado isso tudo...
- Ah, jura? – Ele parecia irritado.
- Eu quero tocar em você – eu disse e então ele parou e me olhou, sem entender.
- Eu também quero tocar em você. Muito.
- Então toque.
Foi como um raio. Rápido e certeiro ele passou as mãos pela minha cintura, me puxou para junto dele e me beijou. Me beijou eufóricamente, liberando toda a dor, a raiva, o amor e a tristeza dos últimos anos que se passaram. Era errado, mas eu não estava ligando - e ele também não.
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