O amanhã sempre chega escrita por Sazi


Capítulo 1
Dias de chuva


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e que possam acompanhar mais esse projeto. Deem duas opiniões sinceras por favor. Isso me ajuda muito.
Obrigada mais uma vez por estarem aqui.



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Mudar nem sempre é bom, muitas pessoas consideram isso como uma desgraça, onde são obrigadas a sair de sua zona de conforto para encarar um mundo, que na maioria das vezes, é sempre cruel. Mas comigo é completamente o oposto. Eu quero mudar, eu anseio por mudar. Eu desejo mudar. Dia a dia, noite após noite, cada segundo que se passa e a cada respiração fora do ritmo, cada cansaço. Cada cotejar daquele soro que ajuda a o manter vivo.

Tudo ao meu redor pede que eu mude que eu saia dessa zona que me trás dor e que construa o meu futuro. Ao invés de ficar parada esperando que a chuva passe e que o amanhã chegue.

Naquele dia as coisas aconteceram tão rápidas que eu não tive como me desvencilhar. Meu irmão estava acelerando demais aquele carro. Eu sei que ele estava mais uma vez em seus delírios. Só que eu estava tão magoada pensando que o homem que eu amava havia me traído que eu não percebi que a coisa certa era ficar e conversar ao invés de fugir e deixar que as coisas se resolvessem sozinhas sem que eu intervisse sobre elas.

Tem sido assim o tempo inteiro na minha vida. Eu apenas tenho fugido. Esperado que algo bom acontecesse e não corri atrás das minhas metas. Eu quero muito que isso fique gravado. O quanto eu fui covarde. E as consequências disso fora mais fortes do que se possa imaginar.

Quando aquele animal surgiu na pista eu sabia que ele não teria como desviar. A rodovia estava repleta de carros. Creio que se ele não tivesse jogado o veiculo para fora do acostamento mais pessoas seriam levadas no processo. Vidas inocentes seriam usadas em prol do alimento de uma loucura. Creio que ele fez o certo, se alguém merecia morrer ou sofrer com tudo aquilo éramos apenas nós dois. Irmãos idiotas. Por que eu não o parei? Penso que o

peso daquela escolha que eu fiz foi alto demais. E me arrependo amargamente por cada passo que eu dei.

Eu podia ter parado ele. Se isso poderia ter sido feito não o foi.

Assim atualmente meu irmão está em coma em um hospital. O carro em que estávamos, que era o do meu pai usado para uma fuga, está afundado. Mais um prejuízo para quem não está bem de finanças. A minha mãe veio nos ver no hospital e ela chorou muito ao saber que ele estava assim. E o pior era que na nossa cidade não havia um hospital que pudesse acolhê-lo. Já que ele estava sem previsão de quando fosse acordar. Não sabíamos por quanto tempo ele ficaria naquele estado.

— Eu tenho uma casa na cidade vizinha. Fica perto de uma escola e de uma faculdade. Não me importaria de lhe ceder para que morassem lá até o Ehtan acordar. - A namorada da minha mãe se dispôs a ajudar.

— Eu agradeço e aceito sim. - fiquei surpresa ao ouvir isso do meu pai. Ele estava aceitando tudo fácil demais. Mas se vissem a sua expressão e a maneira apática como ele estava entenderiam tudo. O homem que tentava se levantar estava mais triste do que nunca. Parecia que o abismo em que ele estava nunca tinha fim e por mais que subisse e subisse sempre estava longe demais de uma saída.

— Que bom que aceitou Carlos, eu não vou poder sair daqui por enquanto, mas aos fins de semana eu dou um jeito de ir ver vocês e visitar o Ehtan. - ela era mãe e por mais que negasse isso a si mesma não podia fugir desse chamado natural que a ligava a nós. No fundo eu não ligava muito se ela vinha ver meu irmão ou não. Ele foi o único que não precisou de ajuda para amadurecer. Eu precisei dele até o fim.

Então tragados por esse contexto nos íamos nos mudar. A casa ficava perto de tudo, até do hospital onde ele ficaria. A casa que morávamos seria alugada, seria uma forma extra de renda e ao mesmo tempo, poderíamos voltar para lá quando ele acordasse.

— Me perdoe por ter fugido daquela maneira. - era uma tarde e como sempre eu estava naquele hospital, esperando, como se meu irmão fosse acordar. Leonny, meu namorado estava comigo naquele dia. Não tinha aula para dar de manhã. Pensando bem fazia mais de uma semana que eu não ia pra escola. As provas finais estavam chegando e eu precisava me preparar. Sempre trazia um livro para estudar. E às vezes ele me ajudava também.

— Tudo bem. Às vezes parece que você não conhece o seu irmão.

— De vez enquanto eu não conheço mesmo. Mas não justifica a besteira que eu fiz. Ele está assim por culpa minha. - ele revirou os olhos e me puxou para um beijo. Eu sempre me revirava toda quando ele me beijava. O toque macio dos lábios dele nos meus me deixava relaxada. Aquele homem era bem mais velho, mas as vezes ele parecia uma criança quando estava comigo.

— Mesmo assim, me desculpe e obrigada por salva-lo. Outro em seu lugar poderia muito bem tê-lo deixado morrer.

— Eu não poderia ter matado o meu cunhado. E nem que ele não fosse nada meu. É um ser humano, ruim, mas um ser humano. E merece viver. Não sou o dono da vida dele e muito menos aquele que a pode tirar.

Eu ri disso. Lenny realmente era um sonho. Porém todo sonho acaba.

— Eu agradeço muito aos céus por você estar aqui.

— Pare de agradecer. Apenas se concentre em me dar amor e carinho todos os dias. - ele sempre dizia isso acariciando a minha bochecha. - Eu te amo Elisa.

— Eu também te amo Leonny. E espero que mesmo com todos os meus defeitos eu possa lhe fazer feliz.

— Você já faz. - ele sussurrou voltando a me beijar.

...

Era um dia de chuva quando estávamos na estrada. Era bem cedo, creio que não passavam das seis horas da manhã. Meu pai tinha sorte apesar de tudo. Elvis o amigo dele tinha um outro bar daquela cidade e em mais duas outras na redondeza. Quando ele lhe contou que estava indo se mudar para lá. Tudo parecia combinado. Estava dando tudo certo. Então meu pai iria cuidar do bar para ele. Enfim ele teria um emprego e eu sei bem que também serio o seu refugio. Já que eu aposto que ele não iria parar em casa por um bom tempo. Em relação a Lenny e eu, nós continuaríamos juntos sim. Só que ele teria que ficar na sua cidade, junto com o pai. Ele, a contra gosto, voltou pra casa. Combinamos de nos ver sempre aos fins de semana. Podíamos nos falar sempre que quiséssemos pelo celular. Não seria tão difícil ou ruim assim. Para que ele não se cansasse tanto eu prometi que um fim de semana eu iria pra lá e no outro ele viria pra cá. Meu pai não se cansava de agradecer a ele. Já o tratava bem, mas agora o tratava melhor ainda.

Geralmente nas mudanças as pessoas se lamentam que fossem perder os amigos e a escola que gostam. Eu por outro lado não tenho nada a perder. Falando nisso Lewis não me procurou mais.  Quando soube do acidente ele apenas mandou mensagens e mais mensagens que Lenny fazia questão de responder. Sempre da maneira mais fria possível. Eu não ligava. Antes achava que ele seria parte da minha ruina. Mas ele apenas fugiu quando viu que as coisas não iriam ser da maneira que ele queria. Naquele dia Jaqueline também apareceu e meu namorado disse a ela coisas que não vale a pena relatar aqui. Eu não sei se o que ela sentia pelo meu irmão era amor, ou simplesmente ela queria ser apenas a namorada do rapaz mais popular da escola. Temido e amado ao mesmo tempo. Eu não sei. Depois daquele dia ela nunca mais apareceu no hospital, como também não se pronunciou mais.

Todos ali se sentiam culpados por alguma coisa. No fundo o ser humano é assim mesmo. Ele busca sempre querer achar um culpado por tudo. Não sei se é para se sentir melhor ou para jogar o peso das suas escolhas nas costas dos outros. Apesar de pensar que ele estava assim por minha causa, me lembro das palavras do meu pai.

— Ele colheu o que plantou minha filha, você acha que ele sairia impune por todos os pecados que cometeu? - nesse dia estávamos no hospital. Era o segundo dia de Ehtan lá. Esperávamos assinar uns papeis para preparar a transferência. - Elisa entenda algo bem simples. Nós pagamos pelos nossos erros aqui mesmo. Nesse plano. Eu pensei muito, mesmo. Perguntei-me o porquê de eu estar passando por isso todos os dias. Então me veio a mente que eu estava apenas colhendo aquilo que eu plantei. Era apenas fruto das minhas escolhas. Então quando eu vejo seu irmão assim eu acredito que tudo é o mesmo em relação a ele.

Já faz um tempo que ele me disse isso, mas aquelas palavras badalam na minha mente como um sino incessante. E sinto que ainda vai ecoar por muito tempo.

...

Enfim meu novo lar. A casa é bonita, bem ampla. Tem três quartos enormes. Arrumamos tudo o mais rápido possível e deixamos para cuidar do que falta quando o resto da mobília chegar. Dois dias antes de nos mudarmos meu pai veio a cidade cuidar da transferência da escola. Ver um pouco o local e conhecer o bar onde ele iria passar os seu dias.

Tínhamos vizinhos por todos os lados. Isso é novo pra mim, já que eu morava em uma casa afastada. Onde tinha uma floresta por perto, não que aqui não tenha. Mas não é tão próxima quanto lá.

— Ei, bem vindo, sou Leonardo Walker. - um rapaz veio nos cumprimentar enquanto eu estava ainda na rua olhando os funcionários da transportadora descarregar tudo. Moraríamos ao lado da casa dele, eu presumo. Não sei se era costume eles darem as boas vindas assim, mas ele estava sendo gentil. Não mataria se eu responder.

— Obrigada. - eu disse timidamente. Havia uma garota muito bonita ao lado dele. Os cabelos dos dois eram da mesma cor e ela era parecia com ele, presumi que fossem irmãos.

— Fique a vontade, a proposito sou Laís, moramos aqui na casa ao lado. - ela me cumprimentou e eu estendi a mão e toquei a dela.

— Certo. - pensei que precisava me aproximar. Nunca fui boa nisso. - Próximo ano eu vou pra escola. Posso ir com vocês se não for incomodo. - senti minha voz baixar o tom à medida que eu falava.

— Claro. Esse é meu ultimo ano na escola e iria para a faculdade ano que vem, que por coincidência fica ao lado da escola, mas a senhorita aqui está no primeiro ano.

— Eu também faço essa serie. Vou fazer as provas finais na minha antiga escola e depois iniciar o ano letivo na nova.

— Pois venha conosco sempre. Bem estamos indo agora, mas depois nos falamos, pode ser? - a moça me disse.

— Sim. Obrigada. - eu acenei vendo-os partir.

O céu estava limpando e aos poucos o sol nascia tímido no horizonte.

Por Elisa Ann Dicksen.


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