Já ia quase metade do ano letivo. O Ace era o recordista do colégio por dormir todas as aulas e mesmo assim ainda conseguir se safar com boas notas. A Koala participara do Campeonato de Literatura de abril e venceu, tendo seus poemas expostos por todo canto. E eu... Eu vou muito bem, agradeço. Apesar de ter se misturado com o fundão, ela era a melhor aluna da sala incomparavelmente. E com o passar do tempo, eu me sentia cada vez melhor sentando perto dela... Algo como uma paz interior. 

Na noite anterior havia chovido quase o volume do oceano. E contra as ordens da Dadan, fomos jogar futebol na lama do quintal. E dos três, o sorteado com o combo da doença fui eu: Gripe, tosse e dor de cabeça. Ace e Luffy foram para o colégio e eu fiquei em casa, sob os "cuidados" da bruxa:

[Dadan]-Hora do seu remédio, Sabo.

[Sabo]-Eu preciso mesmo tomar essa coisa com gosto de cera de ouvido?

[Dadan]-Daí depende... Você quer melhorar?

[Sabo]-Não tem outra alternativa?

[Dadan]-Posso levar você no hospital e eles aplicarem injeção na sua bunda. Essa é a sua opção alternativa.

[Sabo]-Nada disso! Minha bunda é sagrada em algumas religiões e injeções são malvadas. -cruzei o braços tentando não transpassar meu medo brutal por injeções

[Dadan]-Então cala a boca e bebe seu remédio. Prometo fazer algo doce de sobremesa pra você.

[Sabo]-Se estivermos falando da torta de limão...

A velha me encarou, cerrou as sobrancelhas e suspirou:

[Dadan]-Tá... Eu faço a torta de limão. Vou voltar daqui a pouco pra ter certeza que você bebeu.

[Sabo]-Certo!

Esperei ela sair e descer as escadas. Assim que o "toc toc" das botas se afastou, peguei meu cacto na janela:

[Sabo]-Desculpa amigo, mas lá vai mais cera de ouvido. -despejei o conteúdo todo sob as pedrinhas e pus ele em contato direto com a chuva - O que seria de mim sem você?

Pus ele de volta no lugar, passei o dedo no potinho e depois na língua para conseguir fingir com mais fidelidade a cara de nojo. Logo, Dadan voltou:

[Dadan]-Onde está a tampinha?

[Sabo]-Argh... Eu quero vomitar.

[Dadan]-Pois que vomite. Vai tomar de novo.

[Sabo]-De repente, passou a vontade completamente! Veja que milagreira você, Dadan! Eu ainda posso ir pra escola?

[Dadan]-Conheço você muito bem pra saber que não é pra estudar... É uma garota? -ela sorriu maliciosa

[Sabo]-N-não!

[Dadan]-Então não vai.

[Sabo]-Mas eu melhorei!

[Dadan]-Você só vai amanhã. Volta a ficar de boa aí, pivete.

Ela bateu a porta e saiu. Cruzei os braços e encostei na parede, mas meu corpo estava inquieto demais pra ficar no quarto. Calcei meus chinelos e saí do quarto a tempo de:

[Ace]-Oe, Dadan! Eu trouxe visita.

Parei nos pés da escada e pus meio rosto para fora da parede para ver, ao vivo e a cores, a própria Koala limpando os pés no capacho da entrada:

[Koala]-Você deve ser a famosa Dadan. Muito prazer, meu nome é Koala.

[Dadan]-Que mocinha bonita e educada. Seja bem-vinda! Só não repare nos macacos dessa casa, tenho certeza de que eles vão se comportar enquanto você estiver aqui. -ela fuzilou Ace e Luffy com os olhos

[Luffy]-Eu gosto dela! Ela tem cheiro de morango e me abraça. Dadan, ponha carne no prato dela!! -ele balançava os braços

[Koala]-Você é um amor, Luffy. -ela sorriu - O Sabo está?

[Dadan]-Ah, está de cama. Essas três criaturas não me ouviram e foram brincar na chuva ontem...

[Ace]-Nah, o Sabo é um maricas. Eu estou 400% bem, veja só! -meu irmão sorriu, exibindo o projeto de bíceps esquerdo onde havia tatuado seu nome

Subi de fininho e voltei para o quarto com a cara mais assustada possível. De todas as pessoas da escola, por que logo a que me interessa vem até a minha casa quando eu não estou bem? Imaginei ser projeto do Ace e desejei bater na cabeça dele com uma placa de trânsito. Voltei para a cama segundos antes da porta ser aberta:

[Luffy]-Oi, Sabo! Tchau, Sabo!

Acenei para o pequeno. Ace entrou calado e sentou-se em sua cama. Assim que o Luffy desceu, o sorriso do meu irmão emplacou:

[Sabo]-...Vou acabar com a sua vida, miserável.

[Ace]-Ué, achei que isso fosse curar você mais rápido.

[Sabo]-Mas não era pra trazer ela aqui!

[Ace]-Você quer esconder que gosta dela?

[Sabo]-Eu acho ela linda, só isso. -cruzei os braços

[Ace]-Sabo, Sabo, Sabo, Sabo... Sabinho.... Segundo melhor... -ele sorria cinicamente - Eu fiz algo bom pra você: Trouxe minha cunhada pra cá. 

[Sabo]-Sua o quê?!

[Ace]-Fica tranquilo, não falei isso pra ela. Mas vocês ficam bem juntos. Sua burrice combina com o excesso de inteligência dela. 

Atirei a almofada do chão na direção do Ace, que desviou e manteve a mesma pose "heróica":

[Ace]-É o seguinte... Você vai ficar AQUI. Nós vamos almoçar e eu vou dar um jeito de convencer que ela traga o seu prato pra cá. E depois... BLAM! -ele estalou os dedos - O circo pega fogo.

[Sabo]-Eu te odeio.

Ace trocou de camisa e vestiu a velha que usa como pijama:

[Ace]-Tá vendo esse 13 nas costas do pai? Respeita o 13 e deixa com o pai que o pai resolve.

[Sabo]-Você vai ficar de pijama com a Koala aqui?

[Ace]-Eu tô em casa, ora essa. Não posso ficar de pijama em casa? -ele me olhou entristecido

[Sabo]-Mas ela é visita... -gesticulei indignado -  Quer saber? Esqueça! Some daqui.

Ele desceu as escadas. Pus as mãos no rosto e suspirei fundo:

[Sabo]-Fudeu de vez...

Lá embaixo:

[Dadan]-Não acredito que você vestiu esses trapos tendo visita em casa...

[Ace]-Você se importa?

[Koala]-Não.

[Ace]-2x0 pro pai.

[Dadan]-Certo, "pai", vá servir seu prato antes que a comida esfrie.

O garoto foi até o fogão e se serviu. Sentou-se:

[Ace]-Putz, eu já volto.

Num movimento brusco, Ace jogou a cadeira pra a direita e saiu para a esquerda, subindo as escadas rapidamente.  Momentos depois:

[Ace]-Merda! Ei, Koala!

[Koala]-O que foi?

[Ace]-Você poderia fazer a gentileza de trazer meu prato aqui em cima? Sei que as duas antas aí embaixo não fariam isso.

[Koala]-Levar aí?

[Ace]-É, por favor. O primeiro quarto à esquerda.

[Dadan]-Você não vai.

Sem sequer prestar atenção na velha, a garota acatou o pedido e pescou o prato da mesa, subindo as escadas. Parou na porta do quarto e bateu. Meu coração gelou:

[Koala]-Ace, eu posso entrar?

Fiquei calado. Ela abriu a porta devagar:

[Koala]-Sabo?

[Sabo]-O-oi. -acenei 

[Koala]-Onde está seu irmão? Ele pediu o prato de comida...

[Sabo]-Deixe isso aí. Ele pega quando quiser.

Ela pousou o prato sob a bancada:

[Koala]-E você não vai almoçar?

[Ace]-Você é ótima! Obrigado. Aí irmãozinho, já pode almoçar. -demoniacamente, Ace brotou atrás da Koala - Obrigado, Koala.

Claramente, a garota ficou vermelha. Meu irmão desceu:

[Sabo]-Eu não p-planejei nada disso. -disfarcei a vergonha

[Koala]-T-tá tudo bem. Bom almoço. -ela tentou sorrir, apesar da vergonha expressa

A garota deu dois passos pra trás e preparou-se para sair:

[Sabo]-Koala.

[Koala]-Oi?

[Sabo]-Mesmo não sendo sua intenção... Obrigado pelo almoço.

Mais uma vez ela sorriu. Minutos depois, ela desceu as escadas. Sentei na cadeira da bancada e comi o que estava no prato. Assim que terminei, fui para a cozinha, já vazia. Larguei meu prato na pia e voltei para o andar superior. Todos estavam na sala, vendo TV. Me aproximei de fininho para não ser percebido, mas fui parado por uma mão no ombro:

[Koala]-Ah... O que tá fazendo, seu estranho?

[Sabo]-N-nada! -recuperei a postura - Eu queria falar com você a sós.

[Koala]-Tá bem.

Ela me seguiu até a varanda de baixo e nos sentamos no banco de madeira:

[Sabo]-O Ace ameaçou você?

[Koala]-Hã?

[Sabo]-Pra trazer você até aqui.

[Koala]-Ah... Nah, é porque o Ace se tornou meu melhor amigo, e ele quis ajuda em geografia. Daí eu vim, com o consentimento do meu tio.

[Sabo]-Sério, melhor amigo? O Ace?

[Koala]-É, o Ace. Ele é super legal comigo e me trata bem. Qual o problema?

[Sabo]-Nenhum. É só que ele é folgado.

[Koala]-Eu posso bater nele. -ela estalou os dedos - Ai dele se tentar me tapear. Sabo... Você não está com ciúmes do seu irmão, está?

[Sabo]-Não! -eu queria dizer sim - Eu confio nele, por mais que ele seja um idiota.

[Koala]-Ah, tenho pudim que eu mesma fiz na mochila. Você quer um pouco?

[Sabo]-Por que diabos você teria pudim na mochila?!

[Koala]-O Ace vive pedindo. E é uma forma de eu melhorar minha habilidade de confeiteira.

Ah, claro... Doces. O preço do Ace era pescá-lo pelo estômago com bastante açúcar:

[Koala]-E aí, vai quer provar ou não?

[Sabo]-Claro, claro. 

Peguei um pratinho qualquer e uma colher. Assim que ela serviu, comi rapidamente e estendi o pratinho:

[Sabo]-Mais!

[Koala]-Você nem mesmo saboreou o anterior...

[Sabo]-Na verdade, saboreei. Só que eu preciso de outra amostra pra ter certeza da minha avaliação. -fiz uma expressão sábia

Ela irritou-se:

[Koala]-Certo, só mais um pedaço. 

Ela serviu e, mais uma vez, evaporei-o:

[Koala]-Meu Deus, menino! 

[Sabo]-Mais!

[Koala]-Já chega. Tive trabalho demais pra você comer tudo assim...

[Sabo]-Mas essas mãozinhas de boneca fizeram o melhor pudim da face da Terra... -murmurei

[Koala]-Me elogiar n-não vai te dar outro pe-pedaço! -ela fechou a cara enquanto sorria - E eu não sou pequena! Tenho ossos curtos... 

Mais uma vez, como uma erva daninha, o Ace apareceu:

[Ace]-Seu verme insolente! Como ousa se apossar do meu pudim?

[Sabo]-Ela não é seu pudim! -levantei e o encarei frente a frente

Meu irmão começou a sorrir. Vi a Koala passar por nós e entrar:

[Sabo]-Ah não...

[Ace]-Falou demais, otário. Hahahahaha!

[Sabo]-É culpa sua! -empurrei-o para fora da varanda

[Ace]-Me bater agora vai só piorar. E ainda sim não seria minha culpa.

[Sabo]-Melhor amigo, Ace? Que merda!

[Ace]-Você gosta dela, seu infeliz. Estou tentando ajudar, só isso.

[Sabo]-Eu não lembro de pedir sua ajuda.

[Ace]-E você precisa? Faço porque quero, seu idiota. Agora pare de ser um bebê chorão e me deixe trabalhar. -ele se levantou e bateu as mãos na bermuda

Deixei ele subir e voltei ao banco para me sentir um idiota completo. Fiquei lá até sentir o cheiro do cigarro da Dadan:

[Sabo]-Sai, você vai me deixar pior.

[Dadan]-Do que está falando?

[Sabo]-Eu sei lá! 

[Dadan]-Então você gosta daquela garota? Que óbvio.

[Sabo]-Eu não sei se gosto! Só me sinto bem quando tô com ela.

[Dadan]-Gosta sim. Mas por que essa cara de choro?

[Sabo]-Eu estraguei tudo por culpa do Ace... Agi como se estivesse afim dela e agora ela deve me detestar.

[Dadan]-Do que está falando? Ela está normal lá em cima, com o Ace. Aliás, está até rindo dele. Não tem razão pra ficar tão depressivo assim, Sabo.

[Sabo]-Mas ela ouviu. Agora, nem que haja chance no futuro, ela não vai querer olhar na minha cara.

A velha pitou o cigarro e liberou uma grande cortina de fumaça:

[Dadan]-Confie no seu taco, garoto. Você quer aquela garota, não é?

[Sabo]-Eu não sei...

[Dadan]-Seja homem, porra!

[Sabo]-Sim, droga! Satisfeita?

[Dadan]-Faça de tudo para ficar em sintonia com ela. Só pare se estiver morto. Fora isso, vá em frente e nunca olhe pra trás. -e saiu

"Nunca olhe pra trás.". Aquela frase grudou na minha mente.

Mais tarde um pouco, um carro vermelho apareceu e buzinou três vezes:

[Koala]-Ah, é hora de ir! Tchau gente, obrigada pelo ótimo almoço e pela recepção de hoje! 

Ela parou na varanda:

[Koala]-Sabo.

[Sabo]-Me desculpe...

[Koala]-Hã? Desculpar? -ela sorriu - Não vou te desculpar por algo que você não fez. Eu só queria pedir desculpas por vir aqui quando você estava doente. Eu estava um pouco preocupada por você ter faltado... E obrigada por hoje, de qualquer forma. Fique bem, tá?

[Sabo]-Eu é que agradeço. -sorri

A garota entrou no carro e partiu. Da janela, Dadan e Ace me olhavam:

[Sabo]-Que que é?

[Dadan e Ace]-Awn, que casalzinho mais bonitinho...

[Sabo]-Vou matar vocês dois.