Acabei acordando mais cedo na manhã seguinte. Dormi mais do que deveria ter dormido:

[Sabo]-Ah que beleza, Sabo... São 3h da manhã e sua aula é daqui a quatro horas ainda. Muito bem.

Passei pelo "dueto" de roncos entre Ace e Luffy e saí sem fazer muito barulho. Assim que saí, fui para a cozinha morto de fome esquentar a janta da Dadan. Levei o prato pra sala e fui assistir alguma coisa na televisão. Eu me sentia um pouco ansioso, e por isso estava mordendo o cabo do garfo quase automaticamente. Tentei me controlar devolvendo-o ao prato, mas logo ele voltava a ser mordido. Uma figura surgiu das sombras e, com uma voz cavernosa, me abordou:

[Dadan]-Eu quase pensei que a casa estivesse pegando fogo, mas é só você jantando de madrugada. O que foi?

[Sabo]-Nada, eu só estava morto. Aí eu dormi mais do que deveria. 

[Dadan]-Daqui a duas horas eu vou fazer o café de vocês. Vê se deixa a casa inteira até lá.

[Sabo]-Dadan... Eu sou o mais consciente dos três. Tenha mais respeito pelo meu cérebro! -balancei o braço esquerdo, indignado

[Dadan]-Tá, tá, vocês são todos iguais pra mim. O que muda é só a cara.

[Sabo]-Pelo menos eu não sou uma quarentona solteira que vive com a maquiagem de Halloween na cara...—sussurrei 

Senti o tamanco dela acertar minha nuca. Maldita mira. Devolvi o prato para a cozinha e fui para o quintal. Acabei indo brincar de queimar folhas e deixá-las apagar pelo vento frio da madrugada. E finalmente comecei a lembrar do belo sorriso da Koala... Era bom ficar perto dela, apesar do Ace estar logo atrás da gente:

[Sabo]-Koala... Que nome. Ela bem que parece uma pelúcia com aqueles olhos gigantes e aquela carinha de criança. Mas ela é bem bonita.

O frio me obrigou a voltar pra casa. Já devia ser 5h, porque os dois zumbis dormiam na mesa de café e a Dadan fumava perto da janela:

[Ace]-Dadan, quero café.

[Dadan]-Não posso fazer nada. A água ainda não ferveu.

[Ace]-Dadan, cadê o café?

[Luffy]-É Dadan, cadê o café?

[Dadan]-Nem café você bebe, Luffy!

Sentei à mesa e abri o pote de biscoitos:

[Ace]-Dadan, já é pra pegar o biscoito? Sabo tá metendo a mão aqui, ó.

[Dadan]-Ué, você tem duas mãos perfeitamente funcionais. Estava esperando um convite formal pra comer a droga do biscoito?

[Ace]-Vai lá saber se você colocou uma de suas magias de bruxa pra selar a tampa.

Dadan baforou seu cigarro claramente morta de ódio, mas não jogaria a panela de água quente em outro moleque como fez comigo da última vez. Assim que ela terminou de coar o café, jogou a garrafa sobre a mesa e deu uma "bandejada" na cabeça do Ace:

[Ace]-Ai!

[Dadan]-Eu não vou cometer aquele erro de novo, mas não me teste pivete.

Limpamos tudo o que havia sobre a mesa e fomos nos arrumar para o colégio:

[Dadan]-Os uniformes de vocês já estão sobre as camas. Vou voltar a dormir.

Trocamos de roupa e saímos. Pegamos o ônibus vazio e chegamos ao colégio. Largamos o Luffy no infantil do outro lado da rua e subimos para o andar da nossa sala. O Ace parecia sério:

[Ace]-Putz, eu esqueci uma coisa! 

[Sabo]-Novidade.

[Ace]-Fica aqui, eu já volto.

Ele sumiu, descendo as escadas que iam para a quadra. Fui para os armários trocar o material para o do dia, quando percebi alguém atrás da portinha:

[Sabo]-Olha Ace, se está querendo dinheiro eu já aviso que não trouxe a carteira.

[Koala]-E eu lá pareço seu irmão? -ela emburrou

[Sabo]-AH! KOALA! OI! -deixei os livros caírem- E-eu não vi que era você.

[Koala]-Eu reparei que não viu. Deixa que eu pego...

A garota se ajoelhou para catar a minha bagunça em pleno corredor. Envergonhado, fui ajudá-la e acabamos nos encarando:

[Koala]-Ah... Sabo...

[Sabo]-Eu cato, pode deixar.

Pude ver que ela ficou envergonhada com a encarada e levantou com o que estava em mãos. Peguei o resto e enfiei direto na mochila:

[Sabo]-Desculpa.

[Koala]-Não foi nada. Agora temos aula de que?

[Sabo]-Acho que é biologia. Sei lá, não vou com a cara da dona Sapão.

Nota: Dona Sapão era a pior professora de todas. A mulher enxergava tudo e sabia de tudo o que distraía os alunos durante a aula, mesmo sem olhar diretamente para a gente. Voltando:

[Koala]-Ah... E cadê seu irmão?

[Sabo]-Sei lá. Sumiu aí.

[Koala]-Bom... Eu vou... Indo nessa! Até mais.

Ela se misturou à multidão. Sem pensar, fui atrás dela e pus a mão em seu ombro:

[Sabo]-Aí, a sala é pro outro lado. -eu estava morto de vergonha assim que percebi o que estava fazendo

Ela virou mecanicamente o corpo e apertou o passo, escondendo o rosto com os livros que carregava. Fui atrás, me arrependendo amargamente do que havia feito. Sentei no lugar de sempre e esperei que ela fosse para o fundão, mas ela se instalou na fileira da frente. Momentos depois, Ace voltou sem a blusa de frio e sentou-se atrás da minha mesa:

[Sabo]-A...

[Ace]-Ah, ah, ah! Nada de perguntas.

[Sabo]-Mas a sua...

[Ace]-Sem perguntas. Cadê a menina?

Sinalizei com a cabeça para a fileira da frente:

[Ace]-É eu sair um pouquinho e você espanta ela desse jeito?

[Sabo]-E-eu não fiz nada de mais! -tentei esconder a culpa

Meu irmão riu:

[Ace]-Heh... Vocês ainda vão dar um casal.

[Sabo]-Mas o quê?! 

[Ace]-Ah, prego, é a Sapão. Falou, partiu dar uma dormida marota aqui!

[Sabo]-Peraí Ace, que parada é essa de...

E ele começou a roncar instantaneamente. "Casal? Não... Nada de casal. Eu só acho ela linda."-retumbei esses pensamentos durante os horários da sapão. Assim que ela acabou, fomos pra educação física. O único horário que fazia o Ace funcionar 100% era esse:

[Sabo]-Ace, vamos. Educação física, cara.

Num salto, meu irmão saiu da mesa e dobrou a barra da calça:

[Ace]-Partiu!

Ele saiu em disparada para o vestiário. Iríamos jogar vôlei:

[Ace]-Ergh, vôlei não deita.

[Sabo]-Não joga.

[Ace]-E ficar sem meu horário sagrado da semana? Jamais!

Os times foram escalados, e eu permaneci sentado. O jogo começou:

[Koala]-Ué, você não vai jogar?

[Sabo]-Ah... É vôlei, sacumé.

Ela se sentou ao meu lado:

[Koala]-Eu não tenho altura. -ela soou chateada

Fiquei calado para evitar dizer algo desnecessário. Mas ela completou:

[Koala]-Sabo, já nos conhecemos de algum lugar?

[Sabo]-Eu sei lá... -estranhei a pergunta- Por que?

[Koala]-Não, nada. É só que... 

Notei a trajetória da bola vindo do fundo da quadra e, de novo sem entender meus motivos, empurrei a Koala para o chão. A bola passou como uma bala e acertou a grade:

[Koala]-Ai... Mas o que?!

[Sabo]-Bola. Ia ser um belo tiro na sua nuca.

[Koala]-Você ao menos poderia ter dito "Ah linda e simpática Koala, tome cuidado com a bola que está vindo aí!", ao invés de me fazer bater a cabeça na quadra.

[Sabo]-Ia levar tempo demais pra formular a frase. A bola ia acertar.

[Koala]-Hunf. -ela bufou e cruzou os braços

[Sabo]-Você parece brava...

[Koala]-Sério mesmo, Capitão Óbvio? -me encarou ferozmente

[Ace]-Aê casal da 8ª série!

Todos nos olharam assim que o desgraçado do Ace terminou a frase. Paramos de falar e nos viramos para lados opostos, mortos de vergonha. Eu queria fazê-lo engolir todo o equipamento de educação física que estava sobre os bancos. Assim que o jogo terminou, ele se aproximou:

[Ace]-Água, Sabo. -ele apontou para a garrafinha vermelha

[Sabo e Koala]-Mas o que diabos você tem nessa cabeça, cara?!

[Ace]-O casal agora vai falar simultaneamente?

[Koala]-Não somos um casal, estúpido.

[Ace]-Mas parecem.

[Sabo]-Nada disso. Pode ir parando de criar essas coisas.

Ele nos ignorou completamente e foi em direção ao vestiário:

[Sabo]-Desculpe pela vergonha, sério. Não é nada disso.

[Koala]-Eu sei. Nunca iria acontecer essa mentira.

Aquilo, de certa forma, me cutucou com a ponta de uma faca bem lá no fundo. Tentei relevar fazendo cara de paisagem:

[Koala]-Ah, vamos tomar um café? Tô ficando com sono.

[Sabo]-Ér... Claro, eu acho.

[Koala]-Quê?

[Sabo]-Esquece. É viagem minha.

Fomos para a cantina e ela pediu um copo cheio de café. Voltamos para a sala com ela assoprando o copo e misturando as cinco colherinhas de açúcar que havia despejado:

[Sabo]-É muito café, moça.

[Koala]-Fique tranquilo, eu me cuido muito bem. Vou sentar perto de vocês.

[Sabo]-Quer que eu segure o copo até você ajeitar a mesa?

[Koala]-Adoraria. Vê se não entorna.

[Sabo]-Filha, eu tenho bastante autocontrole. -esbanjei um sorriso confiante

Ela me encarou e disse um "Aham" murmurado. Assim que ela terminou, devolvi o copo e sentei. Ela ficou em pé mais um tempo misturando e assoprando:

[Sabo]-Ei, tome cuidado. 

[Koala]-Xiu garoto.

Quase que por clarividência minha, ela tropeçou num dos tacos soltos do piso e derramou o café sobre si e sobre a mesa. Pela terceira vez levantei, saltei sobre a poça de líquido escuro e fui correndo ao banheiro. Quando dei por mim, estava pedindo ao zelador que me emprestasse um rodo com pano pois haviam derrubado café na sala. Voltei com o rodo nos ombros e meio quilômetro de papel nas mãos, recebendo olhares de todos na sala e principalmente o olhar sugestivo do idiota do meu irmão:

[Sabo]-Eu falei que ia dar merda. Vá trocar sua blusa, eu vou limpar isso.

A única coisa que ela "conseguiu responder" foi uma expressão de quem dizia "O quê?", incrédula pelo ato heroico de um jovem de cabelos dourados. Assim que ela saiu, envergonhada e tapando a blusa da melhor forma possível, o Ace começou a bater palmas lentamente:

[Ace]-Vou chorar de orgulho.

[Sabo]-Cala a boca, seu miséria.

[Ace]-Sério, que bonitinho. -ele sorria irônico

[Sabo]-Se você não ficar quieto, vou dar com isso na sua cabeça.

[Ace]-Diz a lenda que quem ajuda a menina que ama, pode pedir uma música como homenagem ao feito.

[Sabo]-Eu quero a que vá tocar no seu enterro quando eu te bater por me irritar tanto.

Meu irmão, mais uma vez riu:

[Ace]-Bom... Eu nunca pensei em ser enterrado, então.

Terminei de limpar e fui devolver o rodo ao zelador. Assim que o fiz, me pus de volta à sala, mas fui interrompido no corredor por uma garota envergonhada:

[Koala]-Sabo.

[Sabo]-Hmm? Ah, você se limpou. Vamos logo.

[Koala]-Me diz o que eu fiz pra você.

[Sabo]-Do que?

[Koala]-Primeiro, a aula da sapão. Segundo, a bola de vôlei. Agora, o café. Um número ímpar nunca é um bom sinal...

[Sabo]-Eu sei lá, ora essa.

[Koala]-Obrigada, de qualquer forma...

[Sabo]-Eu só agi por impulso. -e sorri- Não foi nada demais.

Voltamos para a sala sem olhar um para o outro, vermelhos pelo momento no corredor.