Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 13
Jaime Lannister




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Coisas Quebradas

Adriana Swan

JAIME

Cinco dias depois de terem saído das Gêmeas não haviam se distanciado quase nada. Não nevara nesses cinco dias, embora o mundo a volta deles parecesse todo branco e gelado.

Seus quatrocentos homens pareciam encolhidos ao fim do pequeno acampamento, amontoados e unidos na esperança que aquilo diminuísse o frio. Os oitocentos soldados Freys se espalharam por um grande campo aberto mais a frente, não fazendo nenhuma questão de ficarem perto dos Lannisters. Melhor assim.

A caminhada de cinco dias havia sido cansativa, com as carroças avançando bem devagar na neve e os próprios cavalos andavam sofrendo com o frio. O frio parecia chegar até os ossos, indiferente a quantas peles e vestes os homens vestiam. Os que iam a pé pareciam ainda piores, praticamente se arrastando e atrasando muito a marcha. Ainda no final do primeiro dia a pobre Pia parecia incapaz de andar, vencida pela neve e pelos dois dias insones. Jaime dera ordem para que dividisse o cavalo com Podric, já que a garota não sabia cavalgar sozinha. Jaime, Brienne e Daven haviam sido tocados pelo frio como todos os outros e avançam a duras penas. Aqueles eram homens do sul, não foram feitos para a neve.

— Será que se eu matar alguém posso fazer companhia ao prisioneiro sem nome? – um de seus homens comentou no segundo dia, quando um forte vento os assaltou com um sopro tão frio que seria capaz de congelar suas lágrimas se as derramassem.

De uma forma pouco adequada ao ponto de vista de Jaime, Robb Stark estava alheio a aquilo tudo. A jaula fechada o mantinha protegido da neve ou do vento, o que devia torná-la quente o suficiente para ser invejada, logo porque, o rapaz não precisava caminhar. Daven dera ordens a Podric para que o mantivesse com o capuz quando o ajudasse a descer da carroça para fazer suas necessidades fisiologias. No primeiro dia, Jaime vira que o rapaz ainda tinha dificuldades para se manter de pé, mas no terceiro conseguira andar ao lado de Podric, devagar e de forma vacilante, mas já era um avanço. O capuz ainda chamava a atenção dos homens e muitas teorias rolavam pelo acampamento sobre quem seria o prisioneiro. A que Jaime mais gostara foi a que afirmava ser Brynden Tully capturado bravamente por Ryman Frey.

A curiosidade parecia diminuir a cada dia, conforme os soldados iam se acostumando a presença da carroça e do prisioneiro sem nome. Nas noites, quando paravam para dormir, sempre se podia ouvir os sussurros de conversa entre o prisioneiro sem nome e Grande Jon Umber. Na primeira noite ninguém além de Brienne, Podric e Pia se aproximaram da carroça, na segunda noite alguns soldados já falaram com Grande Jon, de forma mais descontraída (enquanto eles reclamavam do frio do inverno e Umber ria dizendo que aquilo não era o inverno, era só uma nevasca de outono). Agora, cinco dias depois, Jaime viu um dos seus homens dividindo um pedaço de carne assada com Grande Jon (que repassara parte dela por baixo do pano preto para Stark) enquanto perguntava se pegariam melhor caminhada no dia seguinte no que Jon respondia que com certeza pegariam campo aberto e mais tranqüilo sim. De alguma forma os prisioneiros nortenhos começavam a serem integrados a seu grupo.

Todo o circo armado pelos Frey para humilhar Robb Stark na saída das Gêmeas teria sido facilmente esquecido por seus homens se não fosse pela maldita cadela.

A lavradora de seu refém Hoster Blackwood acompanhava o grupo desde que ele se juntara a eles perto de Correrrrio, há quase um mês e sempre fora dócil e insignificante. Nunca fizera barulho ou dera trabalho nenhum, mas por alguma razão desconhecida resolvera tirar o acampamento do sério nas últimas cinco noites desde que saíram das Gêmeas: todas as noites a maldita cadela parava diante da carroça e uivava. Não importava o quão longe seu dono montasse sua tenda, tão logo todos se deitassem o animal cruzava o acampamento, parava diante da carroça e uivava para a lua.

— Não sei por que tanta surpresa – o dono da cadela resmungara enquanto os outros homens começavam a temer a cachorrinha – só porque ela não tinha feito antes, não quer dizer que não seja normal. Cães uivam para a lua.

— Na verdade, lobos uivam para a lua, não cães. – Um dos homens corrigiu fazendo com que um arrepio involuntário subisse pela espinha de Jaime.

Mesmo sem saber como ou porque a cadela fazia aquilo todas as noites, os homens se perguntavam por que Ryman Frey chamara o prisioneiro de demônio e a cadelinha contribuía para que os boatos não acabassem.

A única pessoa que parecia realmente bem com tudo aquilo era Grande Jon Umber. O inverno (ou outono, segundo ele) parecia não afetá-lo como aos outros. Ele resistia ao frio como se nem o sentisse e conversava com os soldados Lannister dando-lhes dicas de como fazer fogueiras na neve ou de como se aquecer melhor que fazia com que ganhassem simpatia por ele. Podric e Pia já falavam com o homem de forma camarada sempre que iam levar comida e bebida para o prisioneiro sem nome. Umber também passava boa parte de seu tempo conversando com Robb Stark, sem nunca pronunciar seu nome ou tratá-lo por algum título que denunciasse sua identidade.

Os fora da lei também não lhe foram problema. Ainda no primeiro dia dera um jeito de afastá-los dos outros e comentar meramente que estava cumprindo sua promessa a Lady Coração de Pedra. Eles não questionaram nada (apesar de Jaime saber o quanto aquela sua afirmação era vaga) além de perguntarem se tinha a ver com o tal prisioneiro sem nome. Jaime concordara, mas dera a entender que era perigoso tratar daquele assunto perto dos Freys e eles não perguntaram a identidade do prisioneiro, possivelmente, julgando que não o conheceriam de qualquer forma.

Agora, na quinta noite, era a primeira vez que faziam uma parada formal para descansarem montando os acampamentos como era devido em vez de armarem apenas o básico para dormir.

A maior tenda do acampamento Lannister era dividida por Jaime, Daven e Pia. Jaime chegara a oferecer um espaço a Brienne, mas a teimosa montava sempre com Podric uma pequena barraca perto da carroça para ficar de olho em Robb Stark. Brienne e Pia eram as duas únicas mulheres em todo acampamento. Com aquela neve toda nem as seguidoras de acampamento se arriscavam.

Jaime estava dentro de sua tenda vendo seu primo Daven se preparar para dormir quando ouviu o uivo da cadela. Em alto e bom tom como sempre, o que indicava que estava perto dali. Entediado, resolveu ir ver a cachorra e talvez reclamar a seu dono que a amarrasse (o que o deixava curioso em saber o que ela tentaria fazer na noite seguinte) e com essa idéia em mente saiu da tenda.

Do lado de fora o vento frio o atingiu o fazendo estremecer. Há alguns metros de sua tenda uma fogueira queimava aquecendo meia dúzia de seus soldados que conversavam animados enquanto assavam um pequeno animal. Jaime os cumprimentou cordial e se dirigiu ao outro lado. Lá não viu nem sinal da cadelinha que parara de uivar, mas em compensação, oculta pela sombra de sua própria tenda uma pequena barraca tentava sem sucesso ser armada por uma Brienne cheia de neve nos cabelos e um Podric que parecia ter problema em fazer nós. Jaime riu consigo. A Donzela de Tarth e seu fiel escudeiro era sempre um espetáculo a parte.

Bem ao lado do fiasco de barraca a carroça com a jaula de Stark estava parada. O teto negro coberto de neve que provavelmente não chegava a seu ocupante. Acorrentado do lado de fora estava Grande Jon Umber, devidamente sentado na parte da frente da carroça que era o máximo que as correntes o permitiam ir. Parecia estar tendo uma ótima noite.

— Seria mais fácil se amarrasse isso na árvore acima de vocês – Umber estava ensinando a Pod quando Jaime chegou. Parecia bastante divertido com o espetáculo da tenda que cismava em não ficar de pé. Podric tentou enlaçar um galho acima deles. – Não, não neste galho. Não, não amarre ai ou vai...

Com um crack surdo o galho fino cheio de neve quebrou caindo pesadamente bem em cima da barraca e a enterrando sob uma grossa camada de neve. Brienne que estava agachada amarrando uma das pontas da corda numa estaca se levantou olhando para Podric com uma expressão tão furiosa que o escudeiro se encolheu, ainda segurando a corda que tentara amarrar no galho.

— Deixa ver se adivinho – a voz de Robb Stark chegou a Jaime do interior da carroça, parecendo entediado – deu errado de novo.

— Eles devem conseguir na próxima, assim que conseguirem desenterrar a barraca que a neve acabou de soterrar – Grande Jon o informou animado, só então se dando conta da chegada de Jaime. – Ah, Regicida, não veio ajudar, não é mesmo? Precisaria de duas mãos para amarrar uma corda.

Jaime deu um sorriso bem humorado não querendo ceder as provocações de Umber.

— Melhor sorte na próxima – Jaime falou tentando animar Podric que começava a tirar a neve de cima da barraca com as mãos junto a Brienne. – Quando desistir de congelar aqui fora, - ele falou para Brienne dessa vez - minha tenda está ali atrás.

Brienne parou abruptamente o que estava fazendo e se virou para Jaime.

— Não vou dormir com você. – Ela falou abrindo seus grandes olhos, espantada.

Grande Jon Umber ficou brincando com a neve sobre a carroça como se não estivesse prestando atenção enquanto Podric fingia cuidar de sua vida. Jaime bufou.

— Eu não te convidei para dormir comigo, garota. – Jaime ralhou irritado com ela – Como você e seu fiel escudeiro se mostraram totalmente inúteis em montar uma simples barraca, achei que talvez fosse preferir o calor que dormir sobre a neve. É óbvio que eu nunca ia querer dormir com você.

Ela fez uma expressão carrancuda.

— Prefiro dormir na neve – ela respondeu mal humorada – vou dormir com ele.

Com um aceno de cabeça ela indicou a carroça onde Robb Stark estava preso e Umber assistia a cena do camarote. Jaime revirou os olhos impaciente.

— Ele ainda vai estar ali de manhã, mas se é o que você quer, quem sou eu para tentar por o que quer que seja nessa sua cabeça teimosa. – respondeu contrariado – E não diga que vai dormir com ele, ele não ia querer dormir com você.

Brienne ficou quieta e não respondeu, fazendo Jaime notar que havia atingido o ponto certo para magoá-la. Sabia que a idéia de ser rejeitada a incomodara a vida toda e acabara de usar isso para ferir e sair vitorioso de sua pequena batalha verbal. Á magoara.

E agora isso não tinha o gosto bom que deveria ter.

— Por acaso está afirmando isso em meu nome? – Robb Stark falou soando um tanto hesitante, provavelmente sem ter certeza se podia se intrometer no assunto, mas Jaime sabia que era típico aos Starks sentirem pena de crianças, filhotes de animais perdidos e donzelas humilhadas. – Não que eu esteja afirmando nada, mas porque acha que eu não ia querer, Lannister?

Brienne prendeu a respiração como sempre fazia quando estava ansiosa. O misto de sentimentos que passou pela face dela conseguiu torná-la ainda mais feia na pouca luz vinda da fogueira distante dos soldados.

— Sua opinião não conta, não estava em total consciência quando a viu ou então não ia nem cogitar a possibilidade – falou alto para ser claramente ouvido pelo ocupante da jaula, virando para Brienne em seguida. – Não fique tão feliz, ele só está sendo educado.

— Ou talvez eu goste de mulheres que saibam manejar uma espada – retrucou o Jovem Lobo lá de dentro.

Aquelas palavras pareceram animar a garota fazendo-a curvar os lábios num meio sorriso que não era nada atraente.

— Não gosta não – Jaime respondeu paciente. – Só está tentando me irritar.

— Te irrita saber que eu posso me interessar por Brienne de Tarth? – continuou num tom de voz falsamente inocente para maior irritação de Jaime.

Gostava mais de você quando estava morto. – Jaime ralhou irritado, dando as costas e voltando a sua tenda.

Pensou se na sua promessa de defender o filho da Lady Catelyn haveria alguma cláusula o proibindo de cortar a língua do mesmo. Algo lhe dizia que não.


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