Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 12
Tyrion Lannister




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Coisas Quebradas

Adriana Swan

TYRION

O navio balançava ancorado nas fortes ondas quando voltaram. A viagem de volta havia sido cansativa, a neve os atrasando mais do que imaginara. Tyrion quase não falara com Sansa, nada além do necessário sobre instruções da viagem e algumas perguntas sobre sua estadia no Vale e sua fuga de Porto Real. Mandara seus homens manterem Petyr o mais atrás possível no grupo o mantendo bem longe de sua doce lobinha.

Nos navios os homens começavam a se amontoar no porto improvisado. Fizera a viagem até Sansa com míseros trezentos homens, deixando o restante como segurança e arrumando mantimentos para voltarem ao mar. Quando fugira de Meeren com o exército mercenário contavam com dois mil homens, mas agora juntando aos homens dos clãs das montanhas do Vale levavam pelo menos quinhentos homens a mais. Dois mil e quinhentos homens seriam o suficiente para atacar Lannisporto, mas não eram para atacar Rochedo Casterly. Não adiantava sonhar em contratar mais algum exército mercenário só com papel e palavras, precisaria de ouro ou nunca chegaria até o Rochedo.

Entrou no convés primeiro sentindo os passos vacilantes de Sansa atrás dele. Partiriam naquela noite e esperava que os ventos os favorecessem porque a chegada do inverno havia deixado o mar agitado demais para uma viagem segura. Parada no meio do convés com cara de enterro estava Penny, coberta por uma grossa capa negra que a ocultava e faria um desavisado em terra confundí-la com uma criança. Tyrion ficou aliviado por ver que pelo menos ela estava tomando os cuidados que ele ordenara. Quando ela o viu subir a bordo seu olhar se iluminou.

— Yollo, você voltou! – ela exclamou com um sorriso correndo para perto dele.

Tyrion deu um suspiro tentando ter paciência. "Yollo" era um nome tão ridículo que o fazia sentir carinho pelo "Duende". As primeiras semanas depois de fechar acordo com os mercenários haviam sido detestáveis, já que a maior parte deles ainda o via como o anão escravo com talento para bobo, mas depois de seguirem viagem e cruzarem o mar, a maior parte já o respeitava como Lorde Lannister e a imagem de escravo começava a ficar para trás.

Menos para Penny.

— Eu disse que voltaria – ele falou tentando ser frio e rezando para que Penny não o abraçasse.

Sansa parou um passo atrás de Tyrion, olhando tudo de maneira indiferente. Parecia muito triste e fria, o que fez o coração do anão se apertar. Ele não a havia resgatado para fazer-lhe o mal.

— Sansa, perdoe por ter falado pouco com você, estava preocupado com a viagem de volta – ele se desculpou reparando que a menina olhava Penny de forma curiosa. – Esta é Penny, uma anã que conheci durante minha fuga. Talvez lembre-se dela no casamento de Joffrey, ela fez parte do pequeno torneio de justas.

A expressão de Sansa se manteve fria e indiferente.

— Sim, meu senhor. Quando montaram um porco com o brasão Baratheon e um cão com o brasão Stark – ela respondeu sem emoção e sem se aproximar de Penny.

Tyrion conteve uma careta. Estava tão acostumado com a presença bondosa da anã que nem lembrava o quanto a apresentação de justas do casamento havia sido ofensiva a sua pobre esposa que havia acabado de perder o irmão e a mãe no Casamento Vermelho.

— Garanto que Penny não teve nenhuma intenção de ofendê-la ou a sua Casa – Tyrion completou se sentindo mal por lembrá-la daqueles acontecimentos.

— Não me ofendeu. Meu irmão era um Rebelde e minha Casa não tem mais honra – ela respondeu automaticamente como fazia em Porto Real.

Jorah olhou para Tyrion parecendo surpreso e esperando uma explicação. Com certeza achava absurdo que a menina repudiasse a própria Casa, mas não era estranho para Tyrion. Sansa sempre tinha respostas prontas que a protegeriam daqueles que odiavam a Casa Stark.

— Como eu a ofenderia, Yollo? – Penny falou parecendo preocupada. – Eu nunca ofenderia sua esposa. Aliais, ela é mesmo tão linda como você falou, não é a toa que você a ama. Espero que você o faça muito feliz, jovem Lady.

Tyrion não era homem de corar quando ficava envergonhado, mas sentiu as faces esquentarem quando Sansa franziu o cenho diante da afirmação da anãzinha. Jorah pareceu divertido com o constrangimento dele.

— Isso não vem ao caso agora – ele falou querendo mudar de assunto. – Você vai dormir com Penny nos aposentos dela no porão. Mandarei que separem as peles mais quentes e confortáveis para ambas.

Os olhos da jovem Stark se abriram mostrando a mais profunda perplexidade diante da proposta de Tyrion.

— Não irei dormir com o senhor? – ela falou, parecendo realmente horrorizada com a idéia.

— Não vai precisar – ele respondeu, crente que isso a faria se sentir aliviada.

— Mas o senhor é meu marido – ela exclamou parecendo confusa, - eu devia dormir com o senhor.

Tyrion não soube muito bem o que responder. Penny tinha um olhar estranho para Sansa, triste, talvez por ser a própria Penny apaixonada por Tyrion e ver Sansa perto dele a magoasse. Já Jorah acompanhava a cena parecendo estar agradavelmente surpreso. Conversara pouco com o cavaleiro sobre sua Rainha Targaryen, mas lembrava do cavaleiro ter contado algo sobre quando a jovem casara com o Karl e como sofrera. Talvez, na mente do nortenho, sua jovem esposa também devia estar sofrendo perto dele já que seu casamento com Tyrion fora contra sua vontade e agora ao ver a garota querendo dormir com o anão isso o deixara surpreso. Agradavelmente surpreso.

O próprio Tyrion não sabia bem o que pensar. Conhecia sua lobinha e seu casamento com ela nunca fora consumado, logo, não era na cama que a garota estava pensando. Talvez tivesse medo de ficar sozinha no navio ou com aqueles desconhecidos, talvez agarrava-se a ele por ser alguém que conhecia, alguém que sabia que poderia confiar, uma cama na qual sabia que não terminaria estuprada.

Sete infernos, fossem quais fossem os motivos de Sansa, Tyrion estava feliz.

— Muito bem, meu aposento é aquele ali – ele falou indicando uma porta na parte baixa do convés que dava direto para a cabine principal que era a que ele ocupava, - agora vão ser nossosaposentos. Pode ir deitar-se um pouco se quiser, deve estar cansada da viagem. Ninguém irá incomodá-la, é uma ordem minha. Sinta-se a vontade.

"Lobinha", ele completou mentalmente de forma carinhosa encantado com a demonstração de confiança por parte dela.

— Fico muito grata, meu senhor – Sansa respondeu fazendo uma reverência a ele, Jorah e Penny e seguindo para a porta indicada para ir descansar.

Ele a acompanhou com os olhos até a porta se fechar atrás dela, só então virando-se para enfrentar uma Penny desconsolada e um Jorah mais amigável que o normal.

— Ela é mesmo muito linda – Penny começou, os olhos parecendo brilharem de forma anormal enquanto falava. – Linda demais, até. Que homem poderia pensar em outra se a tivesse? É verdade que é irmã de um Rei?

Tyrion tentou não olhar para Jorah enquanto lidava com sua pequena Penny de coração quebrado. Apenas balançou a cabeça em afirmativa achando que qualquer coisa que falasse apenas a magoaria mais.

— Ah… uma princesa! – Ela falou, agora com os olhos cheios de lágrimas. – Espero que sejam muito felizes…

A voz da anã morreu ao final da frase e ela correu de volta para sua cabine no andar inferior.

— Não comente – Tyrion reclamou com Jorah amuado. A última coisa que precisava agora era de conselhos.

O cavaleiro riu.

— Só ia elogiar sua esposa, é mesmo muito bonita – respondeu parecendo distante, talvez pensando em sua Rainha Prateada. – Porque ela chamou o Rei no Norte de Rebelde? Era irmão dela.

— Mecanismo de defesa – Tyrion respondeu dando de ombros. – Quando mataram Eddard Stark por traição Sansa era só uma menina nas mãos de Cercey e de meu amado sobrinho Joffrey. Aprendeu a renegar a família inteira para sobreviver.

— Parece uma pobre menina infeliz – Jorah falou penalizado.

— Ela é – ele concordou. – Prepare tudo, zarpamos ao anoitecer.

— Estará tudo pronto, - Mormont concordou otimista – iremos para as terras do mercenário que você disse ser seu amigo?

— Bronn? Eu bem que gostaria – Tyrion resmungou. – Tenho certeza que posso contar com ele como aliado, mas não posso me arriscar a estar tão perto de Porto Real.

— Vou ver o que fizeram com Lord Baelish enquanto você decide, Duende. Aquele ali pode ser um perigo como prisioneiro – o cavaleiro reclamou. Não simpatizara com Petyr.

Com um aceno despreocupado se despediu e foi cuidar de seus afazeres enquanto Tyrion rumava para sua cabine, onde sua Lady Sansa descansava em seu interior.

Quando entrou, teve a agradável visão de Sansa deitada em sua cama, olhando o teto baixo de madeira, provavelmente com os pensamentos bem distantes dali. Quando o viu entrar ela pareceu se agitar um pouco, mas ele fez um gesto despreocupado com a mão e ela voltou a deitar, mas uma vez olhando o teto. Tyrion tirou a capa, as luvas, o cachecol. Ali dentro não estava tão frio e ele tinha planos de deitar-se logo, então um pouco de frio não seria problema. Tirou as botas e parou ao lado da cama, olhando para a esposa antes de deitar.

Sansa já não parecia tão menina nesses meses que passara sem a ver. Seus seios lhe pareciam mais volumosos sob o vestido que usava, sua cintura parecia ter uma curva mais acentuada, quadris de mulher feita. Seus cabelos espalhados pela cama não eram mais ruivos, mas assim que fosse possível ele a faria tirar aquela cor, preferia muito mais o vermelho. Até seu rosto transparecia menos inocência agora.

Sua menininha crescera.

Ele deitou-se na cama ao lado dela e ela não demonstrou nenhuma emoção quanto a isso. Continuaria tão indiferente quanto antes? Não era possível, ela quisera dormir com ele, quisera estar perto dele. O anão encarou o teto por um momento, vendo que a madeira velha não tinha nenhum atrativo e com certeza não era isso que prendia a atenção de sua mulher.

— Vai matar Lord Baelish? – ela perguntou e sua voz era baixa e triste.

— Talvez – ele respondeu virando o rosto para olhá-la, mas ela não retribuiu o olhar. – Provavelmente.

Um silêncio se fez entre os dois. A menina parecia ter crescido muito nesses meses que passara como bastarda no Vale. Só os Sete sabiam que tipo de coisas Petyr teria feito a ela.

— Sansa… - ele começou sem saber muito bem como tornar a pergunta mais simples. – Lord Baelish te tocou? Alguém te… você sabe.

Ele falou de forma vaga sem querer usar a palavra "estupro" com ela.

— Ainda sou donzela, senhor meu marido, - ela respondeu parecendo absorvida pela visão do teto, - a honra de ser meu primeiro homem ainda será sua.

Tyrion coçou o nariz impaciente. Não pensara nisso na verdade. Não pensara em ser seu primeiro ou não, só perguntara porque a idéia de que alguém a tivesse machucado o incomodava. Seria capaz de castrar Petyr se ele a tivesse estuprado. Se o Jovem Lobo ainda fosse vivo ele colocaria Petyr numa caixa e mandaria entregar em Correrrio com um bilhete de "este homem matou seu pai", era o mínimo que podia fazer depois de Petyr ter tramado para ter a pobre menina Sansa para ele.

Agora que a olhava tão de perto, Tyrion reparou que havia esquecido o quanto os lábios dela eram belos e convidativos. Balançou um pouco a cabeça para livrar-se daquele pensamento.

— Lord Baelish estava me ensinando umas coisas no Ninho da Águia – ela prosseguiu sem emoção.

Tyrion franziu o cenho.

— Que tipo de coisas?

— A jogar – ela respondeu baixinho.

— Jogar?

— O jogo dos tronos.

Sansa mordeu o lábio, como se temesse ter falado algo errado. Tyrion não disse nada. Ele se deitou de lado para observá-la melhor, seus corpos ficando mais próximos.

— Isso tem haver com a morte de Joffrey? – ele indagou sério.

A garota pareceu preocupada com a pergunta dele, como se refletisse com cuidado qualquer coisa que pudesse dizer dali para frente.

— Sim – falou baixinho de novo.

— Eu confessei o assassinato de Joffrey diante da corte de Porto Real – falou com um suspiro. – Nós dois sabemos que não fui eu.

O anão esperava que aquelas palavras mexessem um pouco com ela, uma vez que ele tinha certeza que a garota devia ter envenenado Joffrey. Só os Sete sabem o quanto seu sobrinho merecia aquele fim.

Sansa mordeu o lábio pela segunda vez e toda a atenção de Tyrion ficou presa aquele pequeno gesto.

— O que fará comigo agora, meu senhor? – a garota perguntou virando o rosto para encará-lo, o que deixava seu rosto perigosamente perto do dele.

Por uma fração de segundos Tyrion teve vontade de beijá-la, mas fechou os olhos e tentou desesperadamente afastar aquela imagem mental.

— É minha esposa, Sansa. Vou cuidar de você. – Ele respondeu, tocando o rosto delicado da garota com sua pequena mão. – Agora somos um casal, marido e mulher, e eu vou tentar fazer você um pouquinho mais feliz. Tudo bem?

— Sim – ela respondeu aceitando seu carinho de bom grado – eu acredito em você.

A forma como ela falou o deixou desarmado. Não podia lidar com a doçura de Sansa, ainda mais quando parecia ser tão verdadeira. Não podia acreditar que ela estava dedicando essa doçura a ele.

Deixou que seus dedos vagassem até tocar de leve os lábios rosados dela.

— Sobre seu irmão… - ele começou suavizando a voz. Nunca falava com ela sobre Robb.

— Ele era um Rebelde – ela cortou automaticamente.

— Ele buscava vingança pela morte de seu pai – Tyrion a interrompeu impaciente. – Seu pai era um grande homem e morreu injustamente. E seu irmão foi um grande homem depois dele.

Sansa abriu seus delicados lábios sob os dedos dele, surpresa. Não esperava nada assim.

— Meu senhor… - ela começou confusa – Nem sei o que dizer.

— Não diga nada. Não minta. Não sou Joffrey. – Ele continuou um tanto hipnotizado por a maciez daqueles lábios. – Não irei punir você por ser uma Stark.

Era difícil decifrar o brilho nos olhos dela.

— Quer minha pretensão a Winterfell – ela falou e isso era uma afirmação.

— Quero sobreviver e farei você sobreviver junto comigo – ele respondeu, aqueles lábios parecendo tanto o convidarem. – Winterfell é seu e eu não esquecerei disso, assim como Rochedo Casterly é meu e irei tomá-lo para mim. Posso ser Senhor de Winterfell com você, mas só se quiser ser Senhora de Rochedo Casterly comigo.

— Senhora de Rochedo Casterly? – ela indagou engolindo em seco. – Lady Lannister?

Essa era uma idéia que Tyrion ainda não havia parado para desenvolver. De repente, se viu Senhor de Casterly Rock com Sansa a seu lado, linda e feliz e aquela imagem aqueceu seu coração. Lady Lannister. Lady Sansa Stark Lannyster. Nos lábios dela isso parecia tão bom que não podia ser verdade.

E Tyrion a beijou.

Não sabia bem o que passara por sua cabeça, foi irracional, mas os lábios dela era tão belos, tão rosados, tão doces que não podia resistir.

E ela o aceitou.

Ela não fugiu de seu beijo ou pareceu sentir nojo. Ela sequer pareceu surpresa. Tyrion segurou o queixo dela com carinho e introduziu sua língua na boca dela e ficou encantado que ela o aceitasse. Lembrava de senti-la estremecer ao seu toque em sua noite de núpcias, lembrava dela mau olhar sua cicatriz em seu rosto.

Comportada, ela deixou que ele aprofundasse o beijo, que provasse de seus lábios e de seu corpo. Tyrion a achou tão mudada, tão mais confiante e adulta, que sentiu vontade de tocá-la para ter certeza se continuava virgem, mas refreou seu desejo. O doce daqueles lábios lhe seriam suficientes naquela noite porque desde que se tornara homem na cama de Tysha, nunca provara de algo tão puro.

O beijo durou longos minutos enquanto ele saciava a cede que tinha de sua mulher. Não mais a menininha verde com quem casara, mais uma mulher de verdade que podia desejar sem se sentir culpado. Sentiu a mão delicada dela em seu peito fazer um pouco de pressão para afastá-lo. Nada muito forte, não lutava contra ele, apenas gostaria de parar se ele deixasse.

Tyrion interrompeu o beijo ainda sentindo na boca o gosto puro dela. Os lábios dela estavam mais vermelhos apesar da pouca pressão que fizera e suas faces coradas a tornava mais bela e mais Tully que o normal e isso era encantador. Por um segundo ele temeu ter a incomodado com o beijo, mas quando ela falou, ele notou que o problema não era ele.

— Senhor meu marido, o que sabe sobre a morte de Joffrey? – o assunto com certeza era inesperado quando tudo que ele mais queria era voltar a beijá-la.

— Hummm, sei que não fui eu quem o matou – ele respondeu tentando pensar, tentando esquecer o doce daqueles lábios puros – mas nunca vou culpá-la por isso, minha lobinha.

— Eu não matei Joffrey – ela respondeu firme.

— Não precisa mentir para…

— Eu não matei Joffrey – ela o interrompeu repetindo sua afirmação, - mas eu sei quem foi.


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Notas finais do capítulo

Eu não tenho certeza, mas creio que no livro o nome da Penny foi traduzido para Centava ou Merreca



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