Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 10
Gendry Waters




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Coisas Quebradas

Adriana Swan

GENDRY

Do lado de fora das Gêmeas, as carroças estavam ordenadas em fila. Centenas de cavalos e mais algumas centenas de soldados prontos para partirem. A neve cobria o chão e o deixava escorregadio quando o sol começou a derreter o gelo. Os fora da lei estavam escorados numa das carroças, observando enquanto o prisioneiro vinha sendo trazido por dois soldados Freys. O homem era muito alto e forte, com barba e cabelos cinzentos e apesar da idade, parecia poderoso e tinha ar de grande senhor. Estava com correntes dos pulsos e no pescoço, com um soldado Frey segurando em cada braço seu enquanto o levavam, embora seus pés fossem tão mais firmes na neve e sua cabeça erguida com tanta dignidade que mais pareciam a escolta do grande senhor do que seus carcereiros.

— Quem é aquele? – Limo perguntou a um dos soldados Lannister que, assim como a maioria, tinha parado para contemplar a cena.

— Grande Jon Umber – um rapaz alto respondeu – Era o braço direito do Rei no Norte.

— Você quis dizer Mão do Rei?

— Não, o Rei no Norte não tinha um Mão. – O rapaz respondeu dando as costas ao mini espetáculo e voltando a prender a coleira de sua cadelinha, uma bela labradora adulta, na carroça onde estavam escorados. O rapaz era Hoster Blackwood, refém dos Lannisters que acompanhava Jaime agora – Dizem que no Norte os reis fazem seu trabalho com as próprias mãos.

— Ai está uma coisa difícil de se ver – Gendry resmungou para si mesmo.

Os Freys prenderam o Lord Umber em uma carroça preparada especialmente para isso. Havia sido transformada em uma espécie de jaula de ferro e fora coberta com mantos negros ao redor das quatro paredes e no teto, fazendo com que fosse impossível que se visse o prisioneiro depois que fosse jogado lá dentro.

— Acho que esse preparo todo seria mais útil colocando o prisioneiro dentro da jaula - Limo comentou ao ver os Freys acorrentarem Umber do lado de fora da jaula, de modo que seguisse a carroça a pé. – Parece meio idiota tanta proteção para faze-lo ir a pé.

— Os Freys não são o melhor exemplo de estrategistas, se quer minha opinião – o rapaz com a cachorrinha respondeu falando baixo, para não chamar atenção.

— Aposto que não – Limo concordou, então virou-se para Gendry. – Você também acha que estamos fazendo papel de idiotas?

Gendry fechou a cara amuado. Sabia que Limo não podia ser mais claro sobre aquilo estando perto dos homens do Regicida, mas desde que saíram da floresta com Jaime e Brienne não estavam fazendo mais do que ficar calados. Limo reclamava que era perda de tempo, que o fogo não fora claro, que o Lannister não soltaria nenhum nortenho e que eles, Limo e Gendry, não podiam fazer nada ali a não ser olhar e torcer para não morrerem.

Ele concordou com a cabeça e abriu a boca para responder alguma coisa quando viu as portas do castelo se abrirem e uma dúzia de guardas Freys saírem apressados, dessa vez o Regicida vinha com eles e isso chamou-lhes a atenção.

Além dos guardas Frey, vinham também Daven e Jaime Lannister, espadas na cintura e rostos tensos. Brienne de Tarth vinha bem na cola deles, a mão sobre o cabo da espada que os fora da lei conheciam como Cumpridora de Promessas e no rosto uma expressão que colocaria medo até em um Baratheon. Se arrastando ao fim da fila sua-imitação-de-escudeiro, Podrick Pyne, ajudava a criada do Regicida com suas coisas.

Mas o que chamava a atenção não era a composição do pequeno grupo em si, mas uma figura mais peculiar. No meio dos guardas Frey, um prisioneiro era praticamente arrastado em direção as carroças. Era bem mais baixo que Lord Umber e não conseguia acompanhar o passo dos seus carcereiros que eram assim obrigados a arrasta-lo, cada um segurando num braço, suas mãos presas num pesada corrente e uma grande argola de ferro em seu pescoço.

E um capuz na cabeça.

— O que, pelos sete infernos, é isso? – Hoster falou, colocando em palavras o pensamento dos fora da lei e de boa parte dos presentes.

Os Freys arrastaram o prisioneiro sem cerimônias. Estava completamente coberto, desde as botas de neve de boa qualidade, as luvas grossas de couro e o capuz negro na cabeça que não permitia aos soldados dizerem sequer a cor de sua pele, quando mais idade ou identidade.

Ao saírem da proteção das Gêmeas e pisarem na neve lisa, porém, o passo dos guardas vacilou e na pressa de se firmarem soltaram o prisioneiro que caiu sobre a neve. Os Freys trocaram um olhar irritados e um deles o puxou pelo braço.

— Ande, levante-se.

O prisioneiro colocou as mãos no chão e tentou se por de joelhos, mas ao tentar ficar de pé suas pernas fraquejaram e caiu de novo, ficando de quatro sobre a neve. Os Freys e alguns dos soldados riram, mas o Regicida e os que o rodeavam pareciam tensos. Preso a carroça, Lord Umber parecia capaz de matar os Freys com as unhas se pudesse se soltar.

— Levante-se logo, não temos o dia todo. – Outro Frey reclamou passando na frente dos parentes, pegando a corrente entre as mãos dele e o puxando para cima. O infeliz prisioneiro ficou de joelhos, arfando, as mãos erguidas conforme o Frey puxava as correntes, mas ainda sem conseguir ficar de pé.

— Vocês não veem – Jaime Lannister começou a falar com um sorriso sarcástico que demonstrava estar terrivelmente irritado com o pequeno show de poder que os Freys estavam dando a seus homens – que ele não consegue ficar de pé.

O homem soltou as correntes e lançou um olhar mal humorado a Jaime antes de dar um chute nas pernas do prisioneiro que continuava ajoelhado na neve.

—Ótimo, então… - ele pareceu pensar um pouco – rasteja.

Apesar do capuz provavelmente impedir sua visão, o homem no chão moveu a cabeça, como tentando olhar na direção do Frey que lhe dera a ordem. O Frey voltou a chutar-lhe.

— Rasteja, porra. – Ordenou.

Brienne de Tarth deu um passo a frente, ainda assim ficando um passo atrás do Regicida. A garota segurava o cabo da espada com tanta força que chegava a tremer. Jaime não parecia em melhor humor ao olhar do Frey para o homem ajoelhado. Ainda tinha um sorriso irritado congelado no rosto.

— Acho que já fizeram o suficiente – agradeceu Daven Lannister, educado – daqui nós podemos levá-lo.

O Frey riu.

— Faço questão – respondeu sem nem olhar para Daven. – A donzela tem vergonha de rastejar? – gargalhou enquanto empurrava o ombro do prisioneiro, o forçando a ficar de quatro, as mãos presas na corrente.

A cadela que Hoster Blackwood parara de tentar amarrar a carroça começou a granir, baixo, quieta, mas eles nem deram atenção.

A maior parte dos soldados Lannister que riram na primeira vez que o prisioneiro caiu já se sentiam tensos com a situação, principalmente por o próprio Regicida não estar gostando nem um pouco daquele espetáculo. Limo tinha os punhos fechados, mas não demonstrava nada além disso. O próprio Gendry não sabia bem o que pensar. O prisioneiro encapuzado podia ser qualquer pessoa, inclusive alguém bem ruim e a julgar pela força que Lord Umber forçava as correntes em seus pulsos, apostaria um veado de prata como o prisioneiro era um nortenho. A ideia de que podia ser alguém querido a Arya o feriu e sentiu raiva dos Freys.

Com o prisioneiro de quatro na neve, o Frey segurou na argola ao redor de seu pescoço, como se fosse uma coleira, fazendo com que Brienne de Tarth perdesse a paciência e tentasse passar por Jaime para impedir a crueldade, mas o Regicida segurou seu braço com força e a impediu.

O Frey puxou a "coleira" tentando arrasta-lo, mas o homem no chão resistiu. Uma segunda puxada mais forte e ele gemeu, erguendo as mãos acorrentadas tentando se segurar nas mãos do homem que o puxava.

— Não – o prisioneiro falou com voz trêmula, mas audível a todos.

Ouvir o apelo dele só irritou mais o Frey.

— Não? – questionou, forçando a coleira para baixo com força até encostar o rosto do prisioneiro na neve. – Não?! Você pensa que é o quê para me dizer o que fazer?!

— Eu? Eu sou um homem – falou, a voz estrangulada pela dor enquanto o Frey forçava sua cabeça no chão. – E você, Ryman? Pode dizer o mesmo?

Aquilo fez o Frey surtar. Soltou o prisioneiro e se afastou erguendo a perna para chutá-lo.

— Seu filho de uma puta! - gritou.

Nesse momento, a cadela se desprendeu da carroça, uma grande labradora de patas fortes e dentes afiados, granindo numa corrida rápida até onde a cena se passava, há cerca de dez metros dali. Os Freys se afastaram surpresos ao vê-la. Ela avançou direto para Ryman Frey, quase o mordendo e o forçando a puxar a espada enquanto se afastava, mas diante da espada ela parou o ataque. Ficou parada, dentes a mostra, entre Ryman e o prisioneiro caído ao chão.

— Minha menina – o refém Lannister gemeu atrás de Gendry vendo sua cadela no meio da briga. Parecia meio óbvio que os Freys a matassem por ter ousado atacá-los, mas em vez disso deram outro passo atrás, se afastando dela e a olhando com o que parecia ser medo. Gendry estranhou. Homens com espadas não deviam ter medo de cães.

— Eu avisei a você, Regicida. – Ryman Frey falou apontando o homem no chão. – Ele é o demônio.

Jaime tinha a mesma expressão estranha ao olhar a cadela de dentes a mostra, mas não se deixaria recuar como os Freys. Soltou Brienne e ele mesmo passou pela escolta Frey e pela labradora (que nem olhou para ele) e foi até onde o prisioneiro estava caído. Segurou seu braço com a mão esquerda e tentou o levantar. O prisioneiro pareceu querer se afastar do toque.

— Vamos, levante-se – o Regicida falou e ao reconhecer sua voz o prisioneiro pareceu mais dócil, mas disposto a obedecer. Com a ajuda de Jaime ficou de joelhos.

— Eu não… - o prisioneiro falou de novo, angustiado, suas mãos acorrentadas tentando segurar na mão que Jaime tinha firme em seu braço. – Não consigo ficar em pé.

Mesmo sem poder ver seu rosto, por causa do capuz, Gendry podia dizer pela voz e a postura que o homem estava cansado. O Regicida não teve tempo de responder, Brienne de Tarth passou pelos Freys num passo rápido e foi até o prisioneiro, o apoiando por baixo do braço, o colocou de pé num instante.

Brienne e o Regicida o levaram até a carroça, Daven Lannister passando na frente para abrir a porta para que entrasse. Ainda assim, precisou da ajuda de Brienne para subir diante de centenas de olhares curiosos. Grande Jon esticou suas correntes tentando chegar até a porta da carroça para ver o prisioneiro, mas sem conseguir.

— Pelos bons deuses, meu rapaz – ele orou vendo o prisioneiro sumir sob os mantos pretos da carroça.

Enquanto isso a cadela voltou para onde Gendry, Limo e o soldado Lannister estavam, mansa e abanando o rabo, feliz como se nada tivesse acontecido. Os Freys entraram no castelo contrariados.

Jaime fechou um pouco a porta da jaula, deixando-a aberta só o suficiente para olhar para dentro dela e estender uma mão para seu interior.

— Já pode tirar o capuz – ele falou para o prisioneiro que estava protegido de todos os olhares lá dentro. Quando tirou a mão do interior da jaula segurava o capuz preto – Eu disse que seu dia seria miserável, não foi? Melhor acostumar.

Com um sorriso amargo fechou a porta da jaula e a trancou. Logo em seguida seu olhar se cruzou com o de Gendry e Limo, e com desagrado fez um sinal que falaria com eles depois e se afastou com seu primo, deixando Brienne ali, com cara de poucos amigos e a mão sobre o cabo da espada. Os homens começaram a cochichar como um enxame de abelhas, o soldado se abraçando com a cachorra ao lado deles se virou para Limo.

— O que diabos você acha que acabou de acontecer aqui?

Limo se virou para participar das conversas com os homens e criar teorias sobre o misterioso prisioneiro. Gendry continuou olhando a carroça, lembrando de uma muito parecida que levaram consigo quando saíram de Porto Real para se juntar a Patrulha da Noite. O que viu o deixou surpreso.

Grande Jon Umber sussurrava, a voz parecendo embargada pelo choro, enquanto sua mão tateava por baixo dos panos pretos, tentando passar por entre alguma das grades.

Rapaz… meu rapaz…

— Grande Jon? – o prisioneiro respondeu, no mesmo tom baixo e incerto.

Meu garoto… - Grande Jon sussurrou num soluço de lágrimas, enquanto frágeis dedos sem luva saíram pelas brechas da jaula e seguraram nos dedos dele por baixo do pano negro.


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Notas finais do capítulo

Desculpa por isso, gente. =(
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