O Garoto da Casa Verde escrita por Giihcoruja


Capítulo 4
O Garoto da Casa Verde IV




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Quando se sente uma ligação forte consigo mesmo, quando algo te faz inspirar e respirar lentamente na sua vida, aquele momento o qual você consegue perceber a textura de seus dedos, a maciez da cadeira acolchoada nas suas pernas, a fina madeira do pincel em suas mãos, a sensação de estar de alguma forma teles portando a essência da sua alma, de seu braço para a ponta do pincel para a tela, a sensação que eu sentia ao ver a imagem da minha cabeça se formar em cores vivas diante dos meus olhos não tinha nada igual.
Eu nunca tinha pensado que em algum momento algo pudesse me deixar tão bem, que de alguma maneira pudesse me identificar, ainda estava pintando de aquarela, mas a alegria era grande.
O tempo que eu tinha para aprender as técnicas de pintura e praticar levava uma tarde inteira, porém era tão prazeroso que eu não sentia o tempo passar diante dos meus olhos, me sentia como um viciado em drogas, ou em bebidas que você chega ao ponto de se perguntar se conseguiria fazer outra coisa tão bem, com tanto capricho e esforço. Se eu pudesse passa o dia todo fazendo.
No meu quarto à noite, eu pegava um caderno de desenho, um pedaço fino de carvão e desenhava o Eduardo, tentava na minha memória buscar o máximo de traços possíveis, nos primeiros dias do feriado eu tinha uma dificuldade, por que as aulas e as técnicas ainda estavam no começo, mas a partir dos dias meu desenho foi ficando mais preciso, fui pedindo ajuda para o professor todos os dias, dicas e criticas que pudessem me ajudar aperfeiçoar.
Às vezes ele vinha me perguntar quem era a minha inspiração, ou melhor, qual é o meu modelo, mas eu sempre dizia que era da minha cabeça, que eu o simplesmente vi andando na rua e me deu uma vontade muito grande de desenhar.
Eu ficava horas obervando os movimentos às vezes rápidos e às vezes delicados, os movimentos que eu fazia com as mãos para ter a caracteriza e o tom que eu queria para aquela imagem, já fiquei tanto tempo desenhando, que esquecia as horas de refeição ou até mesmo quando a noite chegava e precisava ir dormir.
Eu era uma garota ingênua não fazia muita ideia das coisas ruins que poderiam acontecer comigo, eu tinha uma pequena ideia de que o mundo era pobre e que tinha muitas pessoas infelizes, que nem tudo na vida é perfeito, mas ninguém nunca tinha me feito algum mal, e a ideia romântica que tinha na cabeça com ele era a minha “única” realidade.
O meu primeiro contato com a realidade foi quando entrei naquele colégio na segunda feira, todos daquele colégio pareciam já se conhecerem a muito tempo, parecia colégio dos filmes americanos, onde tinha vários armários nos corredores.
Entrei na primeira porta onde estava escrito diretoria e me sentei ao banco, esperando a minha vez para ser atendida, a final eu precisava pegar minhas matérias e meu cadeado do meu armário e os meus horários de aula.
Quando eu ouvi o meu nome da porta, eu vi uma garota loira dos olhos azuis, sair da sala do diretor, usava uma minissaia de líder de torcida, usava um decote branco e uma jaqueta preta, estava usando nos pés um enorme salto alto preto, assim que me levantei ela me olhou feio de baixo para cima de estudando, ela simplesmente olhou para mim com uma cara de nojo, estourou sua bola de chiclete e saiu desfilando pelo corredor.
Nesse momento foi que percebi que não estava mais no meu mudinho, que aquele mundo era completamente diferente, onde o que uma garota precisava fazer para se enturmar e chamar atenção era vestir e ser bonita com aquela que tinha passado por mim, mas esse era um dos problemas eu não sentia a necessidade de ser como aquela garota, gostava de como me vestia, simples e confortavelmente, estava vagando nos meus pensamentos quando ouvi me chamar pela segunda vez:

—Pode entrar Clara de Oliveira!
Uma musica que se faz como o vento, envolve o seu corpo e abraça a sua cabeça e os seus sonhos, te faz por um segundo fechar os olhos, respirar fundo, relaxar um pouco os músculos. Mas assim que abri os meus olhos, eu estava sentada na cadeira enfrente da mesa da diretora, ela me olhava com um sorriso no rosto, e a musica não estava mais tocando na minha cabeça, agora estava dissipada no ar como um gás rebelde e livre da minha cabeça.

Em cima da mesa tinha os papeis com os horários das aulas, continha também uma chave do cofre, ela tinha um sorriso doce, se vestia com um vestido social azul, com uma blusa branca no meio, com o cabelo em coque, com lindos óculos pretos, antes que eu dissesse algo, ela colocou um folheto amarelo em cima e falou:

—Essas pequenas listas, são os nossos cursos extras, pelo o que a observei acho que você vai gostar do nosso curso de desenho.

Ela olhava para as minhas roupas, para a minha bolsa, e para o meu caderno de desenho que estava em meus braços, eu segui seus olhos e sorri para ela de volta, pegando os papeis e a chave, eu apenas agradeci:

— Muito obrigada, espero gostar.

Levantei-me, sai estavam todo no intervalo no corredor, em grupos, era muito engraçado como saber classificá-los, mas não vou ficar os descrevendo, acha que em toda a escola do mundo é assim.

O que me apavorava, era que todos ficavam me olhando, com certeza por que eu era nova no colégio, eu queria que eu não fosse à única, mas pelo visto, e as observações, até chegar ao meu armário, sim eu era a única nova.

Ao abrir a porta de alumínio já estavam todas as minhas matérias lá dentro de que eu iria precisar, fui olhar os meus horários de aula, e tinha matemática como primeira, eu peguei todos os cadernos de matemática que poderia precisar, por que eu era péssima, peguei meu caderno e de cabeça baixa olhando para os meus cadarços, fui para a sala.

Sabia que eu não era feia, sabia disso a minha única amiga e alguns garotinhos já tinham falado isso para mim e era o que afirmava quando me olhava ao espelho, era uma morena relativamente alta e com lindos cabelos encaracolados, minha mãe me chamava de Branca de Neve quando eu era pequena, mas talvez por não me vestir bem ou na “moda”, isso pode e é um defeito aos olhos dos olhos, principalmente se essas pessoas são de famílias de classe média a alta, mas me sentia bem com os meus macaquinhos jeans, minhas calças rasgadas, minhas jaquetas pretas e os meus amados al. stars, tinham cada um com uma cor, sempre pedia um para a minha mãe, tinha de todos os tipos a curto preto o longo na perna toda vermelho.  Eu amava as minhas tranças, adorava ficar inventado no meu cabelo, era de raiz, era de lado, era mais aberto, era metade do cabelo e eu quase nunca usava maquiagem, eu não gostava.

Eu achei a sala muito rápida, era em frente à biblioteca, quando entrei ainda tinha alunos, fora da sala, me sentei em uma cadeira no canto, em baixo de uma janela na segunda fileira, todos conversavam muito, algumas pessoas me olhavam ainda.

Quando uma ruiva muito fofa com sardas e uns óculos engraçado, se sentou ao meu lado e veio toda simpática falar comigo:

—Você é a aluna nova que todos estão falando não é?

Eu sorri meio tímida, mas me virei e respondi:

—Acho que sou eu. Meu nome é Clara, prazer.

Ela me deu um beijo no rosto, e um abraço muito caloroso e disse:

—Me chame de Ana, pode me pedir ajuda no que precisar se sentir perdida aqui, pode pedir, se quiser conversar estou aqui também.

Assim que ela estava falando, algo na porta me fez ficar paralisada de surpresa, não sabia o que fazia se fugia, simplesmente senti que o ar tinha sumido ao meu redor, parecia algo difícil respirar naquele rápido segundo, que na minha cabeça ficou lento, até eu entender, respirar e voltar a mim.

Ele estava entrando, parado na porta, com suas matérias de baixo do braço, com uns três amigos a sua volta, certamente não tinha reparado em mim, mas eu não queria acreditar que o Eduardo estava ali, no mesmo colégio que eu, na mesma sala, eu não queria que aquilo estivesse acontecido. Mas ele estava bonito como sempre, com sua jaqueta da natação provavelmente do colégio, seu cabelo estava cortado embaixo do boné, seus olhos e seu sorriso estavam lindos como sempre foi.

Sabe aquele momento da sua vida, em que você adoraria que aparecesse um buraco no chão ao qual você pudesse se esconder e ninguém conseguir te encontrar eram esse o momento que estava sentindo com o frio na minha barriga, sentindo minhas mãos tremerem.

Para a minha grande sorte, ele foi se sentar no fundo da sala com seus amigos, nem olhou para mim, o alivio foi tão grande que lágrimas involuntárias vieram aos meus olhos, tanto que quando o professor chegou à sala a minha vizinha de carteira, Ana veio falar comigo:

—Você está bem?

Eu enxuguei as minhas lágrimas com a palma da mão, respirei fundo, eu realmente estava aliviada, mas eu iria fazer o possível para que ele não consiga me ver, mesmo sabendo que um dia será inevitável, já que estudamos no mesmo colégio, no mesmo ano, e na mesma sala.

Apenas olhei para ela sorri, afirmei que sim com a cabeça, então a aula começou.

Era uma aluna com muitas duvidas, mas sempre perguntava quando tinha duvida, era uma pessoa esforçada, apesar de não ter a certeza do que eu queria, eu tinha um gosto pelos estudos.

Mas pela primeira vez, quando levantei a mão para fazer uma pergunta sobre funções:

— Por que o três cruza o y?

Fiquei surpresa, pela fisionomia do professor como se tiver perguntado tivesse sido um erro, ele suspirou fechando o olho depois os abriu e olhou para mim ao responder:

—Por favor, senhorita...

Ele olhou a lista de chamada, viu que eu era nova, deu um pequeno sorriso e falou para a sala, me apontando para todos, mas não tive a coragem de virar as costas:

—Ora, ora temos uma nova aluna na sala hoje. Bem Vinda Senhorita Oliveira. Onde eu estava?

Seu olhar de duvida e de certa forma de deboche, se fez clarear depois de alguns segundos e voltou a falar:

—No final da aula, vem até a mim que lhe explicarei.

E voltou a escrever e a explicar seus exercícios no quadro.

Claro todos começaram a conversar sobre a forma que o professor me tratou, sendo grosso, fazendo um barulho na sala, até que olhei por um momento para a minha diagonal e a loira que tinha visto na sala da diretora estava me olhando com certa maldade, então me virei para a lousa quando professor pediu silêncio a todos.

                As vezes quando estava copiando, ou tentando prestar atenção no professor e desistia por que afinal não sabia mesmo. Eu olhava distraída para a janela, vendo a água da garoa, pingar um pouco sobre o vidro as pontas das folhas das árvores, o jardim que a escola tinha era bonito, tinha suas variedades de flores, eu pensava o quanto seria prazeroso as pintarem, no meio do jardim tinha dois balanços para os menores, ficava vagando com saudades, quando era pequena e ficava me empurrando com os pés no parque da antiga casa, estava usando os meus primeiros óculos, já que um tempo da minha vida escolhi usar lentes, por que meus pais podiam pagar e não gostava muito de usar óculos, ele estava na quadra do mesmo parque jogando basquete com uns três amigos, e eu estava sozinha apenas observando o local, os detalhes das flores pequenas no chão e como ele era fofo mesmo quando tinha seus seis anos de idade.

Quando eu ouvi o sinal do fim da aula, tocou e eu tive que ir conversar com o professor


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