Sentimento Incompleto escrita por Gabi chan02


Capítulo 39
Metáforas ruins


Notas iniciais do capítulo

Quem quer capítulo pra ler durante a quarentena?? Aeeee ~

Eu nem sei se realmente tem tanta gente assim parada, mas na enquetezinha que fiz no Twitter, 3 pessoas votaram pra eu postar por isso, então vou considerar pfff
Postei em Cidade perdida também, demorei um poquinho pra postar aqui porque fiz uma pausa pra um lanchinho, estava com fome 'u'
... Mais uma vez a Card B gritando CORONA VAIRUS ecoa na minha cabeça.
Olha sóo, e não é que o resto do vídeo dela se encaixa com esse capítulo...?
THE SHIT IS REAL, THE SHIT IS GETTING REAL
Eu já escrevi isso em CP também, mas aqui fez muito mais sentido e só reparei agora ahaha

Anyway, a metáfora desse capítulo é bem ruim mesmo, nem lembro como pensei nisso??? Mais informações nas notas finais~


São dois links de músicas hoje, mas na verdade é que não lembro se já recomendei essas duas, ou uma delas, antes e estou com preguiça de ir checar... Caso sim, escutem de novo mesmo assim porque são muito boas ♥
https://www.youtube.com/watch?v=M8neiBdTDVc&

https://www.youtube.com/watch?v=RYsbNNRcnqc&

Boa leitura ♥



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Rin POV

A mensagem que eu sabia que iriam me mandar chegou logo de manhã, convenientemente no dia seguinte da atualização de notícias com Gumi. Asami não foi direto ao ponto e sei que se ela fosse, não me deixaria interessada o suficiente para ir lá saber do que se tratava:

"Estamos preocupados. Nem a Ágata conseguiu falar com você direito, e ela pareceu tão triste quando falou comigo...

Se está com medo de vir até aqui, eu entendo. Quero que saiba que esse medo não é o que vai acontecer com você.

Sua agenda é flexível, nós sabemos, mas esse assunto é delicado e todos nós devemos algumas explicações.

Todos nós."

Asami sabia como lidar perfeitamente conosco em diversas situações e nada disso era parte do trabalho dela, mesmo assim fazia tudo o que estava em seu alcance. Conforme os anos de convivência passavam, ela ficava cada vez melhor. Não sei se o motivo foi por ter se apegado a nós dois desde o começo, ou por ter retomado a amizade com Ágata e, por consequência, nossa tia criou essa preocupação na nossa empresária. A mensagem parecia uma pista de um livro de mistérios, pronta para levar a protagonista desesperada até a isca. E eu com certeza iria. 

"Todos nós."

A conversa com Gumi ainda estava fresca na minha memória. Não saiu da minha cabeça nem por um segundo a ideia de que pessoas além das que eu imaginava poderiam estar envolvidas em assuntos que desconhecia, mas sabia estar envolvida. Pensei em faltar o colégio e ir direto até a Crypton por um segundo impulsivo, mas a preguiça de não ter a carona e o conforto do carro de Luka somado ao detalhe de que eu morreria de nervosismo sozinha nessa situação me fez mudar de ideia.

Eu nem encontrei palavras para responder a mensagem. Era um dos momentos que mais temi a minha vida inteira desde o primeiro dia no Vocaloid, mesmo sabendo do risco iminente de acontecer, cedo ou tarde. Só esperava que fosse mais tarde, e esperava ter Len ao meu lado, se fosse conforme planejávamos de vez em quando. Em poucas horas eu estaria rodeada por todos os meus superiores, que por mais que fossem a favor da imagem fora dos padrões do entretenimento na Ásia feita por nós dentro do Vocaloid desde o início... dificilmente aceitariam um caso nesse nível. Mais uma vez, tudo o que me parecia tão familiar se tornava confuso, voltava a ver sentido em quem jurei nunca dar ouvidos.

O nó na garganta e a tremedeira ao longo do dia inteiro não foi culpa do inverno. Desisti de tudo na metade do horário da primeira aula e me isolei na sala do clube vazia. Mandei algumas mensagens pedindo que Miku matasse aula também só para me fazer companhia. Não consegui convencer a estudante de honra a fazer esse sacrifício, mas veio me ver em todos os intervalos de 5 minutos entre as aulas. No fim das contas, foi melhor assim e não duvido que Miku tenha sentido isso. Eu mesma sabia o quanto precisava de um tempo sozinha, por minha conta, não ouvir nada além do que já era barulhento dentro da minha cabeça.

Por sorte, o raro silêncio na sala de música (em todo o corredor, na verdade, tornando a situação ainda mais rara) e a privacidade me deram tempo de sobra. O caos do momento me fez, finalmente, terminar a música e a melodia da música que comecei há uns dias. A inspiração às vezes vem com a desgraça.

"O Teatro de Mim".

Se eu passar de hoje dentro da Crypton, dentro da Yamaha, no próximo show todos vão ouvir minhas frustrações em palco, o que eu evitava fazer, mas seria justo.

Enfim, por nada nesse mundo eu ficaria depois do almoço, isso eu consegui convencer Miku. Porém, antes de nós duas sairmos, ninguém mais, ninguém menos que Mamoru brotou na sala antes de minha amiga. Nem fingiu que não sabia que eu estava aqui o tempo todo e ficou meio óbvio que Miku o mandou aqui primeiro. Nessa altura do campeonato, eu não sei mais o que tem acontecido por aqui.

— Queria falar com você, prometo que não vou ser inconveniente... – Mamoru estava nervoso de um jeito que nunca o vi antes, e eu não sabia dizer o motivo. – E você tem me evitado, e eu sei a razão pra isso, mas mesmo assim...

Eu respirei fundo. Precisava resolver isso, querendo ou não.

— Tudo bem, pode falar.

Ele pareceu mais aliviado, um pouco.

— O Len falou comigo. Mesmo que tenha disfarçado, eu sei que ele ficou chateado comigo por meio que ter dado em cima de você desde o primeiro ano...

— Foi bem quando a gente começou a namorar sério... – comentei.

Não foram poucas situações do tipo, assistir a investida de quem não sabia sem poder abrir a boca. A sorte é que Len e eu nunca fomos ciumentos, ou as coisas teriam sido insuportáveis. Tínhamos de manter a pose de não ter nada em especial no privado, em público o tempo todo. As desculpas e foras variavam de "não estamos interessados em ninguém" até "não é da sua conta" quando a paciência acabava.

— É, eu fiquei sabendo. E o pior é que no fundo eu e todo mundo do clube desconfiava um pouquinho de alguma coisa acontecendo, mas ninguém acreditava que fosse real. Podiam ser só mais próximos que o normal, principalmente comparando que não são assim com mais ninguém ou... ou sei lá... Parecia meio...

— A gente disfarçava tão mal assim? – brinquei, cômica, mas no fundo fiquei preocupada. "Parecia meio absurdo", completei para alimentar as vozes culpadas da minha cabeça.

Talvez, se não fosse pela tormenta de ter nossas vidas inteirinhas viradas do avesso e expostas o tempo todo, não haveria necessidade de nos mantermos tão distantes de pessoas próximas. Quem sabe nossos amigos já estivessem sabendo desde sempre, como Miku e Luka ficaram, assim como Meiko e Kaito logo depois... Mas já está acontecendo, é tarde demais. No fim, nosso pacto de segredos se virou contra nós e cada silêncio escolhido prejudicou mais do que a verdade.

"Mas vocês sabiam sobre o caso dos gêmeos o tempo todo e nunca fizeram nada?", eu encontrei alguém dizendo por aí em algum momento, como se nossos amigos estivessem errados em ficar do nosso lado. Me assistindo por esse ponto de vista, o problema não era somente se a nossa família descobrisse... sempre foi no geral.

De repente, talvez estivessem errados mesmo.

Talvez não tenha ninguém certo nessa história.

— Até que não, na verdade. Mas pra nós, mais próximos de vocês dois, um pouco. Vocês sempre se olharam de um jeito diferente, mais profundo, não sei. E ele sabia sobre mim, desde o começo, e nunca falou nada pra não estragar tudo... Eu preciso me desculpar por isso.

— Eu nunca te dei atenção desse tipo, fico surpresa por nunca nem ter percebido que me tratou diferente nesse tempo. E se o Len foi o mais afetado e você já falou com ele, por mim, e sei que por ele também, já está tudo bem. Só preciso admitir que te achava meio grudento, mas como você sempre foi assim com qualquer menina que tocasse guitarra e metido a pegador no geral, eu nunca achei que fosse mais do que exibição.

Mamoru passou alguns longos segundos me fitando com um doloroso sorriso irônico. Não era raro que sem querer um de nós cruzasse com ele se agarrando com alguém pelos cantos ou quando chegava mais cedo na sala do clube e era flagrado. Isso era real demais para qualquer defesa que ele tivesse. Se restava qualquer afeto maior dele por mim, eu assisti a morte desses sentimentos após a minha sentença.

— Vou considerar, porque é verdade – concluiu, ignorando qualquer cerimônia extra de defesa. – E a outra coisa que o Len falou comigo: da parte dele, ele também vai insistir pra que você fique no meu lugar no clube.

— E porque ele não falou sobre isso comigo?

— Ele falou, mas você não respondeu. Nem a Miku-chan. – Mamoru ficou desconfortável de novo. Contra minha vontade, minha bochechas avermelharam. Era verdade, eu não quis responder as últimas mensagens de Len e despistei a conversa com Miku ontem. Desde o encontro com Gumi, eu estive perdida num mar de confusões próprias. – Eu sinto que não deveria ter me metido assim no meio de vocês... Mas já que cheguei até aqui, posso perguntar por que vocês dois simplesmente desistiram?

— Mamoru, já chega.

— Se ele voltasse semana que vem, vocês ficaram juntos de novo?

— Sim, mas...

— E mês que vem?

— Talvez, só que...

— E daqui seis meses?

Ele não me deu mais espaço para falar.

— Não sei.

— Um ano...? 

— Não. Provavelmente não. Porque como eu já disse antes, ele não vai voltar. Não tem como. Muito menos voltar como tudo era antes.

Mamoru enfim se calou.

— Por isso você não respondeu... – Murmurou.

— Então, meio que nossa história já está com o final escrito, e não é dos melhores. Só estamos adiando o inevitável. Na verdade, todo o dinheiro que o Len tem agora não é suficiente pra voltar, e mesmo se fosse, ele ainda é menor de idade e precisaria de permissão da minha mãe e do Leon pra uma viagem internacional, e sem chance disso acontecer.

— Só faltam dois anos pra vocês dois terem 18 anos... – Mamoru tentou. – Sei lá, é um pouco difícil pra mim, e aposto que é pra todo mundo, acreditar que vocês aceitaram isso. Desde que conheci vocês, estão indo contra alguma coisa que não parece certa...

Revirei os olhos. Eu estou começando a ficar cansada das pessoas insistindo nessa história de não aceitar que desistimos.

— Nós estamos reféns um do outro. Se ele se comportar, fica "tudo bem". Mas se um de nós tentar resistir ou aprontar qualquer coisa, as grades de segurança vão ficar piores. Ou pior ainda, eles podem tentar fazer alguma coisa contra mim, pra segurar ele lá e eu aqui, ou vice-versa. E mesmo que o Len consiga arrumar dinheiro pra voltar até termos 18, ignorando que aqui no Japão eu tenho de esperar até os 20, realmente não temos certeza do que vai acontecer e se isso será possível, com todos esses detalhes. Dois ou quatro anos é bastante tempo pra reviravoltas. Enfim, entre esperar por uma coisa que não temos certeza e vai nos deixar pior ainda se não acontecer, ou finalmente seguir em frente e tentar superar, escolhemos a segunda opção.

Acabei desabafando, sem querer. Mesmo sem admitir, eu queria tirar esse peso de mim. Mamoru estava no lugar certo, na hora errada. Queria ter me arrependido de enfiá-lo no meio dessa confusão, mas se não fosse isso, eu odiava admitir, mas Len e eu teríamos perdido um álibi importante e essa confusão teria explodido mais cedo.

— Eu não sabia... Muito menos dessa parte do dinheiro.

— Isso vai durar enquanto formos responsabilidade dos nossos pais. A maior parte do nosso dinheiro vai pra contas de hospital, medicamentos… e coisas do tipo. E a conta da internet é nossa também, além dos jogos. – Tentei deixar o assunto menos pesado, mas não deu certo.

— Não tive a intenção de te fazer falar tudo isso...

— Tudo bem, eu tinha que desabafar, cedo ou tarde. 

— Quer que eu saia antes que isso fique mais estranho? – ele despistou.

— Por favor.

Ele sorriu com pesar. Aquele olhar de pena que eu odiava receber das pessoas, mas tinha de ignorar para não ser a chata da história. Mamoru riu um pouquinho.

— Vou fingir que nada aconteceu, então… Até amanhã.

— Até.

Len e eu somos a maior fraqueza um do outro. Querendo ou não, isso é um fato. Se não fosse pela nossa família nos usando um contra o outro, poderíamos dar um jeito de nos ver de vez em quando. Mas no momento, eu tinha a familiar sensação de que nós dois tínhamos nossa própria saúde como a primeira prioridade, e nossos encontros seriam adiados de qualquer forma.

Infelizmente, se for o único jeito ou o mais fácil de convencer Leon e Allana, prefiro encontrar Len cada um estando com outro alguém, do que nunca mais o ver em condição nenhuma. Começava a me parecer infantil e até fantasioso acreditar que Len e eu éramos únicos um para o outro, que ninguém mais no mundo seria páreo... Por mais que eu sufocasse o quanto isso me machucava.

Miku apareceu poucos segundos depois com um sorriso torto para a minha cara emburrada. Desconfiei que todos já estavam sabendo de tudo, menos eu, já que ninguém mais apareceu na sala do clube em nenhum momento. Luka nos buscou rápido e me deu mais motivos para acreditar nisso.

Miku me explicou no caminho que realmente deixou Mamoru falar comigo primeiro, mas apenas porque ela não aguentava mais a "torta de climão" entre todos nós no clube, até com o Len, e era verdade. Foi só nesse momento em que eu percebi que, de fato, tinha mais buracos para tapar do que imaginei. Ignorar a existência deles não resolveria nada para ninguém.

Quando chegamos à Crypton minutos depois, o "climão" se tornou ainda maior. A moça da recepção não fez questão nenhuma de nos cumprimentar como fazia antes, e as reações de Miku me confirmaram que isso só aconteceu comigo aqui. Desse momento em diante, tudo pareceu dolorosamente quieto em um nível que me assustei com os barulhos do elevador como se eles nunca estivessem ali. Não havia ninguém mais lá como geralmente deveria, tudo parecia uma caminhada até o corredor da morte.

Encontramos Meiko, Kaito e Asami esperando por nós, todos sentadinhos nas cadeiras ao lado da porta da sala do presidente. Seria cômico, se não fosse trágico, que a imagem me lembrou dos dias em que nosso grupinho aprontava alguma coisa na escola e esperávamos para ter uma conversinha com a diretora ou com a pedagogia.

— Rin, você primeiro, sozinha, por favor. – Asami tentou sorrir, mas não era real. Desmanchou assim que percebeu que eu não iria retribuir isso.

Abri a porta e encontrei o presidente nervoso e pensativo, até quando me ouviu entrar com Asami. Não sei se isso era bom ou ruim, mas não havia mais ninguém além de nós, então puxei a cadeira e me acomodei como se não fosse nenhum grande problema. Asami parou firme ao lado da porta, provavelmente só por falta de opção de onde ir. A presença dela provavelmente não tinha sido solicitada, mas ela sabia que eu não duraria muito sozinha.

— Estamos quites. – Não tive certeza, mas acho que foi o que eu ouvi o presidente murmurar antes de finalmente terminar de pensar e sentar-se do outro lado da mesa, a minha frente.

Assim que se ajeitou, um pouco mais próximo, sem querer recuei em meu lugar, desviei o olhar. Meu próprio silêncio me irritava e não conseguia pensar em nada para mudar isso. 

— Vocês dois já estão bem grandinhos, e conscientes dos seus atos, vou pular essa discussão. Mas não me pareceram os mesmos dois jovens que assinaram os contratos anos atrás.

Tentei desconsiderar que Len não estava comigo, imagino que ele tenha planejado essa conversa para duas pessoas, e não só para mim e era tarde demais para mudar o roteiro.

— Sério? – Não consegui expressar nada, mas a minha dúvida foi genuína. – Não foi isso que eu ouvi nos últimos dias. Foi bem pelo contrário.

— Eu sei, mas é sério. Eu acredito em você, nos dois. Sei que sabem o que está acontecendo. – Não sei se foi intencional, mas a conversa acabou me levando a voltar a prestar toda minha atenção nele. – Não é todo dia que duas crianças de 12 anos lêem páginas e mais páginas de contratos, sem problemas com termos técnicos, procurando um consenso vantajoso para cada linha. Já vi adultos assinando sem nem prestar atenção no lugar certo para o nome. Ontem eu li tudo outra vez e eu finalmente entendi porque fizeram tudo isso. Toda aquela exibição, para defender um namoro?

É de família, o que acontece quando se cresce e convive com coisas do tipo numa base diária, até mesmo contra mim. Engraçado que a minha cópia desse contrato deve estar esquecida no fundo de alguma gaveta, se é que ainda existe.

— Espero que não seja motivo pra tirar o nosso crédito.

— De forma alguma. Mas é curioso, porque mesmo se não tivessem feito tudo isso, tentar ir contra vocês ainda iria contra a política que defendemos de não influenciar na liberdade e na vida pessoal de vocês. Confesso até que se não fosse o que todos esperam e me cobram, eu nem mesmo me pronunciaria sobre isso agora, já que ainda não formei minha opinião completa. Também imaginei que você entraria por aquela porta revirando essa sala de reuniões do avesso, e não que fosse recuar com um simples olhar.

Eu realmente não sabia o que dizer. Não era nada do que eu havia imaginado ou tentando planejar de última hora. Não conseguia prever para onde a conversa iria, não sabia onde queria chegar, mal conseguia digerir o que já tinha escutado. As palavras pareciam embaçadas quando passavam pelos meus ouvidos.

— Perdi a prática, admito. As últimas tentativas não deram resultados. – E isso foi tudo o que respondi. – Mas posso saber onde quer chegar?

— Então vamos lá. Eu sei que você e o seu irmão sabem o que estão fazendo. Sei que vocês devem ter lido linha por linha do contrato entre vocês dois, e assinado mesmo assim. Sei que vocês sabem lidar com alguns desses atos, e esses fatos já são suficientes para que eu não tenha motivos para ir contra vocês dois. Mas isso não significa que eu tenha concordado com tudo. Imagine que alguém diz para você ter cuidado com um vaso muito feio e num lugar inconveniente, que esteja te atrapalhando. Você sabe que alguém ficaria chateado se quebrasse, mesmo assim quando quebra o vaso não consegue achar ruim, mesmo recebendo a bronca depois, só porque ele não vai mais te incomodar.

Eu não sei como, mas um sorrisinho sarcástico finalmente brotou em mim. Regras inconvenientes são tão fáceis de serem quebradas quanto vasos.

— Pessoalmente, acho vasos feios no geral. De quem é esse vaso especialmente "muito feio"?

— Não importa de quem é. Você quebrou, você lida com quem ficou chateado. Afinal, a vida pessoal é sua. Eu e a equipe podemos até acobertar o que chegar a afetar além do normal, recolher os cacos do jeito certo, digamos assim, nos casos envolvendo as mídias e o grupo todo. Mas o resto é problema seu.

— Mas foram vocês que ficaram chateados, entendi. – Não sei se a intenção tinha sido essa, mas ele não discordou. Acrescentei minha família na lista de pessoas chateadas, mas realmente, ainda não conseguia me importar.

— Eu já resolvi tudo com a Yamaha também, para a sua sorte. Não ia ser bom para a imagem de ninguém fazer um escândalo por causa de "adolescentes sendo adolescentes". Não temos esse direito sobre vocês dois, então é assim que as coisas vão ficar, por enquanto.

Queria respirar fundo, mas ainda não conseguia, nem de longe.

— O Len... não vai ter problemas com quebra de contrato, ou algo do tipo?

— Nesse caso específico, não. Isso também iria contra a política de separar o trabalho da vida pessoal. Nós somos apenas uma empresa e teríamos muito mais problemas se tentássemos interferir contra os seus pais e responsáveis legais, principalmente por vocês dois ainda serem menores de idade, do que simplesmente deixar isso passar dessa vez... Desde que você não apronte mais nada.

"Não temos esse direito sobre vocês dois", esse é o motivo que os impede de interferir em qualquer coisa na nossa família, e eu estou começando a ter asco dessa palavra. Nem mesmo sei como as coisas chegaram nesse nível. Se não fosse por essa razão específica, a Crypton ou a Yamaha poderiam facilmente interferir e evitar toda essa confusão.

Então, quem tem os direitos sobre nós? Ao que parece, nem nós mesmos temos. Tento não pensar no quanto isso é absurdo, como se a minha vida fosse um pedaço de papel com algumas assinaturas. Se é assim, não adianta fazer promessas que não vou cumprir.

— Não tenho muita certeza se posso cumprir esse último pedido – me pronunciei.

— Eu não falei sério quando disse que esperava que você virasse essa sala do avesso.

— É só um pedido pra deixar um recado pra um certo tipo de público... Mais um apoio, na verdade. Esse assunto de vida pessoal e regras me lembrou de uma coisinha.

Ele respirou bem fundo. Dessa vez, foi ele quem recuou um pouco.

— E alguma vez você esperou a permissão de qualquer pessoa antes de fazer algo?


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Notas finais do capítulo

"Talvez não tenha ninguém certo nessa história."

...
Theater of Me / Shousei Gekijou: https://www.youtube.com/watch?v=IAEbx4r2UpY&list=PLsV-VNscYfUb117QhQaGgUpZCBkNEAo7s&index=27&t=0s

Mamoru precisava se redimir, tadinho... Usaram ele e nem pôde pedir satisfação?
Aguardem~
Ele mais uma vez fez o papel de curioso que tira informações dos personagens que antes eles não falariam, tipo vocês ohoh
Não lembro se já falei isso dele antes...?

E todo mundo esperando pela Rin em fila na porta ahaha
Aquele feeling de "estamos fodidos, mas estamos juntos".
... Quase todo mundo junto, né, mas enfim~
Sobre vasos feios e inconvenientes serem tão fáceis de quebrar feito algumas regras...?
Só sei que na minha cabeça fez todo sentido pra encaixar com o "alinhamento moral cinza" dessa fanfic c:
E talvez não tenha sentido nenhum pra quem tá fora da minha cabeça, mas vou acreditar que tem rçrçrç
Mas lembro que em Próximos da Morte, alguém falou de ter vários vasos de vidro em algumas salas da Crypton...? Que quebraram pra se livrar de uns zumbis. Então a metáfora pode ter surgido dos vasos em volta durante a conversa.
É, acho que foi isso o que passou na minha cabeça ahuwehaueh

FALANDO EM PRÓXIMOS DA MORTE
Eu não consigo ficar sem lembrar disso ahaha
Próximos da Morte é minha fanfic do Halloween de 2016 que se passava inicialmente em 2020 e depois eu mudei pra final de dezembro de 2019 por ter feito a conta errada da idade dos personagens. Se alguém aqui leu logo nos primeiros dias, lembra que eu editei as datas.
Eu previ que ia ter surto de algum vírus esse ano (só não previ os países envolvidos).
É isso.

Daqui pra frente é Ctrl c + Ctrl v das notas finais de Cidade Perdida:
LAVEM AS MÃOS, tome banho de álcool gel 70, não saia de casa (se puder, eu sei que tem gente que não vai conseguir parar de trabalhar/estudar e/ou que precisa andar de ônibus/trem lotado, tipo eu, e o governo e os empresários não colaboram com as pessoas), evitem multidões e não me toque em mim, mas comentar pode e eu agradeço ♥
Inté ♥



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