O Homem do Fim do Universo escrita por Vlk Moura


Capítulo 14
Capítulo 14 - Criança?




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Eu terminava de passar os produtos da minha mãe, dava-lhe dicas do que era melhor pegar e de como preparar. Assim que ela terminou senti coragem para perguntar, já nos falavamos a algum tempo, ela gostava de me perguntar coisas sobre minha família. 

— A senhora teve família no Brasil? - perguntei enquanto embalava alguns alimentos, ela me encarou, eu a olhei e sorri.

— Tive... Tive uma filha por lá. - ela suspirou, parecia doloroso se lembrar disso.

— E não a trouxe?

— Isso é muito pessoal, Carla...

— Eu sei, mamãe. - falei e olhei pelo meu ombro, ela estava estatica. 

Me encarava como se eu fosse um monstro e nesse momento uma explosão nos atraiu. Eu corri para a entrada do mercado, pessoas corriam desesperadas. Comecei a fechar as portas.

— O que está fazendo? - uma das meninas tentou me parar, eu a joguei ao chão e continuei.

— Aqui dentro será mais seguro - falei abaixando as portas de metal. 

— Deve ser terrorismo - uma senhora falava desesperada.

Muitos choravam, crianças berravam, eu me perguntava como um povo tão surtado sobreviveu tanto tempo.

— Vem - puxei minha mãe - Aqui nos fundos é mais seguro.

— Carla... Carla... - ela segurou minha mão - Você não pode ser a minha Carla.

— Mas eu sou, mãe.

— Mas como...

— Eu fiquei sabendo que você estava viva - ainda dava para ouvir as explosões, o prédio se sacudia acada novo estrondo. - Eu precisava te conhecer, mas ai vi sua família, sua nova família e pensei que não seria bom destruir isso.

— Mas você é minha família, também.

— Não, não sou. Eu fui em algum momento, mas não mais, você tem a eles e... - uma explosão derrubou a porta. - Vem, depois falamos sobre isso.

Eu a puxei pelo mercado, abri as portas do fundo e um robô enorme estava parado a nossa frente, fechei a porta e saí correndo para o outro lado. Minha mãe me acompanhava, ela começava a entrar em desespero. Fomos para a porta da frente, várias pessoas corriam desesperadas, enquanto uma tropa de robôs invadia a rua, eu e minha mãe não fizemos diferente, na verdade, até fizemos. Mas não gritavamos como se pudessemos cuspir nossos pulmões. 

Minha mãe tropeçou, eu voltei para buscá-la, ela se levantou e manca voltou a correr. Nos escondemos em uma viela, ela estava cansada, os joelhos sangravam. 

— como você está? - perguntei.

— Eu vou te atrasar. - ela falou - Corra e fale com meu marido.

— Não! Agora que te achei, não vou te deixar para trás. - falei e peguei a mão dela-  Não solta.

Ela sorriu e confirmou. 

— Antes, se algo der errado eu quero que você se junte aos seus irmãos - eu a analisei.

— Mãe, vai dar tudo certo - ela riu e voltamos a correr.

As tropas se aproximavam. Senti algo puxar meu braço, olhei, um dos robôs puxava minha mãe, eu estava desnorteada pelos barulhos, sequer conseguia diferenciar os gritos, mas eu gritei por ela, gritei com todas as minhas forças. Mas eles a arrancaram de mim, eu tentei ir atrás, mas outro me pegou e me carregava sei lá para onde. Eu ainda gritava pela minha mãe, eu bati no ser, me agarrei a ele como se pudesse dar uma chave de pernas, eu batia até minhas mãos doerem e sangrarem. Ele andava comigo agarrado nele. Ouvi um grito, olhei, um homem com uma arma apontada para o robô, eu me joguei para o chão e o robô foi destruido. Olhei para quem tinha feito aquilo, era um homem alto, charmoso, usava um casaco militar.

Ele me observou e fez sinal para que outros três o seguissem. Eles destruiam os robôs como se fosse algo fácil. 

— Ei! Vocês! - gritei, nenhum deles me olhou. Eu corri atrás, mas eles me ignoravam. - Mas que droga! - eu peguei um pedaço de metal retorcido no chão e acertei um dos robôs.

O grupo me olhou, olharam o homem de casaco que me observou. 

— Agora eu existo? - falei e limpei o suor na minha testa.

— Quem é você? - ele perguntou.

— Não importa quem eu sou, onde eu consigo uma dessas? - apontei par a arma dele.

— Não consegue - eu cruzei os braços e o observei.

— E como pegaram isso?

— Nós construimos - ele atirou.

— Eu preciso que façam uma para mim. - ele me analisou - Eu preciso salvar minha mãe.

— Vamos salvá-la - ele falou - Pretendemos salvar os outros também, você espera aqui, criança.

Criança?

Eu com certeza não ficaria parada. Peguei outro metal, comecei a seguir a tropa de robôs. Eu precisava descobrir par aonde levavam as pessoas que os vi carregando. Já anoitecia quando consegui seguir um dos robôs com refém. Eu tentava ser silenciosa e não ser vista pelos outros, mas tinha muita confusão e algumas vezes acertei alguns, meus braços doiam, eu não aguentava mais as barras, mas eu precisava delas. 

O robô subiu uma colina, entrou por uma porta. Eu o segui, e lá me deparei com uma prisão humana, eles pegavam alguns de dentro das prisões e levavam para algum lugar.

— Mãe! - gritei. Ela não respondeu - Mãe!

Nada. 

Entrei onde levavam os humanos, colocavam em umas macas, os amarravam e coisas estranhas aconteciam, eu vomitei algumas vezes vendo o que faziam. 

Me escondi pelas tubulações conforme buscava minha mãe e não encontrei nada. Eu estava desistindo, esgotada, fazia horas que eu não comia, bebia ou ao menos descansava, acho que nunca fui tão persistente na minha vida. 

— Carla! Carla! - eu a encontrei, um dos robôs a carregava. 

— Mãe! - eu fui atrás.

Um robô me agarrou, eu esperneei, minha mãe me gritava e eu a gritava de volta tentando me soltar. Com o metal acertei a cabeça do robô a arrancando, ele parou por alguns segundos, eu me soltei e corri atrás do outro com a minha mãe.

Ela ainda gritava, eu tentei alcançá-los, mas eu não conseguia, estava esgotada.

— O que você faz aqui? - olhei quem falava, eu não a conhecia, mas me era familiar - Você não deveria estar aqui.

— Eu preciso... Por favor, me ajuda, eu preciso salvar a minha mãe - ela olhou em volta.

— Eu te ajudo.

Ela me levantou, me apoiei nela por alguns instantes.

— Para onde eles foram? - ela perguntou, eu apontei - Jack, achei o ninho!

Ela falou em um comunicador.

Eu a seguia. Chegamos a sala de transformação, meu estômago embrulhou.

— É aqui - falei - Lá dentro eles fazem a transformação.

— Eu te dou cobertura - ela carregou a arma, eu confirmei com a cabeça, entramos, ela atirava.

— Mãe! - gritei buscando pelas macas.

A mulher ia acertando os robôs com os primeiros tiros.

— Achei! - fui até a maca.

— Seja rápida - ela falou parando com as costas quase na minha, atirava para todos os lados.

— Mãe, eu estou aqui... - a cabeça dela estava virada par ao outro lado a virei par amim e tive de segurar o que restava em meu estomago, no lugar de seu olho uma enorme porta, parte da cabeça aberta.

— Carla... - ela falou, eu segurei as lágrimas.

— Mãe... - ela quase sorriu - Eu estou aqui, vai ficar tudo bem.

— Eu não quis te deixar.

— Sh... - eu tapei a boca dela - Vamos sair daqui.

— Não, eu não vou resistir - ela falou - Se salve e cuide dos seus irmã...o...s...

Ela ficou imóvel, eu chorava, a mulher nas minhas costas nos observava. Eu respirei fundo, peguei o pedaço de metal e com o pouco de força que me restava comecei a destruir as máquinas.

— Eu sei onde controlam tudo - falei com ódio - Vou destruir essas pragas!

— Calma, Jack pode resolver isso.

— Jack? Você diz o do casaco? - ela confirmou - Ele prometeu salvar minha mãe e veja só... - ela mordeu os lábios - Eu preciso acabar com isso.

— Eu não vou te fazer mudar de ideia, vou? - neguei, ela respirou, eu ouvia gritos em seu comunicador - Toma isso - ela me entregou a arma - Vou evacuar as celas.

Confirmei e me separei dela.

Eu corria com as poucas forças das minhas pernas. Desci as rampas, derrubei muitos robôs. Assim que cheguei na central deles, apertei todos os botões. A pressão começou a subir, uma alavanca e aquilo começou a superaquecer. 

Mirei bem no centro do maquinário, pelo tempo que gastei ferrando o sistema imaginei que a mulher já teria evacuado todos os reféns, mirei e atirei. Senti o calor me atingir e então eu apaguei.

 

 

Como minha avó receberia a noticia da minha morte? Um telefonema? E-mail? Alguém acharia meu corpo?

 

 

Abri os olhos cansada, fios estavam ligados a mim, soro descia até atingir minhas veias. Minha boca estava seca e eu sentia calor, tinha algo pesado sobre o meu braço. Tentei mexê-lo, alguém se levantou, era  a mulher.

— Como se sente? - ela perguntou sonolenta.

— Meio destruída - falei - Conseguiu tirar todos? - ela confirmou e eu sorri.

— Carla, não é? - confirmei - Sou Gwen - ela se sentou ao lado do meu corpo - Você teve muita coragem.

— Eu diria que insanidade é melhor - olhei quem falava, um homem, mas não o do casaco - Sou Owen - me ajeitei ali, olhei em volta cansada e percebi que não estava em um hospital.

— Onde estou?

— Torchwood - Gwen falou, ela sorriu - Encontramos o seu corpo depois da explosão.

— Encontraram? - ela confirmou.

— Gwen foi quem nos fez voltar para te achar - Owen falou, eu o olhei - Você salvou essa cidade.

— Mas não salvei minha mãe - falei segurando o choro, eu lembrava de seu rosto - Aqueles monstros...

— Cybermen - olhei quem falava, era uma mulher asiática - Era isso que eram.

— Entendo... - franzi o cenho - Quase, entendo. Quantas pessoas eles transformaram naquelas aberrações?

— Muitas, muitas mesmo - a mulher falou.

— Tosh... - Gwen a censurou.

— Não, tudo bem - eu comecei a tirar os fios, os aparelhos apitaram, eu estava em um buraco - Onde é Torchwood?

— Não onde, o quê. - Owen falou e sorriu.

— Basicamente tentamos resolver problemas do espaço tempo - Gwen falou meio sem crença no que falava - Invasões alienigenas, viagens no tempo, coisas assim.

— Estão revelando muita coisa para ela - Tosh falou.

— Ela vai esquecer disso quando chegar em casa - Owen falou e ia aplicar algo em mim. 

Eu torci seu braço e o fiz aplicar nele mesmo, me levantei rápido, senti tontura, mas mantive a pose.

 Gwen e Tosh olhavam assustadas, Owen encarava a siringa em seu braço. Olhou as duas como que pedindo ajuda, eu subi as escadas correndo, eu precisava sair dali, eles queriam me drogar. Podiam ter salvado minha vida, mas agora queriam brincar de laboratório comigo e eu seria o rato, mas não seria dos mais faceis.

Corri pelo lugar com dificuldade, eu estava bem fraca. Cheguei ao que pensei ser a saída, alguém me pegou e me jogou nos ombros, comecei a me debater, mas eu não conseguia.

Fui jogada contra uma cadeira, quem me jogara ali saiu e fechou uma porta de vidro entre mim e ele. Era o homem do casaco.

— Você deve ser o Jack - falei arrumando o avental de hospital que tinha deixado minha bunda toda de fora.

— Sou sim e você é...

— Carla - falei e o observei.

— Capitão Jack Harkness - ele falou e eu continuei a encará-lo.

— Eu deveria lançar o 'prazer em te conhecer' para você me responder com 'o prazer é meu' ou podemos mudar isso?

— Podemos mudar - ele falou e se apoiou no vidro me mediu - Como alguém tão pequeno sobreviveu aos Cybermen?

— Não sobrevivi - ele me olhava - Eu tentei me matar - sentei na cadeira - E agora, Capitão, o que farão comigo?

— Nada - ele sorriu, era lindo, senti minhas bochechas corarem.

— E por que me prendeu aqui?

— Você precisa se acalmar.

— Estou calma.

— Não... Você atacou um dos meus.

— Ele ia injetar um sei lá o que em mim - falei ainda sentada, cruzei as pernas, ele observou meu movimento, agachou a frente da porta da cela. - Eu precisava me defender.

— Assim como precisava defender sua mãe? - eu o fuzilei - Não vou repeti isso. - desviei o olhar - Ela ficaria feliz se soubesse que você está bem. Tem alguém que devemos avisar sobre você estar viva?

— Não, não tem mais ninguém.

Ele se levantou e ia sair.

— Na verdade - ele parou e deu um passo atrás - Tem uma pessoa, mas...

— Mas...?

— Ela não fala muito bem o inglês.

— Você pode sair e telefonar, se prometer que não vai atacar ninguém.

— Prometo, se prometer que ninguém vai me tocar, Capitão.

— Prometo.

Ele abriu a porta da cela, segurei a parte de trás do avental, eu sei que quase fiquei com minha bunda se esfregando na cara dele, mas eu não queria que  a olhasse em movimento. 

Subimos umas escadas, ele me levou até uma sala com uma mesa comprida, se sentou a ponta e apontou para eu me sentar ao seu lado. Me esticou um celular.

Disquei o número, ele me observava. 

— Vovó? - falei em português, ele me observava - Oi, sou eu.

— Carla, minha querida, como está? Fiquei preocupada, vi na internet sobre o que aconteceu ai, você e sua mãe estão bem? - as imagens da minha mãe tomaram minha mente, mordi o lábio para não chorar, eu não olhei o Capitão, não queria que ele me visse daquela forma.

— Minha mãe morreu - falei finalmente - Ela morreu nas minhas mãos, vovó, ela... - eu respirei fundo - eu...

Ela ficou em silêncio me aguardando, o Capitão levantou e se retirou. Ele fechou a porta, eu comecei a chorar.

— Eu contei a ela, hoje.

— E como ela reagiu?

— Falou para eu encontrar meus irmãos - eu solucei.

— Você vai?

— Não consigo, não depois de tudo o que eu vi.

— Entendo... Mas eles vão querer saber o que aconteceu com a mãe deles.

— Eu sei, mas nem eu sei ao certo... Eu acho que... Que devo ir lá amanhã ou depois.

— Mas e você, como está?

— Destruida, mas bem.

Conversamos mais um pouco. Desliguei, abaixei a cabeça chorando, depois de longos minutos sozinha levantei limpei as lágrimas. Olhei em volta, o Capitão tinha Owen ao seu lado, os dois me assistiam. Respirei fundo e saí do cubo de vidro. Encarei os dois.

— Eu não sei o que se passa aqui, Capitão - ele ajeitou as mãos no bolso - Mas quero fazer parte disso. Como eu entro para Torchwood?

Ele sorriu ainda mais.


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