Capítulo seis – Sendo acolhida.

“A única coisa que eu queria, era pegar sua mão e deixar você me guiar pra onde quiser”

“Mais eu tenho medo...”

“Porque talvez um dia, você vá largar minha mão e me deixar perdida”

Katrina

Ethan me contava coisas de sua vida. E como a perda de sua mãe foi algo muito doloroso. Mais vi em seus olhos algo brilhar tão intensamente quando comentava a palavra família. Ele me escondia algo; sempre desvia o assunto quando eu perguntava se ele tinha algum familiar que morasse na cidade.

Resolvi não insistir mais, porque nem direito eu tinha. O conheci em menos de dois dias, e já estou me intrometendo em coisa que eu não devia. Eu e minha maldita curiosidade!

— Então... – Ethan começou, mais foi interrompido pelos pingos de chuva que começaram a cair. E os pingos começaram a se identificar e em menos de um minuto, a chuva já caía com força.

Meu rosto ficou meio protegido pelo meu gorro, que logo ficou encharcado. Comecei a tossir e busquei o lugar mais próximo para nos abrigar, com os olhos. Mais antes de eu mover quaisquer músculo, Ethan colocou seu casaco por cima dos meus ombros e me acolheu entre seus braços.

— Eu conheço uma lanchonete próxima daqui, vem comigo! – ele puxou minha mão e eu o segui. Andávamos meio lentos e com algumas dificuldades, mais em torno de dez minutos, paramos em frente a uma lanchonete aconchegante e bem bonita.

A gente entrou, e Ethan foi imediatamente pedir dois chocolates quentes.

Sentei-me na mesa mais próxima da entrada, e sentir-me como um total cubo de gelo humano. Meus lábios tremiam compassadamente. Sentia-os entrar em hipotermia, assim como eu.

— Ainda bem que o Mest Grill estava aberto! – aproximou-se Ethan, com um sorriso de comemoração. Mais parou de faze-lo quando percebeu meu estado. – Você está muito gelada, Katrina! – então ele puxou-me pelo braço e mais uma vez me abraçou. Encostei minha cabeça no seu peito estufado, e sorri, mesmo com os lábios tremendo pelo frio que chegava a ser sufocante.

— Os chocolates quentes! – ouvir uma voz conhecida e imediatamente afastei-me de Ethan, vislumbrando o rosto de Keisha, uniformizada como uma garçonete e carregando uma bandeja com os chocolates. Quando me notou, seu rosto se desenhou em uma surpresa nítida, assim como a minha.

— Katrina! — então ela exclamou meu nome, abrindo aquele sorriso cativante e vivo, que só a mesma expressava em seu rosto altamente angelical e bonito – Que surpresa te encontrar aqui!

Tentei da um sorriso, porém meus lábios estavam literalmente congelados. Eles se moviam apenas para tremerem e meus dentes baterem um contra o outro.

— Ela pegou chuva, Keisha! Está morrendo de frio. – por um momento me surpreendi por Keisha e Ethan se conhecerem. Mais me lembrei que Ammy disse que Of Hope era uma cidade pequena e todos se conheciam – Não tem alguma roupa sua para emprestar?

— Tem, e melhor! — enfatizou – Tem um banheiro com chuveiro pros funcionários, lá atrás. Toma um banho, veste a roupa e toma o chocolate quente. – ela agarrou meu pulso e me levou para os fundos. Abriu a porta do banheiro, revelando um cômodo altamente pequeno e apertado.

Keisha me jogou uma toalha branca, e eu a agradeci repetidas vezes, logo entrando no banheiro. Despir-me das roupas molhadas e logo entrei debaixo do chuveiro. A água quente escorria pelo meu corpo, o livrando do imenso frio nada aconchegante.

Ensaboei meu corpo, e entrei na água mais uma vez.

Enrolei-me na toalha e esperei Keisha me trazer às roupas. Quando trouxe, agradeci mais uma vez.

Era uma saia plissada preta, e uma blusa branca, com alguns detalhes em vermelho. E uma jaqueta jeans desbotada, com réplicas de bolsos e dois botões.

Vestir às peças, e passei a arrumar meu cabelo, o enxugando. Quando terminei, calcei a chinela rosa de Keisha, que havia trazido junto com às roupas.

Assim quando voltei pra lanchonete, joguei-me nos braços de Keisha e enchi seu rosto de beijos.

— Brigada, brigada, brigada,  – o som da minha voz era abafada pelos meus lábios pressionados em sua bochecha – E brigada! Se não fosse por você, estaria morrendo congelada ainda!

— Ah, que isso! – ela riu pelo nariz, e aquilo lhe deixou mais fofa – Você me ajudou ontem. Só estou retribuindo!

— Keisha me contou oque você fez. – me disse Ethan, e eu o fitei – Muito legal da sua parte, Katrina. – eu sorri feito uma boba, observando-o vagamente, enquanto o mesmo dava um gole no seu chocolate quente.

Por um momento desviei o olhar pros seus braços um pouco musculosos e vi que havia uma pequena tatuagem em seu ombro direito, pena que não pude vê nitidamente.

— Seu chocolate, Katrina. – a voz de Keisha fez-me tirar os olhos curiosos da pequena tatuagem de Ethan e voltar a olha-la.

— Obrigada. – peguei-o e o ergui pra cima, com um leve sorriso. Dei um pequeno gole e deliciei-me com o sabor cremoso e o aroma doce e açucarado que entrava nas minhas narinas.

— A chuva está forte! – comentou Keisha, olhando a chuva cair pelas janelas – Nem o gerente chegou aqui! Só eu estou aqui. – então sentou-se na mesma mesa que Ethan sentava.

Eu continuava em pé, com toda minha atenção voltada para o meu chocolate quente.

— Quando acaba seu horário? – questionei-a, e ela desviou o olhar pra mim.

— Depois do almoço. Nas quartas só trabalho meio período. E como hoje é feriado, eu resolvi adiantar meu serviço. Dias de sábado eu trabalho no Plumb, no bar aqui perto. Quem sabe a gente não te leve lá? – ela mirou interrogativa para Ethan, que a olhou de volta com um leve sorriso e assentiu com a cabeça.

— Então, vocês se conhecem há quanto tempo? – perguntei curiosa.

— Há seis anos. – uma resposta de Ethan que me deixou surpresa – Na verdade, daqui a pouco vai fazer sete.

— Estamos ficando velhos hein? – brincou Keisha, bagunçando levemente o cabelo molhado de Ethan, que a mirou sorrindo.

Por um instante fiquei desconcertada com a situação.

— A Keisha é a melhor amiga da Ammy. – foquei meus olhos surpresos em Ethan – E a Ammy é minha melhor amiga, então meio que forma o ciclo da amizade.

— Nossa! – não pude evitar a exclamação – Vocês estudam no mesmo Colégio?

— Sim, todo mundo. – disse-me Keisha, assentindo positivamente – Somos como uma grande família. Bem desajustada e cheias de confusões mais... – ela puxou o ar pelo nariz e soltou uma gargalhada sincera – Uma família. 

Sorri com leveza diante de suas palavras. E entristecer-me por pensar que nunca tive amigos assim. Que se importassem tanto uns com os outros. Os amigos que eu sempre tive foram fúteis, insensíveis, apegados à bens materiais.

— Que tal marcarmos uma noite de bebidas no Plumb? – a voz de Keisha me resgatou dos meus pensamentos. – Assim você conhece o pessoal.

— Seria bom... – admiti, mesmo com um nervoso crescendo na barriga. E logo uma ideia me abateu na mente – Será que eu poderia levar meu irmão?

— Você tem um irmão? – perguntou-me Keisha surpresa. Seus olhos verdes escureceram de uma forma áspera e feroz. Mais logo voltaram ser os olhos verdes vibrantes e cheios de vida – Que surpresa! Mais pode chamar ele também, Katri...

— Kat! – interrompia-a, com a voz agitada – Me chame de Kat. – por fim sorri.

— A chuva tá passando. – Ethan observou os pingos de água caírem pela vidraça – É melhor eu levar você pra casa!

— Tudo bem. – assentir e sai recolhendo minhas roupas molhadas. Keisha havia me dado uma sacola para colocar às roupas, e o casaco de Ethan, que o prometi que iria lavar e entrega-lo no dia seguinte. A mesma coisa com às roupas emprestadas de Keisha.

— Foi bom te reencontrar! – já estávamos no lado de fora, com Keisha me dando um abraço de urso – Tchau Kat, tchau Ethan. – acenou e por fim entrou novamente na lanchonete.

— Já estou prevendo que serão boas amigas. – o Ethan comentou e me olhou de soslaio. O encarei pelo canto do olho, mais logo dirigir meu olhar pra frente, começando a sorrir.

— Ela é uma ótima pessoa. – afirmei – Espero que realmente sejamos ótimas amigas.

Ele deu um sorriso de canto.

A chuva não havia parado totalmente. Estava chuviscando, mais à brisa gélida já havia deixado de existir. Havia só um vapor meio quente e meio frio, abrigando meu corpo.

Eu balançava a sacola em minha mão, observando detalhadamente às ruas que ainda estavam vazias.

— Porque está tudo tão parado hoje? – pergunto, por fim olhando fixamente para Ethan.

— Foi feriado ontem e hoje. Dia da Esperança. – ele riu – E em breve terá o festival da paz.

— Festival da paz? – repeti – O que é isso, exatamente?

— O festival da paz é pra celebrar a perda dos ausentes queridos. Eles fazem a festa no cemitério e levam velas, simbolizando a paz.

Eu dei um meio sorriso, sentindo um vazio avassalador no peito.

— Bom, está entregue! – me disse, quando chegamos em frente a minha casa. Apenas abracei-o, enlaçando seu pescoço com às minhas duas mãos. Repousei minha cabeça em seu ombro, que estava um pouco gelado, mais não me importei. Sentir seu corpo em contato com o meu era o bastante para senti-lo ferver. E às tão famosas borboletas no estômago aparecer. Mordi o lábio inferior, tentando controlar a palpitação desenfreada do meu coração. Ele criava faíscas. Senti-o todo entrar em combustão com apenas um abraço. Ethan irradiava o meu dia de uma forma que até eu me assustava. Ele me mostrava às estrelas, sem mesmo me fazer chegar ao céu. 

— Ethan... – sussurrei e por um segundo pensei sentir seus pelos se arrepiarem. Suas mãos envolveram minha cintura com delicadeza, como se tivesse medo de me machucar.

Sorri ainda mais perante o gesto. Crispei meus lábios, mordiscando o canto inferior e me amaldiçoando por sentir-me daquele jeito.

— Até mais! – ele se desgrudou do meu corpo e levou sua mão até minha bochecha, alisando-a com seu polegar. Senti um arrepio na espinha. Ela estava gélida, mais os efeitos que ele causava mim era muito longe de ser frio.

— Até! – afastei-me, indo em direção à porta. Observei-o se ir, até o mesmo sumir do meu campo de visão. Soltei um suspiro bobo, e entrei em casa.