A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 42
O MACACO – A vitória da Sabedoria




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— Por que vocês estão fazendo isso comigo, Kadir? — Sem saída, pergunto, assustada, querendo ganhar algum tempo.

— Porque não queremos você junto ao nosso mestre, grega! Não queremos essa união, que só nos enfraquecerá! – Utu respondeu, com a expressão dura. – Por isso, pretendemos sumir com você. A primeira tentativa foi a cidade subterrânea, mas você conseguiu fugir, depois seria aquela caverna, mas quando vi o seu amiguinho transparente, pensei que ele poderia levar a culpa, então, a trouxe até aqui. Calisto seria útil, pois se Gabriel descobrisse que foram os gregos que sumiram com sua companheira, ele poderia se voltar contra eles.

— E vocês teriam de novo a guerra!

— Sim. Lembra-se de Troia. Mulheres podem ser uma boa desculpa para uma guerra!

— E o que vão fazer comigo?

— Entregá-la a Eres. Amanhã, providenciaremos um acidente aqui, nesse lugar, um terremoto com desmoronamento de algumas antigas construções, alguns turistas morrerão e o portal para o mundo inferior se abrirá. – Utu parecia satisfeito com seu plano e eu ainda não conseguia pensar em uma escapatória.

Nesse momento, começamos a ouvir um zunido, que foi aumentando gradativamente, todos pararam atentos, esperando o que aconteceria, de repente, o barulho ficou muito forte e o ar começou a mexer, as pessoas na minha frente começaram a se movimentar braços, se contorcer, em uma dança maluca.

— Abelhas! – alguém gritou, mas, estranhamente, elas não me atacaram e, repentinamente, ouviu-se um potente rugido, atrás do grupo surgiu um enorme leão, o mesmo que vimos na estrada. Eu me preparei com meu arco, mas não atirei, não tinha mira e achei melhor esperar, pois, ali poderia estar uma chance.  Calisto fez mira com seu arco, mas o leão foi mais rápido e pulou, antes que ela atirasse, a derrubando, os outros não sabiam se lutavam com a fera ou fugiam das abelhas que continuavam atacando. Enquanto isso, o leão passou por cima de Calisto e parou na minha frente, achei que ele iria me atacar, mas olhei nos seus olhos.

— Aslan? – Reconheci o segurança de Gabriel, ele fez um leve movimento com a cabeça afirmativo. – O que faremos agora?

Foi quando Utu abrir os braços e fez uma estranha luz vermelha brilhar, e os insetos caíram por terra, mortos. Agora, livres das abelhas, os nossos atacantes retornaram a sua atenção para nós, Aslan havia se posicionado na minha frente, como um escudo.

— Não queremos matar vocês. Apenas se entreguem – Utu ponderou de um jeito conciliador, mas eu lutaria até o fim, pois, a outra opção era muito pior.  Atirei uma flecha em resposta — Já que escolheu isso, Diana, não nos restou outra alternativa, senão matá-la e seu amigo aí – finalizou, virando-se para seu pessoal, ordenou: – Pegue-a!

 Ao ouvir isso minha flecha foi certeira, atingindo o primeiro que se adiantou, que desapareceu no ar, os outros ficaram na defensiva, evitando se aproximar, principalmente, por causa do leão. Nesse momento, percebi que Calisto preparava-se para acertar Aslan, com uma flecha, mas eu fui mais rápida e consegui atingi-la de raspão e ela perdeu a mira, a flecha passou longe, contudo, sabia que não poderíamos manter aquela ligeira vantagem por muito tempo, foi quando Aslan deu um rugido ensurdecedor, nossos oponentes deram um passo para trás, amedrontados.

— Aslan, precisamos sair daqui! Não conseguiremos detê-los por muito tempo! – Pensei em desaparecer, mas não poderia deixá-lo sozinho.

Agora, ouvimos um novo som, mais sútil, como pessoas correndo, nossos perseguidores se voltaram para trás e se prepararam para a luta, e outro grupo surgiu, começaram um feroz embate, os sons das espadas se chocando, encheu o ar.

Utu apagou a luz que sempre trazia sobre ele e tudo ficou escuro e confuso, Aslan pulou sobre o grupo que nos mantinha refém, neste momento, tive uma ideia, do meu bolso tirei o cristal que On havia me dado de presente, e o lugar se iluminou novamente, agora poderiam saber quem era quem. No meio daquela confusão, reconheci a espada de Gabriel, pois ela tinha um estranho brilho de fogo, como se estivesse em brasa, entrei na luta, mas com cuidado, porque não sabia que era amigo ou inimigo. Vi Gabriel ao longe lutando com Calisto, ela estava raivosa, disposta a destruí-lo, e ele parecia tentar pegar leve com ela, então me aproximei deles.

— Vá, Gabriel! Ajude os outros que eu não conheço! Deixe ela comigo! – pedi, ele vacilou, mas fez o que eu disse, só tive tempo para aparar o golpe da espada de Calisto deferia com violência sobre mim.

— Agora é entre nós, outra vez! – falei para ela, depois de uma sequência de golpes, nos afastamos para calcular a situação e planejar o próximo ataque.

— Todos temos o direito de mudar de ideia, Calisto! Uma decisão que tomamos em uma época das nossas vidas, não precisa ser eterna!

— Não! Você sempre dizia que os homens tratavam mal as mulheres, que nunca reconheciam o seu real valor! Éramos apenas objetos, que eles não nos mereciam!

— O mundo mudou e ainda está mudado! – Tentava fazê-la pensar.

— Não para mim! – ela gritou e me atacou novamente, nossas espadas se chocaram, eu revidei.

Calisto era forte, mas eu também era e havia treinado muito, aprendido novos golpes com Gabriel, que ela desconhecia. Seguiu-se um bom tempo até consegui acertar o seu braço e a sua espada caiu, a derrubei de costa no chão e encostei a espada no pescoço dela.

— Desista, Calisto! Não quero mandar você para o Esquecimento, mas eu o farei, se for necessário.

— Eu não desistirei nunca! A única maneira de me impedir será acabando comigo!

— Eu lamento que tenha dito isso.  Não quero matá-la. Levante-se! – Ela me obedeceu e me encarou.

— Não quero me tornar uma prisioneira! Deixe-me morrer com honra, em uma batalha!

— Não, não vou matá-la assim!

— Não! – Ela se levantou, lentamente, mas em piscar de olhos, pegou uma faca em sua bota e avançou tentando me acertar, eu não tive escolha, levantei minha espada que atravessou o seu abdome, então, ela olhou para mim e sorriu vitoriosa, antes de desaparecer.

Atordoada, olhei em volta e a batalha havia terminado, só havia o pessoal de Gabriel e alguns que se renderam. Aslan já havia se transformado em humano novamente e alguém deve ter lhe dado uma calça para vestir, todos pareciam muito cansados pela luta. Gabriel se aproximou de mim e me abraçou, me apertando forte contra o seu peito, foi a melhor sensação do mundo.

— Você está bem?

— Sim, estou. Mas ,como me encontrou?

— Quando chegamos a Goreme e você havia sumido, desconfie que houvesse um traidor entre nós, pois notei que eles sempre chegavam na nossa frente, então comecei a observar. Também, pedi Aslan para rastreá-la, ele quase conseguiu alcançá-la na estrada, mas descobrimos que Utu estava atrás de tudo isso.

— Ele não concordava com a nossa união.

— Muitos do meu povo e do seu não concordam – prosseguiu – Notei que Kadir não queria que viéssemos para Éfeso, por isso, suspeitei dele, mas ele conseguiu escapar e vir para aqui. E nós também viemos, Aslan usou o olfato para encontrar você e nos avisou onde estavam, quando rugiu.

— Ele me ajudou muito!  E as abelhas também?

— Que abelhas? Eu não sei de abelhas – Gabriel indagou, surpreso.

— As abelhas foram minhas. – Um homem de cabelo e barbas avermelhados, vestido com um grego antigo se aproximou de nós, o espectro que agora era bem real e palpável. – Enfim, eu me lembrei, Diana. Eu sou Aristeu, filho do seu irmão Apolo, Senhor das abelhas e das oliveiras e da magia, protetor dos pastores.

— Você é filho de Hélio, quer dizer, Apolo? – Eu não sabia porque ainda ficava surpresa com estas revelações.

— Hélio? E este nome que meu pai usa agora? — Aristeu perguntou indeciso.

— Sim. Mas, como você foi parar no mundo inferior?

— Eu estava bem aqui, na biblioteca de Celso, sabe era uma das maiores no mundo na época. Estávamos em plena guerra, quando houve uma batalha para nós e um terremoto para os mortais. A cidade foi quase toda destruída, o portal para o mundo inferior se abriu, eu fui capturado e mandado para lá. Só me lembro da tristeza e da falta de esperança, depois me esqueci de tudo, até aquele dia na sua cidade, dentro do túnel, quando Eres falou seu nome, algo veio à minha memória como uma pequena luzinha na escuridão, aí comecei a seguir você.

— Então, você se lembrou quando chegamos aqui?

— Sim, antes fui me lembrando aos poucos. Contudo, quando chegamos a esse lugar, veio tudo à tona na minha memória, porém ainda estou muito confuso. Toda a cidade está em ruínas, há tantas coisas novas.

— E tem muitas coisas para você aprender, acho que a melhor pessoa para ajuda-lo será o seu pai – afirmei ao meu sobrinho.

— Senhor, temos que sair daqui logo. Já está amanhecendo, e daqui há pouco, este lugar estará cheio de turista – Aslan avisou.

— Vamos! Encante e leve os prisioneiros para Istambul. Precisamos pensar o que faremos com eles. Não quero começar uma guerra entre o nosso povo – Gabriel ordenou e Aslan obedeceu.

— E agora, Dama da Lua, o que faremos? – Gabriel perguntou, me abraçando novamente.

— Só quero voltar para casa.

Ao chegarmos em casa, no dia seguinte pela manhã bem cedo, encontramos Helena brincando de bola com Alexandre, não era um joguinho comum pois a bola flutuava de um para o outro.

— Muito bem, Alef! – Helena o elogiava depois que a bola chegou nas suas mãozinhas – Outra vez!

Entretanto, não houve outra vez, pois ele soltou a bola e correu na minha direção de braços abertos, assim que me viu. Eu o segurei no colo e o abracei apertado e o beijei várias vezes, então o pequeno traidor viu algo muito mais interessante.

— Papai! – Ele gritou, se atirando para os braços de Gabriel, que o segurou, e o abraçou.

— Voa, papai! – Alexandre pediu para Gabriel, era uma variante deles de jogar a criança para o alto, pois Gabriel o atirava para cima e o sustentava, flutuando no ar com o vento, por algum tempo, os dois riam se divertindo, repetindo a brincadeira várias vezes.

— E como foi a viagem? – Helena me perguntou, enquanto observamos a brincadeira.

— Difícil. E minha mãe?

— Ela foi fazer compras, precisava se distrair. Ela ficou muito preocupada com o seu sumiço. Todos ficamos – Helena me respondeu

— Eu sei. Mas que história é essa de Alef? – indaguei, curiosa, pois tinha percebido como ela chamou Alexandre.

— Alef é a letra A no nosso antigo alfabeto, o primeiro alfabeto da humanidade. Não posso chamar meu sobrinho com um nome de um conquistador grego – Helena explicou, em tom de brincadeira.

Ficamos observando a brincadeira dos dois, então Helena falou:

— Ele ficou bem até hoje, mas acordou cedo, com se soubesse que vocês estavam chegando. Diana, você sabe que ele será muito especial?

— Ele já é muito especial para mim.

— Alef terá todos os poderes que não temos mais. Há muitos séculos, não nascia alguém tão poderoso. Vocês precisarão protegê-lo dos outros e dele mesmo.

— Com certeza, nós faremos isso.


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