A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 41
O CÃO – Os ressentimentos e as causas perdidas




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— Nós iremos nisso?! – indaguei, atônita ao ver o carro enorme antigo na minha frente, que Utu acabava de me mostrar, que tirou de uma caverna.

— Evidente que iremos! Este é um Chrysler 300 c de 1957, na cor vermelho cereja brilhante, rabo-de-peixe, conversível, todo original, uma raridade. Lindo! – Utu falava, olhando para carro com se olhasse para a mulher amada.

— Sim, lindo, mas, ele não é um pouco antigo. Ele aguentará a viagem?

— Evidente que sim, é muito veloz, principalmente, depois das melhorias que eu adicionei a ele – explicou e eu sabia que o carro havia sido encantado, por isso, faríamos a viagem muito mais rápido que em um carro normal.

De repente, no silêncio daquela imensidão vazia onde nos encontrávamos, ouvimos um som muito forte e amedrontador.

— Isso é um rugido? – Fiquei atônita ao reconhecendo o som.

— Sim, parece – Utu respondeu com a voz arrastada, parecia mais irritado que assustado.

— Isso é um leão? Mas, os leões foram extintos há muito tempo, na Ásia. – Não conseguia entender, talvez estivesse enganada, mas tive certeza ao ver um enorme leão aparecer no horizonte.

— Precisamos sair daqui depressa, senhora! Entre no carro! – Utu falou, com urgência, e foi o que eu fiz, principalmente, porque o leão começou a correr na nossa direção. Utu deu partida no carro e acelerou, porém, o leão era muito inacreditavelmente rápido, e deu um grande salto, quase alcançando a traseira avantajada do carro, mas não conseguiu, escorregou e caiu, ficando para trás.

— Meu carro! – Utu se lamentou, pensando no estrago que as garras do animal deveriam ter causado na pintura do veículo.

— Um leão?

— Um dos nossos inimigos tem o poder de se transformar, mas conseguimos escapar. – Ele me tranquilizou, porém não conseguia mais tirar os olhos do espelho retrovisor.

Já estávamos algum tempo na estrada, quando Utu me perguntou:

— Onde está seu amigo grego transparente?

— Acho que ele não gosta muito de carro, mas ele nos achará. Ei! Não estamos indo para Istambul? A placa indicava que era por ali! – exclamei, desconfiada ao ver que ele não pegará a saída da estrada para a cidade esperada.

— Na verdade, estamos indo para a antiga Lídia, para cidade greco-romano de Éfeso. Um lugar fascinante! Uma pérola dos tempos de glória! A terra de Homero. Você sabia que Troia ficava lá?

— Sim, eu sei. Mas, por que estamos indo para lá?

— Porque é uma antiga cidade greco-romana, lá encontrava-se um templo em honra de Ártemis, que era um dos seus nomes, uma das sete maravilhas do mundo antigo.      

— Sim, mas este templo não existe mais, só quero encontrar com Gabriel e volta para casa. E você ainda não respondeu o porquê estamos indo para lá.

— Preciso lhe mostrar algo, Diana, que poderá ser muito útil para o nosso futuro.

— O quê?

— Por favor, se acalme. Já chegaremos em breve e você saberá. – Eu respirei fundo, mas, algo me dizia que precisava ficar muito alerta.

Já era tarde da noite, quando, finalmente, chegamos a cidade e nos dirigimos as ruínas, ninguém nos viu ou nos parou. O local estava muito escuro, porém, por onde andávamos uma pequena luz seguia a nossa frente iluminando o nosso caminho. Fiz minha espada aparecer, para ficar prevenida contra qualquer surpresa, Utu não falou nada sobre isso.

— Preferi à noite, pois não teremos centenas de turistas andando por aí. Por aqui, Diana. – Ele me indicava o caminho, que parecia conhecer bem, até chegarmos a um campo vazio coberto com grama e com uma ou outras pedras esparsas. – Era nesse lugar. O mais belo templo da antiguidade, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Era lindo! Magnifico mesmo! No entanto, a ignorância dos mortais e a guerra dos imortais destruíram tudo – declarava, com os braços abertos, mostrando o lugar vazio.

— Eu me lembro! – Estava atônita com minhas memórias, já estivera ali antes, onde havia uma enorme e magnífica construção em mármore com suas imensas colunas. – Realmente era lindo – recordei.

— E era para você! – Escutei uma voz feminina, nas minhas costas e quando me virei, vi a mesma imagem do sonho que tivera há algum tempo atrás. A mulher alta e forte com os cabelos louros muitos claros, que voavam sobre o seu rosto.

— Você se lembra de Calisto? Ela era a comandantes das suas guerreiras. Vocês duas compartilhavam o mesmo ideal – Utu anunciou, apontando para a mulher, e eu me lembrei dela, como éramos amigas, compartilhando as caçadas, a liberdade e a castidade, como se fosse uma vingança contra os homens que oprimiam as mulheres, nos tempos antigos, entretanto, isso aconteceu há muito tempo atrás, antes de conhecer Gabriel e nos apaixonarmos, então todas as minhas convicções caíram por terra.

— Você me traiu, Diana! – A voz dela transmitia tristeza e mágoa. – Eu era uma princesa, larguei tudo por acreditar nas suas ideias e você quebrou nossa promessa de nunca se entregar a outro homem, mas foi isso que você fez e, ainda, deu a ele a maior dádiva, um filho!

Eu olhava a figura da bela mulher alta, com um corpo forte, cabelos louros quase branco que voavam por causa da leve brisa fresca da noite, para o seu rosto marcado pela dor da decepção, como no meu sonho. Mas, agora, ela vestia calça jeans e camiseta e botas, porém, trazia consigo um arco e aljava nas costas e uma espada na cintura, a clareira da floresta, onde estávamos, era iluminada pela imensa lua cheia, dando a tudo uma luz prateada fantasmagórica, atrás dela podia ver a muro escuro que a mata fechada formava.

— Perdoe–me, Calisto! – eu implorava, com minhas mãos voltadas para ela em súplica. – Eu não pretendia, mas, foi mais forte do que minha vontade.

— Não, eu nunca a perdoarei, Diana. Você terá que pagar pela sua fraqueza! Eu esperei por você todo esse tempo, para continuarmos juntas!

— Eu não sou a mesma Diana que você conheceu, sou diferente. Todos têm o direito de mudar.

— Então, você tem que pagar por isso! Vocês não poderão continuar juntos! – gritou e avançou sobre mim, com a espada em punho, não tive outra alternativa senão me defender, ergui a minha para aparar o golpe, assim se seguiu, ela me atacava e eu me defendia.

— Você ficou molenga? Perdeu a coragem, Diana? – Calisto me provocava.

— Pare com isso, Calisto! Isso foi há mais de dois mil anos! Tudo mudou, o mundo mudou! – Eu tentava dissuadi-la.

— Não posso esquecer uma traição! – Ela era feroz, tive que começar a atacá-la, mas já estava ficando cansada, então, me lembrei um pequeno truque que me irmão Hélio fazia quando treinávamos, acreditei que conseguiria e desapareci. Ela não esperava por isso, ficou tonta, me procurando, eu aproveitei para derrubá-la e fugir, me escondendo atrás de algumas pedras mais adiante.

— Ache-a! – Utu ordenou para a pequena luz que sai me procurando, porém, felizmente, haviam muitos lugares e pedras onde podia me esconder, até achar uma saída.

Não queria usar o presente de On, que era o cristal que achava o caminho, pois poderia denunciar minha posição, já estava próxima saída, quando alguém tampou minha boca, mas eu me libertei e girei pronta para atacar.

— Kadir! – Reconheci o motorista de Gabriel, continuei sussurrando. – O que faz aqui?

— Estamos procurando você por todo os lugares – respondeu, também, sussurrando. – Venha! Vamos sair daqui! – Ele me indicou o caminho, eu fui na frente, mas em vez da saída encontramos uma parede.

— Não há saída por aqui – declarei, me virando, e para meu espanto, atrás de mim estavam Utu, Calisto, Kadir, mais uns cinco que não sabia quem eram. Então, descobri porque meus perseguidores sempre souberam onde eu estava antes que Gabriel chegasse. Kadir era um traidor, que informava onde me encontrava.


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