Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Eu nem ia escrever hoje, mas já que descobri que estou com uma leitora nova, aproveitei para postar.
Espero que gostem!
Boa leitura.



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Parece que estou aqui como um enfeite. Amon não me deixa correr com ele e Gaelle. Não me deixa fazer barra. Flexão. Abdominal. E nenhum outro exercício. Hoje era para ser só alongamento, mas eles dois estão a alguns minutos lutando. Apesar dela não saber quase nada de luta, ela consegue ser mais rápida e ágil do que Amon. E olha que ele é um lobisomem com um alto nível de força, destreza eagilidade. Pelo que percebi, Amon não liga de usar as garras nela. Contanto que não chegue ao coração, não a mataria. Isso é algo bom.

Pelo o que tudo indica, quando Gaelle está em sua forma humanóide, fica com a pele mais dura e impenetrável do que quando é dragão. Foi o que eu entendi da conversa deles. Ela também disse que dragões vêm de famílias de dragões. Não é um tipo de ser do Outro Lado que possa se reproduzir normalmente. No entanto, ela está em forma humana, e não de outro animal. Sendo assim, Gaelle disse não saber o que a vida lhe aguarda. Contanto que possa cuidar de mim durante a vida inteira, ela estará satisfeita, foi o que ela falou a Amon.

Eles são bons juntos. Parece que com esse pequeno treinamento, entendem um do outro melhor, ou semelhante, do que os gêmeos. Isso é legal. Pois, apesar de Amon ser meu colega de classe, um péssimo aluno, um lobisomem de vinte e três anos, que supostamente matou a namorada, ele também é meu subrinho, por mais estranho que isso seja, e então quero o melhor para ele. Só espero que o melhor para ele não seja minha familiar que é a minha réplica com algumas carácteristicas sobrenaturais, por que se esse for o melhor... Significa que eu não seria boa para ele só por que sou humana. Não acredito que estou pensando isso!

Amon não significa nada além de um belo trasseiro que agora faz parte da minha família, graça ao meu irmão mais velho e a linda esposa dele. Apenas isso.

— Ei, Amon... – Murmuro sentada em cima do “trepa-trepa”. – Eu já subi e desci esse brinquedo de criança muitas vezes. Não posso fazer mais nada? – Olho séria para o loiro suado a minha frente. – Se você disser amarelinha eu te mato.

Ele segura Gaelle de uma forma que a imobiliza e então me olha. Respira fundo, pensando bem no que eu disse e a solta.

— Está bem, Cass. Mas não vai forçar o seu corpo. Eu não acho uma boa idéia você se cansar demais. – E deixar que Matthew aja de novo, não é? — Qualquer problema, dor ou falta de ar, é só você falar ou fazer um sinal, ok?

Amon é, sem dúvida nenhuma, mais velho do que eu, mas diferente de todas as outras vezes, hoje ele está me tratando como uma criança. Isso me irrita. E muito. Eu sei que estou com problemas de, han, saúde. No entanto, falar assim comigo, me tira do sério.

Pulo do brinquedo e caio com perfeição. Sem dor e sem reclamação. O treinador faz sinal para que eu me aproxime e Gaelle se afasta um pouco, sentando no banco próximo. Tento ficar na mesma posíção que ele e esquivar de qualquer golpe. Esquivar é uma matéria que eu domino.

— Vamos lá, Cass. Isso não é Capoeira! Não dá para ficar fugindo! Você não prestou atenção nos golpes que ensinei a sua gêmea? Tente atacar. – Eu quase consigo escutar o “devagar” que provavelmente surgiu em sua mente.

— Tá, tá. – Me posiciono e espero que Amon se mexa primeiro.

Não sei como minha atenção desviou tanto, mas vi um garotinho empurrando o outro no chão, a uma quadra de distância da gente, me fazendo sair correndo em direção a cena. Amon ficou um tanto impressionado, por que nesse momento desviei de um soco no peito e dei uma cutuvelada em sua costela. Sem querer. E me deu dor no cotovelo. Chego perto e o menino que está em pé, sai correndo.

Olho para o garoto no chão, que está com um roxo em um lado do rosto. O menino deve ser um pouco mais velho do que Tom. Acho que nove ou dez anos. Ele não olha para mim. Na verdade, me evita. Dou a volta e fico em pé na sua frente. O menino se levanta e limpa a areia do short.

— Você está bem?

A pergunta é idiota e eu sei. Mas o que fazer em uma situação dessas? Ainda sem me olhar, ele tenta catar alguma coisa da areia. Agacho-me e tento ver se acho alguma coisa.

— Estou.

Sua voz é firme e imagino que esteja magoado. O menino parece que não quer conversar. Lembro-me de quando tinha a idade dele. Crianças são más. Isso eu não tenho como discutir.

Eu me corto e percebo que tem um caco de vidro aqui. Tento tirar de perto do menino e percebo que é a lente quebrada de uns óculos.

— É isso que está procurando? – Assim que seguro o objeto, o menino finalmente olha para a minha direção.

— Está quebrado... – Concordo levemente com a cabeça. – Você se cortou.

Acho que crianças como o Tom não existem no resto do mundo. Até mesmo quando falam, não são tão... Geniais. Tiro a lente dos óculos, para que o menino não se corte. Entrego para ele a aste e os olhos dele param nos meus. Mesmo ajoelhado no chão, percebo que o menino é baixo demais para a idade, seu corpo é relativamente normal, nada demais, além de um corte estranho no antebraço. O cabelo é castanho nem claro nem escuro, e os olhos são quase da mesma tonalidade. A roupa do menino é um uniforme de escola, que eu não reconheço o símbolo.

— Você se cortou. – Ele repete.

— Não tem mal. Eu vou me curar. – Ou alguém vai me curar.

Amon e Gaelle chegam perto da gente, andando como se nada tivesse acontecido. Assim que o lobisomem olha para minha mão, ele nega com a cabeça.

— Sério isso?

É... Eu tenho certa atração para desastres... Não que isso seja minha culpa.

— Ela tem um rabo... – O menino sussurra, olhando para a minha familiar.

Olho para trás e tento entender se ela está ou não no modo “invisivel para normais”. Ela apenas dá de ombros como se não entedesse também. O menino se levanta e coloca o resto dos óculos no bolso.

— O que foi que você disse, menino? – Abaixo um pouco o meu corpo, e meu rosto fica na altura do dele.

— Nada. Não disse nada. – Ele dá um passo para passar por mim, mas seguro seu pulso. – Se você ouviu, vai me chamar de mentiroso como todos eles. Então, me deixa ir.

 É isso. Ele tem o dom da visão como eu.

— Você diz que ela tem rabo, não é? – Puxo Gaelle para o meu lado e vejo que o menino congela. – Não está curioso para tocá-lo?

Ele acha que estou o zoando. Parece irritado. Como se eu achasse que ele mente. Mas não acho. Eu quero mostrar a ele que eu acredito. Mas primeiro, ele tem que me provar. O menino olha desconfiado para mim, porém estica a mão devagar e se surpreende ao tocar.

— É macio, não é? – Digo também passando a mão e vejo que Gaelle está com vergonha. – Faz cosquinha se você fizer com essa parte da mão.

— Moça... O que você é? – Seus olhos estão mostrando os sentimentos escondidos por sua voz. Ele está morrendo de medo de mim.

— Eu? Humana. E você?

— Humano. – Ele nem pensa antes de responder, isso me faz considerar ser verdade. – Mas ela não é... – Eu não sei se isso é uma pergunta, mas faço um “não” balançando a cabeça. – Então, não diga a ninguém que você a vê. – O menino diz para mim e solta o rabo de Gaelle. – Se não, vão te chamar de mentirosa.

E então sai correndo.

Amon e Gaelle estão me olhando com o mesmo olhar de desentendimento que eu estou. Ela limpa o sangue que ficou em seu pelo, e olha para mim.  Esqueci que estava cortada... Foi mal.

— O que aconteceu? - Amon pergunta, quebrando o silêncio.

Assopro a mão machucada, para tentar tirar a areia que está fazendo arder.

— Nem me pergunte. 

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Notas finais do capítulo

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