Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Dentro do quarto de Matthew, eu já não me sinto tão confiante. Tenho muitas perguntas na minha mente e tudo parece demorar demais. Ele continua sério e frio. Não é como se eu tivesse muita opção além de sentar na cama e esperar.

— Eu digo toda hora que sua vida está em risco e você não liga. Estou começando a ficar irritado. – Ele liga o ar condicionado do quarto. – Vim correndo por causa da sua incompetência. Willian é muito chato em relação a tudo que você está ligada. Sabe quantas vezes ele já me pediu para terminar sua transisão? Como se isso tudo fosse muito facil. Vocês, humanos, sempre acham que sabem de tudo...

Matthew está resmungando enquanto arruma a cama, comigo ainda em cima dela. Tento não atrapalhar, mas dentro desse quarto, eu nunca sei como me comportar.

— Você consegueria? Fazer o processo mais rápido? – Pergunto, começando a ficar com frio. – Quero dizer... Sempre que venho aqui, a sensação é a mesma. Como se eu estivesse prestes a morrer de novo. Você conseguiria me fazer voltar ao normal?

— Sei que tenho muita coisa para melhorar nos meus dons... E mexer com isso é complicado e contra as regras. No entanto, eu já comecei. O problema maior é o “depois”. Eu posso adiantar o processo. Já estou a cinco dias cuidando de você. Então, se eu precisasse conseguiria terminar em mais uns dez dias eu acho. Mas deixaria sua vida muito instável. Como se qualquer doença pudesse te fazer morrer, de novo... Não é seguro.

O garoto me empurra até mais atrás na cama e fica de joelhos, chegando mais perto. Puxa a minha blusa para cima e tira pela minha cabeça. Isso está ficando tão natural, que chega a assustar. Coloca a mão em minha cintura e a outra em meu rosto. Matthew me beija devagar. Como se ainda recuperasse o folego da corrida até essa casa. Sinto, novamente, tudo queimar. Seu toque, seus lábios. Não consigo parar de pensar em nossas discussões e como nada disso parece realmente importar agora. Eu não sei o que pensar.

Ele disse como isso é estranho para ele também. E que isso é responsabilidade dele, por me ter... Revivido. Não sei se penso demais quando ele está assim comigo, ou se isso tudo aparece em minha mente inconcientemente. Prime sempre me perguntou por que eu não namoro, ou por que nunca aceito os garotos que ela me apresenta. Mas não é por mal. Eu apenas acho perda de tempo. E agora eu tenho isso, o tempo todo. Não posso mais reprimí-la por seus múltiplos encontros. Não que isso seja um, pois não é.

Seus dedos passam levemente por meu corpo. Minha cintura, meu quadril, minha coxa. Seu toque me tira o ar, me faz tremer e me arrepia. Eu não sei que tipo de aula de primeiros socorros esse cara fez, mas algo nisso tudo está muto... Mágico. Não algo. Eu sei que a existencia dele é mágica. É como se ele fosse belo por natureza. Isso pode ser verdade. Tom sempre me diz que ninguém é geneticamente bom. Então, Matthew não precisaria ter me salvo. No entanto, fico agradecida por isso. Se ele precisa fazer isso tudo para eu ficar bem por mais um dia... Isso significa que ele precisará fazer quanto mais, para eu voltar completamente?

— Amor? Posso entrar?

Sem esperar por uma resposta, escuto a porta se abrindo e meus olhos se abrem. Uma menina surge e parece horrorizada. Boneca. Isso a define completamente. Seus olhos são verdes, contornados por lindos e longos cílios. Seu naríz é pequeno e fino, sua boca também é delicada. A menina é bem baixinha e está usando um vestido florido lindo e puro. Em um de seus braços, posso ver uma bolsa rosa e no outro, encontro um caderno.

Ela está em choque, e eu também. Matthew não parou de me beijar e tocar, mesmo depois de escutá-la. Era como se nada tivesse acontecido. Mesmo o meu corpo parado, minha boca respondia a sua vontade. Apenas alguns segundos depois, ele se sentou ao meu lado e olhou para a porta. Coçou a cabeça e eu pude notar seu cansaço. Fico parada, com as pernas um pouco abertas ainda, já que ele estáva me segurando daquela forma, e espero tudo se resolver sozinho. Como se fosse mágica.

— O que está fazendo aqui, Alice? – Ele é grosso. E não deveria ser. Ela é linda e delicada. Por que você está sendo um escroto, Matthew

Ela levanta o caderno e taca nele. Ele esqueceu o caderno na escola. Então, ela deve ser uma estudiosa, além de linda, que faz clube de matemática também.

— Obrigado. Já terminou o que você veio fazer? – Ela concorda com a cabeça e dá um passo para fora do quarto. – Ótimo. Pode ir embora, então.

— Você não vai nem, ao menos, me explicar? – Sua voz é estremecida e parece está a ponto de chorar.

Ela está certa. Seja lá quem essa menina for, se ela está tão triste, merece ao menos um motivo. Olho para Matthew, mas ele apenas continua com aquele olhar vazio. Indiferente. Não sei por que estou fazendo isso... Levanto, e ando até ela. Estico a mão, e os seus olhos me acompanham.

— Cassandra. E você deve ser a namorada do Matt. – Eu não acho que foi a melhor forma que eu consegueria fazer. – É... A cena pode ter sido bem desconfortável e sem sentido, mas tenho certeza que foi um mal entendido. – Olho por cima do ombro para Matthew, e ele apenas cruza os braços. Como se não fizesse parte daquele problema. – Pelo amor de Deus, Matt. Explica para ela.

Foi um mal entendido, sim. Mas não visual. Ele estava me beijando, me tocando e apertando. Porém isso foi apenas para me salvar. Me curar. Me fazer viver. Matt me trás a vida. Isso não é algo fácil de se entender. Contudo, se ao menos a menina perceber que ele não fez isso por outro sentido...

— Cass, essa não é a minha namorada. É a irmã. – Ele se levanta e me dá a minha blusa, fazendo com que eu me lembre de que estou sem. – Eu me resolvo com a Deborah depois. De qualquer forma, essa aí não acreditaria em nada que eu explicasse. – Matthew me coloca atrás dele e olha para a bonequinha a sua frente. – Se tem tanta dúvida do que viu, e quiser contar para a sua irmã. Fique a vontade. 

Mas a menina o chamou de “amor”... Eu tenho certeza! Alice tampa a boca, com a mão, e sai do quarto correndo. Eu não sei direito o que vi em seus olhos quando se virou, mas eu acho que foi uma mistura de desespero e ódio.

— Você é horrível, Matthew! – Termino de colocar a blusa e saio correndo atrás da garota, mas quase tropesso quando chego à escada.

— Não terminei de te curar, menina. – Sua cabeça está para fora do quarto, mas seu corpo não parece querer andar mais do que isso.

— Não interessa. Eu tenho que explicar para ela... – Começo a descer as escadas, segurando no corrimão.

— E vai explicar o que? Não é qualquer um que entende tão fácil quanto você. Muito menos se for sobre a minha realidade. Se não me engano, você nos chamou de monstros.

— Eu vou explicar qualquer coisa que seja. Não queria atrapalhar sua relação. Eu... – Saio da sala e vou correndo atrás da menina-boneca.

Não preciso correr muito até encontrá-la. Ela está conversando com uma menina de preto, na frente do menino fantasma que procura o cachorro. E como nenhuma delas está dando bola, suspiro triste. Não vão acreditar em mim.

— Foi aquela garota! – Eu escuto a menina-boneca falando com a outra.

Essa nova garota é um pouco mais alta do que eu e completamente diferente da outra menina. Essa usa uma blusa e uma calça preta com algumas partes rasgadas. É uma mistura do esteriótipo gótico, com punk. Seu cabelo é negro até a altura do queixo e tem algumas mechas roxas. Um pouco magra demais e posso ver o piercing em seu umbigo. Ela coloca a mão na cintura e me olha de cima a baixo e por um momento penso se estou tão despenteada quanto acredito que esteja.

— Você estava beijando o meu namorado?

Ela foi direta. Então, essa é a Deborah... Eu suspeitei, mas preferia acreditar que tinha me enganado. A garota dá um passo na minha direção e sinto certo receio de ficar ali parada.

— Eu estava vindo explicar a sua irmã que foi um mal entendido. – Levo uma mão ao coração, tento controlar o que vou falar, para não errar.

— Está dizendo que você não o beijou?

 Seu olhar é ameaçador e eu sei, mas comparado ao mundo paranormal que eu estou começando a me acostumar, isso não é nada. Sei que é uma simples humana. Ela não está vendo o menino do cachorro no meio da gente. Pedindo para que ela não se irrite.

— Eu estou querendo dizer que... Matt te ama e vai te explicar. Tenho certeza. Não quero me meter no relacionamento de vocês. Meu nome é Cassandra e eu...

— Você é a garota que está morando com ele. – Deborah me interrompe, parecendo ainda mais irritada por saber o meu norme.

Não era exatamente isso que eu ia dizer... E agora? O que ele contou a ela? Eu tento tirar o menino fantasma do meio de nós duas, sem que ela perceba. Deborah olha para a minha mão e parece se aborrecer ainda mais. Não tem nada que eu possa fazer para melhorar a situação?

— É... Meio complicado. Sou irmã adotiva do pai dele. Acho que isso me faria tia dele, mas por algum motivo não é bem assim que a família me vê. Eu estava com alguns problemas e meu irmão...

— Não quero saber dos seus problemas. Não me interesso pelo o que você sente por meu namorado e não foi isso o que eu perguntei. Quero apenas que me responda uma simples pergunta: o que o Matthew sente por você? – Apesar de toda sua atitude, e seu jeito de falar e de agir. Consigo captar medo nos seus olhos. Ela parece gostar de verdade daquele idiota. E ele nem veio me ajudar!

— Ah... Só isso? É bem simples, ele me falou isso um dia desses. Matt disse assim: você é apenas uma intrusa na nossa família. Sempre trouxe problemas para mim, e agora ainda mais.— Tento falar do jeito bravo igual a ele, mas acabo sorrindo por não conseguir. – Ele me considera uma rival nos estudos... Por que meu irmão nos compara muito e tal.

— Entendo. – Deborah balança a cabeça devagar e dá um passo lento para trás. – Vamos embora, Lice.

— Calma, mana! Isso bastou para você? Eu vi como eles estavam e... – Eu não sei o papel de Alice no relacionamento deles, mas isso faz com que Deborah fique ainda mais brava. Seus músculos, seu corpo, até mesmo sua alma, parecem estar a ponto de explodir.  – Você não vai agir? Vai deixar que isso aconteça.

— Eu não sei o que ele queria, fazendo aquilo. E se ele se importar, vai vir falar comigo. Eu confiei nessa garota, mesmo depois do que você me disse, Lice. E isso deve ter um motivo. – Depois, olha por cima do ombro, para mim. – E essa aí, não tem o mesmo interesse nele do que eu. Ou do que você, irmã. Se quiser culpar alguém por nosso relacionamento estar assim, culpe a si mesma.

Eu fico parada com a boca um pouco aberta tentando entender. A gatora que estava prestes a me bater, considerou me deixar livre. Só por que confiou em mim. Confiou em mim. E agora fez sentido a menina-boneca o chamar de amor. Ela quer o namorado da irmã. Acho que tem pessoas com problemas piores do que os meus. Ok... Não são piores ainda.

— Nossa. Moça... Pensei que você veria estrelas. Sorte sua a menina bruxa não se irritar. Eu escutei o garoto que anda com ela comentando que ela sacrificou um cachorro semana passada. Por isso estou louco procurando o meu, que pode ser a próxima vítima. Apenas para um ritual ridiculo. Como se magia existisse. – O menino nega com a cabeça, parecendo achar que a garota é louca. Sendo que ele é um fantasma. Que provavelmente não sabe disso.

Dou a volta, vagarosamente, e vou para casa. Matt não terminou de me curar e eu ainda tenho que esconder Gaelle... É... As coisas parecem cada vez mais complicadas. Queria ao menos que Said voltasse... Tenho muitas perguntas para fazer. E a primeira seria por onde ele andou.

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Notas finais do capítulo

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