Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Deve ter se passado apenas dez minutos, então é impossível que Amon estivesse em casa. Seu cabelo está um pouco molhado e parece estar chovendo lá fora. Fred continua ali. Amon chega respirando pesado perto de mim e me segura pelos ombros.

— Cadê?

Olho para onde o homem está e ele segue meu olhar.

Amon é um homem também. Não posso pensar em chamá-lo de garoto. Ele é seis anos mais velho do que eu, mas por ter vivido alguns anos no Outro Lado, Amon não parece ter mais de vinte anos. Seu cabelo loiro é picotado e sua altura é um pouco maior do que os outros irmãos, mas não chega a ser intimidador. Só de olhar nos olhos de Said, e Fred sairia correndo. Não sei se Amon poderá fazer muita coisa. Não é que ele seja fraco, eu vejo que ele tem força, mas... Não sei...

— Venha.

Ele pega uma garrafa d’água e paga. Depois me abraça e sai da loja me levando junto. Assim que chegamos ao lado de fora o homem que me perceguiu chega perto de mim e nos olha. Parece não saber muito bem o que está acontecendo.

— Cassie?

Amon abaixa um pouco o rosto e fala alto:

— Eu te amo, Cass. – E então me beija.

Não era isso que eu esperava. Sem dúvida não era isso que eu estava pensando. Eu pensei que ele iria bater no cara ou algo do tipo, afinal, ele é um lobisomem e sei lá. Essas coisas... Isso que Amon fez foi exatamente algo que eu veria em um filme. Não foi algo normal, mas ficou bem no cenário e na situação.

Assim que ele me soltou, Fred não estava mais por perto.

Eu não consegui pensar direito. Eu não consegui descrever mentalmente o que estava acontecendo como fiz esses dias. Eu só consigo pensar agora no que acabou de acontecer. Eu estava tão presa que não consegui nem escutar algum barulho que não fosse a nossa respiração. Até meu coração pareceu mudo, apesar de agora está bem acelerado. Não consigo parar de olhar para o homem na minha frente.

— Consegui. – Ele coloca a mão no meu ombro. – Que bom que escolhi não trazer guarda chuva, se não ele não iria conseguir ver o beijo direito.

Sim. Foi isso. O beijo era por que ele tinha que fazer o cara pensar que estávamos juntos. Isso pareceu bastar. Ele tira a bolsa da minha mão e me entrega a água que comprou.

— Você deve estar com sede. – Amon olha para o lugar onde Fred deve ter ido. – O cara era gigante. Quando entrei na loja, não imaginava que seria aquele lá. Acho que nunca vi um meio-ogro na vida. São realmente fortes.

Meio-ogro? Tudo realmente está ligado ao Outro Lado? Por que parece que a vida é mais aterrorizante agora?

— Você não é mais forte do que ele?

— Não mesmo. Eu poderia ser, mas ainda não sou. – Ele dá de ombros e depois olha para cima. – Nossa. Está chovendo muito agora.

Eu espirro. Eu também não esperava pela chuva. Hoje realmente não é um dia positivo para mim. Amon coloca o casaco nos meus ombros.

— Está molhado também, mas deve ser mais quente que essa sua blusa. – Olho para baixo e vejo meu cordão. Escondido pela blusa. Que agora está ficando transparente. – Cordão legal. Onde comprou?

É verdade... Amon não sabe sobre isso.

— Eu ganhei. – Fecho o casaco para esconder.

— De um garoto, imagino. – Seu sorriso é irritante e isso me dá raiva.

— Não é da sua conta, imagino.

Amon franze a testa e eu sinto culpa. Não sei dizer por que agi assim.

— Obrigada. – Ele volta a me olhar. – Quero dizer... Você veio até aqui e tal.

— Você estava parecendo realmente assustadas. – O homem dá de ombros e parece um pouco inquieto. - Eu não quero que se machuque... Você deveria saber ver o futuro... Como a verdadeira Cassandra.

— Verdadeira Cassandra?

Amon sorri e coloca as mãos nos bolsos da calça. Ele não parece estar com frio como eu. Na verdade, ele parece bem. Como se a mistura de chuva e vento não o congelasse, igual ao que acontecesse comigo.

— O seu nome... Ele vem da Cassandra, da lenda. Não é? Aquela que Apolo se apaixonou e concedeu o poder de prever o futuro?

— Eu não sei do que você está falando... Eu acho que minha mãe escolheu esse nome por causa de Chander... Pelo menos foi o que ele disse. - Olho para cima e vejo que as núvens cobrem completamente as estrelas. – Não dá para ver as estrelas hoje. Que pena.

Amon olha para o céu.

— Entendo... Eu também gosto de olha-las. Ver a Lua me faz sentir mais calmo. Vai demorar até chegarmos em casa. Isso se a rua não alagar...

— Aqui perto é meu apartamento, poderíamos ficar lá até melhorar. – Uma gota grande cai no meu olho e depois parece que a chuva aperta.

— Então, vamos logo. Odeio chuva.

É... Acho que não sei dos meus sentimentos. Eu não sei se gosto ou desgosto da chuva.

—⟰-

— Nossa... Que pequeno. Como consegue viver em um ambiente tão fechado?

Amon está na minha casa faz cinco minutos e todo o lugar para aonde ele olha, ele ofende. Apesar de que não tem muita coisa para ver... Suspiro.

— Achei que ao menos ele fosse estar aqui... – Sussurro e volto a ligar o aquecedor. Nem Said, nem Chander.

— Nossa! A sua cama é tão pequena! Uma garota da sua idade devia ter no mínimo uma cama de casal. – Amon deita na cama e se estica.

— Você é sempre assim? Critica mais continua?

— Sempre? E quando fiz algo assim? – Ele faz uma careta e abraça meu travesseiro. Amon parece cansado... Ele deve ter vindo correndo mesmo...

— A lasanha. Você criticou, mas comeu. – Dou de ombros e sento no chão, já que não tem outro lugar.

Amon me olha, ainda deitado e depois fecha os olhos.

— Pare de tentar puxar assunto comigo, Cass. Eu não quero ser seu amigo.

Hoje não está sendo um dia muito típico. Ele se levanta e ajoelha na minha frente. Pega meu rosto e me faz encará-lo. Fica assim por um tempo, e é como se suas palavras estivessem fora de contexto.

— Se não vai me beijar, não me olha assim. – As palavras saem antes mesmo deu notá-las. Não era para significar algo mais. Nunca digo coisas assim. Não que seja algo demais, só não penso em ninguém assim.

Eu me lembro de sexta feira ter sido bem grossa com ele. Sei que Amon ficou puto. Também me odiou por não lembrar que ele existia e estava na minha sala. Isso deveria significar alguma coisa? Lembro-me da conversa que tive com a fantasma da praça. Ela disse que me contraria um segredo, mas desapareceu antes disso...

— Acho que você bateu a cabeça enquanto fugia do ogro.

Apesar de dizer isso, Amon não solta o meu rosto.

— Por que eu estou diferente hoje do que eu estava na aula? – De grosseria à dar em cima, foi um passo muito largo para fazer em tão pouco tempo. O desejo de continuar minha vida normal parece cada vez mais longe de se realizar.

Ele me olha e parece inseguro. Dá de ombros, mas apenas por seu olhar eu sei que ele sabe de alguma coisa.

— Você não tem nenhum poder como os gêmeos. Ou tem?

Amon nega com a cabeça. Ainda sem tirar a mão da minha pele.

— Se está perguntando, é por que você não se lembra. Eu achei que não lembraria. – Seus olhos azuis são claros demais. São quase cinzas. Não é assim que imaginei que um lobo pudesse ser. – No sabado você entrou no meu quarto e...

— Eu nunca nem cheguei perto do seu quarto! – O interrompo e ele me solta. Amon se levanta e vai até a varanda.

Aconteceu a mesma coisa do outro dia. Eu o cortei e fui grossa. Mas é assim que normalmente sou. Ou ao menos deveria ter sido com todos eles. O que foi mesmo que eu disse para os garotos? Apenas Tom em minha vida?

— Bem. Vamos ter que dormir aqui. Tem algum tipo de colchão nesse cubículo? – Nego com a cabeça. – Ok... Então, eu fico como travesseiro.

Ele pega meu único travesseiro e coloca no outro canto do quarto. Apaga a luz e deita.

— Boa noite.

Continuo sentada por alguns segundos tentando entender o que passou. É como se a loucura da noite passada não tivesse acabado ali naquele quarto. Hoje eu não entendi nada. Vou até a cama, e deito. Me cubro, tiro o casaco de Amon e acabo tremendo um pouco. Fecho os olhos e me lembro da conversa com o Matthew. Eu te vi no corredor ontem a noite. Você estava voando. A lembrança faz com que algumas peças liguem uma a outra. Se eu estava no corredor, eu fui a algum lugar... Amon não parece mais disposto a me contar.

Meu celular toca e eu vejo primeiro as horas. Já são onze?

— Alo?

— Cassie? Por que não está em casa? – É a voz de Tom.

— Estava chovendo muito, então vim dormir aqui em casa...

— Mas isso significa que o Matt não vai te cuidar hoje? – A sua pergunta me dá um choque, mas ele logo emenda. – Não era isso que eu queria dizer. O ovo cresceu. E muito. E agora ele está tremendo.

— Ah... Isso significa que não vou ver o passarinho nascer? – Minha voz é baixa para não acordar Amon.

— Não sei... Parou de tremer agora... Mas está estranho. É muito grande para ser um passarinho. E eu perguntei ao Matt. Não tem nenhum animal ovípero que o ovo cresça depois de sair do corpo.

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Notas finais do capítulo

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