Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Será lançado um novo capítulo a cada semana. Comentários são sempre bem vindos e boa leitura!



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Tinha dado cinco horas da tarde quando meu irmão ligou. Billy parecia cansado e talvez um pouco triste. Desde que nos vimos pela última vez, ele me liga uma vez por semana para dizer como está.

Na maioria das vezes, sou eu quem falo como foi a faculdade por que Billy sempre parece não conseguir falar. Eu tinha seis anos quando nossos pais morreram, ele tinha trinta e um. Meu irmão já tinha idade para estar fora de casa, a muito tempo, mas mal tinha dinheiro para si. Lembro-me de escutá-lo insistir em cuidar de mim, mas acabamos nos separando. Eu fui para a casa da tia avó Nyx, e Billy começou a morar sozinho.

Cinco anos depois, eu descobri que ele estava casado e eu o odiei por isso. Não pelo fato de ter uma nova família, mas sim por me avisar depois do casamento, muito tempo depois. Meu irmão sempre ia me visitar, antes deu saber, mas depois mal nos falamos. Um pouco menos de dois anos atrás, descobri que Billy não estava apenas casado, ele já tinha até filhos. Ele já tem quarenta e seis anos, eu tenho dezesete, mas nunca esperei que ele fosse ter... Billy costuma ser muito descompromissado e desligado. Não pensei que fosse possível ser pai, ou ao menos ser um bom pai. No mesmo momento que descobri que meu irmão mais velho realmente estava sério com a esposa, decidir sair para jantar com eles e seus filhos.

Billy estava com cinco filhos. Cinco! Como se isso não fosse exagero, apenas dois deles eram realmente do meu irmão. Os três primeiros foram de casamentos antigos da mulher dele. Então, descobri que Pamela era bem bonita e sucedida, mas não só isso. A mulher do meu irmão tinha caráter, cuidava bem dos filhos e cozinhava muito bem. E isso não faz o menor sentido. Por que uma mulher dessas iria o querer? Seus filhos eram muito diferentes entre si. Primeiro vinha mais velho de vinte e um, cabelos loiros e olhos claros. Depois foram os gêmeos de dezesete, garotos ruivos, também de olhos claros. O de quatorze e o de três, se parecem muito com meu irmão, tendo olhos e cabelos negros. Apesar de todos serem bem bonitos, a semelhança terminava ai. Eu não fiquei muito tempo com eles para descobrir se tinham algo mais do que o que eu via, no entanto, não me arrependo.

Fiz amizade com Pam, pois assim conseguiria ficar perto do meu irmão de novo e durante esses dois anos, a cada semana Billy me liga.

— E como está a faculdade? Você ainda não mudou de idéia de literatura?

— Diz o irmão que virou dona de casa. – Resmungo, mas parece que ele não me ouviu. – Não desisti de literatura, nem vou. Atualmente, consigo relacionar meu trabalho de meio-periodo com as aulas da faculdade. Quando você vem me visitar? Não te vejo desde aquela janta...

— Hum... – Ele parece estar pensando. – Se está com tempo de sobra, venha aqui amanhã, está bem?

— Sério? – Digo animada e percebo alguns barulhos na linha. – Está certo, eu vou.

— Vou te passar meu endereço por mensagem. Venha as cinco horas da tarde! Beijos, maninha. Tenho que ir. – Meu irmão desliga e imediatamente recebo o endereço.

Olho para meu apartamento por mais alguns segundos e me dou conta: ainda não terminei de estudar para a prova de amanhã e já são nove horas da noite!

—⟰-

Estou olhando para a porta da casa de Billy faz dez minutos. Ele possui uma casa bem grande, em um bairro bastante rico. Provavelmente, Pam que tem que bancar tudo isso. Billy não ganha muito como escritor. A porta se abre de repente e um garoto bem mais alto do que eu surge na minha frente. Seus olhos são grandes e claros, ele tem o cabelo ruivo então não sei qual o nome desse aqui. Estava com uma blusa larga verde, uma bermuda branca e chinelos.

— Tia? – O garoto deu um passo para a fora da casa me olhando de cima a baixo.

— Subrinho?

— Caleb. – Ele sorri e estica a mão. – Prefiro que me chame de Caleb e de preferência, quero te chamar de Cass.

O garoto deve ter uns dezenove anos agora, e o seu jeito descontraido, não puxou meu irmão. Caleb ainda está com a mão esticada para mim.

— É... Não gosto de ser chamada de tia... Me faz parecer velha. – Sorrio um pouco apesar de estar um pouco desconfortavel com isso.

— Cass, não me lembro a sua idade. – O garoto dá de ombros. – Contanto que eu não saiba, para mim você ainda será mais nova que eu.

Tenho dezesete, ele dezenove. Eu sou mais nova, mas não me sinto mais nova. Finalmente, seguro sua mão e Caleb me puxa para dentro da casa. Tento não reparar muito, mas deve ser dez vezes maior do que minha humide moradia.

— Ei! Ela chegou. – Caleb grita do corredor e eu consigo escutar alguns passos no andar de cima.

Os quatro estão na sala, cada um em um canto diferente, mas todos olhando para mim. Parece que foi a muito tempo que os vi, mas não foi tanto assim. O problema é que assim que eu vi esses cinco garotos, me desperei, fiquei irritada com Billy e sai do restaurante. Então, tudo o que sei sobre eles foi o que meu irmão contou.

Indo para o lado do seu gêmeo, em pé na escada, Caleb se pronuncia:

— Bem-vinda a família. Sou Caleb, dezenove anos.

— Dylan. – Disse o gêmeo, com a exata mesma roupa, cabelo e qualquer outra coisa que esteja usando.

Um garoto, que é o mais velho dos dois filhos do meu irmão levanta o braço perto da TV. Ele está lendo um livro, deitado no sofá.

— Matthew, dezeseis anos.

— Tom! – Grita o pequeno de detrás do sofá. – Cinco anos. – Sua voz soa mais com “cino anu”, mas eu entendi.

— Amon. – O loiro está encostado na parede com os braços cruzados. – Vinte e três. – Ele olha para o primeiro gêmeo que falou. – Por que estamos falando nossa idade também?

— Foi o Willian quem falou para nos apresentarmos. – Caleb dá de ombros. – Eu preferia fazer isso de outra forma, mas...

— Eu tinha até escrito meus hobbys... – Diz Dylan um pouco chateado e isso me faz rir.

— Bem, eu sou Cassandra, Caleb pediu para eu não dizer minha idade. – Ele pisca para mim com um sorriso. – Obrigada por me receberem. Onde está o meu irmão?

Os meninos se entreolham por um minuto e dão de ombros um para o outro.

— Sairam. Eles falaram que você iria ficar com a gente. – Matthew abaixa o livro apenas para falar, e depois volta a ler.

— Como assim? – No que o idiota do meu irmão me meteu. — Por que eu tenho que cuidar de vocês?

— Por que Amon é irresponsável! – O menorzinho pula o sofá e vem até mim, com a altura um pouco mais baixo que meus peitos.

— Ainda assim... Os gêmeos já são maiores de idade... – Abaixo meu corpo, para ficar na altura de Tom que sorri para mim. Olho por trás dele e vejo os mais velhos se olhando.

— Minha mãe quer que nos conheçamos melhor. Estão a anos trabalhando sem parar e por causa de toda hora ter uma nova criança, eles ainda não tiveram tempo para si. – Matthew fecha o livro e se levanta, vindo em minha direção. – Mas você não tem nenhuma obrigação de ficar aqui. Se quiser ir embora, a porta é ali.

Passando por mim, o garoto entra na cozinha e começa a mexer em alguamas coisas. Ele é identico ao Billy! Meu deus! Depois de colocar alguma coisa na panela, os gemêos se juntam a ele. Os dois ruivos começam a fazer a mesa enquanto eu fico parada sem saber o que fazer.

— Vamos jantar juntos? – Tom segura a minha mão e me puxa para mesa, sem nem mesmo me deixar responder.

É claro que eu iria. Afinal, eu não tenho muito para onde ir também. Na minha cabeça eu estava indo me encontrar com meu irmão, não com os filhos dele.

— Tia! Você vai adorar a comida! – Diz Tom animado, sentando ao meu lado na mesa. – Foi a mamãe que fez!

Com isso, Matthew, seguido por Dylan e Caleb vem para a mesa. Olho para trás e o mais velho ainda está lá parado de braços cruzados. Quando nossos olhares se intereptam, Amon dá um sorriso fraco e forçado e vem para a mesa.

— Vocês sabem quando seus pais voltam? – Pergunto enfiando um pedaço de frango na boca de Tom.

— Mais a noite. – Mathew responde. Pelo visto serão longas horas.

— Então... Você está fazendo algum clube depois da aula, Matthew?

Ele me olha meio de lado, como se a pergunta fosse muito do nada. E foi.

— Matt é um esportista! – Diz o gêmeo da esquerda.  – Ele está no clube de tenis e no de basebol! – Ele parece mais animado do que o moreno sério. – Mas ainda faltam dois anos para entrar para uma boa faculdade. Tão criança.

— E vocês, gêmeos? – Eles se entre olham de novo e sorriem. – Já estão na faculdade?

— Dylan faz engenharia e Caleb faz arquitetura. – Um dos gemeos fala, fazendo com que fique na terceira pessoa.

— E vocês fazem algo além disso?

— Está falando com qual dos dois? – O da esquerda pergunta.

— Ambos. – Dou outro pedaço de comida a Tom.

Um silêncio passa pela sala, e todos parecem olhar para mim com muita espectativa.

— Dylan ou Caleb? – O da direita ri, e seus olhos parecem brilhar com a brincadeira.

— Ninguém nunca acertou esse jogo, irmão. – Amon fala, com o prato vazio de comida. Eu mal toquei no meu prato... — Acha que uma garota que te conheceu agora vai conseguir?

— É por isso que é divertido! – Os dois sorriem ao mesmo tempo.

— Ah... Isso é para eu adivinhar quem é cada um? – A mesa fica em silêncio, esperando minha decisão. – Que ridículo.

— Tenta. Tenta, tia! – Tom se apoia no meu colo, e eu o ajudo a subir.

— Você acha que eles não têm diferenças, Tom? – Pergunto baixinho no ouvido dele.

— Hum... Eles mudam para onde fica o cabelo o tempo inteiro... É impossível distingui-los! – Ele olha para mim por cima do ombro enquanto eu ainda tento comer o frango com batata inglesa que tem no meu prato.

— Sua mãe sabe os distinguir? – Pergunto para a mesa, e todos respondem que sim, com um aceno de cabeça.

Se isso é verdade, significa que o que se apresentou hoje para mim como Caleb, é o Dylan... Podia não me lembrar exatamente o nome, vendo apenas um. Mas agora está bem claro.

— Dylan. – Aponto para o da esquerda. – Caleb.  – Aponto para o da direita.

— Não. – Eles dizem juntos, rindo. – Está enganada.

— Não estou.

— Fui eu quem te encontrou na porta. – Diz o Dylan.

— Eu sei. – Dou de ombros e Matthew e Amon se encaram. – Você mentiu o seu nome naquele momento. - Digo satisfeita por saber diferenciar. Eles realmente são gemeos identicos mas...

— Como? – O irmão mais velho me olha e sinto um calafrio. Seus olhos azuis são frios e sinistros. – O que você viu de diferente?

— Hum... – Dou de ombros e sorrio. – O Caleb tem um sorriso mais bonito, e o Dylan tem olhos mais expressivos.

Os ruivos se encaram observando bem o que eu disse.

— Não é possível... Nem eu sei diferenciar. – Matthew está com seu livro aberto sobre a mesa, e pelo visto já acabou de comer.

— Fala isso como se fosse o mais inteligente de nós. – Escuto Amon resmungar, porém o moreno não diz se isso é ou não verdade.

— Tudo bem... Se é por isso, você conseguiria nos diferenciar depois da apresentação, não antes. Como sabia que menti? – Dylan parece realmente impressionado.

— A dois anos. – Eles se entreolham de novo. – Quando fui àquele jantar, encontrei a sua mãe no banheiro retocando a maquiagem. Ela me disse o nome de cada filho e me disse a roupa de vocês. Apesar de não ter ficado muito tempo na mesa, eu identifiquei cada um. Hoje quando estava na porta eu sabia quem você era, apesar de não lembrar qualquer era o seu nome. Quando você disse que era Caleb, eu aceitei, mas quando seu irmão disse que era Dylan eu percebi que era mentira. Já que eu já havia lembrado o nome dos dois.

Tom bate palmas, satisfeito com a explicação, mas seus olhos pareciam confusos. Amon concorda levemente com a cabeça, e faz um som de aceitação. Matthew parece um tanto surpreso, e por isso fica parado e os gemeos estão me encarando fixamente, como se tivesse algo no meu rosto.

— Nós não acreditamos. – Dylan levanta, seguido por seu irmão. Ele vem ao meu lado e faz Tom levantar.  – Deve ter algo errado na nossa roupa que você percebeu e nós não.

— Nós dois vamos para o andar de cima. Vamos trocar de roupa e você vai dizer quem é quem. – Caleb me puxa para fora da cadeira e meu olhar vai para os outros irmãos sentados.

— Eles ficarão pertubando me para sempre, agora?

— Provavelmente. – Matthew levanta devagar e nos segue.

No corredor, estou com os três irmãos que sobraram enquanto escuto o barulho no quarto a minha frente. Quando abrem a porta ambos estão com um gorro que cobre os olhos e a boca. Exatamente o que eu disse ser a diferença. Que bom que eu menti... Não é apenas isso que os diferencia.

— Então, Cass.

— Quem sou eu?

Todos ficam quietos em espectativa e vejo o gorro de cada um se levantar um pouco. Eles estão sorrindo. Meu olhar vaga entre os dois quando eu solto a mão de Tom e cruzo os braços.

— Dylan é o da direita e o Caleb é o da esquerda. – Eles tiram o gorro e me encaram. – Vocês podem ser parecidos, mas não são iguais. Agora podemos voltar lá para baixo?

— Não! – Dizem os cinco a minha volta e isso me choca.

— Querem continuar com essa brincadeira idiota? Quantos anos vocês têm?

Desço as escadas e pego o meu celular que deixei na mesa da sala. Digito o número de Billy e dá fora de área. Coloco o celular no bolso e vou para o corredor que leva até a saída.

— Onde está indo? – Caleb pergunta atrás de mim.

— Já vai embora? – Escuto a voz de Dylan. Apesar de a diferença ser pequena, até a voz de vocês não é igual.

— Vocês realmente parecem imaturos, mas devem saber se cuidar. Qualquer coisa, vocês tem o Amon. Ele parece responsável. Abro a porta e saio. Escuto quando eles começam a conversar e voz fina de Tom perguntando por que eu fui embora. Tem certeza que esses gêmeos não são seus, irmão? Parece uma brincadeira idiota que você faria. Desço as escadas que vão até a rua e vou começo a andar para casa.

Mas estão escuto uma voz me chamando, quando olho para trás sinto uma dor no corpo e tudo fica preto.


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Notas finais do capítulo

Será lançado um novo capítulo a cada semana.



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