I'll be waiting by the bleachers escrita por GabanaF


Capítulo 5
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente, como estão? Então, como prometido trago-lhes o último capítulo da fic! Infelizmente ela vai acabar, mas é aquele ditado né, vamos fazer o que? Enfim, espero que vocês curtam bastante :D



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Lexa respirou fundo e encarou a bola com determinação. O sol brilhava no céu e o começo do verão trouxe uma atmosfera mais quente. Ela já sentia os pingos de suor descendo por sua testa. O cabelo longo estava preso em um coque, algo que decidira de último minuto. Sempre jogava com um rabo de cavalo impecável, mas para a final, mudaria as coisas.

Na sua frente, Gustus mordeu o lábio. Estavam todos esperando o apito do juiz. Lexa olhou de soslaio para a esquerda e encontrou Bellamy, tão determinado quanto estivera na semifinal. Octavia estava na mesma linha que o irmão, só que mais distante. Ela nunca entendera porque a melhor amiga de Clarke gostava de jogar com o cabelo solto, embora nunca tivesse perguntado. Imaginou o calor que Octavia sentiria durante o jogo. Talvez isso fosse uma vantagem.

Os Woods, que incluam os pais de Lexa e Anya, além de Clarke e sua mãe, estavam na terceira fileira da arquibancada de costas para ela. Clarke não usava nenhum apetrecho que mostrava seu favoritismo por algum dos times. Como o jogo seria em Arkadia, Lexa achou uma ótima ideia. Ela não queria que a última lembrança de Clarke na escola fosse olhares maldosos por causa de um dedão de espuma.

O apito do juiz se fez ouvir e Lexa passou a bola para Gustus. Agora era a hora de provar para todos o tanto que trabalhara no último ano. Nos últimos três anos. Dessa vez, não era entre ela e Roan. Talvez aquela final não fosse mais difícil tecnicamente. Contudo, era a mais emocionante. Lexa conhecia todos do campo adversário. Eles iam tanto à sua casa quanto seu próprio time. Ela adorava Kane, o treinador do time. Gostava muito de Octavia e Raven. Até Bellamy era uma de suas pessoas favoritas.

Não era fácil jogar com amigos que vira treinando o ano todo. Porém, se os dois times estavam ali na final, era porque mereciam. Porque Bellamy e Octavia amavam futebol tanto quanto Lexa. E o melhor levaria a taça para casa. Em seu interior, Lexa desejava que fosse ela.

A primeira oportunidade a gol foi de Octavia. Aos cinco minutos, a garota pegou a bola dos pés de Aden e driblou a defesa de Trikru inteira até chutar uma linda bola curvada no canto do gol. Por sorte, o goleiro estava atento e fez a defesa na ponta dos dedos. Lexa aplaudiu o companheiro de equipe, mas gritou com os outros por deixar Octavia passar por eles com tanta facilidade.

A zaga de Arkadia estava impenetrável. Lexa era tão marcada por Bellamy e Monty que desistiu de fazer jogadas se aproximando da pequena área. Sempre que estava com a bola e chegava perto do gol, tentava chutá-la para outro jogador. Gustus mandou duas bombas para Harper, a goleira de Arkadia, que certamente deixou a garota vendo estrelas.

Harper conseguiu pegar a primeira bola perfeitamente, porém a segunda bateu tão forte em seu rosto que seu nariz começou a sangrar. Gustus recebeu um cartão amarelo pela brutalidade. Os garotos de Arkadia ficaram irritados e diziam que o jogador de Trikru merecia expulsão. Lexa levemente concordava com eles, mas não discordaria do juiz. Minutos antes, Bellamy dera um carrinho em Aden que deixara o garoto mancando e sequer recebera uma advertência.

A goleira se recusou a ser substituída e o jogo teve que parar para que ela recebesse os atendimentos necessários. Da arquibancada, Clarke observava tudo com uma tensão que jamais sentira antes. Os pais de Lexa torciam como se nunca tivessem visto a filha jogar (o que ela sabia que era verdade) e não pareciam notar as casualidades da partida.

— Esse Gustus é sempre violento assim? — Anya perguntou para Clarke.

— Depende do dia — respondeu Clarke, dando de ombros. — Gustus nunca foi muito fã de jogo limpo, mas Lexa gosta dele no time.

A plateia fez um “aaah” quando Bellamy perdeu outra chance de gol. A bola bateu na trave e voltou aos seus pés e nem assim conseguiu completar a jogada. Clarke comemorou internamente.

O goleiro de Trikru jogou o tiro de meta na direção de Lexa. A garota matou a bola no peito e avançou no campo adversário velozmente. Ela era sempre muito marcada e não demorou muito para que Octavia e Monty se emparelhassem com Lexa.

Gustus acompanhava tudo de longe, pedindo o toque da capitã do time. No entanto, Lexa não parecia querer compartilhar a bola. Com garra, ela seguiu até a pequena área de Arkadia e encarou Harper com determinação. Os segundos que separavam Lexa da marcação do time adversário foram essenciais.

A namorada de Clarke colocou toda a força que tinha no chute em direção ao gol. Harper sequer teve tempo de reagir e apenas assistiu a bola fazer a curva e cair no canto direito do gol.

Os pais de Lexa foram os únicos da arquibancada onde estavam a levantar e comemorar o gol. Clarke gritou timidamente e sorriu para Lexa quando a garota olhou na sua direção. Alguns estudantes da Arkadia olharam os Woods com certo desprezo, mas eles não pareciam importar.

— Está acabando o primeiro tempo — disse Anya minutos mais tarde. — O que você acha? — ela perguntou para Clarke.

— Acho que os dois times estão jogando muito bem — falou Abby antes que Clarke pudesse abrir a boca. — Não podemos chegar a conclusões precipitadas.

Clarke sabia que a sua mãe tinha razão. Arkadia e Trikru haviam treinado bastante durante todo o ano. Os dois mereciam aquele título, mesmo que Clarke soubesse que apenas um ganharia. Ainda assim, a vitória premeditada de Trikru a tranquilizava um pouco.

O juiz deu um mero minuto de acréscimo. Lexa observava uma jogada de Aden quando viu o número subir na plaquinha. Ela assentiu e deu uma olhada no seu time. Estava ganhando. Gustus relaxara um pouco nas marcações e nas bolas violentas jogadas para Harper. Ele não continha o sorriso, o que era uma espécie de provocação ao time adversário.

Os sessenta segundos passaram rápido. Aden tinha a posse de bola quando o apito do juiz se fez ouvir em todo o campo. O time de Trikru se cumprimentou com sorrisos e acenos animados ao se encaminharem para o vestiário. Bellamy e Octavia cochichavam a um canto do campo. Lexa não podia ver direito os rostos dos dois, mas imaginou que não era uma discussão amistosa.

Do lado do banco de reservas de Arkadia, a cadeira de rodas de Raven era chamativa. A garota não estava tão emburrada quanto seus colegas de time, mas lançou um olhar irritado à Lexa quando seus olhares se encontraram. Felizmente, Lexa não teve que se preocupar com isso, pois Clarke logo entrou em seu campo de visão.

— Oi — ela cumprimentou timidamente, apertando a mão de Lexa. Ambas sabiam que seria problema se demonstrassem o que realmente sentiam fora do campo naquele dia. — Que golaço, hein?

— Fiz o meu melhor. — Lexa deu de ombros, falhando miseravelmente em parecer humilde.

— Digno de uma rainha.

— Não acho que a realeza jogava futebol.

— É, bem, você sempre foi diferente dos outros. — Clarke entrelaçou sua mão na de Lexa e sorriu.

Antes que Lexa pudesse responder, contudo, Titus surgiu magicamente do seu lado com a expressão carrancuda. O tempo do intervalo estava passando e Lexa deveria falar algo para deixar o time mais animado para o segundo tempo.

Lexa se despediu da namorada com um beijo na bochecha e seguiu para o vestiário. Clarke balançou nos próprios pés, se sentindo perdida ali. Ela ouviu seu nome sendo chamado, se virou e encontrou Raven acenando. Sua amiga chegara ao campo depois e sequer perguntou ao juiz se poderia ficar próxima ao banco de reservas: apenas estacionou sua cadeira ali.

— Feliz que a sua namorada está ganhando? — O tom de Raven tinha seu sarcasmo diário.

— Acho que sim — respondeu Clarke cautelosamente. Bellamy e Octavia estavam a alguns passos dela e podiam ouvir a conversa. — Não posso falar até o fim do segundo tempo.

— Espero que acabe em pênaltis — disse Raven. — Isso ia ser emocionante.

— Não quero que os pais de Lexa tenham um ataque cardíaco hoje. Acho que é a primeira vez que eles assistem um jogo dela.

Raven olhou para onde Clarke apontava. Os Woods conversavam com a mãe de Clarke e não notaram os olhares das garotas. A mãe de Lexa gesticulava bastante e Abby riu do que parecia ser uma piada. Anya não estava tão animada quanto os outros três.

— Uau, que responsabilidade — comentou Raven. — Boa sorte para eles.

— Boa sorte para nós — contrapôs Clarke. Ela deu palminhas no ombro de Raven. — Uma pena eu não poder ficar aqui. Tente não entrar no campo com sua cadeira.

— Não posso prometer isso. — Quando Clarke se afastava, Raven gritou: — Se eu entrar, não esqueça de filmar e colocar na internet!

Clarke revirou os olhos e subiu a arquibancada até onde sua mãe e os pais de Lexa estavam.

 

***

 

— Vamos! Vamos! — gritava o pai de Lexa com todo o fôlego que possuía. Ele estava de pé e Clarke podia ver uma veia saltando de seu pescoço. — Eu não acredito!

Clarke de certa forma também não acreditava. Os primeiros vinte minutos do segundo tempo foram tranquilos. Ninguém de nenhum time conseguia se aproximar muito da pequena área do adversário e o jogo ficou truncado no meio de campo. Lexa tentou alguns chutes de longa distância, mas isso não foi suficiente para aumentar a vantagem de Trikru.

Até que, bem, Octavia ficar com a posse de bola e atravessar a defesa do time de Lexa como uma bala. Não precisou muito para que ela chutasse em direção ao gol e acertasse.

A arquibancada majoritariamente de Arkadia se levantou como se fosse uma só e comemorou muito. O pai de Lexa se sentou, um pouco deprimido, e olhou para sua mulher, que também estava chocada com o gol. Clarke e Abby comemoraram com um abraço.

Octavia abraçou seu irmão antes que o time caísse em cima dos dois para celebrar. Assim que conseguiu se levantar, a garota apontou para Raven e, mesmo de longe, Clarke a ouviu gritar “Esse é para você!”

De longe, Lexa observava a comemoração do time adversário com uma expressão dura. Ela já havia avisado aos seus companheiros das arrancadas de Octavia. Sabia que a garota tentaria o mesmo em algum momento. Dissera à defesa que deveriam estar preparados. E, ainda assim, tomaram um gol. Um gol bonito, que deixava tudo igual e tirava um pouco a taça do campeonato de suas mãos.

Ela olhou para Gustus. Sua expressão também não era nada amigável. Ele era o responsável por marcar Octavia e não o tinha feito. Lexa não o culpava, mas estava chateada com o amigo. Com todo o time, na verdade.

Com o gol de empate, Arkadia estava renovada. Os gritos de Bellamy eram ouvidos por todo o campo e a torcida não parava de incentivar o time com canções animadoras. Lexa entendeu a pressão. Mas ela precisava ganhar. Sua reputação estava em jogo. Seus pais assistiam a uma final sua pela primeira vez, caramba!

Os próximos dez minutos não foram muito animadores. Lexa tentou furar a defesa de Arkadia, mas falhou em todas as vezes. Octavia e Bellamy avançavam contra o goleiro de Trikru com vigor, e o companheiro de Lexa fez belas defesas.

A garota só percebeu que o jogo estava acabando quando o juiz ergueu a plaquinha de três minutos. Ela engoliu em seco. O jogo terminaria nos pênaltis, tinha certeza. No campeonato voltado para o colegial não havia prorrogação por motivos desconhecidos. Titus praticara pênaltis com o time, mas ainda era um tiro no escuro. Lexa só queria que seus colegas chutassem para o gol e acertassem.

— Se eu tivesse trazido meu dedão de espuma, estaria comendo ele agora — comentou Clarke assim que o juiz apitou o fim do jogo. A partida terminaria nos pênaltis, como Raven previra. Se ela mesma já estava nervosa, não queria nem imaginar o estado de Lexa.

— Eu vou lá falar com eles — disse Abby, já se levantando e descendo pela arquibancada.

Como vice-diretora de Arkadia, Clarke imaginou que faria o mesmo. Como namorada de uma jogadora de um time e estudante da escola do outro, ela mesma não sabia o que fazer. Já tinha decidido que ficaria feliz se qualquer um dos times ganhasse. Não precisava se importar com olhares estranhos nos corredores afinal era a última semana de aula. Seu namoro com Lexa viraria fofoca antiga assim que pisasse os pés para fora de Arkadia no último dia.

O juiz conversava com Lexa, Bellamy e Octavia no meio do campo. Lexa se alongava enquanto o homem jogava uma moeda para decidir quem começaria os pênaltis. Escolheu coroa e se decepcionou: Arkadia seria o primeiro a chutar. Ela cumprimentou os irmãos Blake com um aperto de mão e desejou boa sorte aos dois.

— Que o melhor time vença — disse Bellamy, o que surpreendeu Lexa.

Lexa voltou ao banco de reservas onde Titus escolhia quem deveria chutar os pênaltis. Gustus, Aden e outros dois já estavam posicionados. A capitã do time os encarou, pensativa. Não poderia demonstrar suas dúvidas naquele momento. Aden era um dos melhores cobradores de falta parada do campeonato. Gustus era o Gustus e os outros dois também tinham se saído bem durante as partidas. Eram boas escolhas.

E, claro, Lexa seria a quinta e a última a chutar ao gol. Dois anos antes, ela perdera o pênalti que garantiria a vitória contra a Nação do Gelo. Aquela defesa assombrou os pensamentos da garota até a derrota do ano seguinte. Hoje, ela não poderia errar. Não tinha esse luxo. Não teria ano seguinte para compensar por seus erros. Era agora ou nunca.

Octavia era a face da determinação e a torcida não a deixava esquecer onde estava. O goleiro de Trikru era bom, mas não foi o bastante para evitar o belíssimo gol da Blake mais nova. A bola fez uma curva perfeita e caiu no cantinho da rede.

Os ouvidos de Lexa ecoaram a celebração da arquibancada. Abraçada à Gustus, ela preferiu não olhar para o lado onde sua família e Clarke estavam. A capitã do time gritou o nome de Aden antes de ele se encaminhar para a pequena área.

Lexa nunca fora de sentir pena de alguém, mas ela sentia um pouco de Aden. Ele foi sem dúvidas o jogador mais contundido do time e sofreu muito nas mãos dos marcadores. Titus não se arrependera de colocá-lo em tal posição, pois sabia que o garoto tinha potencial. Agora, Aden estava ali, se preparando para chutar a gol, o primeiro calouro a participar de uma final do campeonato desde sua capitã.

Como um bom discípulo, Aden marcou o gol. Harper chegou a pegar a bola, mas a deixou escapar por entre as pernas, causando talvez o maior frango que Lexa já presenciara em quatro campeonatos. Ela não se permitiu rir, contudo. Sabia do nervosismo que era estar ali. Seu coração ficou mole ao ver a goleira de Arkadia limpar uma lágrima enquanto esperava Monty realizar sua cobrança.

O garoto jogou a bola longe do gol e, enquanto a plateia fazia um “aaah” triste, Lexa e seus companheiros de time comemoraram. Gustus deu tapinhas no ombro da capitã para demonstrar confiança e se encaminhou para a área. Lexa não desperdiçou gritos ao ver o belo gol que o amigo fizera.

Dessa vez, ela se permitiu olhar para sua família. Seu pai quase caíra da arquibancada ao comemorar a cobrança e Anya batia palmas com animação. A expressão de Clarke, no entanto, era impassível. Lexa sabia ler sua namorada muito bem, e entendia que sua falta de emoção era apenas reflexo da final conturbada entre seus dois times favoritos.

2x1. Eles estavam em vantagem. Bellamy avançou para a pequena área. O goleiro de Trikru segurou a bola com a força que faltou em Harper. Lexa tinha certeza de que estaria rouca no fim do dia. Ela abraçou seus colegas e gritou incentivos para o terceiro chute. Infelizmente, o centroavante também não conseguiu realizar a cobrança perfeitamente.

O placar continuava igual. Faltava mais duas cobranças para cada lado. O estômago de Lexa dava voltas e mais voltas. Se perdesse, tinha certeza de que iria vomitar no vestiário. Se ganhasse, vomitaria ali mesmo. Miller seguiu para a quarta cobrança de Arkadia. Ele deu pulinhos no mesmo lugar para aliviar o nervosismo e enganou o goleiro de Trikru, marcando um gol bonito com a perna esquerda.

2x2.

Eles ainda tinham a vantagem, pensou Lexa ao mandar seu companheiro para a área. Se marcassem agora, continuariam em vantagem. E foi o que aconteceu. Trikru marcou seu terceiro gol com um toque leve mas preciso na bola. Os olhos de Harper estavam vermelhos. Lexa mordeu o lábio, olhando de soslaio para os Blake.

Jasper seria o último cobrador de Arkadia. Lexa achou a decisão arriscada. Porém, não sabia muito do treinamento de pênaltis do time para formar uma conclusão mais certeira a respeito. Jasper podia até fazer um gol, mas Lexa também deveria acertar a rede. Era pressão demais para um dia só. Ela desejou que tivesse feito mais esforço para ganhar em tempo normal.

Não foi nenhuma surpresa quando Jasper acertou em cheio a rede com uma bola quase violenta. Ele deixou o goleiro de Trikru no chão e saiu para comemorar com seu time. A arquibancada vibrou em apoio. 3x3. Estava tudo nas mãos — ou melhor, nos pés — de Lexa.

A capitã de Trikru respirou fundo. Ela recebeu cumprimentos de Aden e Gustus antes de fazer o curto caminho até a pequena área. Sabia que suas pernas estavam firmes, mas na sua cabeça, não conseguia andar. Sentiu que iria vomitar antes de chegar à marca do gol. Engoliu em seco e continuou em frente. Antes de se preparar, olhou novamente para onde sua família estava.

Clarke era a única coisa que tinha em mente. Sua namorada estava ao lado de Anya e sorria para ela. Lexa queria acenar, mas sabia que não seria possível. Clarke então murmurou a frase “Eu te amo”. O coração de Lexa se encheu de uma energia única. Ela conseguiria fazer isso. Desculpe, Arkadia, mas ela precisava ganhar.

Tudo isso começara porque queria vencer a Nação do Gelo esse ano. Roan sequer estava ali para apreciar sua vitória, pensou Lexa. Ela sorriu e voltou sua atenção para o gol. Harper já estava emocionalmente abalada por causa das últimas cobranças. Lexa a fitou diretamente. As mãos da goleira balançavam para lá e para cá. Alguns diriam que ela estava se preparando, mas Lexa sabia que era nervosismo. Ela sabia porque fazia o mesmo.

O juiz apitou. Lexa tomou distância. Olhou para a esquerda. Estudou o lado direito. Harper era destra. Lexa também. Chutar com a perna esquerda não era sua especialidade, mas teria de servir para surpreender a adversária. Esperava que acertasse o gol, contudo. Lexa respirou fundo e caminhou para tomar velocidade e chutou a bola com tudo para a direita de Harper com a perna esquerda.

Harper tombou para o lado contrário. A bola de Lexa fez um arco e parou no fundo do gol com uma velocidade impressionante. A capitã de Trikru não acreditou no que viu. Ela caiu de joelhos no gramado enquanto seu time corria para abraçá-la. Os quatro que haviam batido pênaltis antes se amontoaram em cima dela primeiro. O resto do time chegou depois e, entre lágrimas e sorrisos, Lexa não conseguiu respirar com o tanto de gente em cima dela.

Titus como sempre afastou todo mundo e a ajudou a se levantar. Lexa agradeceu com um aceno de cabeça. Não conseguia falar, por isso abraçou o técnico com força. Eles estavam juntos nessa há quatro anos. Ele merecia tanto quanto ela.

— LEXA! — Anya veio pulando na sua direção e quase derrubou a garota de novo. — VOCÊ CONSEGUIU! O QUE NENHUM WOODS FEZ! VOCÊ CONSEGUIU!

— INACREDITÁVEL! — O pai de Lexa se aproximou das duas. A senhora Woods estava atrás do marido e sorria.

Lexa abraçou os pais, emocionada. Aquela vitória também era deles. Queria que eles tivessem ido a mais jogos durante seu colegial, mas estava feliz que os dois estivessem ali. Ela saiu do aperto do casal e olhou ao redor, procurando por Clarke.

Avistou a namorada com o time de Arkadia. Ficou em dúvida se deveria se aproximar ou não, mas Raven viu que ela os observava e acenou. Tímida, Lexa foi até à garota.

— Parabéns! — exclamou Raven, batendo em Lexa com a perna engessada. — Finalmente campeã, hein?

— Finalmente — repetiu Lexa. Ela ainda não acreditava no ocorrido. — Sem ressentimentos?

— Eu não estava jogando, não é problema meu. — Raven deu de ombros. — Pelo menos, chegamos à final. Ano que vem, eu e Octavia vamos destruir esse campeonato.

— Torço por vocês. — Lexa fitou Clarke pelo canto do olho. — Será que eu… hm…

Ela olhou para Raven. A garota negou com a cabeça. Lexa colocou as mãos na cintura e observou o campo. A plateia já começara a se dispersar. Ainda haveria a premiação, mas Lexa duvidava que eles iriam querer ver o time adversário sendo coroados em seu próprio campo. Trikru ainda comemorava no meio do campo e alguns acenavam para que Lexa se juntasse a eles. Ela viu Titus conversando com seus pais. Anya chutava algumas bolas em direção ao gol defendido por Aden.

A reunião do time de Arkadia parecia séria. Abby e Kane estavam entre os participantes. Lexa não os ouvia muito bem. Ela se perguntou porque Raven não fora incluída na conversa. A garota continuava parte do time. Ela imaginou que Raven e Octavia realmente assumiriam a dupla liderança do time no ano seguinte. Eram as melhores jogadoras que ficariam.

Lexa ficou tão presa em seus pensamentos que se assustou ao ver Bellamy e Octavia na sua frente. Os dois tinham expressões duras por causa da partida.

— Foi um bom jogo. — Bellamy ofereceu a mão para Lexa. — Parabéns.

— Obrigada — respondeu a garota, apertando a mão do co-capitão do time. — Vocês jogaram muito bem.

— Abby está irritada, pois terá que entregar a taça para você — disse Octavia, e um sorriso perpassou por seu rosto.

Lexa respirou aliviada. Era isso que eles estavam discutindo, então? Ela abriu um sorriso amistoso para os irmãos.

— Então… — Raven arqueou a sobrancelha para Lexa — teremos uma festa hoje?

— Raven, é domingo — contestou Bellamy. — E nós perdemos.

— Precisamos de uma festa para elevar nossos espíritos — retrucou ela.

— Eu não sei — respondeu Lexa. — Meus pais estão em casa. Acho que vou ficar com eles. Talvez Gustus faça alguma coisa.

Raven soltou um muxoxo de impaciência.

— Teremos que combinar outro dia — disse. Lexa achou a decisão sensata. — Quando eu estiver fora dessa cadeira, nós definitivamente vamos comemorar.

Lexa sorriu.

— Claro que sim.

 

***

 

— Esses anos foram bons? — Lexa perguntou de repente.

Clarke franziu o cenho. Era uma questão filosófica que não se encaixava no que estava acontecendo ao redor delas. Era o último final de semana antes que os veteranos de Arkadia e Trikru fossem para suas respectivas cidades. Era, também, o fim de semana que Raven finalmente sairia da cadeira de rodas. E era ainda o primeiro fim de semana que os pais de Lexa viajavam durante todo o verão.

Obviamente, Lexa resolvera dar uma festa para celebrar tudo. Já passava das três da manhã e as duas se aconchegavam na cama de Lexa depois de uma sessão de amassos interrompida por uma Raven bêbada gritando um dos hinos da torcida de Arkadia. Havia barulho de música vindo do andar de baixo, mas não era alto o bastante para irritar os vizinhos.

— O que você quer dizer com isso? — Clarke devolveu a pergunta, ainda sem entender.

— Você sabe... — Lexa se afastou da namorada e sentou na cama. Abraçou os joelhos e olhou para Clarke de soslaio. — Como que você julgaria seu colegial?

— Teve altos e baixos, mas foi bom. — O semblante de Clarke era de dúvida. — Não começou muito bem, acho que já lhe contei isso, e tudo foi se encaixando ao longo dos anos. Então, você me traiu para poder vencer um jogo...

Lexa rolou os olhos. Clarke nunca a perdoaria por tê-la usado para ganhar informação de Arkadia. Ela sabia que ouviria muito daquilo durante a faculdade e mais adiante.

— Você nem venceu o jogo, sabe — disse Clarke de mansinho.

Lexa falou um palavrão.

— Em minha defesa, estávamos todos fazendo isso — retrucou ela. — Nós queríamos saber mais sobre os times que poderiam ir para semifinais. Meu erro foi ter começado antes demais e...

— Ter se apaixonado?

— É, isso também.

Clarke empurrou Lexa de maneira brincalhona. As duas sorriam. Clarke se lembrava claramente de ter sido largada no baile do colégio e como Trikru tinha conhecimento das estratégias de Arkadia no jogo do dia seguinte. Nunca havia se sentido daquela forma. Foi como se Lexa pessoalmente tivesse lhe dado um tapa forte no rosto.

O acontecimento estava no passado, mas Clarke gostava de lembrar a Lexa dele. Na maioria das vezes era por brincadeira, embora tenha falado verdades do relacionamento enquanto mascarava as zoeiras. Clarke sabia, entretanto, que a namorada era deveras lenta para entendê-las.

— A gente realmente perdeu. — Lexa deu de ombros. Clarke lançou um olhar para a medalha de segundo lugar exposta na parede de troféus do quarto e mordeu o lábio. — Não faz diferença agora.

— Fez na época — respondeu Clarke. — Nunca senti tanta raiva de alguém na vida. Foi horrível. Pode perguntar para Octavia ou Raven. Passei o verão todo remoendo o que houve. Quando você veio falar comigo, eu...

— Eu lembro. — Lexa riu. — Você jogou comida em mim. Macarrão. Acho que até hoje tem um pouco no meu cabelo.

— Você merecia.

— Eu merecia — concordou a garota.

Lexa olhou para a medalha dourada que ganhara três meses antes. Ainda reluzia à luz da lâmpada do quarto. Seu primeiro campeonato colegial. Ela apenas precisou de quatro anos, três derrotas contra a Nação do Gelo e uma relação de amor e ódio com uma garota da escola adversária para conquistá-la.

Agora, iria para a faculdade com bolsa integral. Sua namorada iria com ela. As duas viveriam em Nova York, a cidade dos sonhos, sozinhas. Cada uma em sua respectiva universidade, mas ainda assim... Lexa nunca imaginaria que tal coisa aconteceria com ela quando pisou pela primeira vez em Trikru High.

— Negativo com negativo dá positivo — disse Lexa após um tempo. Ela se deitara ao lado da namorada de novo.

— Quê?

— Ferrei sua vida amorosa e nós nos ferramos na final do segundo ano — explicou Lexa. — Negativos. Mesmo assim, nós namoramos e ainda ganhamos o campeonato. Positivos.

— Muitos positivos. A conta está errada.

Lexa riu e deixou que Clarke subisse em cima dela.

— Quem se importa? — Lexa indagou depois que Clarke lhe deu um beijo suave. — Nunca fui boa com contas mesmo. E nunca mais preciso ser.

A expressão de Clarke claramente dizia “você vai se arrepender por isso”. Contudo, nenhuma das duas se preocuparam com aquilo. Era a última festa das duas escolas juntas e na casa de Lexa. Depois de mais uns beijos, decidiram descer e aproveitar com os amigos que ainda não estavam bêbados o suficiente para terem desmaiado no sofá.

Que o futuro viesse, mas apenas mais tarde.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Faltou alguma coisa? Sempre planejei fazer a Lexa vencer acima de tudo haha então finalmente escrever essas cenas foi algo bem gratificante de fazer. Peço encarecidamente que vocês comentem suas opiniões e etc sobre a fic e novamente queria pedir perdão pela demora de alguns capítulos, eu sinto muito mesmo! Mas muito obrigada de novo a quem leu, comentou, favoritou e etc um beijo para todos!