I'll be waiting by the bleachers escrita por GabanaF


Capítulo 4
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente, e aí? Queria primeiramente pedir desculpas, mas muitas desculpas mesmo pela demora deste capítulo. Eu sei o quão horrível é esperar por uma fanfic e etc, mas eu tava passando por uns perrengues e não conseguia escrever quase nada. Só agora que as coisas acalmaram e eu pude voltar a escrever a fic. Então, voltou a pedir desculpas em relação ao atraso e eu espero que vocês gostem do capítulo!



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— Clarke, fica calma — disse Abby para a filha, que andava em círculos pela sala. A barra do seu vestido estava suja, mas ela não se importava. — Você está linda. Lexa também vai estar.

— Disso eu não tenho dúvidas — respondeu Clarke em tom de deboche. — Mas eu não consigo tirar essa preocupação da cabeça.

— Você acha mesmo que eu, a vice-diretora do colégio, vou deixar que os alunos tirem sarro da minha filha só porque ela está levando a namorada do time adversário da final? — Abby revirou os olhos. — E eu já conversei com Indra. Esse tipo de coisa não vai acontecer em nenhuma das escolas.

Abby se levantou e apertou os ombros de Clarke, fazendo a garota parar de andar pela sala de casa. Era pouco mais de sete horas da noite e Lexa deveria chegar a qualquer minuto. As Griffin moravam a duas quadras de Arkadia High e Clarke já ouvira inúmeras limusines passando pela rua com o som alto e jovens celebrando o baile.

Clarke não sabia se Lexa viria ou não com uma limusine, mas torcia que não. Na última semana, seu par já trouxe atenção desnecessária demais para ela. Os olhares tortos que Clarke recebia durante as semifinais do campeonato se intensificaram. Ninguém ousaria dizer nada a ela, é claro, mas Clarke sabia que até seus amigos não estavam confortáveis com a situação.

Bellamy parara de falar com ela, de acordo com ele, “para se concentrar na final”. Octavia mantinha uma distância segura de Clarke, embora as duas ainda saíssem todos os dias. Raven continuava no hospital, então ela não se importava muito com o que acontecia na escola. Monty era o único que tratava Clarke da mesma maneira.

Pelo menos, não estava concorrendo à Rainha do Baile como Lexa, Clarke pensou. A campanha da namorada era corrida, visto que não tinha tempo para realmente pedir para as pessoas votarem nela. Lexa esperava que a sua campanha no campeonato fosse o bastante para que Trikru lhe desse a coroa. Não que ela realmente precisasse: Lexa ganhara a coroa de Rainha do Homecoming no ano anterior.

A campainha tocou e Clarke soltou um suspiro aliviado. Abby sorriu e foi abrir a porta. Clarke estava parada no meio da sala e conseguiu ver Lexa do hall. Sua namorada estava incrível, como sempre. O vestido de Lexa era de um tom mais claro de azul e caía perfeitamente em seu corpo. O cabelo de Lexa estava solto e de um só lado. Sua maquiagem era mais leve do que Clarke esperava.

— Caramba, você tá bonita — disse Lexa estupidamente assim que viu sua namorada, fazendo as bochechas de Clarke ficarem vermelhas. — Digo, hm, oi.

— Oi — disse Clarke, sorrindo. Ela cumprimentou Lexa com um selinho.

Ela usava um vestido vermelho sem detalhes. O que deve ter deixado Lexa desconcertada provavelmente foi a fenda do vestido, que ia da metade da coxa até o pé de Clarke. O vestido fora escolha convicta de Raven e Octavia, e Clarke não queria ir contra as duas. Depois de ver a expressão de Lexa, Clarke tinha que concordar com suas amigas: o vestido a deixava mais sensual.

Abby pigarreou para chamar a atenção das garotas. Ao olhar para a mãe, Clarke revirou os olhos. Abby tinha o celular na mão e estava pronta para tirar fotos do casal.

— Ah, qual é, mãe! — exclamou a garota, mas sem sucesso: Abby arrumava as duas em uma pose. — Isso é ridículo.

— Não fale assim — disse Lexa, apertando a cintura da namorada de leve. E cochichou no ouvido de Clarke: — Espere até ver minha mãe amanhã.

Clarke arqueou a sobrancelha para Lexa.

— Pior? — perguntou.

Lexa apenas assentiu dramaticamente. Clarke estava surpresa que os pais da namorada estariam na cidade durante o fim de semana. Obviamente, essa era a quarta e última final de Lexa no time de Trikru e os dois não queriam perder a provável vitória da filha.

— Você vai monitorar o baile? — questionou Lexa para Abby. Ela sorriu quando a mãe de Clarke tirou mais uma foto.

— Vou, sim. — Abby então olhou para suas roupas. Seu jeans rasgado da época que Clarke era criança saltou aos seus olhos. — Ah, merda. Estava ocupada acalmando a Clarke que nem troquei de roupa!

Abby saiu da sala. Clarke podia sentir o olhar inquisitivo de Lexa, mas não disse nada. Não queria que Lexa tomasse suas preocupações para ela. Sentou no sofá e convidou a namorada a fazer o mesmo.

— Você acha mesmo que nós precisamos esperar sua mãe? — indagou Lexa depois de alguns minutos, percebendo que Clarke não queria falar sobre o que lhe incomodava. — A limusine é paga por hora.

— Claro que não. — Então, Clarke olhou a namorada de relance e arqueou a sobrancelha. — Sério, Lexa?! A porra de uma limusine?!

— O que tem de errado? — retrucou Lexa, surpresa e chateada ao mesmo tempo. — Não é isso que os casais fazem?

— Não quando tem um jogo decisivo entre as duas escolas daqui dois dias! — Clarke levantou os braços, exasperada. — Vamos chamar muito mais atenção do que devíamos.

Lexa revirou os olhos. Aparentemente, Clarke era a única paranoica com a discrição que ela e a namorada deveriam manter durante a noite. Arkadia era um colégio inclusivo e ataques homofóbicos eram quase inexistentes, mas ela não se preocupava com isso.

— Clarke, nada vai acontecer — disse Lexa como se estivesse falando com uma criança de dois anos. — Ninguém vai querer brigar comigo. Ou tentar alguma coisa. Fala sério. Você já olhou pra mim?

Ela pegou as mãos da namorada e colocou entre as suas. O olhar de Clarke era distante, mas logo se virou para Lexa. Sua namorada exibia um sorriso bobo. Lexa era mesmo intimidadora, mesmo usando um vestido totalmente feminino. Havia algo em sua expressão que assustava muita gente, e ela com certeza usaria isso ao seu favor naquela noite.

— Odeio você — disse Clarke, mas se inclinou para dar um selinho em Lexa.

— Eu sei — retrucou a namorada. Ela apertou de leve a mão de Clarke e se levantou. — Vamos. Eu não menti sobre a limusine.

— Mãe, nós já estamos indo! — gritou Clarke enquanto saía da sala de mãos dadas com Lexa.

— Tudo bem! — O grito de Abby veio segundos depois.

Clarke pegou sua bolsa e esperou por Lexa na porta. Antes de saírem, ela deu um selinho na namorada, esperando que a noite fosse tão divertida quanto Abby queria que fosse. E que ela e Lexa aproveitassem o máximo a última festa que Clarke iria de Arkadia High.

 

***

 

Ao chegarem, Clarke e Lexa foram bem recebidas pelo comitê do baile, que incluía uma Raven de cadeira de rodas e uma Monroe levemente animada por causa do ponche batizado. Clarke escolheu sabiamente quem deveria ser Rainha do Baile (Octavia a mataria se não votasse nela). Depois das formalidades, foi para a pista de dança com a namorada.

— Isso não é tão chato quanto pensava — comentou Clarke. Lexa dançava de maneira tímida mais próxima dela. — Ninguém te olhou feio. Ainda. E até o Lincoln está aqui.

O namorado de Octavia se formara na Trikru no ano anterior. Depois da experiência traumática que tivera com os Reapers, Lincoln somente aconselhava Titus a não fazer o mesmo. Ele estudava em uma universidade mais para o norte, mas sempre fazia questão de visitar Octavia quando podia.

— Eu não falei? — disse Lexa em um tom sabichão. — A gente não precisa se preocupar.

No momento seguinte, Bellamy passou por elas e arqueou as sobrancelhas para Clarke. Ela cumprimentou o garoto com um aceno, de repente sem graça. Lexa também acenou para Bellamy, mas o garoto já ia embora e não viu. A garota mordeu o lábio e lançou um olhar de esguelha para Clarke.

— Você sabe como homens são — disse ela, revirando os olhos. — Bellamy é um bobão.

Lexa ainda parecia magoada, mas logo esqueceu do assunto quando uma música mais lenta começou a tocar e seu corpo grudou no de Clarke. As duas dançaram ao ritmo e Clarke se esqueceu do baile e de Arkadia. Naquele momento, era só ela e a namorada.

— Ei! — Um pé chutou Clarke na canela e ela se sobressaltou. Ao olhar para trás, viu que era Raven. — Vamos tomar ponche!

— Tem certeza que pode? — indagou Lexa, segurando a mão de Clarke. Ela olhou de maneira insegura para a cadeira de rodas.

— Óbvio que sim! — Raven empurrou Clarke de novo. — Vamos.

Lexa olhou para Clarke, mas a garota só deu de ombros e seguiu a amiga pelo corredor interminável de gente na pista de dança. Muitos paravam para olhar Raven e cumprimentá-la por estar de volta. Clarke e Lexa estavam logo atrás dela, mas pareciam invisíveis.

— Como está Octavia? — perguntou Clarke, gritando por causa da música alta. — Não falei com ela hoje.

— Nervosa. — Raven chegou à mesa de bebidas e logo se pôs a servir um copo para si. Lexa colocou bebida para ela e Clarke. — Ela sabe que vai ganhar, mas ainda está nervosa. Inacreditável.

Lexa deu uma risadinha. Raven a encarou, tomando um gole de ponche.

— Você tá concorrendo? — perguntou.

— Sim.

— E o que você acha?

— Que talvez eu seja a primeira pessoa na história do colégio a levar Rainha do Baile no Homecoming e na formatura.

Clarke não deixou de sorrir com sua bebida. Raven olhou de Lexa para Clarke, impressionada.

— Imagino que vai se tornar uma lenda do colégio se ganhar no sábado — comentou Raven, mas seu tom não era azedo. Parecia curiosa.

— Imagino que sim. — Lexa sacudiu os ombros. — Não importa.

Importava muito para Lexa, e Clarke sabia disso, mas Raven não percebeu seu tom triste, e o assunto morreu. As três tomaram o ponche ao lado da mesa de bebidas, observando as pessoas passarem por ali.

— Como está se sentindo? — indagou Clarke para Raven. Ela fazia a mesma pergunta todos os dias na última semana para a amiga.

— Você sabe como estou — respondeu Raven, olhando para seu copo. Ela olhou para Lexa. — Triste por perder a final. Feliz pelo médico ter deixado eu vir ao baile. Mas ainda assim triste.

— Você ainda tem o próximo ano — consolou Lexa. Ela não sabia como a garota reagiria se lhe desse alguns tapinhas no ombro, por isso ficou quieta. — E com certeza será a capitã do time.

— Não com Octavia ainda aqui — disse Raven. O tom que ela usava não era amargurado, tampouco. — Podemos ser co-capitãs. Essa coisa de girl power e tal.

— Ideia interessante — elogiou Clarke.

Raven deu de ombros e arregalou os olhos para algo. Sua língua afiada logo começou a criticar alguns rapazes e garotas da pista de dança. Lexa levara o ano todo para se acostumar com o estilo da garota, mas ainda ficou um tanto chocada com alguns comentários.

— Raven! — Octavia se aproximou sem fôlego do grupo. — Onde estava? A contagem dos votos já começou!

— Estive aqui o tempo inteiro — falou a garota, franzindo o cenho.

— Bom, vá até a sala de Biologia que o comitê do baile está lá. — Sem dizer mais nada, Octavia correu para a pista de dança.

— A sala de Biologia fica no segundo andar — observou Clarke.

Raven deixou o copo de ponche na mesa e suspirou.

— Mas que merda — ela xingou, colocando as mãos nas rodas da cadeira e se preparando para sair dali. — Pensei que eles teriam o mínimo de consideração.

Clarke olhou para Lexa significativamente. Ela nunca tivera interesse em fazer parte da comissão do baile, mas sua amiga precisava chegar até o segundo andar. Além disso, o DJ não tocava uma música boa fazia meia hora.

— Vamos, Raven. — Clarke começou a empurrar a cadeira da amiga e Lexa, como se não tivesse nada a perder, as seguiu. — Você tem que ter certeza de que Octavia irá ganhar ou senão teremos que ouvir disso o verão inteiro.

 

***

 

Do lado de fora, dava para ouvir um pouco da discussão que acontecia na sala de Biologia. Raven insistira para que Lexa e Clarke ficassem ali esperando o fim da votação e, bem, não se pode dizer não para alguém em uma cadeira de rodas.

— Achei que esse tipo de coisa não levasse muito tempo — reclamou Lexa.

Clarke lançou um olhar desconfiado para a namorada. Imaginava que ela estivesse nervosa pois teria que enfrentar o mesmo no dia seguinte. Saber como funcionava as coisas geralmente tranquilizava Lexa, mas não naquela noite.

— Não deveria — comentou a outra. Elas estavam encostadas na parede de frente para a sala de Biologia. Não havia nenhuma outra sala aberta para que ela pudesse roubar uma carteira.

— Quer dizer, todo mundo sabe que essa coroa é da Octavia.

— Mas eles têm que checar isso primeiro. — Clarke empurrou Lexa de leve.

Lexa revirou os olhos. Ela continuava linda. Clarke se perguntou como sua namorada ainda não reclamara do salto alto que usava. Era mais fino e maior que o de Clarke e ela simplesmente já não conseguia usá-los.

— O que você vai usar amanhã? — indagou Lexa.

Clarke soltou um muxoxo de impaciência. Não queria que Lexa soubesse o que iria usar no dia seguinte. Era uma surpresa que agradara Octavia e Raven, e ela sabia que agradaria Lexa mais do que ninguém. No entanto, sua namorada ainda insistia em perguntar o que vestiria, mesmo que soubesse que levaria um expressivo “não” de Clarke repetidas vezes.

— Eu sei, você não vai nem se dar ao trabalho de responder — disse Lexa, puxando Clarke pela cintura. Ela deu um selinho na namorada e fez uma careta triste. — Acho que realmente terei que esperar até amanhã.

— São menos de 24 horas até lá — retrucou Clarke, sorrindo. — Você vai sobreviver.

— Não sei se consigo sobreviver a isso aqui. — Lexa apontou com a cabeça para a sala onde o comitê do baile se reunia. — Vamos para o ginásio. Raven deve arranjar alguém para carregá-la por aí.

Clarke olhou de soslaio para a sala de Biologia. Gritos abafados ainda eram escutados. Ela não queria deixar sua melhor amiga com desconhecidos, contudo o tédio estava lhe matando. Ali, Clarke só conseguia pensar em voltar para casa e sequer ver o resultado final dos reis do baile.

— Raven vai nos lembrar disso pelo resto do verão, você sabe, né? — Clarke disse, resoluta.

Lexa deu de ombros.

— Imagino que sim. — Ela pegou na mão de Clarke e a puxou para o final do corredor. — Vamos!

Clarke sabia que não havia como dizer não para o sorriso de Lexa. As duas apostaram uma pequena corrida até as escadas, rindo dos tropeços que cada uma levava ao tentar correr mais rápido com os saltos que usavam. Lexa, mais atlética e obviamente mais rápida, chegou em primeiro lugar.

O sorriso de Lexa sumira quando Clarke chegara mais perto. Três degraus abaixo nas escadas, Bellamy as encarava. Ele estava de mãos dadas com Gina, sua namorada. Ela também era formanda e parecia não entender a rixa entre a troca de olhares entre Bellamy e Lexa.

— O que estão fazendo aqui em cima? — ele perguntou, seu olhar indo de Lexa para Clarke.

— Estávamos esperando Raven contar os votos para reis do baile — Clarke respondeu secamente. — Mas está levando muito tempo, então vamos voltar para a festa.

— O que vocês querem fazer aqui em cima? — Lexa devolveu a pergunta, cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas. Seu tom era divertido apesar de sua postura desconfiada.

As orelhas de Gina ficaram vermelhas. Clarke tentou controlar o riso, mas era impossível por causa do desconforto de Bellamy. Ele tentou gaguejar alguma resposta, porém nada concreto saiu. Parecia que o garoto queria desaparecer ali mesmo e deixar a namorada plantada.

— Todas as salas estão trancadas — disse Clarke, puxando Lexa para que as duas descessem. — Talvez o zelador tenha esquecido alguma do terceiro andar. Boa sorte.

— Obrigada — Bellamy murmurou, subindo as escadas com Gina.

Antes que Clarke e Lexa voltassem para o ginásio, o garoto gritou o nome de Lexa. Surpresa, elas se viraram para Bellamy. Ele mantinha os olhos no chão, mas foi bem claro em suas palavras:

— Boa sorte no jogo domingo.

— Para você também — respondeu Lexa, ainda em choque.

Ela sorriu para Bellamy. O garoto ignorou e voltou a abraçar Gina. Clarke imaginou que qualquer outra forma de gratidão vinda de Bellamy seria doloroso para ele. Aquelas cinco palavras seria tudo o que Lexa ouviria dele até pelo menos a final do campeonato.

— Pelo menos ele tentou — disse Clarke enquanto as duas voltavam para o ginásio.

— Você vai falar a mesma coisa quando ganharmos de Arkadia no domingo — Lexa se vangloriou. Seu sorriso era convencido.

Clarke não respondeu. Elas entraram no ginásio e a música pop dançante explodiu em seus ouvidos. Ela preferiu dançar a responder à provocação de Lexa, mas sabia que sua namorada estava certa.

 

***

 

Lexa ficou na frente da janela e tentou fazer seu sorriso não parecer tão estranho quanto ela o sentia. A Sra. Woods tirou a foto e o flash a deixou um pouco zonza. O Sr. Woods estava ao lado da mulher e olhava de maneira orgulhosa para a filha.

Era estranho ter os dois em casa por mais de três dias. Ela já não sabia agir perto dos pais, mas agradecia seu apoio. No dia seguinte, eles estariam ao lado de Clarke na arquibancada, assistindo à final do campeonato. Havia três anos que os dois não participavam tão ativamente da vida escolar de Lexa e ela estava feliz.

Nessa noite, era Clarke que iria buscá-la. Lexa supunha que a Sra. Griffin as levaria até a escola, ao contrário da limusine que alugara na noite anterior. Ela não se importava. O carro velho das Griffin era aconchegante e cheirava a algo que a lembrava de casa. Talvez fosse o perfume de Clarke, ela não tinha certeza.

— Que horas que ela chega? — A Sra. Woods não continha a animação em sua voz. Seus olhos brilhavam com a perspectiva de fotografar Clarke e Lexa antes do baile de formatura de Trikru.

A mãe de Lexa gostava bastante da namorada da filha, mesmo que tivesse passado pouco tempo com a garota. O seu pai compartilhava do entusiasmo da mulher, mas em menor quantidade — Sr. Woods era tão reservado quanto Lexa. Apesar de Clarke ter medo de se relacionar com os Woods, não podia estar mais enganada com o pensamento de que eles a detestavam.

— Ela já saiu de casa — disse Lexa assim que seu celular vibrou. Era uma mensagem de Clarke. — Daqui a pouco ela está aqui.

— Não acredito que você já vai se formar, Alexandra. — Sra. Woods deixou escapar uma lágrima. Lexa revirou os olhos. — Daqui três meses, estará em Nova York! Sozinha!

— Fala sério, mãe, não é como se eu tivesse muita companhia por aqui... — retrucou a garota, dando tapinhas de consolo no ombro da mãe. O tom de Lexa não tinha nenhum remorso. Entendia o trabalho dos pais e ficava agradecida pelo o que eles tinham conquistado.

No entanto, ela tinha admitir que ir para Nova York acompanhada apenas de Clarke era meio que assustador. No fim, ela sabia que seus pais voltariam para casa. Lexa também tinha a companhia de alguns empregados em casa. Em St. John’s, ela só teria uma companheira de quarto, e só Deus sabe como essa garota deve ser.

— E vai se formar Rainha do Baile! — A mãe de Lexa a abraçou com força.

— Não se esqueça de que levará o título do campeonato — acrescentou Sr. Woods, também abraçando a família.

A confiança da família Woods deixou Lexa desconcertada. Se ela perdesse o campeonato, tinha certeza de que o comitê do baile a faria devolver a coroa da rainha. Assim como Octavia na noite anterior, sabia que ganharia a competição, mas continuava em dúvida. Até o minuto final, estaria nervosa.

Não contara isso para ninguém, no entanto. Clarke suspeitava do que Lexa sentia, mas não sabia como conversar sobre isso com a namorada. Parecia meio bobo ficar preocupada com uma coroa de um baile meio idiota na véspera do jogo mais importante de sua vida. Ainda assim, a perspectiva de subir ao palco e olhar todas aquelas pessoas que Lexa sabia que contavam com ela no dia seguinte era aterrorizante.

A campainha tocou e os Woods se soltaram. O estômago de Lexa deu uma volta completa. Sua mãe lhe deu um sorriso encorajador enquanto seu pai foi até a porta. Sra. Woods ajeitou o vestido de Lexa que desarrumara durante o abraço. Ela deu um beijo na testa da filha e se inclinou para o lado ao ouvir vozes vindo do corredor.

Lexa se virou no momento em que Clarke entrou na sala de estar junto da mãe e do Sr. Woods. Seu queixo caiu e tinha absoluta certeza de que soltara um palavrão na frente dos três adultos. Em nenhum outro momento ela se sentira tão sortuda de ter Clarke como sua namorada.

Clarke usava um terninho cinza com o colete da mesma cor. Lexa franziu o cenho à gravata amarela tão destoante do visual. Contudo, em Clarke, tudo se encaixava perfeitamente. Havia um pequeno broche de uma árvore na lapela fina do traje. Os saltos que Clarke usava era o mesmo da noite anterior, e Lexa soube logo de cara que a ouviria reclamar dos sapatos durante todo o baile.

Mesmo assim, Clarke Griffin era a mulher mais linda que Lexa já vira.

Seus pais assistiram às duas se juntarem com olhares de admiração. Lexa pensou ter ouvido Abby dizer algo sobre o pai de Clarke. Sua mãe concordou e o Sr. Woods riu de maneira constrangida. Não se importava. Seus olhos estavam focados em Clarke e em sua namorada somente.

— Você está... uau — Lexa elogiou Clarke, segurando suas mãos.

— Surpresa! — Clarke sussurrou no ouvido de Lexa. Depois, ela beijou sua bochecha. O rosto de Lexa ficou quente com o toque. — Não vai acreditar quem teve essa ideia.

— Raven. — Lexa tentou não rolar os olhos. Por outro lado, estava rindo.

— E Octavia — complementou Clarke.

Lexa percebeu o nervosismo da namorada. Ela não queria deixar seus pais desconfortáveis e por isso evitou beijá-la na frente de todos. Entretanto, parecia não fazer diferença para os três. Lexa nunca vira os Woods animados com uma de suas namoradas antes. Ela sabia que Abby também nunca fora lá muito fã dos namorados de Clarke.

— Já vamos? — Clarke levantou os olhos para a mãe.

Sra. Woods pareceu ofendida pela pressa da garota.

— Não, não! — ela respondeu, ajeitando as duas garotas para uma pose. — Vocês têm que tirar algumas fotos!

O sorriso de Abby foi enorme. Ela disse que trouxera a câmera e iria pegá-la no carro. Clarke não deixou de soltar um muxoxo de impaciência. Lexa riu da namorada e acariciou seu braço. Se tivessem tempo, talvez Abby e a mãe de Lexa fossem melhores amigas.

— Tirei algumas fotos das duas ontem, sabe — Abby disse assim que voltou. — Posso lhe passar depois.

— Claro! — disse a mãe de Lexa.

Ela levantou o celular e pediu para que as garotas sorrissem. Lexa colocou seu braço ao redor da cintura de Clarke e se aproximou de seu rosto. O cabelo de Clarke estava solto e cacheado. Cheirava a morangos. Sem querer, Lexa fechou os olhos e apenas se embriagou com o cheiro antes de sentir o flash das câmeras na sua frente.

As mães jorraram elogios para a foto tirada. O pai de Lexa saíra da sala e voltou minutos depois com uma cerveja a tiracolo. Ele observava tudo do batente da porta com um sorriso orgulhoso no rosto.

Clarke e Lexa ainda foram obrigadas a posarem para mais algumas fotos, tanto juntas quanto com sua família. Os Woods insistiram para que tirassem uma foto com Clarke e Lexa ficou feliz ao ficar do lado de Abby para outra foto. Após a sessão, eles se despediram. Lexa voltaria para casa com algum de seus colegas de classe e Abby buscaria Clarke. Ter a namorada em casa tiraria sua concentração para o jogo do dia seguinte, Lexa afirmou.

— Você é ridícula — Clarke disse assim que entraram no carro de Abby. — Você é a pessoa mais concentrada do planeta.

— É, mas para amanhã preciso ser a pessoa mais concentrada do universo — respondeu Lexa seriamente. — Já combinei que todos do time sairão mais cedo do baile. Só ficarei para...

— A entrega da coroa — completou Clarke, apertando a mão de Lexa com força. — Você vai ganhar. Eu sei disso.

— Eu também sei disso — comentou Abby, abrindo um sorriso para Lexa pelo retrovisor do carro. — Nem acredito que Clarke encontrou você depois de tantos desastres.

— Mãe! — exclamou a garota. Estava escuro no carro, mas Lexa sabia que a namorada estava vermelha. — Finn não era um desastre. Nem Wells. Eles só...

— Não eram a Lexa.

O coração de Lexa se aqueceu. Independentemente do que acontecesse no baile ou no jogo, ela sabia que teria o apoio de suas duas famílias sempre.

 

***

 

Ao contrário de Clarke, que era popular mas levemente detestada por uma parte da escola e passou o baile invisível aos olhos dos que não fossem os seus amigos, Lexa era parada a cada cinco minutos tanto por alunos quanto por professores de Trikru. Todo mundo queria desejá-la sorte no jogo da noite seguinte. Todo mundo queria um tempinho com a em breve capitã do time vencedor do campeonato.

Lexa e Clarke passaram a primeira hora do baile cumprimentando quem se aproximava das duas. Lexa podia ver nos olhos da namorada o quanto estava entediada com tudo aquilo e não deixou de dar um sorriso. Clarke nunca tivera paciência para o povo, nem quando tentara ser presidente de classe – coisa que, como esperado, foi um desastre.

— Vou pegar algo para beber — disse Clarke assim que Titus se aproximou de Lexa e quis discutir algumas táticas do time. Ela deu um beijo na bochecha da namorada e se afastou. Os olhos de Lexa a acompanharam até a mesa de bebidas.

— Lexa. — Titus estalou os dedos na frente da capitã e a garota se assustou. Ela se empertigou e sorriu sem graça para o técnico. — Você realmente a trouxe. Inacreditável.

— Fui ontem no baile dela também — disse Lexa, dando de ombros. — Eu fui bem tratada pelo povo de lá. Porque ela não seria aqui?

Ao olhar novamente para Clarke, Lexa viu que a namorada estava de papo com Aden. Os dois conversavam de maneira animada e o eco da risada de Clarke chegou nos ouvidos da garota. Seus olhares se cruzaram e Clarke sorriu para Lexa. O coração da garota disparou. Clarke parecia uma deusa em seu terno.

— Lembre-se de... — começou Titus, chamando a atenção de Lexa de novo, mas a garota completou a frase:

— De ir embora cedo, eu sei. — Quando o técnico abriu a boca, Lexa disse: — E não, eu não vou dormir com a Clarke hoje. A mãe dela vem buscá-la. Eu ainda sou organizada, Titus, francamente.

Titus revirou os olhos e saiu da companhia de Lexa. Ela não perdeu tempo e se aproximou de Clarke e Aden, ainda conversando perto das bebidas. A garota colocou o braço ao redor da namorada e sorriu, beijando-lhe a bochecha. O rosto de Clarke ficou vermelho.

— É uma pena que a Clarke não seja Trikru, porque eu com certeza votaria nas duas como o casal do ano — comentou Aden.

— Seria realmente mais fácil se eu estudasse aqui — concordou Clarke. Ela entregou um copo de ponche para Lexa, que tomou um gole com gosto. — A gente gastaria menos com vestidos. Ou, no meu caso, ternos.

— Nós tivemos uma conversa assim no verão, não tivemos? — Lexa se virou para Clarke, franzindo o cenho.

— Sim, mas decidimos que se uma de nós mudássemos de escola, seria pior — explicou Clarke, olhando para Aden. O garoto assentiu como se entendesse. — Agora, o time da minha escola vai enfrentar o time da minha namorada na final do campeonato.

— Detalhes. — Aden acenou desinteressado. — Ei, se vocês se casarem, me adotem.

Lexa riu enquanto o garoto se afastava para conversar com uma garota de sua sala. Clarke ficou impressionada com a frase de Aden e não disse nada. Uma música lenta tocava e logo Lexa largou o copo quase intocado de ponche na mesa para levar a namorada para a pista de dança.

Clarke estava distante durante toda a canção e pisou no pé de Lexa tantas vezes que a garota chegou a se afastar da namorada um tempo para aliviá-los. As duas dançaram mais uma balada dos anos 80 antes de Lexa perguntar a Clarke o que a deixara desatenta.

— Aden falando de casamento... — ela disse, sorrindo complacente. — Isso me deixa nervosa.

— Ah, relaxa, era só uma brincadeira — falou Lexa. Ela afagou os ombros de Clarke e beijou sua testa. — Se acontecer, não vai ser amanhã.

— E se não acontecer?

Lexa deu de ombros.

— Então, não era para acontecer.

Clarke assentiu e puxou Lexa para fora da pista de dança. Ela continuou andando até que saíssem do ginásio. Lexa queria perguntar para onde estavam indo, mas Clarke estava determinada demais para respondê-la. Não era surpresa que Clarke soubesse andar muito bem pelos corredores de Trikru, embora Lexa tenha estranhado o fato de sua namorada parar no último banheiro do corredor mais deserto daquela noite.

— Você quer realmente transar com essas roupas? — perguntou Lexa assim que Clarke a jogou em um dos boxes vazios do banheiro.

Ela caiu sentada na privada e sequer teve tempo de uma resposta ao que sua namorada logo sentou em seu colo. Os lábios de Clarke ainda tinham o gosto do ponche de meia hora antes. Fazia tempo (dez horas e trinta e sete minutos para ser mais específico) que Lexa e Clarke não tinham uma sessão de amassos. Era um recorde pessoal que elas provavelmente quebrariam durante o dia seguinte.

— Eu preferiria transar sem as roupas — respondeu Clarke assim que teve um tempo para respirar.

Seu paletó já estava no chão. Lexa tentou prestar atenção do lado de fora do banheiro, mas o único som que ouvia era a respiração ofegante de Clarke em seu pescoço.

Lexa se perguntou se alguém sentiria sua falta durante o baile. Enquanto Clarke subia o seu vestido até a cintura e desfazia o nó de sua gravata, percebeu que não se importava muito com isso.


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Notas finais do capítulo

Então, o que vocês acharam? Talvez a grande diferença no tempo em que escrevi cada parte do capítulo tenha causado uma discrepância entre elas, mas juro que corrigi tudo (ainda assim, se tiver algo errado, favor me falar).

Esse é o penúltimo capítulo da fic, e não vou prometer que entregarei o próximo na semana que vem, mas prometo que não vou demorar esse tempo absurdamente longo para entregar o final da fic para vocês, beleza?

Bom, se vocês gostaram ou odiaram, se tiverem elogios ou reclamações, por favor, deixem um review sobre o capítulo que cada comentário conta para fazer um último capítulo melhor que eu estou planejando! Ah, e uma pergunta: quem vocês acham que vai ganhar o campeonato: Arkadia ou Trikru?

Por hoje é só, beijos para todos que leram o capítulo e até mais :)