Bem-vindo a Godric's Hollow escrita por Euphemia


Capítulo 4
Capítulo Três - DIA 3


Notas iniciais do capítulo

OLHA SÓ COMO EU SOU RAPIDA
Agradeço aos comentários de todxs vocês, eles alegraram o meu coraçãozinho hihi
Um beijo pra Miller, que me inspirou com suas mensagens de incentivo!
Divirtam-se com o capítulo, estou cheia de planos e inspiração para o próximo hehehe



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DIA 3

Naquela noite Lily não dormiu bem.

Passara a tarde anterior inteira andando de um lado para o outro em seu quarto, tentada a destruir todos os objetos de decoração. O idiota do James não voltara para o jantar, mandando apenas um aviso para comunicar que estava muito ocupado com os animais e que comeria quando voltasse. A Sra. Sprout não fez nenhum comentário sobre o mau-humor de Lily e também não esperou o chefe voltar, apenas deixou um prato de comida em cima da bancada da cozinha.

Lily acordou pelo menos duas vezes de madrugada. Na primeira, ela desceu até a cozinha para pegar um copo de agua e notou que o prato deixado para James permanecia intocado na bancada. Resistindo à tentação de jogar pimenta na comida dele, Lily voltou para o quarto e caiu em um sono turbulento e cheio de pesadelos.

Na segunda vez em que acordou, Lily chegou até o meio das escadas, quando escutou o barulho dos talheres de James batendo no prato e antes que ele encontrasse-a parada, a ruiva correu de volta até seu quarto. Trancou a porta ao passar e se enrolou em seu cobertor, na cama.

Desta vez Lily não dormiu imediatamente. Seu coração estava demasiadamente acelerado para que ela conseguisse, então ela ficou acordada, tentando escutar os passos de James quando ele passasse em frente ao seu quarto. Por diversas vezes, Lily pensou ter ouvido algo, mas sempre acabou sendo apenas algum dos barulhos dos animais, do lado de fora da casa. Acabou que ela foi vencida pelo cansaço e caiu mais uma vez em um sono perturbado.

Após isso, o resto da madrugada até a hora em que ela finalmente levantou fora permeado de pesadelos e resmungos. Lily acordou diversas vezes, ficando em um estado de sonambulismo por alguns segundos até dormir novamente.

Quando levantou, às onze horas no domingo, seu pijama e lençóis estavam encharcados de suor. Seu corpo inteiro doía, como se Lily tivesse corrido a noite inteira, ou feito um sexo muito selvagem. Com um ronco sem humor, ela puxou os lençóis da cama. Quem dera que eu estivesse dolorida por causa de sexo, pensou, deixando os lençóis enrolados no pé da cama. Além de sentir todo o seu corpo grudando por causa do suador frio que ela tomara de noite, Lily notou que o tempo estava mais quente do que nos últimos dias. Abrindo as janelas do quarto, a luz do sol iluminou o cômodo e trouxe consigo uma lufada de ar quente.

Suspirando, a ruiva juntou suas roupas e caminhou até o seu banheiro, decidida a tomar um banho antes de descer para o almoço e enfrentar o dono da casa.

X

“E aquele idiota ainda me acusa de fugir!” Foi o murmúrio cheio de raiva que Lily soltou ao notar que iria almoçar apenas na companhia da Sra. Sprout mais uma vez.

“Disse algo, querida?”

A ruiva balançou a cabeça em negativo, sorrindo para a mulher mais velha.

“Ah, bem” A senhora balançou uma das mãos. “eu estava quase esquecendo... James deixou algo para você.”

O coração de Lily deu um salto. Talvez o idiota houvesse pensado melhor durante a noite... Esfriado a cabeça, quem sabe?

“Aqui está.”

Era um post-it amarelo vibrante dobrado ao meio. A Sra. Sprout sumiu da sala de estar mais uma vez e Lily imaginou que ela tivesse ido ver se o almoço já estava pronto. Desdobrando o papel com muito cuidado, ela chegou até a prender a respiração.

Senha wifi – amocavalos

Encarando o papel por alguns segundos, Lily reparou na letra cursiva e inclinada de James. Certamente não era o que ela pensava que seria, mas a ruiva também não podia negar que havia ficado feliz com a informação. Sua raiva por James, no entanto, não iria diminuir. Se ele havia pensado que agradá-la iria fazê-la mudar de opinião, ele estava enganado.

Assim que seu celular conectou com a internet, as mensagens, e-mails e solicitações começaram a chegar. Seria impossível fazer qualquer coisa com o aparelho enquanto ele não carregasse todas as informações, então Lily jogou-se no sofá, amarrando os cabelos em um coque no topo da cabeça, feliz por conseguir livrar-se do calor que seus cabelos deixavam em sua nuca. Ela odiava cada vez mais o verão escocês.

Pegou seu celular, desbloqueando a tela. Havia mensagens de seus colegas de trabalho, um punhado de avisos sobre as suas aulas de pilates, suas amigas também tinham conversado bastante nos últimos dias e – Lily suspirou, jogando a cabeça para trás até ela cair sobre o encosto do sofá – quase cinquenta mensagens de Amos. Ignorando as mensagens do trabalho e os avisos do pilates, ela decidiu ler primeiro o que suas amigas de Londres estavam conversando. Marley, Emmeline e Dorcas tinham trocado quase uma centena de mensagens, o assunto principal sendo um cara idiota que havia derrubado suco nas calças de ‘Cas durante o almoço de sábado. Lily decidiu atualizar as amigas de sua situação, informando que finalmente havia conseguido internet e que estava tudo bem com ela.

Depois de sair da conversa com as meninas, Lily ficou encarando a tela de seu celular por um tempo, tentando criar coragem para ler as mensagens de Amos. Ela sabia que nada que lesse iria mudar seus sentimentos, mas isso não a deixava mais encorajada. Lily não tinha a intenção de magoar o rapaz, afinal, Amos poderia não ser o cara certo para ela, mas ainda era muito especial. Decidida, ela abriu a conversa.

A maior parte eram mensagens pedindo desculpas por qualquer coisa que ele havia feito. Havia vários áudios, alguns curtos, outros com mais de um minuto. Ignorando a maior parte das mensagens, ela começou a digitar.

Amos” Enviou. “sinto muito que nosso namoro teve que acabar do jeito que acabou” E ela realmente sentia. “você tem que aceitar a minha decisão e partir para outra” Suspirando, Lily não sabia mais o que digitar. “desejo o melhor para você, com todo o meu coração.

Subitamente, suas mensagens ficaram azuis, mostrando que Amos as havia visualizado. No topo da tela, seu nome em verde apareceu digitando. Com o coração acelerado, Lily desligou a internet e bloqueou o telefone, não querendo conversar mais com Amos Digorry.

Sua mente já estava bastante perturbada com toda a situação com James, ela não precisava de mais estresse – e Lily sabia que se começasse a falar com Amos, eles acabariam discutindo.

Lily saiu do cômodo em busca da Sra. Sprout, tentando encontrar algo para ocupar a sua mente e não deixar sua cabeça vazia para que seus pensamentos não viajassem para James ou Amos. Felizmente, a cozinheira precisava de ajuda para cortar algumas verduras para a salada. Aceitando a tarefa, as duas caíram em uma conversa agradável sobre a família da Sra. Sprout.

“...e corte mais essas cenouras aqui, por favor.” A mulher largou duas cenouras na bancada onde Lily estava picando os vegetais. “E como eu ia falando” Ela continuou a contar sobre a família de sua irmã. “quando minha irmã faleceu de diabetes alguns anos atrás, eu tive que trazer Mary para morar comigo.” Lily balançou a cabeça em entendimento, sua avó havia feito o mesmo com ela e Petúnia alguns anos atrás, logo após o acidente de seus pais. “A Sra. Potter foi muito gentil em me deixar ficar com Mary aqui na fazenda, senão eu teria que me mudar e encontrar outro emprego.”

“E quanto tempo faz isso mesmo?” Lily perguntou, mantendo o assunto.

“Quatro anos” A Sra. Sprout balançou a cabeça, como se para espantar as lembranças. “Agora Mary está no segundo ano da faculdade!”

A ruiva sorriu diante do orgulho da mulher.

“Onde que ela faz?”

“Em Edimburgo, apenas duas horas de carro daqui.” O vapor subiu da panela de arroz quando a mulher despejou a água quente. “Inclusive, daqui alguns dias ela deve estar de volta, ela sempre volta para cá quando as aulas acabam.”

As duas caíram em um silêncio agradável enquanto a Sra. Sprout terminava o almoço, recolhendo os vegetais picados por Lily para temperar.

“Como vai ser só nós duas hoje” A mulher sorriu. “acho que podemos almoçar aqui na cozinha, né? Não tem necessidade de carregar tudo para a sala de jantar...”

A lembrança de que James estava fugindo do almoço só para não precisar estar no mesmo cômodo que Lily fez seus dentes trincarem. Ela estava começando a odiar essa atitude de Potter.

“James não tem o costume de almoçar em casa, pelo o que parece.” Lily obrigou-se a fazer um comentário, tentando buscar informações.

“Esse rapaz quase nunca para em casa.” Sra. Sprout reclamou, desligando as bocas do fogão e retirando as tampas das panelas. “Eu até cheguei a achar que agora que ele tinha visita, iria sossegar a bunda na cadeira um pouco...”

Lily tentou sorrir, mas falhou miseravelmente. Seu sorriso pareceu mais uma careta de alguém com dor de estômago.

“Sirva-se, Lily, eu vou pegar o suco.”

Soltando um suspiro profundo, ela sentou-se e começou a se servir.

Parecia que seria mais um longo dia sozinha em casa.

X

Lily estava respondendo seus e-mails quando a gritaria do lado de fora da casa começou. Seus estagiários haviam mandado alguns e-mails pedindo auxílio em questões relacionadas a uma campanha de perfumes e ela já estava terminando de escrever sua resposta quando vozes exaltadas e gritos de dor ecoaram pelo seu quarto, vindo das janelas abertas.

Por um pequeno momento, Lily chegou a cogitar que os gritos de dor vinham de James – e seu maldito coração perdeu uma batida, antes de acelerar como se ela estivesse correndo uma maratona.

“Droga, DEARBORN!” O rugido de raiva que fora a voz de James arrepiou todos os pelos dos braços de Lily. “Segure esse idiota com força!”

Empurrando o notebook de cima da barriga para o lado, a ruiva saltou da cama e inclinou o corpo para fora da janela, tentando ver alguma coisa, e o que ela viu deixou-a um pouco enjoada. James e alguém que ela presumiu ser Dearborn carregavam um garoto ruivo ensanguentado. Lily tentou desviar os olhos a tempo, mas conseguiu ver o corte sujo que o rapaz tinha perto das costelas, a camiseta branca dele tomada pelo vermelho.

Os gritos continuavam e logo a voz apavorada da Sra. Sprout se juntou aos grunhidos de raiva que James soltava. Lily calçou os chinelos e saiu do quarto em um passo apressado, ainda sem saber ao certo o que estava fazendo. No primeiro andar ela encontrou a porta principal da casa aberta e a Sra. Sprout correndo para a cozinha, toda cor do rosto da mulher havia desaparecido.

“Sra. Sprout” Lily murmurou, seguindo-a. “tem algo em que eu possa ajudar? Eu vi pela janela e-”

“Coloque a água para ferver, Lily.” A mulher virou-se para ela, limpando as mãos no avental. “Eu vou... Eu vou procurar algumas toalhas limpas...” Sra. Sprout já estava saindo da cozinha quando voltou e deu mais uma instrução para Lily. “Pegue a garrafa de vodka no armário também, o garoto vai precisar.”

A chaleira, Lily notou, estava em cima do fogão. Correndo para enchê-la, a ruiva fez o que foi pedido e então agarrou a garrafa da bebida alcóolica e foi em direção à varanda, onde ela sabia que o rapaz estava.

O que ela encontrou quase a fez voltar para dentro da casa novamente. James e Dearborn haviam deitado o rapaz no chão da varanda, sobre algumas mantas que Lily sabia que ficavam na cadeira de balanço da área. Alguém havia rasgado a camiseta do menino, em uma tentativa de afastar o tecido do corte. Quando ela chegou, James estava no telefone.

“...o garoto dos Weasley!” Ele resmungou. “Sim! O mais velho! Qual mais seria?” Esperou pela resposta do outro lado da linha. “Estaremos esperando a ambulância então, vamos tentar diminuir o sangramento.”

Só depois de desligar a chamada que ele notou Lily parada na entrada da casa, com os olhos arregalados.

“Lily? Você não vai desmaiar, vai?” James deu dois passos na sua direção.

“Eu estou bem” Ela conseguiu cuspir as palavras para fora. “uh, eu trouxe álcool.”

“Ótimo.” Ele estendeu as mãos para pegar a garrafa, mas meio do caminho, James percebeu que suas mãos estavam sujas de sangue. Esfregando-as no tecido jeans de sua calça, ele tentou limpar o máximo possível para depois pegar a garrafa e ir à direção do ferido.

“Bill” James abaixou-se do lado do rapaz e só então Lily percebeu que ele não poderia ter mais que quinze anos. “beba um pouco, vai ajudar.”

Lily tinha dúvidas mesmo se álcool iria mesmo ajudar, mas não quis se intrometer, afinal, James e a Sra. Sprout lidavam com acidentes na fazenda havia anos, os dois deveriam saber o que era bom ou não.

Bill Weasley bebeu dois longos goles da vodka, fazendo uma careta durante todo o processo. Seu rosto estava branco e seus cabelos alaranjados tinham grudado em sua testa e pescoço por conta do suor.

“James já ligou para o hospital” Dearborn falou, segurando o rosto de Bill. “eles já estão chegando, tente ficar acordado, ok?”

Nessa hora a Sra. Sprout voltou, carregando uma vasilha, várias toalhas e a chaleira de água quente que Lily havia posto no fogo.

“James, saia do meu caminho” Ela comandou, largando tudo ao redor do garoto no chão. “Caradoc, segure bem firme esse menino.”

Lily voltou para dentro da casa, deixando os três sozinhos com o menino para conseguirem se concentrar. Enquanto subia as escadas para voltar ao seu quarto, ela ainda escutou os gemidos de dor de Bill Weasley.

Pareceu que haviam passado horas quando finalmente a ambulância chegou à fazenda, no entanto, nem mesmo quinze minutos tinham corrido no relógio desde que Lily havia deitado novamente em sua cama. Empurrando o celular no bolso traseiro de seu short jeans, ela correu até a cozinha, no primeiro andar, para ver com a Sra. Sprout como as coisas estavam, mas só encontrou James.

Ele tinha sangue por toda a sua roupa. Por alguns segundos, Lily permitiu-se observar James Potter. O cabelo comprido dele caía sobre os olhos, a barba escura cobria grande parte do rosto dele, mas – por Deus!— Lily nunca havia achado ele tão atraente quanto naquele momento. Os ombros estavam caídos e ela imaginou o quão culpado James estava se sentindo.

“Tudo bem?” Ela anunciou a sua presença.

“Lily” Os olhos castanhos dele fixaram-se em seu rosto. “não ouvi você chegando.”

“Onde está a Sra. Sprout?”

James levantou-se da cadeira onde estava sentado e passou a mão pelos cabelos, afastando-os dos olhos.

“Foi tomar banho, ela estava muito suja de sangue.” O moreno foi até a geladeira e serviu-se de suco.

O pôr do sol iluminava a cozinha, deixando uma coloração alaranjada pelo ambiente. James, Lily notou, parecia extremamente cansado e sua expressão de preocupação aprofundava-se ainda mais com a meia luz que batia em seu rosto. Puxando um dos bancos altos da bancada de café da manhã, ela sentou-se e observou o homem diante dela. James terminou de tomar o suco e foi em direção a pia, lavando o copo com uma dedicação que indicava que ele queria ocupar sua mente.

“O que aconteceu com o menino Weasley?” Ela perguntou, quebrando o silêncio arrasador entre eles.

“Uma peça de uma maquina soltou” James resmungou, esfregando suas mãos com a esponja, em uma tentativa de limpar o sangue seco. “William estava perto demais, e a lâmina acabou pegando nas costelas dele.”

A espuma na pia era tomada por uma cor avermelhada. Lily suspirou ao ouvir a história, sua preocupação com o garoto aumentando ainda mais ao saber o que realmente acontecera.

“Caradoc foi com ele para o hospital” James continuou, desistindo de tentar limpar as mãos e jogando a esponja dentro da pia – e Lily então pôde realmente ver o quão chateado ele estava. “já liguei para os pais dele também...”

“Não foi sua culpa, James.” Ela teve que cortá-lo no meio da frase. “James, foi um acidente...”

As mãos de James apertaram o balcão de mármore ao redor da pia e ele deixou a cabeça pender para frente. Por um instante, Lily achou que ele começaria a chorar – o que fez com que ela levantasse do banco e caminhasse na direção dele.

“James” Chamou, a alguns passos longe dele. Os braços de Lily balançavam sem jeito. “eu... eu queria pedir desculpas.”

Ele não se moveu, seus ombros, porém, ficaram tensos, a camisa suja esticando um pouco com o movimento.

“Continue.” A voz de James ecoou pelo silêncio que era a cozinha.

Lily engoliu em seco, estreitando os olhos quando um raio de sol brilhou. Ela nem ao menos sabia o que estava fazendo.

“Eu estraguei tudo com você.” Ela murmurou as palavras que estavam entaladas em sua garganta fazia oito anos. “E te machuquei muito, eu sei.”

O silêncio caiu entre os dois mais uma vez e James não mostrou nenhuma intenção de virar-se para olhá-la nos olhos. Reunindo toda a sua coragem, Lily deu um passo na direção do homem.

“Sinto muito, James.” Falou, tentando expressar todos os seus sentimentos em uma única frase.

O rapaz finalmente soltou um longo suspiro e, esfregando as mãos nos jeans para retirar o resto da espuma, ele virou-se para encará-la. Se antes Lily acreditou que James estava cansado, nada se comparava com sua aparência naquele momento. Os olhos dele estavam meio fechados, sua expressão vazia.

“Eu esperei por semanas por alguma ligação.” Ele murmurou, os olhos dos dois fixos um no outro.

“Ah, James...” O coração de Lily apertou e ela deu mais um passo na direção dele. “Eu sinto muito...”

James abriu a boca para respondê-la, mas o toque do celular de Lily ecoou entre os dois. Ambos encararam-se por alguns segundos, Lily ponderando se valia a pena atender ou não. Por fim, acabou pegando o celular e fechando os olhos ao ler o nome na tela.

“Eu preciso atender...” Seus olhos pediam desculpas para James, mas ele apenas balançou a cabeça e soltou um meio sorriso triste.

“Vou me limpar.” E, saindo da cozinha, deixou Lily sozinha com o telefone na mão.

Vendo que não teria outra opção senão atender, ela deslizou o dedo pela tela do celular e levou o aparelho ao ouvido.

“O que foi, Amos?” Murmurou, largando o corpo no mesmo banco em que estava sentada momentos antes.

X

A voz de Amos ainda zumbia na cabeça de Lily quando ela saiu do banho, depois do jantar.

Eu preciso falar com você...” Ele havia murmurado.

Encostando a testa na superfície gelada que era o espelho do banheiro, Lily tentou limpar a mente.

Lily, por favor, onde você está?”

Talvez ela estivesse pedindo demais, pensou. Quem sabe havia uma lei suprema do universo que não permitiria que Lily conseguisse viver sua vida sem nenhum problema – ou pelo menos sem nenhuma dor de cabeça.

Estou com saudades...”

Empurrando-se para longe do espelho, ela largou a toalha na bancada do banheiro e começou a pentear o cabelo. O vermelho escuro ficava ainda mais intenso quando molhado, dando destaque às poucas sardas que o sol lhe dera. Puxando a blusa de malha pela cabeça, Lily vestiu-a sem sutiã. Sua calcinha era de cetim, assim como o short de seu pijama.

Amos estava se tornando uma pedra em seu sapato maior do que ela esperava que ele seria. Os dois haviam terminado e nada a faria mudar de ideia – não importava o quanto ele ligasse ou o quanto jurasse que a amava. Lily não amava Amos como deveria amar para querer voltar.

O rapaz havia pedido por mais uma chance antes de ela se despedir e desligar, mas Lily nem ao menos escutou. Quando saiu do banheiro, ela pegou o celular e viu que havia algumas ligações perdidas de Amos. Bloqueando a tela do aparelho, a ruiva jogou-se na cama de casal e fechou os olhos, aproveitando o silêncio que apenas uma cidade do interior poderia proporcionar. Talvez, se ela desejasse com todas as forças, seus problemas realmente acabariam.

Lily rolou até deitar de barriga e passou a mão pelos cabelos para poder soltar um pouco os fios e fazê-los secarem mais rápido. Seus ombros estavam doloridos de toda a tensão que passara durante o dia. A visão do corpo ensanguentado do jovem Weasley ainda piscava pela sua mente e a horrível conversa com Amos não a havia ajudado em nada. Lily sabia que essa seria outra noite mal dormida.

Lily estava quase pegando no sono quando a voz de James ecoou pelo corredor de seu quarto. A princípio, ela não lhe deu muita importância, mas logo algo capturou a sua atenção.

“Ele já saiu da cirurgia?” Houve uma pausa enquanto James esperava pela resposta do outro lado da linha. “Graças a Deus, Caradoc!”

Levantando da cama, Lily passou as mãos pelo cabelo semi-seco.

“Como está a Sra. Weasley?” James fez outra pergunta, o eco de sua voz diminuindo, visto que ele continuou seguindo pelo corredor.

Ao abrir a porta do quarto, Lily já não podia mais ver James, mas ainda conseguia escutar o murmúrio que agora era a voz dele, vindo do escritório no fim do corredor, onde a porta estava apenas encostada.

Mordendo o lábio, ela seguiu, descalça, até a porta do escritório. Antes de abri-la, porém, Lily hesitou. Na noite anterior ela havia ido dormir inflamada com o ódio que ela sentia por James e agora ali estava ela, desejando consertar as coisas com ele. Decidida, Lily empurrou a porta e colocou a cabeça para dentro.

“Só um pouco, Caradoc.” James murmurou, ao notar a presença de Lily. “Precisa de algo, Lily?”

“Podemos conversar?”

A resposta que Lily recebeu foi um aceno positivo de cabeça.

“Nos falamos amanhã, Caradoc.” Ele voltou para o telefone. “Preciso resolver uns assuntos aqui.”

Ela terminou de abrir a porta e entrou no escritório que ela já havia visitado inúmeras vezes no passado. O Sr. Potter gostava muito de sentar-se atrás de sua mesa de carvalho e ler o jornal e, quando ela e James ainda eram adolescentes, os dois acompanhavam o homem mais velho, escutando as músicas country que tocava no rádio e fazendo as palavras cruzadas dos jornais velhos.

James largou o celular na mesa atulhada de papéis e caminhou até o bar do cômodo, servindo uma dose de whisky com gelo.

“Quer uma?” Ele virou o rosto para ela, levantando uma sobrancelha escura.

“Depois de hoje, acho que vou precisar de mais que uma.” Lily tentou fazer piada e quebrar o clima desconfortável que existia entre os dois.

 Um meio sorriso surgiu no rosto de James enquanto ele colocava gelo em um segundo copo. Nenhum dos dois falou mais nada antes dele entregar o copo para Lily e ela tomar um pequeno gole. Forte como um legítimo whisky escocês, ela pensou.

“Uh” Lily tossiu. “Eu acho que não terminamos a nossa conversa de hoje de tarde.”

James virou o rosto para ela, as sobrancelhas juntas em uma clara expressão de pensamentos profundos.

“Acho que nós não terminamos nem mesmo aquela conversa de oito anos atrás, Lily.” Mesmo que as palavras dele fossem duras, sua voz era gentil, o que fez com que as bochechas de Lily ficassem vermelhas.

Sem saber o que fazer, ela tomou mais um gole.

“Você está decidida, então?” James escorou o quadril nas estantes de madeira preenchidas por todos os tipos de livros que ela poderia imaginar. “Com essa história do divórcio?”

Desviando o olhar, Lily tentou focar nos títulos das estantes.

“Sim.”

O silêncio reinou mais uma vez entre os dois, parecia quase como se James estivesse pensando em algo que ela desconhecia. Pelo canto dos olhos, Lily viu-o terminar a dose do whisky e largar o copo sobre a mesa do escritório. Os pelos de sua nuca arrepiaram-se ao vê-lo, também, passar os dedos pelo cabelo comprido. O arrepio que correu por sua coluna não tinha nada a ver com o seu cabelo úmido.

“Bem” Ele murmurou por fim, encarando-a. “eu não vou me negar a assinar, então...”

Lily levantou os olhos para tentar decifrar a expressão facial de James.

“Eu só vou pedir uma coisa, Lily” A cada palavra que o moreno falava, ele se aproximava mais dela, até que Lily conseguisse sentir o calor que emanava de seu corpo. “Você fica alguns dias em Godric’s Hollow? Apenas alguns dias, para vermos se o que você terminou há oito anos realmente acabou?”

As palavras – e o oxigênio – faltaram para ela. Suas mãos tremiam e seus mamilos enrijeceram contra a malha leve de sua blusa.

“James” Suspirou, sem saber o que fazer.

“Por favor?” Ele olhava-a de cima, os cabelos negros caindo sobre os olhos, que refletiam os mais profundos sentimentos.

Milhões de pensamentos e frases de efeito corriam por sua cabeça, alguns irônicos, outros apaixonados. Lily sentia-se tão perdida que, por um pequeno momento, ela pensou em fugir do escritório e deixá-lo sem resposta.

“Só se você começar a almoçar em casa.” Acabou soltando, com uma pequena risada.

E antes que ele pudesse respondê-la, Lily largou o copo de whisky na mesa e fugiu para o seu quarto, com o máximo de confiança que possuía.


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Notas finais do capítulo

Eeeeeeeeeee era isso!
Lily vai ficar mais alguns dias na fazenda, James conseguiu o que queria, yay!
Bom fim de semana para vocês, não sei quando a próxima atualização pode aparecer, talvez seja semana que vem, talvez daqui um mês, a única coisa que eu posso prometer é que um dia a fanfic vai ser terminada hahahah
Mil beijos!