A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 5
O Despertar de um Homem


Notas iniciais do capítulo

Olá, galera!

Esse capítulo traz um personagem um tanto antipático que, apesar disso, terá um papel relativamente importante na vida de Enrico num futuro não muito distante. Fiquem atentos.

Boa leitura!!!



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 Aos olhos do jovem Enrico, não havia em parte alguma alguém que fosse capaz de disparar como Peter Davis.

O vaqueiro americano se tornou o instrutor do garoto, ensinando-lhe tudo o que sabia: como segurar as armas, como manter o equilíbrio após o “coice” da arma, o modo de controlar a respiração para realizar um bom disparo, os tipos de armas e os melhores modelos.

Explicou que, quando duelasse Enrico jamais deveria permanecer imóvel para não tornar-se um alvo fácil.

Davis também revelou que, quando se olha nos olhos dos inimigos, descobre-se o momento exato em que eles vão sacar. E ensinou muitas outras coisas.

Todos os dias, no intervalo do almoço, Davis emprestava seu Colt 45 para Enrico e o mandava ir praticar, atirando em pratos, garrafas, latas e até num espantalho velho, esquecido num canto do rancho.

O rapaz treinava com afinco para aumentar sua velocidade e melhorar sua pontaria. Peter Davis se mostrou estarrecido com os progressos de Enrico. Aquele garoto tinha uma espécie de “dom” para lidar com armas. Era como se tivesse nascido para aquilo e não tivesse feito outra coisa em seus dezesseis anos de vida.

Com a prática e o tempo, se tornou praticamente imbatível com o Colt e demonstrava a mesma prática com armas de longo alcance, como o rifle.

Às vezes Enrico nem olhava para o alvo, atirava por intuição. O resultado sempre era o estouro de uma garrafa ou prato, ou uma lata furada girando no ar, ou o velho espantalho, lá longe, estremecendo com o impacto da bala.

Às cinco horas da tarde, Enrico se despedia de Davis, saía do trabalho e voltava ao seu lar, para estar novamente junto de seu pai adotivo.

O tempo passou e o padre Emanuel se espantou devido à velocidade com que isso aconteceu. O religioso nem viu o tempo passar, mas, percebeu as conseqüências da passagem do mesmo.

O reverendo viu quando seu filho deixou de ser um menino e atendeu ao chamado do homem que despertava dentro de si.

 Divertiu-se muito quando a voz de Enrico começou a mudar, deixando de ser esganiçada e estridente, para se tornar uma voz possante, máscula, ligeiramente rouca.

Testemunhou a natureza tomar aquele menino raquítico e franzino, para esculpi-lo num homem alto, de corpo musculoso, músculos esses adquiridos no árduo trabalho no rancho. O rosto moreno, viril e bem desenhado, com traços fortes, culminava num queixo firme, quase quadrado. Tinha o par de olhos mais negros, sinceros, frios, penetrantes e tristes que padre Emanuel já vira.

Ele via todas essas características quando olhava Enrico nos olhos, olhos esses encimados por sobrancelhas negras, pouco espessas. O nariz era médio e firme, combinando bem com os demais traços que compunham seu rosto singular.

Enrico, como era peculiar nos mexicanos, tinha o cabelo preto e liso, e o usava curto na frente e ligeiramente comprido atrás, na nuca. O rosto sempre estava barbeado. Tinha os ombros e o peito largos, mãos grandes, braços, pernas, cintura e abdômen musculosos.

Media 1,86 m. Era alto para a maioria dos mexicanos, que costumavam ser bem mais baixos. Sua elevada estatura talvez fosse herança genética dos avós que Enrico nunca conhecera, e que talvez não tivessem sangue cem por cento mexicano.

 Enrico Aguilar De La Cruz era um homem de olhar digno e determinado, movimentos ágeis e firmes, andar elegante, palavras poucas e inteligentes, sorriso franco e raciocínio rápido.

Era doce, mas poderia se tornar perigoso. Era calmo, porém essa calma poderia se mudar em frieza. Parecia uma força da natureza em atuação constante.

Era leal. Detestava injustiças.

Esse era o homem que Enrico se tornara aos dezenove anos de idade. E era para esse homem que padre Emanuel olhava agora, com orgulho e admiração, mas com um brilho de evidente desagrado nos olhos preocupados.

— São seis e meia da noite, Enrico. Onde esteve até agora? – perguntou o padre, com as mãos na cintura.

— Desculpe a demora, pai. Estava no rancho e perdi a noção do tempo.

— Deixe-me ver suas mãos.

Enrico estendeu-as, sem contestar. As palmas estavam ásperas por causa da pólvora.

Padre Emanuel balançou a cabeça negativamente antes de dizer:

— Outra vez andou disparando armas de fogo, hein?

— Sim. – balbuciou o rapaz, baixando os olhos. – Estava praticando.

— Não vai mesmo parar, não é?

— Não, pai. Só quando os assassinos de minha mãe forem punidos. Alguém precisa fazer justiça.

— Meu filho, você bem sabe que a justiça pertence a Deus.

— Então chame o que vou fazer de vingança, pai – disse Enrico, com um brilho medonho nos olhos – Aqueles homens vão pagar com a vida pelo que fizeram. E, se for possível, que Deus me perdoe.

Padre Emanuel esboçou um sorriso cheio de tristeza. Não havia como convencer Enrico. Sempre falara de Deus para o rapaz, de perdoar, de cultivar os bons sentimentos. Além disso, contava histórias de moral religiosa a ele e o incentivava a ler a Bíblia.

Quando Enrico era criança, não raro acordava chorando no meio da noite, perseguido por pesadelos, reclamando a presença da mãe. Pacientemente o sacerdote consolava o menino e lhe contava histórias de fé, força, amor e esperança, até que o garoto se acalmasse e voltasse a dormir. E essas histórias procediam geralmente das Sagradas Escrituras.

Enrico era um bom rapaz. No entanto, essa sede de vingança o cegava e o dominava por vezes. No dia em que abrira os olhos e voltara de seu coma, quando ainda estavam em Monterrey, Enrico fizera seu sinistro juramento de vingança e o padre estremecera. Naquela ocasião o menino vira, sobre o criado-mudo ao lado da cama, o vidro repleto de álcool onde estavam mergulhadas as duas balas que quase o haviam matado.

A partir daquele dia, Enrico furou as duas balas e passou a usá-las penduradas num cordão ao redor do pescoço, uma espécie de colar macabro.

Padre Emanuel só podia rezar por seu filho. E era o que fazia.

No rancho, Enrico procurava ser amigo de todos, porém, havia um homem que não tolerava: Bob Indian, um descendente de apaches.

Era um tipo abusado, invejoso, encrenqueiro, que se julgava o melhor em tudo e não suportava a ideia de que alguém fosse mais veloz que ele no gatilho. Enrico e Bob já tinham se desentendido e trocado socos algumas vezes, mas o pessoal apartava a briga sempre.

Enrico praticava com as armas diariamente nesses três anos e, quando disparava, arrancava aplausos dos vaqueiros, inclusive de seu mentor Peter Davis.

— Rapaz – dissera Davis certa vez, rindo – Eu não gostaria de enfrentar você em um duelo.

E depois Davis acrescentou sério:

 — Enrico De La Cruz: Eu, Peter Davis, tenho que admitir que você se tornou melhor que eu no gatilho.

— Ora, Peter! Acha mesmo?

— Não diria se não achasse, garoto.

— Puxa, obrigado, amigo. Devo isso a você, que sempre me ajudou.

Davis fez um gesto amplo com a mão antes de dizer:

— Bobagem. Eu só o ajudei. Você se tornou sozinho o que é agora.

Certa vez, Enrico estava treinando sozinho quando Bob Indian se aproximou.

— Ora, ora, se não é o jovem Enrico. – ele falou com um sorriso zombeteiro nos lábios.

O rapaz olhou-o de lado e não lhe deu muita importância.

— Acredita mesmo que tem boa mira, hein? – alfinetou Bob.

Enrico então olhou para ele e, sem mirar, disparou o revólver em direção ao espantalho. Estavam a quinhentos passos de distância do alvo e o rapaz atirou por intuição, sem olhar.

Mesmo assim Bob Indian pode ver perfeitamente quando o boneco tremeu e um buraco apareceu bem no meio de sua testa de pano. Enrico se virou para olhar seu interlocutor nos olhos.

Recarregou a arma rapidamente e perguntou, sua voz soando calmamente:

— Acha que um homem sobreviveria a um tiro desses?

Bob Indian, que empalidecera visivelmente, passou a língua pelos lábios antes de grunhir:

— Você está enganado. Atirar em um homem é muito diferente de atirar em um espantalho. Um homem é um alvo móvel: iria rolar, pular para o lado e disparar contra você. Duvido que você tenha essa mesma calma e essa mesma sorte num duelo real.

Enrico sorriu friamente ao rosnar:

— Se eu fosse você, não pagaria para ver, Bob Indian.

Irritado, o índio se afastou pisando duro e deixou Enrico rindo sozinho.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam do Bob?

Rsrs

Ele é um panaca, eu sei. Mas é um panaca importante. Vamos ter que aturá-lo ainda por um tempinho.

Até o próximo capítulo!!!



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