A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 15
Uma Donzela em Perigo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Enrico seguia para Denver quando foi atacado por pistoleiros emboscados. Escapou por um triz mas ficou sem seu cavalo, sozinho, no meio do deserto.
Terá ele escapado? Conseguirá realmente dar continuidade a seus planos de vingança?
Saberemos a seguir.
Esse capítulo traz um personagem importante. Está na hora de começar a complicar um pouco mais as coisas. rsrs
Espero que gostem!

Boa leitura!!!



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 A situação não poderia ser pior. A diligência estava parada no meio do deserto e a noite se avizinhava. Lentamente o sol desaparecia, convertendo-se num disco de fogo que se escondia atrás da longínqua linha do horizonte. O tom vermelho-alaranjado que tingia o céu se esvaía, dando lugar às primeiras sombras da noite.

Algumas estrelas já podiam ser vistas no céu que escurecia livre de nuvens.

John, o velho condutor estava inquieto; na verdade, ele se achava com os nervos à flor da pele. Trabalhava com afinco na roda que estava bastante avariada, se tornara quase inutilizável depois que a diligência passara velozmente sobre uma pedra do caminho trilhado arduamente pelo terreno irregular e arenoso do deserto.

John verificou a situação; percebeu que seria possível prosseguir, mas sabia que seguir em frente significaria expor seus passageiros a grandes e desnecessários riscos. A diligência poderia acabar tombando. Seria pior. Então o velho condutor decidira tentar consertar a roda. Tarefa complicada, poucos recursos. Olhou ao redor e soltou uma praga. As trevas já estavam envolvendo o carroção com toldo, próprio para transporte de passageiros.

— Estamos tão perto! – resmungou John, e bufou irritado.

Denver situava-se a menos de duas horas de viagem, e talvez eles tivessem que passar a noite no deserto. O homem foi sacudido por um forte estremecimento; a ideia definitivamente não lhe agradava. O deserto era um local cheio de perigos como animais selvagens, animais venenosos, assassinos, ladrões, e toda a corja de foragidos da Lei da pior espécie.

Além disso, havia o fato de, à noite, um lugar ermo e aberto como aquele ser assolado por um frio insuportável. A morte parecia espreitar os viajantes durante todo o tempo. John apenas desejava estar em casa, com sua família.

Virando a cabeça, viu seu inexperiente ajudante, o jovem William. Pensou em seus seis passageiros, as três garotas e os três rapazes. Lucy, Linda e Catherine eram jovens adoráveis e indefesas. Bryan e Marvin pareciam ser bons garotos, impecáveis; porém, como civilizados homens de negócios vindos do Leste, com certeza não saberiam sequer segurar uma arma. O mesmo se dava com William, o qual, mesmo sendo seu ajudante, também contava mais como passageiro. Em outras palavras, se surgisse algum problema, o velho John estaria sozinho, podendo contar somente com seu potente rifle Marlin de doze tiros. Não conseguiu evitar uma pontada de medo.

O pior é que seus temores se justificaram, pois logo depois cinco homens armados surgiram do nada para cercar a diligência. Pareciam ter brotado do seio da terra. Corajosamente, mesmo sabendo ser apenas um velho diante de um quinteto de assassinos, John esticou o braço e alcançou seu Marlin apoiado na lateral do veículo. Apesar de sua bravura, não teve chances de usar a arma: recebeu um tiro certeiro de revólver no peito e caiu pesadamente de costas, gemendo. Os bandidos gargalharam ao se aproximar do carro, de armas em punho.

— Mãos ao alto! – rugiu um deles, mantendo o trêmulo William sob a mira.

Os outros olharam para dentro depois de abrir a porta do compartimento de passageiros.

— Boa noite, senhoras e senhores. Isto é um assalto. – dizia o que parecia ser o líder, com imenso cinismo. – Passem para cá os pertences de valor, e bem rápido! Se alguém quiser morrer hoje, basta bancar o espertinho como o condutor velhote de vocês, caído aqui fora.

Ao passo que os capangas recolhiam relógios, carteiras, jóias e demais objetos de valor, o chefe aproveitava para examinar as garotas, seus instintos libidinosos vindo à tona. Gostou de todas. Entretanto, a do meio lhe chamou mais a atenção por ser a mais jovem e ter rosto e corpo tão belos.

— Você! – intimou o patife apontando seu dedo asqueroso e manchado de nicotina para a escolhida moça aterrorizada – Venha aqui fora.

A pobre Catherine, paralisada de medo, não se moveu.

— Vamos, venha cá. – repetiu o crápula sorrindo malevolamente – Você vai ter a chance de saber como é estar com um homem de verdade. Seja uma boa menina e venha logo para os meus braços; assim talvez eu a deixe viver depois que me cansar de brincar com você.

Os bandidos riram ante o grito de horror das moças, sobretudo o da infeliz selecionada.

Os rapazes esbravejavam indignadamente e infelizmente isso era tudo o que podiam fazer. Catherine se viu puxada para fora do veículo, direto para as garras do líder daqueles malditos.

— Vai ser minha, boneca! – grunhia o homem ferozmente à medida que a agarrava pela cintura perfeita – Vai ser minha, querendo ou não!

— Nunca, seu porco! – gritou a garota de forma repentina e valente.

A seguir, ela o esbofeteou com toda a pouca força de que dispunha. Irado, o homem segurou-a pelo braço e a lançou ao chão com violência. Embora caída e humilhada, a moça olhou para ele com altivez e falou com desprezo:

— Prefiro morrer a ser sua, bandido!

O homem, de pé, sacou o revólver e o apontou para o rosto da garota, rosnando:

— Cuidado com o que deseja, menina.

Os belos e agora úmidos olhos da donzela fixaram tristemente o cano da arma. E Catherine julgou que aquele fosse o fim de seus dias, tão curtos aqui nesse mundo. Ninguém iria salvá-la. Lágrimas quentes rolaram livremente por seu rosto bonito.

Indiferente à sua dor, parado diante dela, o bandido exibia um sorriso cruel. Engatilhou a arma num gesto seco. Aquela garota pagaria pela ousadia de tê-lo rejeitado.

O momento crucial chegara. Os passageiros da diligência, em pânico, assistiam a tudo, impotentes. Os comparsas do assassino se divertiam com a cena.

Parecia de fato o fim.

No entanto, é justamente nessas horas que nos damos conta do quão sábio e maroto pode ser o destino. Por pura obra do acaso, Enrico De La Cruz estava por perto naquele instante fatídico. Protegido pelas sombras, se aproximou sem ser notado e assistia à cena. Julgou seu dever intervir. E então, sua voz rouca e fria ressoou na escuridão fantasmagórica do deserto:

— Escute, amigo. A moça está dizendo que não e, se você não sabe o que significa um não, eu explico: a vontade da jovem é contrária à sua. Penso que você vai precisar de umas aulas sobre boas maneiras para aprender a tratar uma dama da forma como ela merece.

— Sim – grunhiu o assassino, virando-se repentinamente na direção de onde procedera a voz – E você, seja lá quem diabos for, também vai precisar de algo, seu maluco: um caixão!

O bandido disparou com rapidez, mas Enrico já tinha se deixado cair de joelhos e inclinara o corpo para a direita enquanto sacava seus Colts. As balas do facínora passaram por ele sem representar o menor risco. Por sua vez, Enrico deu quatro tiros com a rapidez do relâmpago, tão naturalmente quanto se disparasse sob a luz do dia.

O primeiro projétil entrou zumbindo furiosamente no coração do bandido. O segundo alvejou-lhe a testa, o terceiro o rosto e o último, o pescoço. Violentamente catapultado para trás devido o impacto fervente das balas, o homem morreu bem antes de seu corpo bater no chão.

Sentada no chão, estupefata, Catherine piscava os olhos e tentava enxergar a cena que se desenvolvia na escuridão, bem diante de si.

Enrico era uma sombra ágil entre as trevas. Seu vulto se ergueu, recarregou implacavelmente as armas e falou com ela de soslaio:

— Você, moça, me faça um favor: Fique deitadinha ai, bem quietinha, enquanto me entendo com nossos novos amigos, certo?

A seguir, os quatro bandidos restantes se recuperaram do choque momentâneo e abriram fogo ao mesmo tempo. Inacreditavelmente não atingiram o homem que matara seu chefe. Enrico parecia não estar em lugar algum e, ao mesmo tempo, estar em todos os lugares. Era com um fantasma cercando-os, inimigo invisível e impiedoso, um espírito vingador do deserto.

Tiros riscaram o escuro.

Inesperadamente, de um canto imprevisível surge nova e alucinada saraivada de chumbo enviada pelo mexicano.

Gritos de dor ecoando na noite. De agonia. De morte. Cheiro de pólvora flutuando no ar denso e escuro. Pólvora e morte.

Som aquoso de sangue e miolos se espalhando pelo chão arenoso. Baque surdo de corpos em queda. Depois, silêncio tenso e absoluto.

A jovem e bela Catherine Summers se encontrava em tal estado de perplexidade que até se esqueceu de levantar; continuava sentada no chão do deserto, tentando entender a incrível velocidade com que os fatos sucederam. Teve um sobressalto quando repentinamente, no escuro, braços e mãos viris a tocaram com delicadeza, ajudando-a a se erguer. Compreendeu afinal se tratar de seu misterioso defensor, e aceitou com gratidão o auxílio, colocando-se de pé logo em seguida.

— Você está bem? – a voz de Enrico, que soou bem próxima, era agora um sussurro gentil e tranqüilo, amigável, transmissor de confiança. Demonstrava calma e ternura; em nada se parecia com o timbre frio, cortante e metálico o qual abordara o líder dos bandidos poucos minutos antes.

Catherine percebeu que aquele homem podia ter muitas faces. Podia ser implacável com os inimigos, bem como ser uma criatura doce e amável para aqueles a quem ele quisesse bem.

— Agora estou bem, sim. Obrigada. O senhor chegou bem na hora.

Enrico apenas balançou a cabeça e olhou ao redor. Verificou se o pessoal no interior da diligência estava bem. Constatou que todos estavam.

Foi então que o jovem pistoleiro se deparou com John caído perto da roda quebrada do veículo.

— Por favor, ajude-o! – implorava Catherine — John é um bom homem.

No escuro, Enrico sorriu com tristeza.

Ele acreditava na moça, acreditava que aquele homem ferido fosse de fato alguém bom. Seu sorriso triste se devia à terrível ironia de que, num mundo com tal número de homens bons e dignos, sua mãe tivesse se apaixonado logo por um patife, o qual causara sua ruína. E sua morte.

Apesar disso, Enrico ainda tinha fé na bondade humana. Conhecera verdadeiros exemplos e representantes dela: seu pai Javier, senhor Hector, padre Emanuel, Peter Davis, James Muray, sua mãe Maria Dolores e agora, o pobre John ali estatelado no chão. Num ímpeto, abaixou-se junto do homem ferido e começou a examiná-lo na penumbra. Notou que o pulso estava fraco e a respiração era ofegante. John sangrava bastante pela perfuração à bala, no lado direito do peito, perto do ombro.

Enrico conseguiu uma tira de pano relativamente limpo da manga de sua própria camisa e passou a comprimir o ferimento, tentando reduzir a hemorragia.

Com a ajuda da dupla de rapazes do Leste, o jovem mexicano colocou cuidadosamente John deitado no interior da diligência, acomodando o velho da melhor forma possível junto das senhoritas. A seguir, mandou que William permanecesse ao lado de John, comprimindo o pano sobre o sangramento.

Todos os movimentos de Enrico eram acompanhados pelo olhar atento de Catherine, ainda que a jovem não o pudesse distinguir com clareza. Para ela, aquele jovem era feito de aço, vindo de algum lugar do Céu para ajudá-los.

Subitamente, o “jovem de aço” titubeou. Suas forças lhe abandonaram por um instante. Cambaleando, apoiou-se na diligência para não cair. Estava fraco, sedento, faminto, à beira da exaustão. Afinal, caminhara durante todo o dia pelo deserto, sob o sol impiedoso. O cansaço agora o oprimia brutalmente. Enrico chegara a pensar que morreria sozinho naquela vastidão agreste. Aquela diligência seria sua salvação.

Estava agora inclinado sobre o carroção, o braço direito estendido, reto, e a mão direita espalmada sobre a madeira lateral do carro, apoiando o peso de seu corpo fatigado. Mantinha a cabeça baixa, os olhos cerrados e respirava fundo. De súbito sentiu uma mão delicada tocando seu ombro:

— O senhor está bem?

— Água. – ele balbuciou a custo – Preciso de água.

Rapidamente fizeram com que um cantil chegasse às suas mãos.

Enrico bebeu com avidez, sorveu um longo gole e livrou-se do fantasma horrendo da sede. Molhou o rosto, as mãos e a nuca. Sua respiração então se normalizou.

Sentindo-se melhor, ele agachou-se junto da roda avariada do veículo. Perguntou se havia alguma coisa para iluminar o lugar danificado e lhe entregaram uma pequena lamparina a óleo, que não ajudou muito.
Ainda assim, imediatamente apanhou as ferramentas do velho John e se pôs a trabalhar.

Tinha pressa. Estavam perto de Denver, a menos de duas horas de viagem, se seus cálculos estivessem corretos.

O tempo urgia.

Não podiam permanecer ali, expostos a tantos perigos que aquele deserto oferecia, tais como novos ataques de bandidos, ou de animais selvagens. Além disso, o pobre John precisava urgentemente de um médico, ou poderia morrer em decorrência da perda maciça de sangue. Por isso, o jovem Enrico De La Cruz trabalhava com rapidez e dedicação.

Seus olhos já estavam habituados à escuridão daquela noite sem luar. A lamparina a óleo significava muito pouco em um lugar como aquele.

Aquele não era um serviço difícil; em seus tempos como vaqueiro havia construído muitas cercas de madeira e consertado inúmeras rodas de carroças e carroções.

Não gastou muito mais que vinte minutos para realizar os devidos reparos. A seguir, ajudou Catherine a subir a bordo e aguardou enquanto ela se acomodava junto às amigas. Depois, chamou o jovem Bryan, passageiro vindo do Leste e, após as explicações necessárias, entregou-lhe seu poderoso Winchester 73 recarregado e pronto para ser usado.

Embora um pouco trêmulo no início, Bryan procurou empunhar a arma com firmeza e se dispôs a cumprir bem a tarefa designada, que era a de proteger o compartimento de passageiros de algum atacante o qual, por acaso, tentasse se aproximar pelos lados do veículo. Enrico também verificou a carga de seu mortífero par de Colts 38.

Em pé diante da porta do veículo, olhou para os passageiros antes de seu vulto indistinto falar:

— Boa noite, senhores e senhoritas! Chamo-me Enrico Aguilar De La Cruz, e quero dizer que vai ser uma honra viajar com vocês. Também sinto pelos transtornos de há pouco. Agora podemos e devemos seguir viagem. Como viram, este lugar não é seguro. Está cheio de riscos como índios hostis e animais selvagens. No entanto, nenhum animal é mais perigoso do que estes que acabei de matar. – fez uma pausa e apontou para os bandidos esticados no chão. – Pode ser que existam mais por aqui. Vamos dar o fora. Pessoal, vou fechar a porta agora e, haja o que houver, não saiam dessa diligência. Sr. Bryan, ao menor sinal de perigo, faça como expliquei: aponte a arma e atire sem hesitar. Sua vida e a dos demais passageiros podem depender disso. Agora, vamos embora e que Deus nos acompanhe!

A seguir, Enrico fechou a porta e caminhou para a boleia do veículo. Acomodou-se no banco do condutor, tomou as rédeas, fez o chicote estalar vigorosamente no ar. Os cavalos se puseram em movimento, levando atrás de si o carroção desconjuntado, que sacolejou um pouco. As rodas rangeram e o chicote voltou a estalar no ar.

O surpreendente é que, toda essa cena, desde o momento do ataque dos bandidos até o instante em que Enrico colocou o veiculo em movimento, tudo isso se deu na mais completa escuridão de uma noite sem lua, em pleno deserto. A insignificante lamparina a óleo ficou esquecida no lugar do tiroteio.

Mesmo com os olhos acostumados com a falta de luz, as pessoas não podiam ver umas às outras com nitidez, o máximo que enxergavam eram vultos, sombras. Nada mais.

A diligência seguiu rodando, rangendo e sacolejando através do deserto noite adentro. A viagem transcorreu sem novos problemas e, uma hora e cinqüenta minutos mais tarde, chegaram finalmente a Denver.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo, meus queridos! E então, o que podem me dizer sobre a Catherine? Algum palpite sobre a importância dela no caminho de Enrico?
Deixa um review por favor, comentando o que você gostou ou não. Será instrutivo.
Muito obrigado por nos acompanhar até aqui!
Até o próximo capítulo!!!



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