A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 13
Enrico, o Pistoleiro


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Depois de lidar com Bob Indian, Enrico tem a chance de usar James Muray como fonte de informações para não deixar esfriar a pista de seus inimigos.
Como ele se sairá durante o tempo em que estiver em Santa Fé?
Temos novidade, vou procurar agora sempre tentar colocar uma imagem para ilustrar o capítulo.
Espero que gostem!
Meu muito obrigado a quem tem nos acompanhado nessa aventura!
Boa leitura!!!!



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— Agora estou mesmo convencido que você é quem diz ser. Quando o índio maluco mencionou seu nome ao me fazer refém, eu sabia de quem se tratava, mas duvidei que fosse você mesmo. Depois do que vi hoje e reparando melhor em sua fisionomia, percebo que é verdade. Você tem os olhos de sua mãe, que Deus a tenha. É um prazer vê-lo vivo, garoto. E será um prazer ainda maior ajudá-lo a encontrar o assassino da boa Maria Dolores. – dissera o xerife James Muray apertando energicamente a mão de Enrico.

Isso acontecera cinco minutos após o fatídico desfecho do duelo com Bob Indian. A seguir, ambos foram atendidos pelo médico da cidade. O ferimento de Enrico era um pouco menos sério. Como o tiro atravessou a carne, o doutor suturou o buraco aberto pelo disparo e o rapaz teve de carregar o braço enfaixado por alguns dias. O caso de Muray inspirava mais cuidados, porque a bala lhe atingira o flanco, quase perfurando o rim. Precisou manter repouso absoluto por algum tempo.

Enquanto o xerife passava por esse curto afastamento médico, Enrico ocupou o posto de representante da Lei.

Foi nomeado xerife temporário pelo próprio prefeito, que pouco ou nenhum ressentimento guardava. Muray o indicara pessoalmente ao prefeito Sanders. A população aprovou. Era até engraçado ver Enrico andando pela cidade com uma estrela dourada brilhando no peito e o braço esquerdo apoiado numa tipóia. Passou a ser respeitado, e até temido por alguns.

Usou sua sede de vingança em favor da Lei. O Colt empunhado na mão direita despejava fogo sempre que necessário. E por vezes se tornava necessário.

James Muray convalesceu por quinze dias. Nesse ínterim, uma porção de desordeiros foi trancafiada na prisão. O jovem xerife temporário teve de abater quatro homens. Seu dedo não pestanejou no gatilho. Sua mente não hesitou em enviar a ordem assassina à mão armada.

Desses quatro homens, dois eram bandidos do deserto, que tentaram assaltar o Banco de Santa Fé.

Enrico chegou a tempo e deu ordem para que se rendessem. Ao invés disso, os assassinos se viraram disparando. O Colt do mexicano funcionou. Os dois bandidos partiram desta vida levando nos olhos a surpresa de serem abatidos por um homem tão jovem, que tinha o braço esquerdo apoiado numa tipóia. Além da surpresa, levaram também um furo sangrento em suas testas.

O terceiro homem era um jogador de cartas profissional e encrenqueiro, que trapaceava descaradamente em certa ocasião e, ao ser descoberto, matou um homem traiçoeiramente, deixando mais dois gravemente feridos. Quando Enrico chegou, mal sua figura surgiu na portinhola do saloon, o trapaceador disparou seu revólver. Todavia seus dedos, tão ágeis nas cartas, não eram mais ligeiros que os de Enrico ao gatilho.

O embusteiro ganhou também um lugar no cemitério municipal. Sua lápide foi erguida ao lado da dupla de bandidos do deserto.

Sem perceber, dia após dia, Enrico se acostumava com a ideia de eliminar seres humanos.

Matar era algo normal quando necessário. Sua agilidade, pontaria e velocidade eram comentadas de boca em boca, e o vento carregou seu nome para além do deserto, até os quatro cantos do Oeste.

Era agora um pistoleiro de renome. Sua fama espalhou-se com a rapidez do rastilho de pólvora. Ela foi a muitos lugares e retornou trazendo consigo o quinto homem que deveria morrer pela mão de Enrico De La Cruz. O número cinco era um pistoleiro terrível conhecido em todo o país, e procurado em metade dele. Josh Chambers era um assassino que vivia de caçar outros melhores que ele, para se apropriar de sua glória e fama. Tratava-se de um caçador de recompensas. E um caçador danado de bom, por sinal.

Desafiou Enrico publicamente, jurando arrogantemente que ia liquidá-lo em dois tempos. Afinal, pensava, não devia ser tão difícil matar um garoto imberbe com o braço pendurado numa tipóia.

Mas acontece que Josh Chambers se enganara. Enxergou no Colt flamejante de Enrico o passaporte antecipado para o inferno. Teve de ir abraçar o diabo mais cedo que planejara.

Enrico também precisou lidar com um pequeno ataque indígena na cidade. Alguns apaches, os quais estavam entre os nativos mais hostis à presença do homem branco em suas terras, ficaram bêbados e invadiram Santa Fé, intimidando a população e tentando saquear os mercados e lojas locais. Também tentaram libertar um indígena de sua tribo, que estava na cela do xerife junto aos demais desordeiros porque foi apanhado arranjando confusão no saloon. Eram seis violentos apaches munidos de machadinhas, lanças, arco e flecha. Alguns até portavam espingardas velhas e obsoletas.

Depois de determinar severamente que os moradores se trancassem em suas casas, Enrico enfrentou os invasores e os venceu sem matar nenhum deles, apenas desarmando-os e ferindo-os superficialmente. Expulsou-os da cidade, prometendo que em breve soltaria seu amigo, mas que antes ele teria que ficar um tempo na jaula para pensar no que fez.

Embora contrariados, impressionados com a perícia e a ferocidade do rapaz mexicano, os peles-vermelhas montaram seu pôneis e partiram apressados, olhando repetidamente para trás e gritando em alta voz, com certa reverência, duas palavras em seu idioma nativo. Tal foi a insistência da frase que Enrico acabou decorando a pronúncia.

Depois de tranqüilizar os cidadãos, o jovem xerife provisório retornou rapidamente à xerifatura. Lá chegando, viu sentado no catre o arruaceiro apache, que atendia pelo nome guerreiro de Garra de Falcão, e inquiriu:

— Diga-me uma coisa, amigo: O que significa Ba’choh Dil?

Garra de Falcão, que era um guerreiro forte, na casa dos trinta anos, admirou-se pela perfeita pronúncia do xerife, quase como se ouvisse um de seus iguais falando em sua própria língua nativa. Fixando seus olhos negros em Enrico, respondeu com outra pergunta:

— Meus irmãos que vieram tentar me tirar daqui te chamaram disso, xerife? — pelo visto ele tinha acompanhado toda a ação pendurando-se na alta janela gradeada da cadeia.

— Sim. Repetiram tantas vezes que acabei decorando.

Com um leve sorriso acompanhado de um menear afirmativo da cabeça, o índio respondeu:

— Então você conquistou o respeito deles.

E calou-se, enigmático.

Contemplando a face do pele-vermelha de perfil, Enrico reparou na grande curva do nariz protuberante, as grossas sobrancelhas e as feições pétreas, que assumiam um ar simultaneamente ameaçador e majestoso, como se ao invés de um homem houvesse um totem indígena confinado na cela.

— Continue, por favor. — insistiu o mexicano.

O apache olhou de novo para Enrico e explicou:

— Embora sozinho e ferido, você os enfrentou com coragem. Não se abalou nem se acovardou. Isso conta muito para meu povo, que sabe reconhecer um guerreiro valoroso mesmo entre os adversários. Aos olhos deles, você é feroz e determinado como um lobo. Um lobo jamais recua diante dos inimigos. Ainda que acuado, sozinho ou ferido, luta até a morte para defender seu território e sua alcatéia. Por isso eles o chamam agora Ba’choh Dil, que na língua apache significa Sangue de Lobo.

— Sangue de Lobo... — repetiu Enrico, espantado.

— Isso mesmo. Pode se sentir honrado, xerife. Meus irmãos não oferecem esse tipo de reverência a qualquer cara-pálida. A única honra que concedem aos brancos é a de exibir seu escalpo sangrento na ponta de uma lança, como troféu de guerra.

— Mas eu não sou branco. — lembrou Enrico.

Garra de Falcão sorriu quando respondeu:

— Eles não fazem essa distinção na hora de escalpelar os inimigos, acredite-me. Escute, xerife; agora que já te contei sobre meu povo e de certa forma nos tornamos íntimos, que tal o senhor passar um café para a gente? Está fazendo um bocado de frio nesse começo de noite, não acha?

Esboçando um sorriso jovial, Enrico afastou-se da cela e foi colocar água para ferver.

No dia seguinte libertou Garra de Falcão, devolvendo-lhe seu cavalo e suas armas. O apache, ao partir, despediu-se do representante da Lei, chamando-o por seu apelido indígena:

— Até qualquer hora, Sangue de Lobo.

Da varanda da xerifatura, Enrico acenou com o chapéu na mão, o outro braço ainda descansando na tipóia.

Dezesseis dias se passaram.

O xerife Muray aos poucos voltou às suas atividades e, tão logo o doutor tirou a faixa de seu braço, Enrico deixou de usar a estrela dourada de latão. Achou melhor assim. Recusou o cargo de auxiliar de xerife que lhe ofereceram prontamente. Apesar de baixo para profissão, o ordenado não era ruim e havia ainda uma ou outra regalia. Mas aquilo significaria duas coisas que Enrico não podia acatar: criar raízes e zelar pela ordem, sendo limitado pelas regras que regem a sociedade. Sabia que o caminho que trilhava muitas vezes divergia do caminho da Lei.

Sentiu que era chegada a hora de partir, prosseguir sua longa, perigosa e sangrenta jornada.

A sombra que seguia seus passos e sua alma clamava por sangue culpado, por vingança. E Enrico percebeu que não havia como ignorar o clamor da sombra de um pistoleiro, era um chamado muito poderoso, que o arrastava de modo inexorável para o seu destino: matar ou ser morto.

Se vingar ou morrer tentando.

Preto no branco. Sem tons de cinza.

Por meio de James Muray ele soube muitas coisas, inúmeros detalhes a respeito do assassinato de sua mãe. Jim investigara o caso a fundo, sabia o nome dos culpados e onde encontrá-los. Dentro da Lei, nunca pode fazer nada por não dispor de provas.

Contudo, Enrico não precisava da Lei.

Sua lei era seu par de Colts e o ódio amargando o coração. Soube os nomes dos quatro bandidos que atiraram nele e em Maria Dolores. Jim revelou que deveria ir para Denver, no Colorado. Kirk Ortiz estava por lá.

Ortiz era, sem dúvida, o homem que dera os dois tiros em Enrico. Era o melhor atirador do quarteto. Enrico decidiu ir atrás do assassino e obrigá-lo a contar quem atirara em Maria Dolores e lhe dizer o nome do mandante daquele crime. Queria ter a certeza que mataria o homem certo. Quando soubesse o que era preciso, Enrico sabia que a vida de Kirk Ortiz não valeria um mísero cent.

Faria-o pagar pela covardia.

Depois, partiria em busca dos outros. Encontraria-os, um por um.

E por último, estaria face a face com Francisco Herrera.

No entanto, para isso precisava dar um passo de cada vez. E o primeiro passo era Denver, para esmagar um inseto chamado Kirk Ortiz.

Mal contendo sua excitação, o jovem De La Cruz preparou-se para a viagem: arrumou as armas, as provisões, selou seu cavalo.

Muray lamentou não poder acompanhá-lo, pois precisava resolver um caso de roubo de gado.

Se Enrico precisasse de ajuda, telegrafaria para Muray.

Despediram-se. Enrico abandonou Santa Fé logo pela manhã.

Muito em breve estaria em Denver.

Enrico, o pistoleiro, tinha contas a ajustar por aquelas bandas.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do Garra de Falcão? rsrs
No arquivo original do Word não havia esse espaço para os apaches. Coloquei agora porque senti falta dos índios por aqui. Bob não conta, porque ele era um mestiço doido. rsrs Espero que essa breve aparição deles interagindo com Enrico agrade a vocês.
Muchacho agora vai levar Enrico a Denver. Que perigos estarão aguardando Enrico no Colorado? Muito em breve descobriremos!
Deixa um review por favor para eu saber o que você gostou e o que não. Me servirá como aprendizado!
Encontro vocês aqui no próximo capítulo.
Forte abraço!!!



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